OS DOLOROSOS ACHISMOS…

– “A falta é importante porque mostra a vontade de defender”…

– “Se o técnico tem direito aos tempos, devem ser usados”…

– “A falta inteligente deve ser usada para parar um contra ataque, ou para esfriar o jogo”…

– “Se é para fazer uma falta, uma trauletada, mas sem intenção de machucar, deve ser feita, evitando os dois pontos e enviando o adversário para a linha do lance livre, onde pode errar”…

Todas são opiniões da nova geração de comentaristas, pinçadas nas transmissões pela TV e pela internet, que inclusive promove alguns gênios do conhecimento técnico e tático do grande jogo, como uma jovem repórter simpática e falante, que após ser apresentada ao grande jogo uns dois ou três anos atrás, discorre hoje um caudal de conhecimentos que, após 50 anos de engajamento no mesmo, não consigo me equiparar, numa situação muito séria a ser pensada, pois todos eles, de posse unilateral de microfones, em redes nacionais, influenciam jovens por todo o país, com informações, e agora falando muito sério, falsas, errôneas e equivocadas premissas sobre uma modalidade desportiva mais do que centenária, complexa e altamente técnica, que exige muito estudo e pesquisa, e não supostos conhecimentos e chutações descabidas, irresponsáveis? Não sei…

Fala-se muito de defesas, como a do Pinheiros contra o Flamengo, mas “como” defenderam, silêncio total, e se quisessem ou pudessem se estender sobre os detalhes e minúcias, aí seria o caos, pois tais pormenores sequer desconfiam quais sejam, muito menos, como funcionam. Fica mais fácil e palatável a “forte vontade de defender”, cometendo aquelas faltas que a definem, dando as trauletadas necessárias, claro, sem más intenções, e o mais importante, agindo faltosamente com inteligência, pois exercer coletivamente a marcação com a movimentação das pernas, e não dos braços, flutuar de forma lateral e não longitudinalmente a cesta, e contestar em projeção verticalizada (trasformando o deslocamento horizontal em vertical) os longos arremessos, complementando com o movimento em extinção dos bloqueios (bem lembrado pelo Wlamir) nos rebotes, e priorizando, lá na frente, as finalizações de 2 em 2, otimizando todo o tempo de posse de bola disponível, de forma alguma é mencionado, por um único e singelo motivo, não sabem nem conhecem bulhufas do grande jogo, mesmo, mas são os que estão dando as cartas, deixando na poeira aqueles muito poucos que também empunham microfones, mas à sombra consentida dos gênios de plantão, por não ostentarem a imagem marqueteada e midiática que vende o produto NBB/NBA. Some-se a tudo isso o nível absolutamente surreal das ufanistas e tonitruantes narrações, e temos um retrato bem fiel das quantas andam a verdadeira situação do grande jogo nesse imenso, desigual e injusto país. Solução paliativa para mim? Desligar o som…

Agora mesmo, num pré-jogo na Arena Carioca, um dos comentaristas informa em primeira mão a estratégia inicial de uma das equipes que pagarão para ver as bolinhas do adversário, a fim de reforçar os rebotes pela flutuação aos longos arremessos, arriscando tomar alguns pontos, em favor do jogo de transição (?), evitando a segunda bola em rebotes ofensivos. Como vemos, o fator defensivo intenso, básico e presente não entra em consideração, mesmo sob o recente exemplo do Pinheiros vencendo o Flamengo “fungando no cangote” rubro negro o jogo inteiro, como deve ser feito de forma regular, e não esporadicamente…

Enfim, vamos vivenciando essa mesmice irritante e endêmica que sufoca o grande jogo entre nós, agora enriquecido com a prolixidade técnico tática de uma geração de comentaristas, irmanados nos equivocados achismos e pontos de vista, todos absolutamente convictos do que pensam saber e influir a realidade do grande jogo, ou seja, dolorosamente nada…

Amém.

Foto – Reprodução da TV. Clique duplamente na mesma para ampliá-la.

“A LINHA FÓBICA”…

Há muito tempo que não me divertia tanto assistindo um jogo de basquetebol, como o de ontem entre Flamengo e Mogi, principalmente pelos irônicos e bem colocados comentários do Wlamir, que entre jogos do NBB e as novelas, preferia-as sem pensar, ainda mais quando estão em seu final. O institucionalizado “chega e chuta” o assusta demais, assim como a barafunda que os jogadores fazem ao confundir “velocidade com pressa” nas conclusões das mais comezinhas jogadas, das mais primárias finalizações, errando em profusão nos fundamentos básicos do jogo, nos passes paralelos a linha final (provocados quase que automaticamente pelos deslocamentos padrão do sistema único, com seus passes de contorno), nos dribles e fintas, tropeçando naquele elemento que atrapalha muitos jogadores considerados de elite, a bola, e inclusive classificando alguns como “em extinção”, como o posicionamento defensivo e antecipativo nos rebotes, o abandono do simplório, porém eficiente DPJ, o desconhecimento do “giro” pelos pivôs, e o que classifica com propriedade de “linha fóbica”, como aquela que delimita os arremessos para os três pontos, numa genérica ação doentia, que mereceria aprofundados estudos, em que a maioria de nossos jogadores padecem fóbicamente, segundo o grande jogador e professor de primeiríssima linha…

O mais engraçado ainda é a nova tendência de alguns jogadores arremessando “do meio da rua”, anunciados aos berros pelos ufanistas narradores, como se a desenvolvida técnica do Curry se incorporasse na turma da forma mais “natural” possível, bastando para tanto simplesmente chutar, chutar, chutar…

Na véspera, um outro comentarista, ex técnico e conhecido pela vociferação verbal com seus jogadores, elogiando a atitude da LNB não permitindo os microfones nos pedidos de tempo, a não ser no minuto final dos jogos (uma velha e insistente reivindicação aqui desse humilde blog), como uma ação benéfica, pois na maioria das vezes os insultos e palavrório inadequado constrangia mais do que informava os ouvintes, num comentário sutil e revelador…

Todos os comentários, agora mais vastos e obrigatoriamente mais consistentes pela ausência do áudio vindo dos bancos, definirão o quem é quem da crítica e análise do grande jogo, a não ser que desenvolvam aos píncaros o festival de “encheção de linguiça” em que a maioria deles mergulhou na grande rede…

Como disse no princípio, a muito não me divertia tanto num jogo de basquetebol, mas com uma nesga de incredulidade ante os 38 erros cometidos por ambas as equipes (17/21), a chutação “fóbica” sem o mais ínfimo resquício defensivo (foram 19/46 bolinhas…), numa promoção de “tiro aos pombos”, pela maioria das equipes, com o consentimento “evolutivo” dos estrategistas sempre de plantão, na ânsia inconsequente de “modificar o jogo”, a la Curry/Thompson/Durant Company,  como se os possuíssem em suas equipes, numa projeção técnica que raia ao absurdo, e cuja cobrança mais adiante nos mais importantes torneios internacionais, onde as contestações se farão presente, em nada aliviará nossa consentida e equivocada opçao…

No entanto, nem tudo foi “diversão”, pois um debate foi estabelecido pelos comentaristas sobre os reais motivos da não convocação do Marquinhos para a seleção que disputa as eliminatórias para o Campeonato Mundial, e que teve no Wlamir, ao saber pelos colegas que assuntos pessoais indispunham o Petrovic com o jogador, comentou – “O técnico pode perder a confiança na pessoa, não no jogador, que é fundamental para a Seleção” – Discordo caro mestre, o jogador e o homem são a mesma pessoa, indissociavelmente ligados, principalmente a um grupo de trabalho, do qual, ele e o técnico fazem parte, e onde a confiança pessoal, técnica e profissional deve existir incondicionalmente, principalmente numa seleção brasileira, logo…

Amém.  

Foto – Reprodução da TV. Clique duplamente na mesma para ampliá-la.

QUE OS DEUSES NOS PROTEJAM…

Nessas duas primeiras rodadas do NBB 11, consegui, com a máxima benevolência possível, assistir jogos da maioria das equipes participantes, e como, invariavelmente acontece, me coloco na contramão da mídia dita especializada, pois os comento como professor e técnico de basquetebol em todos os parâmetros exigidos pelas funções, e não como torcedor, consumidor, entusiasta, ou mesmo comentador de uma modalidade complexa e altamente refinada como o grande jogo deve ser encarado e esmiuçado, sem as chutações a que é submetido no processo osmótico daqueles que o foram apresentados outro dia, sem contar as transmissões ufanistas e empoladas em termos “de como dizem os americanos”, como se isto fosse a nossa verdade do grande jogo, num colossal erro de falsa percepção e conhecimento profundo do mesmo…

Impressionante as elucubrações técnico táticas que são lançadas a esmo pela rede, pela TV, pelos blogs, e o que é mais tragicômico, sem um mínimo de autenticidade, pois comentam jogos rigorosamente iguais, praticados por equipes que se emulam freneticamente, onde americanos meia boca ditam suas normas individualistas (pranchetas? Ha, sei…), elevando o sistema único ao patamar supremo da mesmice endêmica a que pertencem, todos, rigorosamente todos, numa incômoda, precária e lastimável repetição do nada a que estão atrelados, dentro, e o pior, fora das quadras, bastando observar estupefatos os desconexos rabiscos nas midiáticas pranchetas desde sempre, a desenfreada hemorragia nas bolinhas consentidas e incentivadas pelos estrategistas, resultantes da ausência defensiva generalizada (logo falseadas), que retomam sua predominância em jogos, como Joinville e Pinheiros, onde 73 arremessos de três foram realizados (30/43), contra 45 de dois pontos (25/20), numa demonstração tácita do descaminho em que enveredamos a cada rodada que passa, realocando na cabeça do Petrovic sua maior preocupação em termos de seleção, de equipe enfim – como encarar de frente essa situação, combatendo-a, ou aderindo, como fizeram  seus colegas estrangeiros que o antecederam? – com os resultados que conhecemos, tristes resultados, e mais tristes ainda, catastróficos, a continuar grassando essa absurda autofagia…

Os erros de fundamentos continuam na faixa dos 27,2 por jogo, com somente uma partida abaixo dos 20 erros, Mogi 97 x 83 Pinheiros com 15 (num jogo de ontem o comentarista mencionou os 20 erros de uma das equipes como uma tragédia, no entanto classificou o jogo como um “partidaço” digno de nossas melhores tradições), sendo que um deles vem se avolumando perigosamente pelas mãos de armadores, categorizados ou não, que “conduzem” a bola abertamente no drible (cometendo a infração de andar com a bola, já que interrompem deliberadamente a trajetória da mesma em direção ao solo) , facilitando e exequibilizando jogadas e fintas mirabolantes, que sem a utilização desse estratagema ilegal, jamais se concretizariam, sem que os juízes os impeçam como deveriam fazê-lo. Aliás, lembremos que num jogo em Mogi do ano passado, a dupla de comentaristas Cadum e Boracin, mencionava aos risos que se as conduções fossem penalizadas, nenhum jogo nosso andaria, relato esse vindo de dois de nossos melhores armadores, inclusive de seleções nacionais…

