O PRESENTE PASSADO…

Já são vinte dias de quarentena, e prevejo muito mais daqui para frente, que deverão ser cumpridos rígida e responsavelmente, atitude cívica obrigatória nesses dias de crise sanitária por que todos nós passamos. Então, com o grande jogo paralisado, aqui e no resto do mundo, crescem no país as transmissões ao vivo com aulas e discussões sobre técnica, tática e treinamento de equipes, reunindo técnicos e professores interessados em novas tendências, vivenciando suas experiências na formação de base e na elite, enfim, se comunicando de uma forma que não haviam feito desde sempre. Aqui no blog, a procura de artigos mais antigos tem sido intensa, principalmente sobre fundamentos e sistemas de jogo, porém, muito pouco, ou quase nenhum interesse sobre treinamento, principalmente quando pecamos tanto no coletivismo, vítima mortal da baixa qualidade de nossos jogadores na prática consistente dos fundamentos básicos do grande jogo, e por conseguinte incapazes de exequibilizar com precisão e constância sistemas de jogo ofensivos e defensivos também. Este é um grande e delicado obstáculo que a maioria de nossos técnicos enfrentam, influenciados por culturas exógenas, antagônicas econômica e educativamente à nossa realidade de país carente, desigual e injusto…

Fico grato pela busca de antigos artigos, afinal estamos editando-os desde setembro de 2004, e já alcançam 1583 postagens, abrangendo um largo espectro de assuntos técnicos, táticos, sistêmicos, e acima de tudo, sobre a fina arte do treinamento, do ensino, da pesquisa e do estudo incansável, onde a figura escravizante, coercitiva e impositiva das pranchetas aqui jamais tiveram guarida. Por tudo isso, escolhi um artigo muito simples e evocativo sobre percepções e visões que se desvanecem frente a irrepetida realidade  com que nos defrontamos no dia a dia de nossa penosa caminhada, e por que não, diante de nossas ações como professores e técnicos do grande, grandíssimo jogo de nossas vidas…

  Amém.

MESTRES DO OLHAR E DO MOVIMENTO...

terça-feira, 15 de fevereiro de 2005 por Paulo MuriloEditar post17 Comentários

Este foi o título de uma reportagem sobre a exposição que explora as afinidades entre o escultor Alberto Giacometti e o fotógrafo Henri Cartier-Bresson publicada no O Globo no dia 17 deste mês. O texto menciona, entre várias coincidências, a vontade de ambos de congelar um momento em movimento. Disse Giacometti- “Toda a ação dos artistas modernos está nessa vontade de captar, de possuir alguma coisa que foge constantemente”. Já Bresson assim se manifestou- “Jogamos com coisas que desaparecem…e, quando elas desaparecem, é impossível fazer com que elas revivam”. Eis duas afirmativas que caem como um diáfano véu sobre as cabeças da maioria de nossos técnicos. Sonham de olhos abertos com a perpetuação dos movimentos que extrapolam de suas pranchetas mágicas, como se fosse possível a perenização das jogadas estabelecidas pelo sistema de jogo que empregam. Sempre que estabelecem contato com os jogadores repetem, e repetem, até a exaustão os mesmos movimentos, as mesmas soluções, clamam pela obediência à jogada, à rotatividade da bola, com uma intransigência que beira ao fanatismo. É como se fosse uma grande coreografia, onde a repetição das jogadas mortais é o supremo objetivo a ser alcançado. Mas, como mencionaram Giacometti e Bresson, os movimentos acontecem na mesma proporção em que desaparecem, e nunca são iguais, por isso viviam em busca de sua captação, a qual Bresson definiu como o “decisive moment”, o momento decisivo, único, fugaz e precioso se captado. Essa foi sua grandeza, pois foi o fotógrafo que mais o registrou no século XX. Nossos técnicos precisam, com urgência, entender que se uma jogada se repetir, com alto grau de frequência, pode-se afirmar que o sistema defensivo do adversário inexiste pela extrema fraqueza de seus integrantes. Um sistema ofensivo é de alta qualidade, não se der certo seguidamente, e sim se estabelecer situações que desequilibrem, pela imprevisibilidade de suas ações, o esquema defensivo do adversário. A repetição sistemática de jogadas produzem situações com alto grau de previsibilidade, e retiram dos jogadores a espontaneidade de suas ações, colocando-os numa situação de meros repetidores de movimentos pré-estabelecidos por seus técnicos, e se os defensores forem de boa qualidade, rapidamente se anteporão aos movimentos ofensivos, anulando sua eficiência. São nesses momentos que se estabelecem as diferenças entre uma equipe bem treinada de outra não tão bem preparada. Quantos são os técnicos que nos coletivos de preparação para os jogos, os interrompem para orientar sua defesa em função de seu próprio ataque pré-estabelecido? Que sempre orienta seus atletas na busca do inusitado, e não do conhecido? Que mesmo tendo um sistema fechado de jogo, propugna por rompê-lo sempre que possível, pois essa sempre será a ação desencadeada pelo adversário? Enfim, que reconhece ser a busca, não de um, mas de vários “momentos decisivos”, o fator a ser alcançado com afinco e dissociado do círculo vicioso coreografia/prancheta. Por praticar fotografia por longos anos, e de ter tido em Henri Cartier-Bresson um exemplo a ser seguido é que desde muito cedo procurei entender e praticar o “decisive moment” com algum sucesso, mas que pela compreensão de seu significado, pude levar a meus atletas um vasto leque de opções que visassem o encontro dos mesmos. “Jogamos com coisas que desaparecem…e, quando elas desaparecem, é impossível fazer com que elas revivam”. Cada jogada constitui um princípio e um fim em si mesma, e são irrepetíveis. Precisamos entender esse mecanismo para nos libertar das jogadas mágicas e das pranchetas milagrosas. Meus queridos colegas, precisamos encontrar novos caminhos, pois esse que aí está sendo trilhado por vocês não levará a lugar nenhum, perdão, sabemos onde ele vai dar…

Amém.

