(L)INSANIDADE…

Assino dois jornais, O Globo e a Folha, prerrogativa de aposentado com um pouquinho mais de tempo para vastas leituras. Mas penso seriamente em desfazê-las, pois muito pouco de esportes elas contem (futebol não conta…). Política e Mundo podem ser acessados pela Internet, e Arte também. O duro é você bem cedo abrir o jornal na sessão de esportes e dar de cara com a sensação do momento em ¾ de página, o Lin de New York.

Paulo, é noticia de basquete! Mas que basquete é esse, que para ver um jogo ao vivo, como gosto e sempre gostei, tenho de dar um pulinho até a Big Apple, fora as roupas de lã, hotel, botas forradas e…dólares no bolso. Isso, dólares, que é a moeda que os Lebrons e Dwaines da vida ganham aos montões, mas eu, como professor os tenho muito poucos, e mesmo assim, se tiver de gastá-los o farei para visitar o filho caçula que não vejo a mais de ano, em Dublin.

E a TV, não vale?

Subliminar, ou mesmo atingido diretamente no queixo, sinto que estamos sendo “preparados e amaciados” para a entronização pesada da NBA no país, onde até suas camisas, largamente encontradas nas lojas, vendem a grande ilusão aos nossos jovens prospectos de jogadores, em vez das nossas do NBB, raras, ou mesmo inexistentes no grande varejo, e a bola da vez econômica nos concedendo o status de mercado promissor para a grande liga.

¾ de página para o Lin, que até pouco nem os americanos conheciam é dose, e já vejo correspondentes nossos sendo enviados para entrevistá-lo, pois afinal, as colônias orientais abundam no país, além da nossa herança de colonizado contumaz.

Enquanto isso, nossos Silvas e Paixões lutam por verbas minguadas e miseráveis, pois afinal de contas têm de estar preparados para 2016, ou não?

Na contrapartida de doses tão fartas de publicidade (paga?…), mínguam até as notinhas de rodapé, para quando muito somente publicar os resultados da rodada, e nada mais. Colunas especializadas? Nem pensar, a não ser para “esportes” educativos e de pratica popular e acessível, como MMA, e F1,

É extremamente grave que o grande jogo seja “incentivado” dessa forma exógena e invasiva no seio de nossa juventude, enquanto solidificam um vôlei, cujos lideres de forma alguma desejam o soerguimento do basquetebol. Lutas de controle estrangeiro, assim como a F1 também são contemplados regiamente pela mídia, e até pelo governo, e por que não o basquetebol? Afinal, como país do momento, nada melhor do que investir no seu amanhã olímpico, onde, de preferência, um “Dream Team” se consagrará.

Sinto enorme receio pelo futuro do grande jogo entre nós, frente a tanto descalabro e omissão, ante tanta falta de amor às nossas tradições, e falta de patriotismo.

Amém.

Foto-Reprodução. Clique duplamente na mesma para ampliá-la.

O ALICERCE DO GRANDE JOGO…

FUNDAMENTALISTA

 

Por Hermínio Barreto

 

 

O que será isso de treinador fundamentalista?

Será um treinador que sabe de fundamentos; um treinador que sabe ensinar fundamentos; ou um treinador que consegue que os seus jogadores aprendam e apliquem os fundamentos?

Estou mesmo a ver. Não direi espanto, mas pelo menos alguma estranheza, isso sim. Perguntarão?

 

– Será que se vai descobrir agora que o basquetebol não anda para a frente porque já não temos treinadores fundamentalistas?

 

Mas isso já todos fomos, julgamos. Hoje outras preocupações nos acompanham. Estamos noutro nível.

Esta é boa! Então agora que a literatura de ponta nos alerta para o equilíbrio a perseguir entre a preparação física e a mental (até já sei umas coisas de cibernética); agora que tenho gravações em vídeo para preparar (e falta-me tempo) a estratégia para o próximo jogo; agora que tenho de treinar as saídas de pressão e as combinações ofensivas para as “boxes” que tenho de enfrentar; agora que tudo tenho para andar para a frente!…

É verdade, caro “Coach”. É duro, mas é verdade.

Interrompa por breves instantes o fluxo das idéias que neste momento percorrem e preenchem o seu pensamento (vem aí mais uma época e imagino quanta coisa bonita vai nessa cabecinha), e medite um pouco.

Desde já as minhas desculpas por ir interromper a leitura da sua última Scholastic Coach (Triangle & Two “Hearth Defense”), mas prometo não roubar-lhe muito tempo.