Mas o mais frustrante, é ter de presenciar o “ritual” em torno do estrategista a cada tempo pedido, quando o mesmo se reúne com seus assistentes confabulando estratégias (que se treinadas dispensaria tais e inócuas reuniões), ter sua cadeira (trono?) colocada por um deles em frente aos jogadores, sua prancheta entregue por outro, para ao fim do discurso e dos rabiscos, devolvê-la, senhorialmente. Simplesmente constrangedor…

Acredito firmemente que, nem tão cedo veremos progressos em nosso infeliz basquetebol, investidor pesado em marketing, imitação (que não deveriqa ser assim) pífia da matriz, penduricalhos disfarçados em lazer, e arenas cada vez mais vazias, esquecendo a mater tarefa para desenvolver de verdade o grande jogo em nosso imenso, desigual e injusto país, o investimento maciço e estratégico na formação de base e de técnicos, entregue a quem tem competência de planejá-lo, orientá-lo e liderá-lo, também na elite, para servir de exemplo balizador aos que se iniciam, priorizando um maior envolvimento com os fundamentos do jogo, e o emprego de sistemas ofensivos e defensivos diferenciados, e não essa mesmice endêmica escancarada, descaracterizada e robotizada da nossa realidade, camuflando-a com um pastiche imitado, servil e colonizado do que, por força de um mercado voltado ao lucro, nos impingem desenfreadamente, e de fora para dentro. Acredito, honestamente, que temos muito mais a mostrar e demonstrar técnica e taticamente no mundo do grande jogo (já fomos grandes, lembram?), que não seja o que aí está, carcomido e absolutamente medíocre, onde nossos melhores prospectos são lançados além fronteiras às feras ainda púberes, com precário preparo estudantil (muitas vezes nem isso…), manipulados por agentes e empresários ávidos por lucros imediatos, a que preço for, tendo o apoio de uma mídia mais ávida ainda do reconhecimento de suas abalizadas, imprecisas e interesseiras projeções, muitas vezes incultas e irresponsáveis, vide o que vem acontecendo com nossos “craques” no mercado selvagem do basquetebol internacional, a começar pela matriz, onde sequer conseguem se manter 5 minutos em quadra, sendo descartados no varejo de um mercado que não perdoa a má formação de base, enquanto por aqui gasta-se muito dinheiro com estrangeiros de terceiro/quarto níveis (uns poucos se salvam, a começar pelos hermanos), participantes de um festim, onde o sistema único nivela jogadores, técnicos, diretores, jornalistas e torcedores, em torno de uma formatação e padronização aceita por todos, pois mantenedora de suas posições, empregos e discutíveis prestígios, se confrontados com a dura realidade internacional…

Sim, consegui com a máxima benevolência possível, assistir jogos da maioria das equipes participantes, e, sinceramente, preferiria não tê-lo feito, a fim de não sentir o triste desprazer de ter postado a matéria acima , mas convenhamos, alguém teria de fazê-lo, principalmente se realmente se interessa e ama o grande jogo bem formado, treinado, discutido e, acima de tudo, bem jogado, pois lá se vão 14 anos de Basquete Brasil, esta humilde e democrática trincheira em defesa de todo um corolário de conhecimentos factíveis e responsáveis, ao largo das chutações e achismos modais, anônimas ou não… 

Que os deuses nos protejam…

Amém.

Fotos – Conferência de abertura do 3o Congresso Mundial de Treinadores de Lingua Portuguesa, Lisboa julho de 2009 (video).

– Divulgação CBB. Clique duas vezes nas mesmas para ampliá-las.

DESDE 2010…

Dando uma boa revisada nos 1482 artigos aqui publicados, me deparo com este de 1/8/2010, um pouco depois de me despedir do NBB, numa curtíssima temporada de 49 dias e 11 jogos, artigo este que preconizava um novo tempo que, passados 8 anos, muito pouco foi modificado em nossa forma de jogar o grande jogo, a não ser por algumas pontuais adaptações, como a agora generalizada dupla armação, e a contratação cada vez mais ampla de alas e pivôs rápidos, ágeis e flexíveis, sem, no entanto, ir fundo na fluidez ofensiva e o emprego de defesas fundamentadas nas flutuações lateralizadas, e acima de tudo, na preocupação estratégica do treinamento integral dos fundamentos individuais e coletivos do jogo, obrigatoriamente, pois se constitui no ferramental  básico para que o mesmo possa ser praticado com firmeza e conhecimento acerca dos sistemas ofensivos e defensivos escolhidos por cada equipe, independente de idade, posição e categoria, inclusive em seleções…

Eis o artigo:

domingo, 1 de agosto de 2010 por Paulo Murilo7 Comentários

A seleção brasileira se sagrou campeã no sul americano, e em cima do tradicional adversário, a Argentina, pena que somente por 10 pontos, quando, se de 2 em 2 pontos poderia ter chegado aos 20-30 de diferença, bastando que para tal tivesse concentrado o jogo no perímetro interno, onde nossos pivôs se impuseram pela velocidade, e não pelo embate físico. A síndrome dos 3 pontos ainda não foi debelada, por puro ciúme dos “shooters” com a dinâmica dos 4 pivôs móveis que se revezaram de 2 em 2, com o Murilo de regente, jogando de frente para a cesta, e não de costas como os pivôs grandalhões e pesados argentinos. E para 3 pivôs móveis faltou pouco, já que o Arthur e o Tavernari também se movimentaram em deslocamentos constantes dentro do perímetro, onde os 2 pivôs ágeis e móveis reinaram absolutos.

E tudo isto fundamentado nas ações de 2 armadores sempre em quadra, nas figuras do Fúlvio, do Nezinho e do Luis Felipe, todos armadores natos, ações estas menos decisivas quando o Duda destoava na função por não dominá-la como os outros 3, daí sua preferência pelos arremessos de 3 sempre que possíveis. E mais, com os armadores sempre próximos, e não como costumavam jogar se escondendo no fundo do ataque.

Tanta mobilidade também acrescentou uma melhora substancial na defesa antecipativa e veloz, falhando só e gravemente nas anteposições dos precisos arremessos longos dos argentinos, quando um posicionamento bem próximo e energico aos mesmos, os instigariam às conclusões de 2 pontos, numa troca de 3 por 2 altamente benéfica para a equipe.

E pensar que quando sempre defendi a utilização permanente da dupla armação no controle do perímetro externo, e da utilização de pivôs de grande mobilidade no interno, fui tachado de teórico e lunático, até o dia em que retornei às quadras e provei com o humilde Saldanha que as possibilidades existiam, e não só com dois pivôs móveis, e sim com três! Mas estamos aprendendo, e depressa. Por isso parabenizo o João Marcelo que conseguiu exequibilizar esse inusitado modo de jogar, com algumas boas adaptações, fruto do que observou também, quando sua antiga equipe do Paulistano enfrentou a minha no NBB2 e perdeu em casa, exatamente pela utilização que fizemos da dupla armação e dos três pivôs móveis que não soube, ou não pode marcar. Agora a Argentina que se cuide daqui para a frente, já que estamos, aleluia, evoluindo técnica e taticamente de verdade.

O engraçado nessa história toda foi a declaração do Magnano em uma entrevista cedida ao jornalista Rodrigo Alves do Rebote em 30/06/2010, sob o título Papo de Mundial – Ruben Magnano, quando declarou –“ No meu estilo não jogo com dois armadores, mas há uma possibilidade tática aberta”.

Acho que a comissão técnica que esteve na Colômbia nesse sul americano optou pela “possibilidade tática” e venceu os conterrâneos do excelente técnico argentino. Mas será ser possível que essa mesma “possibilidade” possa ser empregue no Mundial que se avizinha? E por que não, também, os 3 grandes pivôs?

Não sei se teria a coragem necessária para fazê-lo. Pena, pois seria instigante e revolucionário. Meu humilde Saldanha (hoje acabado…), o provou.

Amém.

 

