QUEBRANDO GRILHÕES…

 

O leitor Caio, ao enviar seu comentário acerca do artigo O Básico Plantel, publicado em 6/2/12, anexou ao mesmo uma entrevista do grande técnico Bob Knight, cedida ao site da ESPN, sobre a equipe da Universidade de Missouri no campeonato da NCAA dessa temporada, onde discute um tema por demais controvertido entre nós, a dupla armação, e num torneio onde, mais do que nenhum outro, prima pelas tradições técnico táticas mais enraizadas nas concepções de jogo de seus muito bem preparados e estudiosos técnicos.

Por aqui, já começam a espocar, ainda de maneira bastante tímida, algumas intromissões neste assunto, muito mais adaptadas ao sistema único, do que numa aberta e objetiva tentativa de contestá-lo no seu âmago.

Iniciativas como a elaboração de Seleções da Rodada feitas pelo blog da LNB, nas quais a dupla armação é devidamente reconhecida, numa tentativa de dinamizar nossa arcaica e engessada forma de jogar, parece que aos poucos vem chamando a atenção de um pequeno universo de técnicos, dos mais jovens, da possibilidade efetiva de se olhar o grande jogo de um prisma diferente daquele que nos é impingido a um longo e insosso tempo.

E porque teimosamente bato nessa tecla visionária, mas com o peso da praticabilidade na quadra de jogo, a um longo e solitário tempo, senão pela esperança de nos vermos perante uma renovada, não inédita, forma de ver, estudar, pesquisar, aplicar algo que nos tornasse proprietários de um sistema, que em tudo e por tudo, difere da mesmice a que nos escravizamos à sombra da mega liga, a NBA?  Ela mesma que começa a ser contestada em sua forma de jogar, vide os exemplos dos Suns e dos Mavericks na conquista da temporada passada…Em dupla armação e pivôs hábeis e velozes.

Mas não basta vermos e copiarmos formas diferenciadas de jogar, como a da Mizzou, descrita pelo grande Knight, ou dos Mavericks, onde um Dirk assinalava 40 pontos sem um único arremesso de três pontos, ou mesmo um Saldanha no NBB2 de injusto aniquilamento, pois tais mudanças exigem metodologias específicas, didáticas adequadas, escudadas num rigoroso e minucioso emprego dos fundamentos, que são ações indissociáveis, e que exigem um grande e persistente conhecimento para serem exequibilizadas, estando ai o mais destacado fator restritivo às mesmas, a negativa, ou receio da maioria dos técnicos em sair de suas bem acomodadas situações, quando também contam com o apoio da maioria dos jogadores, auto especializados(?) nas rígidas posições de 1 a 5.

Fico imaginando um Magnano, que além de excelente técnico se mostra um eficiente professor, quebrando de uma vez por todas os grilhões do sistema único, preparando a seleção para Londres, partindo de uma  base, hipotética base com dois armadores puros e três pivôs, todos muito rápidos e jogando de frente para a cesta, com amplo domínio das tabelas, defendendo e contestando nos perimetros com vigor e coragem, jogando de dois em dois pontos, onde o aproveitamento estatístico de cada ataque em muito supera os de três pontos,  tendo para os eventuais e se necessários  arremessos de três,  jogadores realmente especialistas nos mesmos, e não arrivistas extemporâneos e aventureiros.

Temos jogadores que possibilitasse tal tarefa? Sim temos, aqui e lá fora, bastando somente que se rompam definitivamente os reinados de delfins e cardeais, dando lugar ao novo, ao ousado, ao corajoso, ao inusitado.

O que teríamos a perder voltando nossas vistas às futuras gerações que nos representarão em 2016?

Amém.

NOTA-A ESPN retirou o video de seu site, o que considero lamentável. No entanto, nos brinda com excepcionais e imperdiveis atrações, como Mundiais de Bobsled e Esqui Alpino…

O BÁSICO PLANTEL…

A transmissão da TV argentina estava horrível, falhando bastante em momentos importantes do jogo, mas justiça seja feita, distante da censura que certamente seria exercida por um diretor de imagem, naqueles momentos finais em que sérias discussões eclodiram no banco do Pinheiros, se a transmissão fosse brasileira, pois afinal, para o progresso e incremento do basquete no país, cenas como aquelas devem ser varridas para baixo do tapete, como usualmente o fazem, vide o silêncio atroz do comentarista do Sportv sobre a cena em si, mas que culpou a arbitragem pela derrota ao marcar a quinta falta do Alexandre num momento de reação da equipe, o que realmente ocorreu ao tocar o pulso do atacante argentino.