Pois foi também numa Scholastic Coach (viajávamos para os Açores para mais um curso), que o “Velhão” (1) me passou, e daí retirei o motivo para este meu comentário.

Não é nenhum trabalho de fundo. É apenas uma entrevista. A personalidade entrevistada, quem não a conhece no mundo do basquetebol? Trata-se de John Wooden.

Como jogador foi considerado o melhor Base dos primeiros cinqüenta anos do basquetebol. Como treinador, da UCLA, ganhou dez títulos (NCAA) em doze épocas. Dois antes de Lew Alcindor; três com Alcindor; dois depois de Alcindor; dois com Bill Walton; e dois depois de Walton.

JOHN WOODEN, o único homem que entrou para o “HALL OF FAME” na dupla qualidade de jogador e de treinador.

Quando joguei, diz Wooden, não havia postes. Mas como treinador já foi diferente. E hoje, pese embora uma significativa melhoria na qualidade técnica e física dos jogadores, o jogo não evoluiu. O talento dos jogadores e o seu estilo de actuação não estão ao serviço da equipa.

Tive dois excelentes treinadores. Glen Curtis no Liceu e Piggy Lambert na Universidade. Curtis era um extraordinário FUNDAMENTALISTA. Piggy era um “expert” na preparação física e no relacionamento com os jogadores. Direi mesmo, que para a época (1920), era um fora de série.

Porque a essência das coisas que asseguram o sucesso no jogo não mudou, e isso tem a ver primeiro com os fundamentos, e depois com a aplicação dos fundamentos ao serviço do jogo (pormenor que não preocupa os treinadores de hoje, como preocupou os de ontem). Se Piggy Lambert voltasse a treinar, voltaria a ser, hoje, um treinador com sucesso.

Resta acrescentar que Wooden disse isto em Novembro de 1985. Mais: disse nos Estados Unidos e para o basquetebol americano.

Se o essencial se mantem;

Se a essência desse essencial são os fundamentos;

Se uma equipa se faz aplicando os fundamentos;

E se um treinador dos anos 20, porque não desprezava o essencial, se voltasse a treinar hoje teria sucesso;

O que deveremos ser nós para o nosso basquetebol?

Só mais um segundo. Estou a terminar. Tem já a seguir uma linha, que deixo em branco para si.

 

……………………………………………………………………………………………………

 

Escreva a sua resposta. Conserve-a. No final da época, releia. O seu ano de trabalho ajudará a corrigir ou a melhorar a resposta.

 

Uma achega mais. Recolhi da cronista Hélia Correia, a propósito de “queremos saber agora o que é ser europeu sem estarmos bem seguros do que é ser português”, em crônica intitulada “Colagens”: “Despojados que estamos da tragédia e da glória, tentamos copiar, sem grande convicção, os sinais de progresso e da modernidade sem que antes saibamos produzir-lhe a essência”.

 

(1)   “Velhão”, com respeito e consideração.

PS- O “velhão” mencionado no texto se refere ao Prof. Teotônio Lima, decano dos treinadores de basquetebol de Portugal.

 

Veiculo esse texto do grande professor Hermínio Barreto de Portugal, publicado na Revista “O TREINADOR”, número 16, em junho de 1986, órgão divulgador da  Associação Nacional de Treinadores de Basquetebol, e que se notabilizou como grande jogador, treinador e comentarista da RTP, além de professor do ISEF (hoje FMH/UTL), grande amigo e autor prestigiado por toda a comunidade européia de basquetebol, com quem tive a honra de trabalhar no Gabinete de Basquetebol do ISEF, quando do meu doutoramento no país irmão.

TUDO SE RESUME A UMA…

…QUESTÃO DE PULSO.

Amém.

Foto-Gazeta Esportiva

A PREDIÇÃO DE UM FORUM…

Muito se tem falado e comentado sobre sistemas de jogo nestes últimos tempos, e qual deles melhor se adequariam ao modo de agir, pensar e jogar do jogador brasileiro. São debates apaixonados e muito pouco ligados a uma evidência inquestionável, a de que discutem, como muito poucas variações, um sistema único de jogo, aqui implantado a mais de 20 anos, e continuado através uma difusão maciça, desde as categorias de base, até nossas seleções representativas, o sistema NBA, considerado o supra sumo das ações técnico táticas no universo do grande jogo.

