TRÊS OBJETIVOS TÓPICOS…

Neuci, Didi, Angelina, Rosália, Luci, Marlene, Delcy, Marly, Zezé, Norminha, Átila, Regina

(…) Corria o distante ano de 1966, estava eu com 25 anos, jovem técnico das divisões de base do CR Vasco da Gama, quando fui convidado pela Federação do Rio para dirigir a Seleção Adulta Feminina no Campeonato Brasileiro daquele ano em Recife. Era uma época de grande prestígio no basquete feminino, cujas finais, sempre com São Paulo, arrastavam multidões e tinha ampla divulgação na mídia, inclusive no novíssimo meio televisivo. Numa equipe onde atuavam jogadoras do quilate de uma Norminha, Delci, Marlene, Neuci, Marli, Atila, Regina, Zezé, Rosália, Angelina, Didi, Luci, que enfrentariam em mais uma previsível final jogadoras inesquecíveis como Nilza, Odila, Ritinha, Nadir, Darci, Elzinha, Amelinha, Neusa, Marlene Righetto, Irene, todas elas formando a base da Seleção Brasileira.

Antes de um dos treinos que realizamos no ginásio da Policia do Exercito, conversávamos com a grande jogadora Marlene, que polida e educadamente ponderava que não se sentia segura e confiante com o sistema de jogo que eu desenvolvia nos treinamentos, que diferia bastante dos que ela se acostumara nas equipes de que participou. Fiz ver a ela que tivesse paciência e confiasse na proposta técnica que desenvolvia junto a equipe, e que em breve teria nela um dos suportes básicos para o sucesso da mesma. Tudo isso discutido em particular, e que somente hoje, 41 anos depois torno público. Nem o restante da equipe soube algo a respeito, e como garanti, foi a Marlene a grande estrela da final com São Paulo com seus maravilhosos 38 pontos, na única partida que disputou, pois havia se contundido seriamente ao final dos treinamentos no Rio.(…)

São dois parágrafos do artigo O peso do comando, publicado em 22/6/07 nesse humilde blog, reportando o comportamento ético e responsável da excelente jogadora que nos deixou na semana passada, originando um vácuo comportamental que encontra pouquíssimos exemplos similares no âmbito do basquetebol de nossos dias, repleto de estrelismos mercadológicos, em tudo e por tudo oposto ao comportamento daqueles que engrandeceram de verdade o grande jogo nesse imenso, desigual e injusto país. Marlene deixará imensas saudades em todos aqueles que a conheceram e a viram jogar magistralmente…

Um outro e chamativo tópico foi a convocação da seleção masculina para a America Cup, com 16 nomes da novíssima geração que vem se destacando no país, e com somente um atuante fora dele, na Argentina, o Caio, armador futuroso e experiente em quadras hermanas…

Tudo bem, ótima tentativa, corajosa até, mas que terá pela frente uma pedreira difícil (porém não impossível) de ser transposta pelo técnico croata, a mesmice técnico tática entranhada profundamente na forma de atuar dessa geração enclausurada no sistema único de jogo, padronizado e formatado desde sua formação de base, acrescentada pela atual e “revolucionária” filosofia de jogo sedimentada nos arremessos de três pontos, e o consequente desleixo nos fundamentos básicos de jogo, defensivos e ofensivos, dispensados que passaram a ser pela “matação orgiástica” bem para fora do perímetro, onde os mesmos perdem a razão de ser na distorcida ótica daqueles que vicejam no cerne do grande jogo, sem as mínimas qualificações e conhecimento para lá estarem, pseudos estrategistas e aspones que são em sua grande maioria, onde as exceções pouco contam…

Seleções de graduados e de novos e promissores valores comungam os mesmos princípios, a mesma formação, a mesma e profunda forma de atuar e pensar(?) o grande jogo, onde o lugar comum da intromissão e gerência absolutista de fora para dentro da quadra, os transformam em marionetes     encordoados a estrategistas convictos de que comandam e definem o jogo, através suas midiáticas e inúteis pranchetas, cada dia mais coloridas e vazias de idéias factíveis, na busca das jogadas mágicas e irrepetíveis, fatores aqui explicados…