Henri Cartier Bresson e Alberto Giacometti

17 comentários

  • Carol
  • 12.05.2010
  • Eu queria saber de um movimento no basquetebol:mantenha a cabeça erguida e a bola debaixo da linha da cintura, não olhe para a bola enquanto se desloca e realize o controle de bola com os dedos e não com a palma da mão.Que movimento é esse?
    Responda, por favor 1!!
  • Basquete Brasil
  • 13.05.2010
  • Prezada Carol, este é o movimento básico do drible, o ato de progredir com a bola. Só não entendi bem o termo ” descola”, me parecendo ser usado em Portugal em vez de “desloca”. Em outras palavras – Ao progredir com a bola driblando, faça-o com a cabeça erguida, sem olhar diretamente para a mesma, e sim visualizando-a em visão angular ao sentido do deslocamento, usando para impulsioná-la somente as pontas dos dedos, jamais a palma da mão.
    Creio ser esta uma boa definição de drible.
    Espero ter respondido a sua pergunta. Um abraço, Paulo Murilo.
  • Amanda
  • 17.05.201
  • Eu achei que precisa mais das informações q as pessoas pedem pq fala fala mas não fala o q realmente a pessoa quer saber
  • Basquete Brasil
  • 17.05.2010
  • E o que você quer saber prezada Amanda? Aguardo suas indagações e perguntas. Um abraço, Paulo Murilo.
  • Jady
  • 07.06.2010
  • Olá eu gostaria de saber que movimento é esse?
    se inicia segurando a bola com as duas mãos.Ao passar a bola faz-se com que ela bata pelo menos uma vez no chão, antes de chegar ao colega
  • Basquete Brasil
  • 07.06.2010
  • Prezada Jady, assim como a leitora Carol acima, você me descreve um movimento dos fundamentos do basquete, que me parece ser parte de um teste ou prova da modalidade, numa escola ou faculdade.Sugiro que procure estudar mais os fundamentos (um bom livro é o Metodologia do Basquetebol, do Prof. Moacyr Daiuto, para que dúvidas como essa sejam dirimidas. Ah, o movimento é o do passe picado (bounce pass para os americanos, ou passe com ressalto, para os portugueses). Um abraço, Paulo Murilo
  • Helen
  • 20.06.2010
  • Sem ofender mas você falou bastante mas não que procurava.
  • Helen
  • 20.06.201
  • que ……..
  • Ellen
  • 20.06.2010
  • gostei parabéns
  • Basquete Brasil
  • 20.06.2010
  • E o que você procurava, prezada Elen? Diga, e quem sabe eu possa ajudá-la. Um abraço, Paulo Murilo.
  • Basquete Brasil
  • 20.06.2010
  • Obrigado, prezada Ellen. Um abraço, Paulo Murilo.
  • Paula
  • 08.06.2011
  • Muito bom o site, obrigada Paulo…As perguntas feitas pela Carol e Amanda, são de uma apostila da 6°série, do estado de SP.
    Pelo menos pra mim foi muito bom, pois o prof° de Ed.Física fala assim:Só mando fazer a apostila pq sou obrigado ‘-‘
    Então, mt obrigada, ajudou mt.
    Abraços
  • Basquete Brasil
  • 09.06.2011
  • Que bom que pude ajudá-la, fico feliz com isso.Um abraço.
    Paulo Murilo.
  • Tatiane
  • 15.08.2011
  • Não gostei das respostas
  • Laura
  • 27.05.201
  • Olá adorei esse site ,estava procurando informações para as respostas da apostila da sexta seria do segundo bimestre…e se não for incomodo gostaria que me esclarecesse o gesto que o juiz faz que ele com as duas mãos fechadas giras elas para a esquerda, vc sabe?ou eu não fui muito clara em minha pergunta???
  • Basquete Brasil
  • 29.05.2012
  • Prezada Laura, obrigado por gostar dos conteúdos do blog, mas peço que esclareça melhor seu pedido. Não entendi bem o seu relato sobre o gestual do juiz. Tente novamente. Obrigado. Paulo Murilo.
  • Basquete Brasil
  • Today
  • Como vemos, nenhum comentário específico sobre a matéria foi publicado, inclusive por qualquer técnico da modalidade, o que nos leva a triste conclusão de que nenhum deles entendeu absolutamente nada do que foi aqui postado, fato que justifica seus comportamentos técnico táticos até os dias de hoje, 2020. Realmente constrangedor…
    Paulo Murilo

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