Desde sempre discordei desse sistema, desse modo de agir e pensar o basquete, pois o mesmo se fundamenta numa realidade somente existente no basquete americano, com sua base voltada aos fundamentos e o sistema em si, através muitos milhares de praticantes nas escolas e universidades, e de modo parecido nos países europeus, com suas prioridades voltadas à educação, onde o desporto ocupa um lugar de primordial importância no processo da formação integral de seus jovens.

Ante tão profícuas e evidentes questões, nossa realidade se situa na contra mão daquele primeiro mundo, numa contundente constatação de que não possuímos e sequer dominamos um mínimo de conhecimentos básicos, não só no campo desportivo, como, e principalmente, no aspecto acadêmico em geral, nos situando, infelizmente, na situação de puros imitadores dos resultados finais alcançados por aquelas nações, sem os estágios probatórios das etapas necessárias por que passaram ao longo de décadas, como se o fato de pularmos etapas nos alinhassem aos mesmos nos conhecimentos e na produtividade, num ledo e triste engano.

Então, e no caso do basquetebol, discutir sistemas de jogo, dissociado da formação básica nos fundamentos, soa falso e sem propósito, já que sistemas, sejam lá quais forem, somente se materializam e exequibilizam quando têm como base sólida de apoio, o pleno domínio dos fundamentos, sem os quais perdem todo o sentido prático.

Portanto, desde muitos anos atrás, quando do preparo das muitas equipes que dirigi, o foco prioritário sempre foram os fundamentos, o pleno domínio dos mesmos, para todos os jogadores, fossem baixos ou altos, fossem armadores, alas ou pivôs, de equipes infantis ou de elite, todos, aprendendo de forma igual, com os mesmos requisitos e exigências, sem exceções, para mais adiante, optarmos por sistemas que melhor se coadunassem com as características de cada um, e não mergulhando-os num sistema único, padronizado e engessado a jogadas pré estabelecidas e coreografadas. E assim foi por longos 50 anos, apostando na capacidade que cada jogador se desenvolvesse no domínio, leitura e amor ao grande jogo.

Finalmente, em 2010 dirijo uma equipe na LNB, que por ser da elite despertou uma enorme curiosidade pelo fato de treinar fundamentos e jogar de “forma diferente”, quando na realidade o fazia fora dos rígidos e engessados padrões que nos impuseram nos últimos 20 anos, tanto em sua preparação baseada nos fundamentos, como no sistema de atuar com dupla armação e tripla atuação no perímetro interno, o que despertou alguns interessantes debates, como esse fórum que surpreendentemente descobri ao percorrer os muitos existentes no blog Draft Brasil – Um pouco de táticas e algumas reflexões que apesar de não ser muito extenso, descobre uma forma não usual de discussão, pois situa o sistema por nós utilizado, numa possível utilização por equipes da NBA, sem mencionar como possível utente do mesmo aquela que veio a se sagrar campeã esta temporada, a equipe do Dallas, que se utilizou de um sistema correlato, cujos detalhes em muito se assemelhavam ao nosso, quebrando de uma vez por todas o rígido sistema da grande liga, num processo que teve no Coach K, quando da direção da seleção americana, vencedora do último mundial, o seu grande incentivador.

Vale a pena dar uma olhada no fórum, quando muito, para avaliarmos o quanto de positivo avanço técnico tático incrementou aquela grande equipe, no âmago do grande e portentoso basquetebol que praticam, ao mesmo tempo compararmos o que ocorreu com o “basquete diferente” desenvolvido pelo Saldanha no NBB2, varrido e jogado para baixo do tapete da história, como uma contravenção indesculpável e inimaginável dentro dos medíocres padrões que teimamos em seguir, disseminar, formatar e padronizar no país, muito mais agora através uma ENTB investida nessa tenebrosa e suicida continuidade, numa progressão aritmética que já alcança 490 técnicos graduados no nível 1 em 3 cursos de 4 dias, autêntico e dantesco recorde mundial, tendo antes graduado em seu curso inicial técnicos de nível 3,  também em 4 dias. E pensar que estudo, pesquiso, ensino, divulgo e pratico o basquete a mais de meio século, e sequer imagino, por não me importar, o nível a que pertenço, já que me situo e considero um humilde professor e técnico, com muito ainda por aprender, e ensinar o grande jogo.

Amém.

O MAGNANO DE ONTEM…

Assunto     Magnano y el Flex Offense
Remetente     gil guadron Add contact
Para     paulomurilo
Data     Hoje 08:59
Sin  pretender  ofender.