7 comentários

  • Douglas Stapf Amancio01.08.2010· 
  • Quem assistiu o primeiro jogo contra o Chile, não acompanhou mais nenhum jogo e assitiu o jogo contra a Argentina não acreditou no que viu. Era um outro time vestindo a camisa do Brasil. Os chutes de 3 foram bem menos à esmo e a movimentação que os armadores impuseram deu a certeza que os argentinos iriam correr atrás dos brasileiros o jogo inteiro.
  • Ótimo trabalho da comissão técnica. E é uma pena que apenas o nezinho fora chamado para compor os treinos da seleção principal. O Fúlvio merecia uma chance também. Que venha o mundial.
  • Henrique Lima01.08.2010·
  • Professor Paulo, faz tempo que quero questioná-lo o seguinte.
  • Eu assisti alguns jogos do Boston Celtics, time da temporada 1986.
  • A linha principal era: Danny Ainge, Dennis Johnson, Larry Bird, Kevin McHale e Robert Parish.
  • Quando vi, me lembrei muito do sistema proposto pelo senhor.
  • Muito.
  • Neste vídeo talvez fique mais claro do que meu texto:
  • http://www.youtube.com/watch?v=pnm24AWHeMo&feature=related
  • É apenas um breve vídeo, mas a forma de jogar da equipe é muito interessante.
  • Bird ora no poste alto, ora no poste baixo, raramente recebendo parado a bola. Os outros dois pivôs, em movimentação constante, abrindo para passar se necessário.
  • E dois armadores. Ainge e Johnson, com disposição para os passes e depois sim para a conclusão, praticamente todas dentro do perímetro.
  • O Boston chutava pouquíssimo de três, aliás nesta época, os chutes de três pontos pouco representavam nas partidas, em termos de volume.
  • Isso, se considerarmos que o volume ofensivo de Larry Bird era de:
  • 19 chutes tentados por jogo, apenas 2 da linha dos tres e outros 17 dentro do perímetro.
  • Professor, quando vi, me lembrei e muito do que o senhor propõe.
  • Sei que Bird não é pivô. Não como os pivôs são referenciados hoje, como Shaquille O´Neal ou Dwight Howard. Mas, porque os pivôs não podem ter a qualidade de passe, visão de jogo, drible, arremesso de um Bird ? Porque negligenciá-los ?
  • Porque Kevin McHale e Robert Parish servem neste sistema do Boston como passadores, como definidores de jogadas de todas as formas, mas prioritariamente perto da cesta e recebendo em movimento e alguns outros pivôs de hoje, apenas estacionam e pedem bola parados ?
  • Enfim Professor, era essa minha dúvida.
  • Um grande abraço ! Henrique Lima
  • Henrique Lima01.08.2010· 
  • PS: O link que enviei Professor, não aparece, mas se selecionar o texto, o senhor verá.
  • Basquete Brasil02.08.2010· 
  • Sem dúvida foi uma outra equipe. Só discordo quanto aos arremessos de três, que foram vastamente tentados em detrimento do jogo interior, este sim, devastador. Nossos jogadores que atuam fora do perímetro ainda titubeiam na leitura do jogo, mais preocupados que sempre estão em suas produtividades finalizadoras, já que incentivadas por uma mídia equivocada.
  • Por estes comportamentos, prezado Douglas, torna-se urgente voltarmos aos fundamentos, intensa e dedicadamente.
  • Um abraço, Paulo Murilo.
  • Basquete Brasil02.08.2010· 
  • Sim Henrique, já houve um tempo em que o basquete era jogado magnificamente na NBA. Veja como dois eram os estilos de jogo, com sistemas antagônicos e ambos eficientes.Outras equipes da liga atuavam mais diferentemente ainda, numa profusão criativa e de técnica individual e coletiva refinada.Hoje, a globalização esmagou o bem jogar, substituindo-o pelas Battles under basket, dunks,e muito marketing. Sobrou o que aí está. Mas como sou teimoso, e não saudosista puro e simples, mantenho o sonho dentro de mim, espelhado nas equipes que, teimosamente ainda dirijo.
  • Um abraço, Paulo Murilo.
  • Henrique Lima03.08.2010· 
  • Professor, a parte da tática do passado da NBA é muito mais rica do que a atual.
  • Atualmente, devemos ter umas 20 equipes jogando da mesma forma e várias delas perdendo vários jogos e mesmo assim, ficando na mesmice e algo em torno de 7-10 equipes que jogam um pouco diferente ou com conceitos que não são habituais na NBA.
  • Alias Professor, acho que nunca na liga tivemos tão poucos técnicos excelentes. Tirando Phill Jackson, Popovich, Sloan, Adelman, Don Nelson e talvez mais um ou outro que esqueci agora, o resto não faz parte de uma tradição de grandes técnicos que a NBA tinha ao menos, no começo da década de 90.
  • Isso também contribui para que o jogo seja repetido várias vezes e repensando pouquíssimas.
  • Um abraço, Henrique Lima.
  • Basquete Brasil03.08.2010· 
  • A isto chamam de globalização, artimanha logística que justifica a linearização de uma atividade humana, facilitada e operacionalizada por um poder central. Criar novos caminhos ante tal poder, e que auferem grandes lucros a todos os envolvidos no processo, torna-se um fato raro, e frontalmente combatido pela ameaça de quebra de um monopólio aceito e degustado pela maioria, de técnicos à jogadores, de dirigentes a mídia, como um clube fechado, onde a mediocridade se disfarça de elite, todos em defesa do status quo.
  • O passado de tradições esportivas advindas basicamente do meio escolar e universitário, locais onde o estudo, a pesquisa e as inovações tecnológicos nasciam e se espalhavam, inclusive no âmbito dos desportos, cedeu seu lugar às grandes organizações que visam o lucro, as franquias, onde a pragmatização técnico tática garante o fluxo contínuo da riqueza mantenedora do poder e de seus seguidores.Uns poucos tentam quebrar essa corrente, como os Suns em um passado recente, rapidamente engolfado pelo poder maior.
  • Aqui entre nós, esse exemplo vem se esgueirando sorrateiramente, mas pela insipiência do combustível básico para a sua sobrevivência, o aporte financeiro, ainda existem algumas brechas onde as inovações e atitudes corajosas podem reverter esse provável quadro. Quem sabe aqui em nosso país possamos pelo menos equilibrar tais tendências. A pobreza de recursos pode, quem sabe , retardar a imposição vinda de fora. Talvez…
  • Um abraço. Henrique. 

 

Como vemos, muito pouco mudou de lá para cá, principalmente no aspecto tático do jogo, onde o sistema único prospera a cada dia, adaptando-o a dupla armação e alas pivôs mais velozes, mantendo sua estrutura de comando fora da quadra, através imposições de jogadas “exaustivamente treinadas”, enxurradas de arremessos de três, atenção defensiva pífia, principalmente fora do perímetro, e o pior, fundamentos cada vez mais negligenciados, origem inconteste da ausência crônica da fluidez coletiva, por estrategistas mais ligados às suas midiáticas pranchetas, e pouco, muito pouco interessados em treiná-los, sequer ensiná-los, por um único e decisivo motivo, não saberem, em sua grande maioria, fazê-lo, ficando muito mais fácil trocar “as peças” claudicantes ao final de cada temporada, reiniciando o triste processo ano após ano…

Quem sabe um dia acordemos, quem sabe…

Amém.

Foto – Divulgação CBB. Clique na mesma para ampliá-la.

A INADIMISSÍVEL CEGUEIRA…

Olhando com cuidado e muita atenção a página inteira do O Globo ai do lado, fico imaginando o que estão fazendo com o basquetebol brasileiro, proposital e cirurgicamente, destinado-o ao comezinho papel de “poste”(está na moda…) virtual e presencial de um outro jogo, de uma liga que sequer pratica as regras internacionais, dimensionada à estratosfera de um poder econômico brutal, e um suporte técnico lastreado por uma formação maciça de base em suas escolas e universidades, numa contraposição devastadora frente a nossa realidade educacional, econômica e social, mas possuidora de um emergente mercado a bordo de seus 208 milhões de habitantes, onde um décimo de seus jovens, por si só, viabiliza investimentos em calçados, uniformes e apliques oriundos das franquias da turma lá do norte, e claro, de seus fiéis e colonizados prepostos abaixo do equador…

Honestamente, não vislumbro qualquer vantagem mínima nesse intercâmbio, a não ser para a turma lá de cima, amaciando nossos jovens na inoculação de seus princípios e metas a médio e longo prazos, onde o acesso às riquezas de seu interesse estratégico e político, se tornam factíveis na medida direta da maior ou menor simpatia e admiração de seus valores por parte de uma juventude torcedora da NBA, da NFL, e por que não, do MMA…

O basquetebol, sem dúvida alguma é o desporto mais consumido em todo o mundo, divulgado e estudado de forma científica desde sempre, e aquele que comporta a mais vasta bibliografia acadêmica e popular, o que justifica plenamente o imenso interesse político social dos irmãos do norte, principalmente na inteligente globalização que estabeleceram em sua liga maior, elencando cada vez mais estrangeiros em suas franquias multibilionárias…

Olhando com mais cuidado ainda me pergunto – o que representa o Le Bron, ou o Tom Brady para o nosso país, para nossos jovens, quando nenhum deles jamais poderá ter acesso ao seu status econômico e social jogando basquetebol ou chutando uma bola oval? Quem sabe trocando pancadas numa arena de MMA, como alguns patrícios que, inclusive, sugerem ser a modalidade adotada em nossas escolas…

Triste país, onde nem a direita e nem a esquerda deseja o povo educado. aquela para se manter no poder, esta para usá-lo como massa de manobra para conquistá-lo, como nos últimos desgovernos que nos lideraram, e que ainda teimam em manter o que aí está, vide a ausência dessa estratégica necessidade nos discursos dos que aí estão na reta final das eleições…

E no compêndio educacional e cultural de nosso imenso e injusto país, o grande jogo tem um lugarzinho no coração de nossos jovens, e daqueles que já o foram um dia, nas escolas, nos clubes, nos parques, e nas imorredouras imagens de um recente e brilhante passado, onde venciamos a todos, mesmo aqueles que agora nos impõem regras e comportamentos fora de nossa realidade, mas plenos da certeza de que, pelo poder econômico nos dobraremos a sua cultura e poder hegemônico…

Este é o padrão que está sendo estabelecido por uma liga associada a liga maior, aquela lá de cima, onde os negócios, os patrocínios e os master investidores semeiam a padronização, a formatação de um conceito de basquetebol antítese de nossa realidade de país carente daquele aspecto que tornam seus mentores poderosos, a formação de base, a massificação desportiva nascida na escola e nas políticas governamentais, nos destinando a feéríca ilusão de um espetáculo dentro das quadras que raia ao ridículo atroz, em sua pobreza técnico tática e de formação de base, onde a média de erros de fundamentos, nessa versão 2018 da LDB, alcança os 35.9 por jogo, com partidas, como  UNI 71 x 85 Corinthians, com inacreditáveis 59 erros de fundamentos (29/30) !! E como nos primeiros quatro jogos da primeira rodada do NBB11, quando duas equipes perdem seus jogos arremessando mais de três pontos do que de dois (Paulistano 8/37 e Brasilia 11/38), com um dos técnicos justificando Precisamos defender melhor. Tomamos bolas fáceis. Nós precisamos evoluir muito defensivamente. Isso é o que vai dar força para o time buscar os resultados. Porque com o poder ofensivo que nós temos, vai ser natural o nosso ataque desenvolver bem”- Terrível equívoco este, pois com tal desperdício de tempo e esforço com bolinhas em profusão (11/38), perdendo o jogo por um ponto, bastaria seguir a regra das continhas, trocando metade das bolas de três perdidas pelas de dois, quando venceria com alguma folga. Mas é claro que os jogadores tiveram o beneplácito do técnico na enxurrada de bolinhas, corroborando com a afirmação do mesmo sobre o “poder ofensivo” da equipe, ou não?

Felizmente, parece, ainda de uma forma um tanto tímida, que a hemorragia dos três pontos começa a ser estancada (inclusive na matriz) com contestações mais enérgicas e presentes no perímetro externo, o que será muito bom para o basquetebol tupiniquim, num momento em que as equipes embarcam seriamente na dupla armação, e investem em alas e pivôs atléticos, rápidos e flexíveis, mesmo que ainda falhos nos fundamentos básicos, tornando o jogo mais dinâmico, apesar de ainda muito longe da fluidez necessária para alçar ao patamar competitivo no campo internacional, fator este que exige um didatismo mais elaborado para o ensino e a aprendizagem da mesma, num processo pedagógico exclusivo de uns muito poucos profissionais ainda existentes no país, porém relegados ao ostracismo em prol de uma corporação de estrategistas, pouco ou nada interessada em modificar sua rentável e proprietária zona de conforto no restrito mercado de trabalho ora existente, onde o QI ainda impera absoluto…

E o mais instigante, é a irrefutável constatação, de que a origem de todo este movimento renovador tem sido proposital e politicamente omitido desde o NBB 2, quando iniciei junto ao Saldanha da Gama, com somente 49 dias de trabalho e 11 jogos disputados, tudo o que de forma rudimentar adaptaram no que aí está, demonstrados publicamente através os quatro primeiros vídeos completos de jogos daquela competição (hoje universalizados através redes abertas e fechadas de TV, Facebook e Tweeter), nos quais todos aqueles avanços acima mencionados em conquistas técnico táticas foram divulgadas em 2010, bem antes das mudanças atuais, que estão sendo propagandeadas como as desencadeadoras do “moderno basquetebol”, mas que vem sendo copiadas e empregues sem o mais remoto reconhecimento de como, ou através de quem se iniciaram, numa canhestra apropriação, porém capenga e confusa, pois não conseguem penetrar no âmago de suas concepções, onde o didatismo acima mencionado se torna impenetrável para essa turma que se convenceu que o grande jogo nasceu junto com ela, esquecendo que desde o fim do século dezenove ele já existia, com a complexidade e a grandeza que desconhecem, e sequer se interessam em estudar, dando razão ao Alberto Bial em seu depoimento na matéria do O Globo reproduzida ao lado…