Se coragem e discernimento tiver o bom croata, para atuar em dupla e permanente armação ( convocou quatro armadores dos bons), forçando o jogo para dentro do perímetro (alas e pivôs altos e atléticos convocados em profusão), para de 2 em 2, onde os arremessos são mais precisos e confiáveis, suplementares arremessos de três, lançados por quem realmente os dominam, nas condições ideais que exigem, e defesa pressionada por todo o tempo, principalmente nos armadores contrários, marcação frontal dos pivôs e de todos aqueles que adentrarem seu perímetro interno, todos exercendo a linha da bola lateralizada, jamais perpendicular a cesta, e tudo isso englobado num programa férreo e exigente nos fundamentos básicos (a forma mais eficiente de preparação física, onde a bola estará sempre presente), e onde a “puxação de ferro” tem de ser limitada a compensações pontuais de alguma deficiência com ordem médica, comporiam um verdadeiro programa de preparação para uma equipe jovem e promissora, estimulada a um sistema de jogo onde a criatividade e o improviso consciente, advindos de uma constante leitura de jogo, os tornassem proprietários de uma forma única de jogar, definitivamente dissociada de um sistema único castrador e hegemônico de uma geração de estrategistas que tanto mal nos impuseram de três décadas para cá…

Num terceiro tópico, um exemplo lapidar do que discutimos acima, a partida decisiva da Champions League, entre o Flamengo e o Quinsa da Argentina, vencida pelos hermanos por 92 x 86, e aqui contada em algumas imagens coletadas e comentadas:

Comecemos com a estatística final, onde os 13/32 (41%) nos 3 pontos do Flamengo (39), supera em muito os 8/23 (35%) do Quimsa (24), porém a supremacia dos argentinos nos 2 pontos, com 24/39 (62%), faturando 48 pontos contra os 34 do Flamengo, 17/38 (45%), onde os arremessos de curta e média distâncias confirmaram o conceito de precisão, claramente exposto quase ao final da partida nessa foto conclusiva de definições dentro do

garrafão, com 28 pontos dos hermanos e 12 dos brasileiros, uma evidência que prancheta nenhuma corrigiria, a não ser abrindo a porteira para a chutação de fora, o que ocorreu…

Aqui, la dentro…

A lúcida opção argentina de jogar preferencialmente dentro do perímetro, acrescentou uma outra e vantajosa alternativa, os 20/30 lances livres, contra os 13/19 dos rubro negros, e o mais instigante, o domínio dos rebotes com 47 (13/34) portenho, contra 33 (9/24) tupiniquim…

A cada temporada que passa, mais se solidifica o princípio da precisão real e decisiva dos arremessos de média e curta distâncias, sobre os mais imprecisos de longa distância, evidência lógica sob qualquer análise técnica, ou mesmo, no campo da física e da matemática. Outrossim, contratações estelares, por si só não garantem sucesso em competições, onde a primeiríssima equação a ser considerada, estudada, pesquisada, ensinada e treinada, não for estabelecida definitiva e estrategicamente aplicada ao cotidiano do grande jogo, da base a elite, como a norma basilar para o efetivo soerguimento do nosso sofrido e maltratado basquetebol, absolutamente nada alcançaremos. Os hermanos já descobriram isso a longo tempo, nos vencendo corriqueiramente, frente ao pétreo e inamovível corporativismo que se apossou do grande jogo (minúsculo para ele) desde quase sempre…

Ah, a equação – O sucesso técnico tático de uma equipe será diretamente proporcional ao maior ou menor domínio que seus componentes tenham sobre os fundamentos básicos do jogo.

Noves fora a festança irresponsável dos três…

Amém.

Fotos – Reproduções da TV e Arquivo pessoal.



Deixe seu comentário