Paulo  he  leido  su  ultimo  articulo  y  le  envio  algunas  acotaciones  de  Magnano, publicadas  en  el  libro ”  NBA  COACHES  PLAYBOOK “,, publicado  por  Human Kinetics, 2009.  con  el  aval  de National  Basketball  Coaches  Association,  con  Giorgio Gandolfi  como  Editor.

Ruben Magnano  publica  un articulo  llamado — FLEX OFFENSE– capitulo  8, paginas 135 – 146.

En  esencia  este  tipo  de  ataque  utiliza  dos  pasadores. Magnano  en  dicho  articulo habla  que  su ataque  se  basa  en  su  defensa, insiste  en  el  juego  de  transicion , lease  salida  rapida.

Argumenta  que  le  agrado  este  sistema  de  ataque  cuando  entrenaba  niveles  jovenes  en  Argentina. De  tal  manera  que  cuando  llega  como  entrenador  de la  seleccion  Mayor  continua  utilizando  el  FLEX ( yo  lo  utilize  en  mis  equipos  semi-profesionales  en  El  Salvador  en  1981 -1983  ).

Magnano  menciona  en  dicho  articulo  que  el FLEX  se  adecuaba  mejor  a  las  caracteristicas  de  los  jugadores  argentinos, y  a  la  estructura  del  equipo  en  general,  pues:
1- carecian  de  un  centro  dominante,
2-no  eran  muy  fuertes  en  el  1 x 1, pero  si  en  los  movimientos  sin pelota.
3-aprovechar la  versatilidad  de  los  jugadores.
4-cada  jugador  sea  una  verdadera  amenaza  ofensiva,  y
6-el  FLEX  tiene   movimientos  constantes ( cortes  y  pantallas )  que  a  la  larga  confundia  a  los  rivales.

Gil

Recebi esse email do técnico e amigo Gil Guadron, que lança uma sutil e reveladora faceta do técnico campeão olímpico que nos dirige, Rubén Magnano. E uma faceta das mais favoráveis, pois defende com propriedade a dupla armação, e inclusive enumera suas vantagens na constituição de uma equipe que não possui um pivô dominante, ou mesmo, não pratica com razoável destreza o jogo de 1 x 1, mas que apresenta habilidades no jogo sem a bola. Em miúdos, uma equipe com deficiências nos fundamentos, mas com qualidades outras, como a velocidade, aspectos que muito se assemelham à nossa seleção.

Aliás, em muitos aspectos técnicos, foi esse um dos critérios adotados  pelo excelente técnico quando da direção da formidável equipe argentina campeã olímpica, constituída de pivôs ágeis e técnicos, sem serem dominantes, servidos e municiados pela dupla armação, habilidosa e determinante.

Porém, em alguns e fulcrais pontos, esses critérios tendem a não serem aplicados na seleção, frente a uma equivocada( por mais uma vez…) convocação, onde a presença de muitos pivôs de força, e poucos armadores puros, o levarão irremediavelmente ao sistema único, com o indefectível 1, o armador que todos aqueles que pensam entender e explicar o grande jogo defendem. Talvez nesse ponto, a convocação do Larry encontre sua óbvia explicação, ao ser o mais categorizado ( na opinião maciça dos colunistas…) para a reserva, e conseqüente rotação, do já alçado capitão da equipe, o Huertas, e um outro, não necessariamente um armador de oficio ( como um Alex ou Marcelo) que ficaria de regra três na eventualidade sempre presente de um acúmulo de faltas de um dos dois.

E nesse ponto me pergunto- porque o coerente defensor de longuíssima data ( desde as divisões de base argentinas) da dupla armação, e dos pivôs de alta mobilidade, se deixou levar, por mais uma vez, a uma convocação antítese desse posicionamento técnico, responsável por sua maior conquista? Influências de sua experimentadíssima assessoria técnica, composta, inclusive de gênios abaixo dos 40 anos, um deles com somente 1 ano de profissão? Ou uma leitura personalíssima do jogo que praticamos, ou mesmo da pobreza franciscana de nossos jogadores sobre os fundamentos do mesmo?

Eis ai o grande ponto, o cruzamento de vias que nos levarão ou não, a uma olimpíada depois de 16 anos, quando somente uma quebra da mesmice técnico tática endêmica que nos escraviza pelo cabresto do sistema único, nos daria uma real chance de sucesso, pois se professarmos o mesmo comportamento tático dos demais concorrentes, estaremos correndo o real e palpável perigo de somente participarmos daquela olimpíada da qual já estamos classificados, por sermos os patrocinadores.