 

Mas duro mesmo é você testemunhar um ala pivô galardoado em seleções nacionais, a cinco segundos do final do jogo entre Corinthians e Franca, partir driblando de frente para a cesta, tentar uma finta com troca de mãos, perder a bola por pura inabilidade fundamental, dando adeus a uma possivel vitoria, numa condensação da dolorosa realidade em que lançaram o grande jogo, numa padronização e formatação absurda, quando inverteram com suas obtusas e midiáticas pranchetas e”filosofias” de jogo a prioridade dos fundamentos, substituídos e minimizados  pelo sistema único, num acordo e conluio inter pares, que nos lançou num poço que parece não ter fim, porém enfeitado e glamourizado com penduricalhos voltados aos poucos frequentadores das enormes e desertas arenas, também transformadas em rinhas de torcidas de camisa, onde o esporte cede vez ao pugilato e gratuitas agressões…

Fico por aqui, mas antes sugiro a leitura a seguir, de um blog de basquetebol de Joinville. elucidativo e revelador, pecando somente em não enfatizar os aplausos espontâneos de sua torcida pelas grandes jogadas da esquecida equipe do Saldanha (que podem ser ouvidos no video), com seu basquetebol fluido e realmente apaixonante, executado por excelentes jogadores, nada valorizados ou mesmo bem remunerados, mas plenos da importância de praticarem um basquetebol proprietário e evoluído, o mesmo que tentam desde então copiar, sem no entanto reconhecer de onde vem o canto do galo. Se quiserem atestar o que aqui exponho, se aboletem na poltrona, curtam, aprendam, e se humildes forem, acompanhem os aplausos da torcida catarinense, num ginásio repleto e pulsante frente a uma forma inovadora de jogar o grande, grandíssimo jogo

Amém.    

Fotos – Reproduções da TV. Clique duplamente nas mesmas para ampliá-las.

Video – Arquivo particular.

Outros videos disponiveis no espaço Multimidia deste blog.

RESPONDENDO AO ALEX NETTO…

Um comentário sobre o último artigo aqui publicado, merece, sem dúvida, uma resposta a altura de sua importância:

Alex – Ontem

Por uma incrível coincidência ouço a duas décadas que “foi nos detalhes” ou “faltou sorte na hora H” sempre que somos derrotados para uma seleção de ponta da América do Norte, do Caribe ou da Europa (as européias, em especial as eslavas, que jogam “batendo na defesa”).

Poderia ajudar a desvendar esse mistério professor (o porque essa ‘coincidência’ persiste a duas décadas) ?

 

Vamos lá então, prezado Alex – Comecemos com uma pequena equação de primeiríssimo grau – A qualidade e força de uma equipe está diretamente proporcional ao maior ou menor conhecimento e domínio dos fundamentos do jogo, por parte de todos os seus integrantes, dentro e fora da quadra – verdade indiscutível na prática do grande jogo, e que não apresenta a relevância de sua básica importância na formação de base dos nossos jovens que se iniciam no mesmo. Não se trata de um mistério, e sim de uma brutal realidade no processo de ensino e aprendizagem do basquetebol em nosso país, onde os sistemas táticos antecedem em tempo e importância o ensino dos fundamentos, numa inversão de prioridades que nos tem causado enormes, e até agora, intransponíveis reveses…

Toda essa carência de conhecimentos tem origem a partir do início dos anos 70 com a ida dos cursos de educação física para os centros de ciências da saúde, saindo de sua base educacional dos centros de filosofia e ciências humanas, ocasionando uma radical mudança curricular, onde os seis semestres dedicados ao ensino dos desportos, foram reduzidos a dois, ás vezes um só semestre, trocados por disciplinas da área biomédica, dando início ao ciclo do culto ao corpo, mantido até os dias de hoje, que somado a criação dos bacharelados de educação física, desencadeou e sedimentou a uma indústria do corpo que movimenta mais de 12 bilhôes de reais ao ano, sacramentada pelo sistema Confef/Crefs, avalizador e agenciador da mesma com suas holdings monumentais, onde a educação física e o desporto voltado aos jovens nas escolas e clubes se torna indesejável ante a lucratividade ensejada pela ausência de políticas nacionais voltadas aos mesmos…

Com professores e técnicos mai formados, o aproveitamento de ex jogadores e antigos leigos referendados como “provisionados” pelo sistema Confef/Cref passou a vigorar no país, com a diminuição da qualidade, e mesmo do total desconhecimento didático pedagógico necessário ao ensino qualificado, dando origem ao descalabro que atestamos nos dias de hoje, onde as parcas verbas governamentais se destinam ao topo de uma injusta e absurdamente invertida pirâmide de ponta cabeça, e cujos resultados finais retratam nossas colocações no cenário internacional…

Somemos a tudo isso, no caso do basquetebol, a política e criminosa fusão do estado da Guanabara com o estado do Rio de Janeiro, que até aquela época rivalizava com São Paulo, por ser uma ex capital da república, e ser a segunda economia do país, que a partir daquele trágico momento  foi transformado num violentado e hoje miserável município, espoliado e humilhado no cenário nacional. E o mais trágico é sabermos que mesmo constando um plebiscito na constituição para aprovação da fusão por parte das duas populações envolvidas, nada foi levado em consideração pelo governo militar, que via na mesma a dissolução da eterna e histórica resistência carioca aos governos absolutistas…

Claro que os desportos foram atingidos em cheio, destinando a São Paulo a dominância político educacional dos mesmos, inclusive o nosso amado basquetebol. O resultado aí está, escancarado a todos, com o afastamento radical da influência carioca, que gerava o equilíbrio entre os dois mais importantes pólos de desenvolvimento do grande jogo entre nós, e não vejo a médio e mesmo longo prazo, o reequilíbrio da balança…

Todo esse processo fez nascer o domínio unilateral, por parte de uma geração de técnicos, voltados aos exemplos advindos do hemisfério norte, principalmente dos Estados Unidos e mais recentemente de uma Europa mais organizada e técnica, no intuito de os fomentarmos,  esquecendo porém, que tais e poderosas influências sempre foram fundamentadas numa formação de base colegial e universitária poderosa e massificada, fator este ausente em nosso país, gerando os abissais equívocos com que nos deparamos desde sempre…

Finalmente, o ápice dessa tragédia, foi a decisão absurda e suicida, pela adoção de um sistema único de jogar e ensinar (?) o grande jogo, copiada, formatada e padronizada  ipsi literis da NBA, sem se darem conta, por indesculpável ignorância, flacidez mental e oportunismo preguiçoso, de ao menos, adequá-lo (se isso fosse possível…) a nossa realidade, exposta no texto acima, seguindo a norma arrivista e aventureira do que “se lá dá certo, por que não aqui?”, num lamentável processo colonizado e excuso…

Então, como explicar, ou mesmo justificar as coincidências mencionadas por você Alex? Creio que o exposto dirime suas dúvidas, que poderemos sintetizar afirmando que – Perante um quadro formativo, técnico e tático, onde a ausência quase total de alternativas didático pedagógicas possam ser estudadas, confrontadas e utilizadas, sob o democrático princípio da diversidade e do contraditório, fontes inesgotáveis da criatividade e do consciente improviso, como pretender formar técnicos, professores e jogadores diferenciados e tecnicamente evoluídos, capazes de confrontar as clássicas “coincidências” tão bem formuladas por você Alex, como? Creio que você agora sabe as respostas, logo…

Amém.

Foto – Arquivo pessoal. Clique duas vezes na mesma para ampliá-la.

AMARGA INCOERÊNCIA…

No último artigo aqui publicado, apontei a enorme incoerência que separava a primeira entrevista dada pelo novo técnico da seleção brasileira, Petrovic, da realidade em que se encontra na direção de uma equipe que prioriza os arremessos de três pontos a cada ataque, somente cedendo nas intenções quando contestados fortemente, e mesmo assim, tentam as bolinhas, equilibrados ou não, como num primal impulso impossível de ser refreado. Sem dúvida alguma é o perverso reflexo, adquirido e sedimentado desde uma formação de base mais perversa ainda, pois privilegia o menor esforço e exigências frente à complexa e dificílima aprendizagem dos fundamentos básicos do jogo, substituindo-os pela chutação desenfreada a muitos metros da cesta, aparente e erroneamente protegidos de forte anteposição defensiva, num monumental erro de diagnóstico do que venha a ser o grande jogo e sua perene evolução, e que já começa a encontrar e desenvolver ações que muito mais cedo do que imaginam, inviabilizará a liberdade para empregá-los…

Tal incoerência é perfeitamente visualizada pela foto ao lado, onde a fugaz estatística apresentada na tela, confronta a enorme preocupação de um técnico frente a uma situação real de jogo que, ferindo seus princípios técnico táticos forjados em sua longa experiência européia, se vê refém de uma outra, diametralmente oposta, haja vista seu posicionamento explanado na entrevista mencionada…

Logo, a derrota pode ser perfeitamente explicada, porém não justificada, por contundentes números que conotam injustificadas situações, tais como o fato de ter perdido para uma equipe que convergiu em seus arremessos (19/32 nos 2 pontos, e 14/33 nos 3), pois não foi a sua equipe capaz de contestar a artilharia de fora, aparentemente preocupada com o poderio interior dos canadenses, que espremeram ao máximo a seleção em seu perímetro interno, abrindo totalmente a porteira para seus arremessos externos, e foram 14 bolas de 3, ou seja, 42 pontos dos 85 conquistados, praticamente a metade…

Por outro lado, viu sua equipe arremessar 28/49 de 2 pontos, ação que deveria ter tido continuidade, e amassar o aro num 5/20 de 3 em tentativas, perpetradas por nossos “especialistas”(só o Benite matou 1/7…), num erro de graves consequências, que poderia ter sido contornado se contestássemos os canadenses da mesma e competente forma com que nos contestaram, ocupando os espaços internos e externos com velocidade e estratégicos posicionamentos, técnicas que grande parte de nossos jogadores desconhecem, pois, desde cedo, são direcionados a chutação, e raramente a evitá-la por parte dos adversários, numa autofagia cruel e suicida, e cujos resultados aí estão…

O experiente técnico não pode cometer o erro dos dois estrangeiros que o antecederam, o de adaptar, ou mesmo esquecer seus princípios básicos do jogo, onde somente o conhecimento e a rude prática dos fundamentos poderá instrumentalizar os jogadores na difícil arte de defender, ou mesmo atacar com equilíbrio na busca dos arremessos mais precisos, os esquecidos e minorizados arremessos de curta e média distâncias, reservando os de longa para aqueles especialistas de verdade, e mesmo assim em condições plenas de equilíbrio e liberdade, como uma arma complementar, e não como uma ação prioritária de jogo…