E o que originou o conflito entre o Marcos e o Fiorotto senão uma desobediência do primeiro a uma instrução veementemente grafada na prancheta (fotos) do técnico sobre uma jogada com a partcipação  dos dois, quando na primeira tentativa o Marcos arremessou em desequilíbrio da cabeça do garrafão, e logo a seguir,  no ataque sucedâneo a uma cesta do Obras, ele preferiu a penetração perdendo a bola no ato de driblar, esquecendo em ambas o pivô bem posicionado perto da cesta, o que o irritou profundamente, resultando numa discussão ríspida, a sua não volta ao jogo, e a reação de desistência do técnico frente ao desequilíbrio emocional de seus jogadores.

Não podemos negar que a intoxicação alimentar de alguns jogadores (o Shamell sequer voltou para o segundo tempo) tenha influenciado na produção da equipe, um pouco contrabalanceada com a péssima participação do armador Osimani, errando passes em demasia, inseguro no drible, parecendo estar tão intoxicado como os brasileiros. Por conta disso os hermanos custaram a engrenar, somente o fazendo quando da entrada dos jovens reservas, que costumam pontuar mais e defender com mais disposição do que os titulares, pelo menos nesse sul americano, numa mostra de efetiva renovação.

Enfim, temos de aceitar o fato de que o Pinheiros tem um excelente time, mas o Obras um excelente plantel, que num torneio de tiro curto como esse é fundamental. As ausências do Morro e do Shamell no segundo tempo, influiu no resultado, assim como a insistente falha na marcação fora do perímetro tem colocado a equipe paulista em sérias dificuldades, inclusive no NBB4.

Foi uma final previsível, pois ainda temos de galgar alguns degraus que nos separam dos argentinos, principalmente na formação de base, tão bem representada pelo jovem banco do Obras, pleno de juventude e talento a ser conveniente e inteligentemente testado no campo de jogo, e não no banco.

Amém.

 

Uma observação– Num jogo cuja velocidade de ações é presença constante, detalhes que chamem muita atenção na indumentária de um jogador, é algo que muito auxilia em sua rápida localização pelos defensores, principalmente em investidas sem a posse da bola. No caso do Marcos, com seu tênis fosforescente (vide foto), isso se torna decorrente no meio de uma coletividade calçando tênis normais. O “estou aqui” não é um bom argumento em situações em que o imprevisto é desejável.

Fotos-Reprodução da TV e Divulgação LNB. Clique nas fotos para ampliá-las.

O NOVIÇO…

-“Se quiserem arremessar oitenta vezes de três arremessem, estando livres, arremessem…”

O placar era o da foto acima, e faltavam uns 5min para jogar. E a equipe não se fez de rogada, perpetrando um 5/29 (17.2%) de arrepiar, estando livres ou não, além de cometer 11 erros na partida.

Não que a equipe de Uberlândia tenha feito algo de diferente, pois os números se aproximam bastante para ambas as equipes, nos arremessos de dois (23/37  para os mineiros, e 22/39 para os paulistas), nos de três (7/25 e 5/29 respectivamente), e nos lances livres (20/25 e 14/22), com o mesmo número de rebotes (34 para cada), e nos erros (8 e 11).

Um arremesso de dois, dois de três e seis lances livres a mais garantiram a vitoria dos mineiros, num jogo que teve duas etapas decisivas para o Uberlândia, o começo com o Coelho ( muito jovem, talentoso, mas que ainda comete erros básicos nos fundamentos, principalmente nos passes), e a vinda para seu posto do Collun, que ao contrário da opinião do comentarista do Sportv, é sim, com toda certeza, um armador de mão cheia, firme, seguro, ótimo defensor, e também pontuador quando necessário. Armando em dupla com o Day, e servindo seus ótimos pivôs, rápidos e atléticos pivôs, o Cipolini e o Gruber, restabeleceu o equilíbrio da equipe, que se ressente muito da ausência do Valter, que compõe o grupo mais homogêneo taticamente da liga.