Torço energicamente, para que o Magnano retorne aos seus primórdios, e que estabeleça em nossa seleção novos e arejados tempos, e que bem poderiam começar pela dupla armação e pelos pivôs ágeis e velozes sendo abastecidos próximos à cesta, e não apanhadores de rebotes frutos da insânia dos três, nossa até agora, marca registrada. E se preciso for corrigir sérias falhas convocatórias, que corajosamente as faça, pois ainda temos algum e precioso tempo.

Amém.

MEU AMIGO BORIS…

Foi o amigo e companheiro da família por oito anos, enorme, pujante, forte e com a mansidão emergindo de seu olhar terno e permanentemente atento à natureza que o rodeava, amigo que era até de alguns gatos que nos visitavam. Mas, acima de tudo, foi meu fiel e dedicado amigo, sempre deitado próximo de onde eu estivesse, e mesmo que a janela do escritório nos separasse, fosse dia ou noite, lá estava o Boris próximo a mim.

Foi um Doberman mestiço atípico, pois nunca, em tempo algum rosnou contra ninguém, e cuja mansidão e sabedoria cativava a quem dele se aproximasse. Dividimos grandes e prolongados silêncios, porém unidos por um preito de confiança e respeito que encontrei muito pouco entre os humanos, principalmente na área administrativa do desporto, onde ainda teimo em participar por idealismo e amor à causa da educação.

O querido Boris se foi, vencido por seu enorme coração, nos deixando órfãos de sua bondade, amizade, lealdade e amor, mas sem antes percorrer todos os cantos e cantinhos preferidos do jardim e do quintal da casa, para ai sim, deitar e se deixar levar para seu descanso, mansamente, como sempre viveu, como sempre nos ensinou a viver.

Sinto uma enorme tristeza, não só pelo amigo que se foi, mas pela falta que já sinto de seu olhar terno de paz e sabedoria, de mansidão e amor.

Amém.

PS-Clique na foto para ampliá-la.

OS 200 MIL…

Em 25/2/2010 este humilde blog atingiu a marca das 100 mil visitas, numa contagem a partir de 2008, não computadas as visitas anteriores desde 2005.

Ontem, 26/5/2011 atingimos as 200 mil, que para um blog prioritariamente técnico, é uma marca considerável. E mais ainda, se considerarmos que somente pessoas que se identificam responsavelmente assinam os comentários, onde a figura do anônimo sequer é cogitada, quanto mais publicada, fator este que conota responsabilidade opinativa e discursiva nos vários tópicos publicados.

O Basquete Brasil dará continuidade ao seu trabalho de divulgação de todos os aspectos do grande jogo, principalmente dirigidos aos jovens técnicos que se iniciam país afora, única formula para a disseminação da modalidade junto aos jovens na pratica salutar e educativa do basquetebol.

Então, caminhemos para as 300 mil visitas, em muito breve ao lado do blog do CBEB – Centro Brasileiro de Estudos do Basquetebol, somando forças para o soerguimento e desenvolvimento do grande jogo no país.

Amém.

PS-Clique na imagem para ampliá-la.

INADIÁVEIS MUDANÇAS…

Engraçado, e às vezes de morrer de rir, os comentários abalizados sobre um jogo que se definiu em um quarto, o segundo, quando a equipe de Brasília escalou um segundo armador, o Bruno, para atuar junto ao Nezinho, encaixando a dupla armação de Franca, superando-a na defesa, e principalmente, fazendo seus pivôs jogarem em velocidade e penetrações rápidas, além, é claro, de desencadearem contra ataques resultantes dos péssimos arremessos dos francanos, encurralados que foram pela defesa veloz e sufocante comandada pelos dois armadores e pela antecipação de seus homens altos no decisivo segundo quarto, particularmente pelo Alex.

E os números acompanham este raciocínio com singela simplicidade, vejamos: No 1º Tempo, Brasília arremessou 14/19 bolas de 2, 4/8 de 3 e 13/19 de Lances livres, e Franca, 8/18 de 2 pontos, 3/12 de 3 e 8/10 de Lances livres, revelando com clareza a preferência de Brasília pelos arremessos mais seguros e precisos de 2, sobre uma defesa incapaz de bloquear o seu jogo interno, ao passo que a equipe de Franca, encontrando uma forte oposição defensiva, praticamente conseguiu o mesmo número de tentativas, porém com acertos muito menores de seus jogadores, graças à entrada de um segundo armador que mudou a história do jogo, estabelecendo os 15 pontos de diferença ao final dos dois quartos iniciais. Também nessa fase, pelo fato da pouca penetração do ataque francano, somente 10 Lances livres foram cobrados por sua equipe, contra os 19 cobrados pela equipe da capital.