Petrovic tem de se adequar aos seus princípios externados na entrevista inicial, sem exceções, exigindo e aplicando um competente preparo nos fundamentos, para que aqueles sejam exequibilizados nos jogos, e não se tornando refém de uma forma de jogar oposta a seus conceitos, pois em caso contrário não obterá os resultados que tanto persegue, e pelos quais é muito bem pago. Mas para tanto, necessita de competente ajuda, que no caso de seus atuais assistentes, vencedores de um sul americano marcado pela convergência que já se torna endêmica, à imagem e semelhança do sistema único, pouco ou nada frutificará, já que adeptos da chutação nas equipes que dirigem, obrigando-o a uma guinada técnico tática, na busca de algo diferenciado na maneira e forma de jogarmos, começando com a retomada de seus princípios, bem de acordo com o posicionamento inicial em terra tupiniquim. Vai conseguir? Torço para que sim, mas lá no fundo desconfio que não, infelizmente, pois o que vemos na LNB, porta de entrada da nossa elite, onde a incrível quantidade de erros de fundamentos ofensivos e defensivos, e o “chega e chuta” desenfreado, em nada recomendam nossos jovens talentos ao enfrentamento internacional de verdade, órfãos que são dos fundamentos do grande jogo, a começar pela ações mais básicas, como a de defender, passar com presteza, driblar com domínio do espaço, rebotear com firmeza, saber jogar sem a bola, arremessar com pleno conhecimento técnico, e acima de tudo, saber ler o jogo em suas partes e no todo, que são as portas de entrada do coletivismo consciente, todo um vasto arsenal de conhecimentos que têm de ser ensinados, duramente praticados, não importando idade, sexo, estatura, divisões, ou mesmo seleções municipais, estaduais e nacionais, pois se trata do ferramental inerente a prática do grande, grandíssimo jogo, terreno de propriedade daqueles que o conhecem, entendem e o amam…

Amém.

Fotos – Reproduções da TV. Clique duplamente nas mesmas para ampliá-las.

REFLEXIONANDO II…

No início deste ano publiquei o artigo que reproduzo abaixo, salientando, entre outros assuntos, a extrema pobreza de nossos jovens sub 21, nos fundamentos básicos do jogo, na ante sala da elite do NBB, cuja competição LDB, está sendo situada pela mídia especializada e técnicos graduados, como a NCAA tupiniquim, responsável pela alimentação das franquias da competição maior, e mesmo a seleção nacional, porém com um pormenor que, rigorosamente, não vem sendo levado muito a sério desde que a LDB foi criada a alguns anos atrás, o correto preparo da jovem turma nos acima mencionados fundamentos, e não só em suas equipes, como na base inicial do processo de aprendizagem, onde o “preparo” nos sistemas táticos, formatados e padronizados desde sempre, se sobrepõem as básicas necessidades técnicas do jogo, que constituem os pilares para a consecução dos sistemas táticos mais primários, quiçá os mais complexos e evoluídos, que se tornam inócuos sem tal fundamentação…

Naquele último torneio, a média de erros alcançou o absurdo número de 36,6 por jogo, fator crítico que exigia uma remodelação no processo de ensino/aprendizagem, para que no recém iniciado LDB 2018 pudéssemos, enfim, darmos o grande passo na direção de sistemas de jogo bem jogados, onde o coletivismo pudesse se impor ao individualismo grosseiro e destituído de fundamentação razoável, fator obrigatório a todos aqueles jogadores que aspiram a liga maior. Mas, não é o que atestamos até agora, quando a LDB atinge a quarta rodada, com a média de erros atingindo 36,2 por jogo, praticamente a mesma da competição anterior, com jogos atingindo 46 erros primários de fundamentos, sem contar com as convergências em arremessos de 2 e 3 pontos, onde a hemorragia dos 3 se situa ainda muito longe de ser estancada, e claro, contando com todo o apoio e incentivo dos estrategistas da maioria das equipes…

O amargo resultado desta mais amarga realidade ainda, constataremos com certeza, nas competições internacionais, onde arrivismos e aventuras irresponsáveis ecoarão a fragilidade de como “preparamos” nossas gerações, ano após ano, décadas, sem que seja destinadas aos nossos melhores técnicos e professores as responsabilidades fruto de estudo, pesquisa e árduo trabalho formativo, até mesmo na criação e desenvolvimento de novas formas de jogar o grande jogo, tendo como suporte inamovível e indiscutível, do pleno ensino e conhecimento dos fundamentos que o tornam realmente grande…

Daqui a um pouco a seleção masculina enfrentará o Canadá, na classificatória ao Mundial, com seu técnico expressando publicamente sua negativa ao jogo baseado no “chega e chuta” a que testemunhou logo após sua chegada, mas que não encontrou eco por parte de estrategistas e jogadores, cada vez mais concentrados na influência Curry/Warriors, modelo que nem mesmo a seleção americana pratica, e tendo em seus mais próximos assistentes a defesa e utilização deste modismo, o que revela uma incoerência de comando absolutamente incompreensível, e cujos resultados poderão ser perigosos, pois uma seleção reflete, em tese, a realidade competitiva de um país, sendo a mesma o espelho a ser refletido às gerações que a comporão…

Temos muitos jovens na seleção, inclusive na armação de jogo, onde a exigência de larga experiência e leitura tática de jogo é exigida, sem concessões, e mais ainda, o pleno e consciente domínio e conhecimento dos fundamentos, de todos eles, necessários ao desenvolvimento tático e estratégico nas competições mais  relevantes, fatores que vejo e pressinto como ainda muito falhos em nossos melhores jogadores, frutos que são, e continuarão sendo por um longo período, da fragilidade nos fundamentos, negados aos mesmos por uma geração de estrategistas pranchetados, que desconhecem a fulcral essência do grande jogo, sua estrutura maior, seus fundamentos…

Amém.  

Eis o artigo:

REFLEXIONANDO…

sexta-feira, 2 de março de 2018 por Paulo Murilo Sem comentários

      Em recente artigo, Fabio Balassiano apontou avanços  substanciais no gerenciamento do basquetebol brasileiro, tanto pela CBB, quanto pela LNB, tendo como foco principal a reforma dos estatutos da primeira, estratificado desde sua fundação, e que finalmente galgou um patamar bastante positivo, principalmente na composição de seu colégio eleitoral, agora acrescido de jogadores e técnicos, algo tido como impossível a bem pouco tempo atrás. No entanto, um nevrálgico ponto deixou de ser analisado, o fato da escolha dos técnicos ter sido feita pelo presidente da ATBB (Associação dos Técnicos do Basquetebol Brasileiro), uma entidade que sucedeu a APROBAS, que deixou de existir pela baixa adesão dos técnicos, assim como a anterior ABRASTEBA, quando do falecimento de seu presidente e mantenedor Moacyr Daiuto, aspecto que parece pode se repetir, face a baixa adesão dos técnicos à nova associação, que com as antecedentes, contava quase que exclusivamente com técnicos paulistas…

Pois bem , numa recente matéria do Databasket pela internet, o presidente da ATBB comunica que pessoalmente indicou os dois técnicos para compor o colégio eleitoral da CBB, ao contrário da CBB que que se utilizou do voto universal para indicar os jogadores representativos, e era de se esperar que o mesmo acontecesse pela direção da ATBB, que inclusive se auto nomeou o representante no Conselho Administrativo da CBB, e mais, comunicou que propôs a administração da ENTB com a possibilidade de inclusão de cursos a distância, ou seja, uma entidade que de forma alguma alcançou representatividade nacional, pois conta com baixa adesão de técnicos, experiência que não chega a dois anos de atuação, e como suas duas predecessoras, sendo composta quase exclusivamente por técnicos paulistas, apontando claramente que, em hipótese alguma, permitirão que o controle técnico do basquetebol brasileiro saia de sua direta influência, que data da primeira administração do grego melhor que um presente, que garantiu sua eleição sobre o Renato Brito Cunha, com o decisivo apoio dos paulistas, em troca do domínio absoluto do setor técnico da entidade maior (é bom lembrar que até aquele momento a CBB, com sede no RJ, comandava o setor técnico, época em que o basquetebol brasileiro alcançou suas maiores conquistas internacionais, com três mundiais e cinco medalhas olímpicas), dando início a hecatombe que se instalou entre nós, e que aí está escancarada pela padronização e formatação do nosso indigitado basquetebol, inserido coercitivamente no tenebroso sistema único de jogo, da base até a elite, dando início ao corporativismo exacerbado que tanto nos oprime e humilha…

Mas não satisfeito, ensaia um convite para que durante o jogo das estrelas no Ibirapuera, os técnicos se reunam para num “brain storming” discutirem caminhos e sugestões para que a presidência os representem, mas onde, se já se decidiu fazê-lo sozinho e seus dois parceiros? Parece não, é realmente surreal ( e mais um lembrete, foi durante o Mundial Feminino neste mesmo Ibirapuera em 1971, durante um seminário técnico, que lancei a idéia de fundarmos uma associação de técnicos, que contou com a adesão imediata de mais de 180 técnicos nacionais e alguns internacionais, dando início àquela que seria a segunda associação nas Américas, perdendo somente para a NABC, fundada em 1926. Foi um consenso absoluto, fruto de uma iniciativa democrática discutida por todos os presentes  Abri mão da da unânime indicação a presidência (aos 32 anos me considerei jovem demais para o cargo, além de algumas rusgas com a CBB), em nome do técnico e professor Antenor Horta, tendo na vice presidência o professor Moacyr Daiuto, ficando como secretário da mesma. A ANATEBA foi dois anos mais tarde dissolvida pela negação da CBB em apoiá-la, quando do lançamento do Mini Basquete no país).

Honestamente, a CBB não pode repetir o brutal erro cometido quando do lançamento da ENTB, levando-a ao fracasso e praticamente sucumbir ao seu péssimo e incompetente projeto de ação. Uma Escola é algo de transcendente importância, e que deve reunir a nata de professores e técnicos, veteranos e alguns jovens promissores, inclusive aqueles que pertencem a associações estaduais de técnicos (aqui no RJ existe uma, e quem sabe em outros estados), para aí sim, reunidos em torno de uma imensa mesa, estabelecerem aquelas importantes discussões para a formação de base, e o estabelecimento de uma autêntica e séria ENTB, e não mais um capítulo de imprevidência e oportuno continuísmo, exclusivo de um grupo no perene comando técnico do grande jogo no nosso imenso e injusto país…

E um dos resultados nefastos dessa influência pode ser descrito por alguns e singelos números que ocorreram nas semifinais e final da LDB, categoria sub 20 de jogadores que já deveriam estar prontos para o NBB, onde alguns já competem e cujos erros nos fundamentos básicos são preocupantes, pois os tornam ineficientes no desenvolvimento de sistemas de jogo, ofensivos e defensivos, os quais somente se tornam produtivos com o pleno domínio dos mesmos, e por essa indiscutível razão, serão extremamente limitados nas ações que exigem criatividade e improviso consciente na consecução dos sistemas propostos, e consequente leitura de jogo. Aqui os resultados:

– Nos 24 jogos desta fase final, foram cometidos 871 erros de fundamentos, ou 36,2 por jogo na média.

