AS DOLOROSAS CONTRADIÇÕES…

Assisti os dois jogos desta manhã, e no primeiro constatamos uma equipe fria em seu determinismo de se classificar às quartas de final, ganhando ou perdendo dentro da margem dos 12 pontos necessários a classificação de uma equipe grega alucinada pela busca do resultado salvador, e por isso mesmo suscetível ao erro em maior proporção do que a equipe checa, metódica, paciente, fria, e acima de tudo eminentemente técnica, na quadra e no banco, num equilíbrio exemplar, de um grupo coeso em torno de um objetivo, mesmo que feneça nas próximas etapas, num trabalho bem planejado e melhor ainda executado, numa flagrante anteposição ao que vimos na segunda partida…

Quando se deu a apocalíptica contradição, de uma equipe que lutava por uma classificação, ante um adversário já classificado, por um resultado simples, sem handicaps a descontar. E porque apocalíptica? Pelo fato maior que colocou a seleção brasileira entre a cruz e a calderinha, perante o incompleto discurso de seu líder fora da quadra, o bom  técnico Petrovic, que midiaticamente propalou saber como vencer os americanos, como já havia falado o mesmo sobre os gregos, mas ante o domínio técnico da equipe tida como a C da NBA, porém dirigida pelo seu melhor técnico, Popovich, principalmente na avassaladora prática dos fundamentos básicos defensivos, ofensivos e individuais, constratando com a nossa maior dificuldade nos confrontos contra escolas que priorizam tais pontos, e não somente os táticos e as preparações “atlético científicas”, tão ao gosto de fisiologistas pseudo fabricantes de melhores corredores, melhores saltadores e melhores trombadores, como o ápice de uma equipe competitiva, viu-se o croata perante a crua realidade de uma equipe que sabe perfeitamente bem como manobrar uma bola, e outra, a dele, que briga com ela o tempo todo no drible, nos passes e principalmente nos arremessos, inclusive naqueles de melhores aproveitamentos, os curtos e médios, onde a turma do norte simplesmente não falha. Façamos umas continhas – Os americanos arremessaram 28/44 de dois pontos, contra nossos 23/46, ou seja, 10 efetivos pontos a mais. Nos 3, 8/25 contra 5/19 nossos, mais 9 pontos de sobra, somente aí nos 16 pontos de diferença. Nos Lances livres ambas as equipes erraram 2 arremessos ( 9/11 e 12/14), Pegaram 37 e 34 rebotes respectivamente, porém, foram nos erros de fundamentos que mais se diferenciaram, 10 para a turma do norte e 15 para nós, números fatais num jogo desse porte e importância…

Mesmo perante tantos obstáculos, via-se uma seleção brasileira claudicante no jogo coletivo de ataque, no 5 x 5, exatamente pela dificuldade nos fundamentos, área de pleno domínio americano, dando início a chutação apelativa de fora, com 26,3% de aproveitamento, contra os 32% de um adversário que apostava firmemente no jogo interior, com as 5 bolas a mais mencionadas anteriormente. Muito bem, existem fatores e fatores, detalhes e detalhes, mas um tem importância vital, não só no momento chave de um jogo decisivo, e sim por todo um jogo decisivo, a presença sugestiva e corretiva de um atento e sagaz técnico ao lado da quadra, cônscio de ter dotado a equipe de bons sistemas, na medida da capacitação individual e coletiva do grupo que dirige, basicamente nos treinos, reservando seu saber e experiência para os jogos, onde as verdades verdadeiras acontecem, sendo ele o ponto de equilíbrio das mesmas, intransferível e de solitárias decisões, onde jamais poderá deixar de agir com a moderação e a sabedoria que envolve seu cargo de comando, E exatamente nesta situação de decisão extrema ele falha, se exaspera, perde o controle e o equilíbrio, sendo expulso da contenda, a meio tempo do segundo quarto, ou seja, joga a espada, o capacete e o escudo ao solo, se envolve na capa e abandona o campo da luta, como que afirmando aos bons e perspicazes entendedores do grande jogo – Não dá, simplesmente não dá !!…

Se foi um acidente de percurso, um inconformismo, ou um fato pensado, não importa, importando sim a indesculpável falta que faria e fez para a equipe, muito mais ainda sendo um técnico calejado, experiente e muito bem pago, deixando a equipe nas mãos de assistentes que em tudo e por tudo defendem e praticam um basquete “chega e chuta” em suas equipes no NBB, antítese do que pretendeu desenvolver na equipe, e que, numa contradição indesculpável, esquecem no banco o único jogador pontuador (inclusive nos 3 pontos) no quarto final, o Benite, cestinha da partida, perdida, mas que poderia ter alcançado um resultado um pouco melhor, ou talvez não, ante um adversário, que mesmo sendo considerado de classe C, deu uma senhora aula de competência nos fundamentos do grande jogo, dando seguimento e carradas razões ao seu histórico de formadores de jogadores, dos mais jovens a elite, quando ensiná-los, praticá-los e aplicá-los se tornam ferramentas de trabalho, onde enterradas cinematográficas e arremessos estratosféricos fazem parte natural do jogo, e não a essência do jogo como nos acostumamos a definí-lo…

Comando e comandados, irmanados e sempre presentes nos maus e bons momentos, jamais poderão prescindir da ausência de um deles. Imperdoável momento que vivemos, e que sirva de lição, mais uma das muitas que teremos a obrigação de abraçar daqui para diante, senão…

Amém.

Fotos – Reproduções da TV.




4 comentários

  1. João 10.09.2019

    Treinador ..acabei de ver uma verdadeira aula de paixão pelo jogo que a Argentina nos proporcionou nesta vitória contra a Sérvia…tudo o que faltou para a nossa seleção contra os Tchecos…não é a toa que tem destaques da nossa base que estão indo treinar no CT lá em Bahia Blanca…grande abraço coach.

  2. Alex 10.09.2019

    Essa é uma das piores, senão a pior seleção grega, que já assisti
    em Copas do Mundo ou Jogos Olímpicos.

    Nem de perto lembra a grande seleção grega de 2005 – 2006 do
    grande Coach Panagiotis Giannakis, que priorizava o jogo coletivo,
    o jogo interno no ataque e aplicava uma defesa feroz.

    Essa seleção grega atual é um amontoado que joga em função do
    Antetokounmpo, que parte como um touro desesperado em direção ao
    garrafão do adversário (e mesmo assim terminamos atrás deles na
    classificação geral).

    Falando em basquete coletivo e priorização do jogo interno no
    ataque, hoje, mais uma vez, os Hermanos nos deram uma aula de como
    praticar o basquete ‘moderno’ (basquete praticado por eles desde a
    Copa América de 2001 e a duas décadas e meia pelas seleções
    eslavas).

  3. Basquete Brasil 10.09.2019

    Prezado João, farei logo mais este assunto ser a matéria do artigo de hoje. Sem dúvida a Argentina continua a nos ensinar muito sobre o grande jogo, sem sucesso por aqui, infelizmente. Um abraço.
    Paulo Murilo.

  4. Basquete Brasil 11.09.2019

    Alex, no artigo de hoje creio que faço coro ao seu comentário sobre a equipe argentina, realmente empolgante. Um abraço. Paulo Murilo.

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