Com a defesa bem postada, e mesmo retornando para o terceiro quarto com somente um armador ( o Bruno já estava com 4 faltas, mostrando a fraqueza da equipe candanga nesse primordial setor), soube a mesma manter, e até ampliar a diferença conquistada, administrando um jogo, que nada teve de atípico, e sim muito bem planejado e melhor executado no aspecto defensivo, e de armação de jogo. Se a equipe mantiver para os jogos subseqüentes a dupla armação, o jogo interior e seguro dos dois pontos ( no de hoje, arremessou 21 bolas de 3, e 38 de 2 pontos, além de 31 Lances livres, fugindo da convergência que vinha se acentuando nos seus últimos jogos), e consistência defensiva, poderá emplacar um 3 x 0 nada exagerado, já que seu adversário demonstrou uma enorme dificuldade em conter esse tipo de comportamento ofensivo, e muito mais ainda, de suportar a enorme pressão ante uma defesa forte e determinada.

Então, o que resta a Franca? Partir para o jogo interior, para dali sim, originar passes de dentro para fora do perímetro, a fim de obter arremessos, até de 3, mais equilibrados ( e bem referenciados por atuarem num recinto que conhecem bem), marcar energicamente os armadores adversários, e jogar um pouco mais na antecipação, fator ausente no jogo de hoje.

Deixo para o final a constatação do que realmente representa o grande jogo no imaginário do brasileiro, bastando para tal a presença de 18000 torcedores no Nilson Nelson, provando o quanto de potencial latente existe nessa instigante modalidade, tão mal tratada por uma mídia equivocada e tendenciosa.

Mas aos poucos, e com muito trabalho, talvez tenhamos a oportunidade de resgatar e soerguer o grande jogo no país, bastando que estudemos e trabalhemos com mais coragem e ousadia. Mantermo-nos escravos do sistema único, copia canhestra do que foi feito por uma NBA que se recicla notoriamente, e que não está sendo devidamente observada e analisada pelos doutos conhecedores do que lá está sendo modificado, é pura estupidez, e pior, a mais flagrante prova de nossa servidão e colonialismo explícito. Não por acaso um Miami atua com três pivôs em permanente movimentação, inclusive fora do perímetro, um Oklahoma atua similarmente, e um Dirk converte 48 pontos sem um arremesso de três sequer, para nos conscientizarmos de que a mensagem dada pelo Coach K no último mundial está sendo assimilada e convertida em realidade entre os “pros”, não somente no âmbito dos “colleges”, como devem ser difundidas as grandes mudanças. Pena que nossos “experts” custem tanto a notar, pesquisar e entender o que realmente representam tais mudanças para a realidade e futuro do grande jogo entre nós.

Tive a sutil e diáfana oportunidade de sinalizar um novo tempo quando da direção do Saldanha, postando seus vídeos, conclamando o debate, a discussão sobre novas concepções de jogo, tendo como premio o afastamento e marginalização de um processo corporativista e rancoroso, que não aceita, não só a mim, mas o que possa transmutar suas concepções arcaicas e perdedoras, e ai sim, das quais não faço, não fiz e nunca farei parte, gostem, ou não.

Quem sabe um dia dialoguemos melhor?  Talvez…

Até lá continuarei a fazer o que fiz desde sempre, estudar, pesquisar e divulgar o pouco que amealhei vida afora, e não fazendo política de bastidores, nas sombras do anonimato irresponsável e covarde.

E para concluir pesaroso, algo para pensar. Fui convidado a participar da votação para os melhores do ano na LNB/NBB3, e o fiz coerentemente apontando, no caso dos jogadores, 2 armadores e 3 alas pivôs, que claro foram, para efeito de votação, reescalonados para a indefectível e pétrea formação de 1 armador, 2 alas  e 2 pivôs pela comissão técnica. Pois bem, no jogo de ontem tal formação foi desmentida pela enésima vez, com a adoção, por ambas as equipes da dupla armação, e da flagrante movimentação dos homens altos, numa final de campeonato.

Creio que já se faz tardia profundas mudanças em tais critérios, ou não?