– Por equipes :

– Pinheiros 112 (22.4 pj); Flamengo 108 (21.6 pj); Minas 108 (21.6 pj); Paulistano 98 (19.6 pj); Ceará 90 (18.0 pj);  São José 81 (16.2 pj); Franca 76 (15.2 pj); Curitiba 70 (14.0 pj).

– Finalistas :

– Pinheiros/Franca – 25/17 – 42 erros

– Paulistano/São José – 15/20 – 35 erros

– Jogo com mais erros – Paulistano/Minas (28/27) 55 erros.

– Para um razoável padrão na elite de 5-8 erros por equipe, alcançaram os novos jogadores : 1 jogo com mais de 50 erros; 6 entre 40 e 50; 4 entre 30 e 40; 5 entre 20 e 30, e absolutamente nenhum abaixo dos 20 erros. Seria interessante que fossem contabilizados os erros de toda a competição, com resultados assustadores, confiram, ou não se deem ao trabalho, para que, não? Noves fora a endêmica chutação de três…

Complementando o desanimador quadro, o jogo da primeira rodada da Liga Ouro entre Brusque e Cerrado apresentou os seguintes e absurdos números – 32 arremessos de 2 pontos e 74 de 3, sendo que ao fim do segundo quarto perpetraram 3 de 2 pontos e 26 de 3, simplesmente inacreditável!…

Agora a pouco o Paulistano arrasou o Botafogo arremessando 19/29 de 2 pontos e 21/43 de 3, sedimentando a “nova filosofia” de jogo tupiniquim (como ninguém defende, é uma excelente oportunidade de agregar vitórias e recordes aos currículos, e que se explodam os resultados nas seleções mais a frente), até o dia em que as equipes reaprendam a defender, a contestar, mas claro, se derem importância aos fundamentos básicos do jogo, desde a base, preferencialmente, ou mesmo praticá-los na elite, por que não, porque não?…

Mas algo de “positivo” que vem acontecendo nos jogos da seleção dirigida pelo Petrovic, a sua progressiva adesão aos chutes de três (vide o Magnano), inclusive nos contra ataques e por parte dos pivôs, num gritante contra ponto aos seus conceitos croatas de basquetebol, o que seria lastimável se olvidados, espero contrito que não…

No mais, fazendo coro ao meu permanente e atento interlocutor, que me considera um empedernido pessimista, alerto ao mesmo que, muito pelo contrário me considero um irremediável otimista, a ponto de vislumbrar uma tênue esperança em dias melhores para o grande jogo entre nós, na medida, mais tênue ainda, de que afastemos dele aqueles que no fundo o odeiam, pelo simples fato de não o entenderem naqueles pontos que tem de grandioso, sua inesgotável capacidade criativa, ousada e corajosa, mesmo  aviltado e agredido sem maiores contemplações, pois o que tem importado de verdade é a bola sagrada de três, a enterrada monstro, o toco transcendental, o duplo e o triplo duplo, as pranchetas que falam, os palavrões e coerções a jogadores e árbitros, a patética mímica extra quadra, as violentas torcidas de icônicas camisas, os tatibitates craques que exportamos antes do tempo, a importação dos que não servem mais para a matriz, e a continuidade da mesmice endêmica em nossa autofágica forma de jogar, negando as diferenças, o bom senso, o criativo e o ousado, em nome do que aí está  Um novo ciclo olímpico já foi iniciado, e nada parece que aprendemos técnica e taticamente, mas meus deuses, até quando, até quando…

Amém.

 

RESPECT…

 

Toca o telefone, e a voz do outro lado é incisiva – Como é Paulo, resolveu jogar a toalha? – Silencio, e rebato –  Ainda não, mas pensando bem, o que inspira a escrever cara, se nada, absolutamente nada acontece de realmente importante? Enfeitam o santo com prendas, bolas incrementadas, comércio de camisas estrangeiras, tiaras e pulseiras, estrangeiras, tênis grifados, estrangeiros, clínicas com estrangeiros, dançarinas estrangeiras, artigos técnicos estrangeiros, largamente copiados e copidescados por certa mídia dita especializada, agindo e interagindo como se lá estivessem, inclusive sugerindo e opinando receitas técnico táticas aos gringos, os mesmos que só ouviram ligeiramente falar do Neymar, e que não estão nem aí para pitacos terceiro mundistas, mas que não abrem mão de teimar dominar um mercado num país de mais de 200 milhões de incautos consumidores de um mercado que inicia sua decadência lá mesmo, na matriz…

Continuarei aqui na trincheira, tomando conhecimento de algumas manifestações inteligentes que, teimosamente ainda chegam em parcos emails, como este:

Nome andre dias
Email andre.mattedi@ufba.br
Telefone
Menssagem Caro prof. Paulo Murilo,

A entrevista publicada com o técnico Larry Brown no Bala reitera várias de suas teses!

– Que lembram posições, conceitos e formulações teórico práticas larga e profusamente publicados neste humilde blog, a mais de 12 anos, incansável e repetidamente, na esperança sempre presente de poder, ao menos por uma vez mais, poder repetir a fugaz experiência no NBB2, e que somente agora constata a utilização rudimentar dos mesmos, por um ou outro estrategista mais disposto a algo diferenciado, ousado, e com a dose de inteligência que os norteava desde sempre, bem ao contrário de uma declaração do nóvel comandante rubro negro, no O Globo de 19/8/18, pág 51, quando afirma – (…) Eu me sinto preparado para estar aqui. O elenco que o Flamengo montou é moderno, com jogadores capazes de fazer mais de uma função e atléticos, capazes de correr a quadra inteira. São inteligentes dentro da quadra, que é uma característica do basquete atual (…) , discurso que de imediato levanta uma questão – Não era inteligente o basquetebol que antecedeu sua augusta presença, seu genial e fantástico conhecimento do grande jogo? Pena que nos seja negada corporativamente a oportunidade de   antepôr na quadra uma primária e mais do que nunca inteligente resposta, que sempre existiu e aconteceu num não tão distante passado do grande jogo em nosso país, interesseira e politicamente escamoteada por uma geração de estrategistas colonizada pela inalcançável matriz, que nos quer somente ancorados em seus interesses comerciais, jamais os técnico táticos, tendo como anteparo as discrepantes barreiras econômicas, sociais, educacionais e culturais que nos separam, e que continuarão a nos separar, ou não?…

Também sinto saudades dos grandes e profícuos debates que ocorreram nestes 14 anos de Basquete Brasil, inclusive com excelentes jornalistas, como este com o Giancarlo Gianpetro, agora replicado, num momento em que se faz necessário, pois exprime a faceta mais inteligente no âmbito do grande jogo aqui praticado, que nunca deixou de existir, contrariando o posicionamento acima externado, negando o exigido respect pela tradição histórica do grande, grandíssimo jogo por nós praticado desde sempre…

Amém

ENCRUZILHADA E OPÇÕES…

terça-feira, 6 de agosto de 2013 por Paulo Murilo 2 Comentários

Tenho me divertido muito nos últimos dias com a leitura de alguns blogs sobre o futuro técnico e tático do nosso basquetebol, muito mesmo. Como que num estertor terminal de um conceito que todos professam, profundamente lastreado no sistema único de jogo com suas posições estratificadas de 1 a 5, cujas nomenclaturas bailam de armador puro a finalizador, escoltas de várias matizes, alas de força ou de finalização, pivôs light ou heavy, toda uma setorização que beira ao ridículo, mas que se sustenta através o pragmatismo funcional de uma forma de jogar com domicílio no hemisfério norte e canhestramente copiado por estas colonizadas plagas, vide a quase absoluta migração da mídia especializada para os lados dolarizados da NBA, cujos tentáculos se voltam para o nosso país em busca de um mercado deslumbrado e ávido em consumir tecnologias de ocasião, seja lá as que forem…

Nunca li tanto conhecimento, vasto e aprofundado (?), sobre o grande jogo, mas o de lá, não o daqui, divulgado em todas as mídias, muito bem patrocinadas e financiadas, numa ascendente influência e dominação que deveria preocupar seriamente nossas lideranças desportivas, e mesmo as educacionais.

Então, a tendência analítica do que aqui se pratica técnica e taticamente, presa que está aos cânones mais do que solidificados do tal e absurdo sistema único (e tem gente que jura com os dedos em chifre, que está mudando, evoluindo…), é de simplesmente avaliar e comentar o que vêem sob a ótica do que sabem, ou pensam saber sobre o mesmo, unicamente o mesmo.

Temos então, no caso da seleção masculina adulta, opiniões que se concentram, não na condição do conhecimento e domínio técnico dos jogadores selecionados sobre os fundamentos, os diversos sistemas, a leitura de jogo, e sim do que são capazes de produzir em suas posições de 1 a 5 (acho que bem mais do que 5…), como peças estanques de uma engrenagem a serviço de um esquema formatado e padronizado (aí está a ENTB para confirmar…), e não um corolário de conhecimentos que os tornariam aptos a novos experimentos táticos, e por que não, estratégicos.

Neste ponto sugiro a releitura do artigo aqui publicado e muito bem comentado Papeando com o Walter 2…(Artigo 600), no qual muito do que deveríamos saber e dominar sobre a dupla armação se torna básico pela tendência, mais do que evidente, de que seja essa uma das opções do técnico Magnano em seu profícuo trabalho na seleção, assim como, forçado pela desistência dos grandes pivôs de choque convocados, e que optaram pela NBA, volta seus olhos para aquele outro tipo de pivô, da nossa sempre lembrada e vitoriosa tradição, os de velocidade, flexibilidade, e acima de tudo, multifacetados.

Sem dúvida alguma teremos de ir de encontro a esse novo (?) tipo de pivô, melhor, ala pivô, e para meu gosto, pivô móvel, rápido dentro do perímetro, ágil na recepção dos passes, flexível no drible, nas fintas e nos arremessos de curta e média distância, assim como na defesa antecipativa, veloz e inteligente, e que ao se deslocar permanentemente ganha em impulso extra para os rebotes, que muito além do impacto físico, prioriza a colocação rápida e espacial nos mesmos, vencendo em muito a lentidão e peso dos tão amados “cincões”, e o mais importante de tudo, jogando de frente para a cesta.

No amalgamento dos armadores com esses novos arietes, se destina a nossa retomada, o soerguimento de uma tradição vencedora que muitos teimam em omitir, pois pagariam o preço de tornarem a conhecer a nossa história, e não a dos outros, com a finalidade de nos impingi-la goela abaixo, como a verdade a ser seguida, digerida, sacramentada.

Sugiro também a releitura do artigo O que todo pivô deveria saber, que muito elucidaria a correta forma de atuar e jogar de um jogador de tal importância inserido num correto sistema de jogo, aberto e democrático.

Mas Paulo, e as bolinhas de três, nossa “grande arma”, como é que ficam?

Numa equipe jogando da forma acima citada, bolas de três suplementarão o sistema, e não o tornarão escravo das mesmas, numa inversão de prioridades, e sim na busca da precisão, que é o objetivo maior a ser alcançado, além de eliminar de vez aquele tipo de jogador pseudamente “especializado” que é facilmente encontrado em determinadas e repetidas zonas da quadra, parado e acenando em busca de um passe que o torne imprescindível… Importante é saber para quem…

Enfim, acredito estarmos no limiar de uma grande escolha, ou a manutenção da mesmice endêmica que nos tornou escravos de um sistema absurdo e anacrônico, até mesmo para seus inventores lá de cima, ou a busca e encontro de algo não tão novo assim, mas que nos tornariam proprietários de um modo de jogar o grande jogo absolutamente único, e quem sabe, vencedor…

E não perdendo o bonde da história, me pergunto curioso e instigante onde andarão o Cipolini, o Gruber e o Murilo nessa convocação, já que os mais ágeis, rápidos e flexíveis pivôs móveis que possuímos e à disposição? Onde?

Amém.

Foto – Reprodução da TV. Clique na mesma para ampliá-la.

 

2 comentários

  • Giancarlo Giampietro08.08.2013· 
  • Olha, professor,
  • como não há identificações de quem seja ridículo, corre-se o risco de vestir uma carapuça que não seja a sua, mas… Já que um dos termos citados no artigo é um que já utilizei recentemente ou costumo utilizar, não tem como não se sentir atingido. Fica bem claro. Então vamos lá, vestindo.
  • “Armador puro”.
  • Bem, “puro”, no meu conhecimento limitado da língua, é um adjetivo. Adjetivo que, desta maneira, viria para qualificar o substantivo “armador”, da mesma forma que “ágil”, “alto”, “magro” e até mesmo “pesado”. Não se trata de uma conotação “ala-de-força”, ou algo assim. “Qualificar”, para mim, não quer dizer “petrificar”, “amordaçar”, ou “estratificar”.
  • A intenção do termo “puro” é indicar que estamos falando de um armador classudo, muito mais preocupado em ajudar seus companheiros, daqueles com vocação natural para a coisa, mesmo, que nascem com essa propensão. Sabemos que existem esses tipos por aí e alguns deles infelizmente nunca pegaram numa bola de basquete na vida – ou na de handebol, vôlei ou futebol, ficando no meio do caminho por mortes ou outras decisões econômicas. É gente que nasce com um dom, com uma qualidade que dificilmente vai ser ensinada em treinos de fundamentos ou estudo de DVDs. Você melhora, mas tem limite.
  • Esse armador puro pode ser muito mais preparado em fazer o time jogar do que um Larry Taylor, um Nezinho ou um Arnaldinho, mas isso não quer dizer que ele não vá finalizar, rebotear, defender, correr, sorrir ou espirrar. Isso me parece algo bem simples de entender.
  • Além disso, pensando em gramática, na essência, se somos contra nomenclaturas, o ideal seria abstrair tudo. Não demoraria a chegarmos a uma conclusão de que nem “armador”, nem “pivô”, nem “ala”, nem “ala-pivô móvel” fazem sentido também. Não deixam de ser todas essas nomenclaturas, posições ou funções? Guards e/ou forwards? Etc. etc. etc. O quanto isso é ridículo ou não? Tudo depende do ponto de vista, e não importa se estamos falando de técnicos, jornalistas ou meros curiosos. Não nos esqueçamos que há gente de esquerda e direita que acha realmente ridículo, para não dizer estúpido, o ato de pingar uma bola com a mão e atirá-la ao cesto. Que o esporte é o circo.
  • Ideia com a qual obviamente não concordamos.
  • * * *
  • Quanto a outras colocações um tanto escrachadas no que se referem a NBA, me sinto no direito de preservar minhas questões particulares – adiantando apenas que, não, não ganho dólares da liga, nem tenho conta nas Ilhas Cayman. Uma pena? Vai saber, que o destino nos julgue mais pra frente.
  • Mas o ponto importante aqui: o senhor não sabe qual a rotina dos outros jornalistas (“blogueiro” seria só uma posição), que ganha o que e de quem para tocar a vida adiante. São pontos essenciais para se considerar antes de fazer qualquer tipo de comentário. Tenho certeza de que a vida de um jornalista do Jornal do Commercio difere da que um rapaz do jornal A Tarde leva, ou do Zero Hora, ou da Folha, ou do correspondente brasileiro de El País. Pelo simples fato de que as realidades são diferentes, envoltas por lutas (não confundir com bandeiras) diferentes no dia-a-dia. Que veículo investe em quê? Quais são os objetivos?
  • De todo modo, o espaço é sempre público e pode-se questionar ideologias e meros gostos. Porque fulano escreve sobre basquete, não é obrigação nenhuma que outro da mesma espécie vá assinar embaixo de tudo que lê. Abomino o corporativismo. Então há, claro, espaço, sim para críticas, correndo sempre o risco de nos tomarmos pela arrogância. Há quem seja limitado no entendimento, há quem seja limitado para pontuar um texto. Cada um lida com as limitações do jeito que dá, por vezes sem sucesso.
  • Da minha parte, nunca fui um nacionalista, o que não quer dizer que não goste do meu país, a despeito das sacanagens de sempre que nos atormentam. Não obstante, também não me apego a fronteiras. Não vou deixar de ler Dostoievski ou Raymond Chandler para viver só de Machado de Assis (meu autor preferido) ou me apeagar a um Paulo Coelho. Vale o mesmo para cinema, teatro, música, sociologia, antropologia. E o basquete?
  • Acredito que paixões, conhecimento, estudo extrapolam qualquer fronteira. NBA, Irã, China, África, Austrália… Pouco importa, se é basquete, tou dentro. Do contrário, levando o raciocínio a sua origem, o Brasil nem mesmo teria de se meter a jogar um esporte inventado, ao menos oficialmente, por alguém de nome Naismith.
  • * * *
  • Como o artigo é rico, e a saraivada não para, tenho mais observações a serem feitas.
  • Sobre a análise de jogos, não vou entrar no mérito de quem é melhor ou faz melhor, porque para isso está muito claro e sempre dei links de artigos seus em textos no blog.
  • Só me incomoda um pouco, e aqui falo até mesmo como leitor, o fato de que, aparentemente, apenas o seu conceito de jogo seria possível ou factível para o basquete brasileiro – ou mesmo o basquete como um todo. Se as críticas ao “sistema único” são factíveis e, mais que isso, válidas, adotar apenas o sistema que o senhor defende também seria bastante limitado, não? Esta é A Maneira Correta de se jogar?
  • Claro, diante da pasteurização predominante (o que não significa 100%), o que o senhor propõe seria diferente. Mas esta, imagino eu, não é também a única alternativa possível para Brasil, Japão, Jacareí ou New York Knicks. Não creio que toda cabeça pensante concorde.
  • Segundo: se um time pratica determinado basquete, é natural que as pessoas vão comentar esse basquete praticado. Ir além e propor outras coisas tornam artigos maiores. Sempre melhor oferecer algo diferente, original – o que não quer dizer autoral também.
  • Mas isso não invalida o comentário acerca de determinado jogador ou time. No caso de Lucas Bebê, realmente é de se pensar se ele não poderia ser um jogador muito mais completo. Por outro lado, se o técnico pensa que sua função é coletar rebotes e proteger o aro, por que alguém haveria de avaliá-lo de outra maneira? Existe um contexto mais factual, material que precede e/ou acompanha análise.
  • * * *
  • Por fim, um blog, uma coluna, um texto, um folhetim, um panfleto, um programa de TV… Todos eles podem ter enfoques diferentes. Há quem faça mais entrevistas. Há quem se dedique a crônicas. Há aqueles que escrevem de modo chato para um, de modo “genial” (palavra da moda) para outros. Não existe o que é certo, nem errado neste caso. Cada um na sua, cada macaco no seu galho. Volta, comenta, lê e, neste caso, responde quem quiser.
  • Segue a vida.
  • Abs,
  • Giancarlo.
  • Basquete Brasil09.08.2013·
  • Olha Giancarlo, muito legal seu comentário, e o que mais me alegrou foi o fato de ter sido essa a primeira vez nos nove anos desse humilde blog, a ter um comentário/resposta jornalístico de tal ordem e valor, provando com sobras sua real finalidade, a de discutir aberta e democraticamente o grande jogo em toda a sua dimensão e importância, onde a discordância fundamentada torna sadio o debate, trazendo em seu corpo a busca incessante do conhecimento e do nem sempre provável consenso, encaminhando-o ao encontro do almejado bom senso.
  • Então, discordando ou não, exercitemos uma tréplica, que de acordo com sua vontade se estenderá ou não para mais adiante.
  • Carapuças a serem vestidas inexistem no texto, pois a mencionada setorização se prende ao aspecto posicional, onde variadas terminologias visam exclusivamente a formatação e padronização de uma maneira única de ensinar, treinar e jogar o grande jogo, negando ao mesmo a generalidade tática que o tornou complexo e belo de praticar e assistir.
  • O termo armador puro foi ouvido pela primeira vez por mim através uma definição que o velho Togo Renan fazia a armadores da época, em particular o Fernando Brobró, o Barone e o Peixotinho, a qual não concordava, mesmo vindo do grande e mítico técnico. Logo, os termos que enumero definem a mencionada setorização, e não aqueles que fazem uso deles em seus comentários.
  • Por outro lado, em nenhum dos mais de mil textos publicados fui contrário às várias funções que são assumidas e desenvolvidas pelos jogadores, e sim que os mesmos se fixem em uma ou duas, como o exigido pelo sistema único, mas que sejam preparados e treinados em todas, mesmo que no transcorrer do processo técnico tático a que estão ligados optem, ou sejam orientados a determinados papéis, mas sempre aptos a exercerem os demais quando solicitados, com um mínimo de eficiência possível.
  • E na busca dessa pluralidade é que pude desenvolver e estudar sistemas de jogo autorais, por que não se verídico, na luta arduamente travada para que tal busca pelo novo, pelo inusitado, servisse de mote técnico comportamental para todos aqueles envolvidos na função de soerguer o grande jogo entre nós.
  • Além do mais, nunca, em tempo algum de minha longa vida, impus ações e comportamentos a quem quer que fosse, principalmente os técnicos, mas que procurassem desde sempre um caminho todo seu, único, se possível autoral.
  • Logo, quando menciono armadores e pivôs móveis estou definindo uma estratégia de ação, e não um corolário de funções, aquelas que você menciona não fazerem sentido como nomenclaturas de funções e posições, inclusive as minhas duas, se levadas ao termo, podendo inclusive, serem taxadas também de ridículas, no que concordo. Para mim a verdadeira posição de um jogador é a 12.345, com as devidas capacitações e oscilações inerentes à mesma.
  • Continuando, não vejo como escracho, críticas que faço a insinuante penetração da NBA em nosso país, que se mantida e desenvolvida da forma que se apresenta, fatal e historicamente tenderá ao esmagamento das tentativas que façamos para soerguer o basquetebol nacional, cada vez mais esvaziado de bons articulistas, de eficientes e determinantes jornalistas, fazendo com que o peso de sua influência dolarizada e globalizada não encontre barreiras que se imponham a tais desígnios, e nesse ponto também não podemos ignorar que tal estratégia de mercado fatalmente transitará pelos portais midiáticos que apoiam e patrocinam seu projeto de ação, e que de forma alguma o beneficiará com a gratuidade comercial.
  • Muito bem sei e avalio a função profissional de um jornalista, a qual também pertenço, por formação, mesmo lutando algumas vezes na arte de pontuar um texto (olha a carapuça aí, prezado colega…), mas reconhecendo suas agruras e eternas dificuldades, não só profissionais, como éticas, acima de tudo.
  • Num ponto somos discordantes de fato, pois sou profundamente nacionalista, atitude a que cheguei após percorrer e conhecer quase todo esse nosso imenso território, sempre trabalhando e estudando, assim como percorrer o de outros muitos países, igualmente estudando e trabalhando, pois se bem me recordo, somente uma única vez o fiz em turismo, e mesmo assim por conta de uma conferência em Portugal, que me destinou passagens para esse único evento. Todo esse conhecimento e descoberta, me fez convicto do inesgotável potencial desse nosso país/continente, rico e poderoso por seu diverso gentio, por sua unidade linguística (única no mundo e sua grande força), e por sua herança de paz e amizade, aonde o grande jogo chegou um dia a ser a segunda paixão esportiva de seu povo, inquestionavelmente.
  • Mas assim como você, jamais neguei acesso à literatura, música, cinema, dança e teatro internacionais, mas sempre privilegiando o nosso, sempre.
  • Num ponto, sou intransigente, a forma como a NBA se impõe no mundo, com sua mensagem dominante e política, pois é a única modalidade de desporto coletivo realmente internacional praticada e amada pela população americana, a tal ponto que faz com que seu governo a apoie sem maiores restrições como embaixadora de sua influência dominante, e que inclusive vem sutilmente afastando e protelando da mesma o temível fantasma dos escândalos ligados ao doping, em ações e intervenções desenvolvidas pelo senado americano, mas que inexoravelmente alcançará esse nicho privilegiado muito em breve.
  • Finalmente, o ponto crucial de sua intervenção, muito especial, aliás:
  • (…) Só me incomoda um pouco, e aqui falo até mesmo como leitor, o fato de que, aparentemente, apenas o seu conceito de jogo seria possível ou factível para o basquete brasileiro – ou mesmo o basquete como um todo. Se as críticas ao “sistema único” são factíveis e, mais que isso, válidas, adotar apenas o sistema que o senhor defende também seria bastante limitado, não? Esta é A Maneira Correta de se jogar?(…)
  • Ora, prezado Giancarlo, parece que você ou não leu, ou esqueceu muitos dos artigos aqui publicados sobre esse instigante assunto, a dupla armação e os três pivôs móveis, quando através, textos, vídeos, fotos e estatísticas provei e comprovei na teoria e na pratica o sistema proposto, mas nunca, em tempo algum considerei-o único, absoluto para o nosso basquetebol, e muito menos para a modalidade como um todo, e sim como uma proposta balizadora e experimental que servisse de partida a outras propostas, outros sistemas, outras concepções de jogo, fugindo do conceito único que tolhe o desenvolvimento do grande jogo, aqui, e por que não, lá fora também, vide que a pequena revolução instaurada pelo Coach K nas seleções americanas veio duas décadas após eu mesmo, Prof. Paulo Murilo, ter iniciado os estudos, desenvolvimento, treinamento e execução dessa proposta aqui mesmo, em terras tupiniquins, e jamais reinvidicando patentes, já que produto natural do desenvolvimento harmônico de um jogo diferenciado por sua complexidade e inesgotável criatividade, sendo passível de evoluções paralelas além fronteiras.
  • Quando bato e insisto em novas concepções técnico táticas para o nosso basquetebol, viso prioritariamente o combate à imitação pura e simples, ao aprendizado osmótico, vício contraído por muitos de nossos técnicos, jovens ou veteranos, assim como a reverência e aceitação passiva de modelos que não nos dizem respeito como povo, como nação, mesmo em se tratando de uma modalidade esportiva, quer queiram muitos, ou não, que concorre para o aprimoramento acadêmico de nossos jovens, onde a premissa de utilização de um único sistema de jogo, rouba dos mesmos a mais importante parcela de seu desenvolvimento, a capacidade criativa, livre e democrática do livre pensar, amar e jogar o grande jogo, o jogo de suas vidas.
  • Terminando, concordo plenamente que toda e qualquer mídia deve poder se expressar diferentemente, sendo essa uma das razões que originaram esse nosso muito bem vindo debate, onde a liberdade e a responsabilidade sejam preservadas e defendidas pelo preço que tivermos de pagar desde sempre.
  • Muito obrigado pelos comentários e críticas Giancarlo, e espero que divergências não nos afastem dessa humilde trincheira, aberta a todos que defendem a plena liberdade de expressão.
  • Um abraço.
  • Paulo Murilo.