Amém.

Foto- Cadu Gomes

OS VÍCIOS…

Grande parte de nossos analistas, perante números como os mostrados a seguir, fatalmente concluiriam que a derrota do Pinheiros ante a equipe argentina do Obras Sanitárias se deu pelo baixo índice nos arremessos de três pontos, quando arremessou 10 bolas a mais nessa especialidade, que aliás, faz a cabeça da maioria esmagadora de nossos jogadores (de armadores a pivôs), muitos dos técnicos, e a esmagadora maioria da midia televisiva, como a meta a ser atingida, seja no jogo que for, e valendo como exemplo para os mais jovens.

Vamos aos números:

Pinheiros – 24/47 nos dois pontos com percentual de 51%.

4/22 nos três pontos com percentual de  18%

17/23 nos lances livres, percentual de    73.9%

 

O.Sanitárias-24/40 nos dois pontos com percentual de 60%

5/12 nos três pontos com percentual de 41.6%

17/22 nos lance livres, percentual de      77.2%

 

 

Pela similitude dos números nos arremessos aproveitados de dois pontos e lances livres, 24 e 17 para ambos, explicariam a derrota pela mínima diferença de 4 para 5 arremessos de três, a favor dos argentinos. E pronto, estariam esclarecidos os três pontos na diferença final, relevando a diferença percentual de 18 a 41.6%, como uma noite pouco inspirada para nossos qualificados especialistas nos longos tiros.

Mas a verdade verdadeira não condiz com a conveniente frieza de tais números, quando evidências mais profundas vão muito além dos mesmos, convenientes, ou não…

Vejamos outros números, aqueles que realmente explicariam a realidade deste jogo decisivo, a realidade de todos os jogos realizados, e que se realizarão no NBB3, quiça, em todos os jogos, de todas as categorias e faixas etárias em nossos campeonatos municipais, estaduais e nacionais.

Os três pivôs do Obras converteram 47 pontos, contra 28 dos pivôs do Pinheiros( frize-se que estavam numa excelente noite, nos rebotes e nas conclusões…), assim como os demais jogadores, armadores e alas do Obras converteram 33 pontos, contra 49 dos do Pinheiros, num cruzamento de tendências que decidiram o jogo, onde o aproveitamento nos lances livres, 17 para cada, não determinava supremacias. Logo, o jogo de 2 em 2 pontos da equipe do Obras, centrando sua estratégia coletivista no jogo interior, superou o evidente jogo exterior do Pinheiros calcado nos arremessos de três para deterninados e conhecidos jogadores, acrescido de um outro fator de estratégia individual, a tentativa bem sucedida de diminuição na eficiência pontuadora dos jogadores Shamell e Marquinhos, de 20 ou mais pontos por partida(Shamell foi o maior pontuador da competição), em 5 pontos para menos de ambos(fizeram 15 pontos cada), dando ao Obras um significativo handicap que os levariam a vitoria.

Somemos a todos esses fatores, a evidência mais cabal de nossa forma de jogar teimosa e preferencialmente no perímetro externo, forma esta incentivada desde as categorias de base, pela frouxidão endêmica de nossas defesas no mesmo, originando um conseqüente, e até proposital desinteresse pelos fundamentos de dribles e fintas, que são os pontos primordiais para o ingresso consciente no perímetro mais próximo a cesta, desencadeando um processo de abandono dos pivôs, numa quase marca registrada no atual panorama do nosso basquetebol como um todo.

Todos estes fatores deram origem a um certo tipo de comportamento de conivência entre muitos técnicos e jogadores, onde os primeiros fingem instruir, e os segundos fingem aprender, e onde ambos se locupletam ao seguirem a mesma regra, num terreno minado de interesses e pouquíssimas, ou nulas cobranças de verdade.

A derrocada de todas as quatro equipes brasileiras nesse Torneio Interligas, onde cumpriram o mesmo ritual de jogo externo, e negação do interno, obrigaram, ou incentivaram os pivôs a abandonarem seu perímetro, para virem tentar a sorte num espaço onde se transformaram em figuras patéticas de jogador, já que destituídos dos fundamentos necessários e obrigatórios a essas novas funções, sempre negados e jamais ensinados a esses jogadores.