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Comentário:

VOLTANDO UM POUCO NO TEMPO…

Tem certas ocasiões em que realmente vale a pena voltar um pouco no tempo, como este artigo publicado em 2/2/2007, que estaria atual neste tempo que estamos vivenciando, onde o mérito é sistematicamente suplantado pelo arrivismo, o escambo, e as ações entre amigos e apaniguados. No desporto não poderia ser diferente.

Amém.

 

 

FRAGMENTOS…

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007 por Paulo Murilo–  2 Comentários

Mexe daqui, futuca dali, e de repente, do meio de uma tremenda papelada salta um pequenino recorte de jornal, publicado no O Globo de 8 de junho de 2006, que se reporta a um testemunho do Sr.Geschwindener, capitão da seleção alemã de basquetebol nas Olimpíadas de Munique-72, que há 12 anos atrás iniciou o treinamento do ala Dirk Nowitzki, então com 16 anos, e que foi considerado o melhor jogador do Mundial-2002 em Indianápolis. O interessante em seu trabalho foi a inclusão de algumas atividades extras, tais como esgrima, remo, balé, guitarra e saxofone. Perguntado sobre em que Nowitzki pode melhorar, Geschwindener respondeu: Arremesso. E provavelmente aspectos intelectuais, mentais e psicológicos. Obviamente, Não refinou muito a defesa. Mas diminuímos esta lacuna nos últimos dois anos- declarou ele.

Como Dirk é considerado por muitos o melhor jogador do mundo, tais declarações e colocações de seu técnico inicial, aquele que o introduziu nos fundamentos do jogo, define um campo de influência com tal ordem de importância na formação do jogador e cidadão, que muitos duvidarão de tais afirmativas. Dança, remo, esgrima e música? O que é isto? Só pode ser invenção e autopromoção. E o máximo do absurdo, aspectos intelectuais? Filosofia? O cara é maluco! Pois é, caros técnicos brasileiros, isso é o usual na formação de um jovem atleta no velho mundo, pois cultura e educação se coadunam magnificamente com atividades desportivas, com a música, com a dança. Algum técnico brasileiro já tentou incluir a dança no treinamento daqueles jovens muito altos, e por isso muito descoordenados? Não? Pois saibam que funciona muito bem, já que ritmo é a base de um bom trabalho de pernas. E que o remo desenvolve o trabalho de equipe, e que a esgrima apura os reflexos, e que um instrumento musical aguça a disciplina. Mas, para que todas essas bobagens se temos a perfeita solução dos problemas de formação? Temos a peneira! E estamos conversados. Retorno o papelzinho para uma caixa mais segura, e deixo-o lá como prova inconteste de que bons técnicos de formação existem nesse mundão que gravita por fora de oportunas, desleais e ineptas peneiras.

Vou ao site Rebote, sempre muito boa leitura, e me debruço sobre um texto Do Rodrigo Alves sobre o Boston Celtics. Muito bom e bem alinhavado, e que culmina com sugestões ao Danny Ainge, superintendente da equipe, para o soerguimento do atual e falido plantel no campeonato da NBA. Mas algo ficou faltando. Talvez a existência do Rebound, site congênere publicado nos states com as matérias do Rebote nacional, para que o Danny tivesse a oportunidade de ler as sugestões, se é que o faria, ainda mais de um articulista brasileiro.E ai me deparo com uma evidência que me assustou. Um ótimo jornalista, articuladíssimo, e trabalhador, direcionando grande parte de seu talento a um basquetebol de sonho, de quimeras, quando o daqui se debate com a ausência de talentos como ele, que foi tão presente nos mundiais do ano passado, e que fizesse tão brilhantes análises, como a de hoje, sobre as equipes que disputam nosso campeonato tupiniquim. Como amaria tê-lo na trincheira,como bem definia o Melk, nessa luta sem muito ibope pelo nosso basquete, que pela ótica dos irmãos do norte é tão inexpressivo que sequer merecerá a presença dos mesmos no Pan, um verdadeiro chute no nosso traseiro, fato que ainda não foi analisado e comentado por nenhum site que se dedica ao basquete lá de cima.

Dois pequenos fragmentos de nossa realidade, mas que me fizeram pensar bastante, e sonhar com dias melhores. Amém.

 

2 comentários

  1. Rodrigo Alves05.02.2007·
  2. Caro professor,Um abraço,
    Rodrigo Alves
  3. Obrigado pela citação, e pode ter certeza de que eu também gostaria de estar mais presente na trincheira nacional. O “problema” é que, por dever de ofício na Globo.com, sou escalado para comentar os jogos da NBA. E como costumo levar qualquer trabalho muito a sério, boa parte do meu tempo de pesquisa, estudo e análise é dedicado ao que acontece nos EUA. É claro que tento não deixar o nosso basquete de lado, mas acabo não conseguindo (por simples questão de tempo) acompanhar os jogos do Nacional com a mesma freqüência. Eu até poderia palpitar, mas correria o sério risco de, vez por outra, deslizar em clichês e idéias prontas, defeito que me incomoda muito nos chamados “comentaristas de estatística”. Pode acreditar, contudo, que não se trata de deslumbramento ianque ou desprezo pelas nossas cores. Continuo me esforçando para aumentar a bagagem nacional e, quem sabe em breve, entrar de vez na trincheira.
  4. Basquete Brasil06.02.2007·
  5. Prezado Rodrigo, na realidade o que sentimos falta é de bons e bem intencionadaos jornalistas,que cubram com pleno conhecimento o dia a dia do nosso basquetebol, que nos esclareça e aponte o caminho das pedras,aquele que somente é trilhado por quem conhece.Seu trabalho,
    seu esmero e seu posicionamento, já o faz de de muito um componente da trincheira,
    faltando somente u’a mais amiúde presença
    Um abração, Paulo Murilo.

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