E num jogo decisivo como o de hoje, todos esses fatores acima apontados vieram escancaradamente à tona, principalmente nos minutos finais, onde uma equipe muito bem treinada atuou e perseverou no jogo seguro e mais eficiente dos dois pontos de cada vez, ao passo que nossa valente equipe optou por dois arremessos de três quando a diferença no placar não excediam os dois pontos, às vezes um, como num recado vindo dos dois jogadores mais marcados pelos argentinos, pressionados e nervosos que se encontravam, exatamente por estarem sendo levados ao estado de imprecisão pretendido pelos dois eficientes argentinos, num solene “agora eu decido, sou mais eu”, esquecendo o coletivismo, marca indelével do grande jogo, esse mesmo jogo que contumazmente pune aqueles que negam seus princípios e tradições.

Quanto aos técnicos, parabéns ao hermano, que soube optar por estratégias (não confundir com táticas, sistemas ou jogadas…) excelentemente desenvolvidas e aplicadas por seus jogadores, principalmente seus dois armadores puros e três homens altos que se movimentaram incessantemente no perímetro interno, com bons reservas e controle mental elogiável, demonstrando a maturidade alcançada pelo seu eficiente basquete. O técnico do Pinheiros aos poucos vai se aprimorando, e um dos aspectos mais favoráveis é a sua nova postura de diálogo aberto e direto com os jogadores nos tempos pedidos, onde a prancheta perdeu seu foco estelar, apesar de ainda ocupar seu espaço. Somente um fator ainda o prejudica, o ainda não resolvido domínio por sobre determinados vícios que se instalaram em alguns jogadores, principalmente o mais serio de todos, o de acharem que ter ou não um técnico no banco se torna de menor importância, já que decidem eles mesmos o que fazer e como se comportar. Um bom chuveiro de vez em quando não faria mal nenhum, até que aprendessem a ganhar um jogo despindo-se daqueles injustificáveis e inconvenientes individualismos nos momentos onde um sentido de equipe se faz presente e altamente necessário. Essa é a função maior de um técnico numa equipe de alta competição. Mas ele chega lá, com certeza.

Amém.

NILZA…

Foi um jogo dificílimo, a final do brasileiro feminino de 1966 em Recife, entre cariocas e paulistas, ou seja, com praticamente toda a seleção brasileira em quadra, conotando o alto nível daquela memorável final.

Dirigindo a seleção carioca, enfrentei, aos 26 anos, um dos mais instigantes desafios de minha vida como técnico, ainda mais em uma partida que só foi decidida na prorrogação por 69 x 66, dando-nos o tri-campeonato da categoria.

Mas algo de muito especial ocorreu nesse inesquecível jogo, o único que teve a participação da grande Marlene Bento, contundida seriamente no tornozelo direito, e somente semi apta momentos antes da decisão, na qual contabilizou incríveis 38 pontos, mesmo marcada sequencialmente pela jovem Odila, pela veterana Odete, ainda tendo que duelar nos rebotes com a formidável Nilza, que marcava nossa segunda pivô, ora a Delcy, ora a Marly.

No inicio do segundo tempo, ousei algo inusitado, na tentativa de afastar por algumas jogadas a Nilza do rebote defensivo direto, trazendo a Delcy para uma das alas, e levando a Angelina para exercer a função de segunda pivô, mesmo sendo uma armadora de baixa estatura. Esta ação afastou a Nilza do rebote em três ataques nossos, colocando a Marlene  numa ótima situação de domínio, pois a Odila, por ser muito jovem, não conseguia enfrentá-la sem a ajuda direta da Nilza, propiciando seis preciosos pontos a nosso favor, fundamentais para igualarmos o marcador.

O técnico Campineiro atento ao estratagema, optou pela zona, trazendo a Nilza para dentro do garrafão, mas àquela altura, com o placar igualado, conseguimos acessar a prorrogação e vencermos o jogo.

Esse relato demonstra com fidedignidade a grande importância da Nilza como um bastião poderoso nos rebotes das equipes das quais participou, além de também ter sido uma excelente pontuadora nos arremessos de media e curta distâncias, vide sua decisiva atuação no Mundial de 1971, onde conseguimos o terceiro lugar.

Após o jogo, somente duas jogadoras paulistas vieram me cumprimentar, a Nair e a Nilza, que além de grande jogadora era uma desportista brilhante e elegante.

A grande Nilza se foi nesse domingo, fazendo-me retroceder no tempo, a uma época de extraordinárias e inesquecíveis jogadoras, das quais me tornei eterno devedor pelo muito que me ensinaram de técnica, luta e dignidade.

Muito obrigado Nilza, você foi sensacional.

Amém.