Do lado paulista, a saída por contusão do seu americano, prejudicou a armação da equipe, mas continuava com um forte grupo nos rebotes e no jogo interior, que ao ser abandonado pela insânia dos três, viu ruir suas possibilidades de vitoria.

Nesse ponto, valeria à pena sugerirmos umas continhas (sem trocadilho…), a saber:

– A equipe paulista errou 24 bolinhas de três (72 pontos tentados e perdidos), numa derrota de 14 pontos. Se tivessem trocado a metade do desperdício de três por arremessos de dois, através o jogo interior e mesmo as penetrações, poderia ter alcançado 24 pontos em 48 possíveis, correto? Ora, perderam o jogo por 14 pontos, desnudando o terrível erro na instrução recebida por seu noviço técnico,   descrita no inicio desse artigo, pois em cinco minutos e de dois em dois pontos, poderia encostar e até vencer a partida, e mais seguramente ainda, se agisse dessa forma desde o começo da mesma.

Logo, muita caminhada sobre pedras terá de ser percorrida pelo noviço técnico, começando por um maior comedimento fora da quadra na relação com a arbitragem, e o espalhafato coreográfico, que retira de seu foco os detalhes mais ínfimos do jogo, aqueles que definem e decidem partidas, desviando-o do centro das sutis decisões, onde instruções como a que foi exarada, perde o sentido técnico tático em uma partida de uma liga superior.

Jogos difíceis e detalhados são vencidos com a cabeça fria, vamos assim dizer, a começar pelos seus lideres, o de fora e o de dentro da quadra, cuja sintonia sempre será interrompida pelos rompantes nervosos e enfurecidos, que são as situações ansiadas e bem vindas pelos ocasionais adversários.

Amém.

Foto- Reprodução da TV. Clique na mesma para ampliá-la.

O QUARTETO VERMELHO…

Só pude ver a metade do terceiro e um completo quarto período do jogo em Córdoba, onde o Pinheiros decidia a liderança da chave com o anfitrião Atenas.

Jogo ruim, com incontáveis desperdícios, onde a defesa da equipe brasileira simplesmente não compareceu, ante um Atenas apenas burocrático, que apesar de manter dois armadores experientes em quadra, o Labaque e o Sucatzky, não imprimiam o ritmo desejado de jogo, cabendo ao americano Melvin as melhores iniciativas.

A partida foi se arrastando, até que no inicio do quarto final os argentinos impuseram um 12×0 nos paulistas, que a muito custo, e liderados pela individualidade do Shamell, encostaram e empataram a um minuto do final.

Deste momento em diante é que testemunhamos algo de inacreditável numa competição deste nível, quando nos dois tempos finais pedidos pela equipe paulista, o quarteto trajado de vermelho que a comanda, viu-se engolfado pela interferência de alguns jogadores, que em português e espanhol definiam estratégias para a reposição dos laterais a que tinham direito, sob os olhares e alguns balbuciamentos do quarteto vermelho, nitidamente constrangido e praticamente posto de lado na discussão de cúpula. Mais do que lógico, nada do que foi confusamente discutido poderia dar certo, como não deu, e jamais dará, enquanto o direito primaz do comando não for restabelecido, ou mesmo estabelecido, como ponto fulcral e básico de uma equipe pertencente à elite do basquetebol brasileiro.

Que me perdoem os técnicos brasileiros, mas imagens impactantes como aquelas, onde jogadores discutem desordenadamente o destino de uma partida em seus segundos finais, agindo como se técnico algum estivesse ali presente e posicionado para as instruções (eram quatro…), é algo que em hipótese alguma pode ocorrer, pois se a moda se espalhar (o que não duvido muito…) veremos acontecer situações onde um pontual conflito será a menor conseqüência originada das mesmas, o que será catastrófico para o pleno soerguimento do grande jogo em nosso caótico país.

O primado do comando é extremamente difícil e solitário, cabendo ao mesmo delegar poderes ou não, e certamente, no caso do desporto, ser estruturalmente estabelecido no treino, onde sistemas são minuciosamente estudados, treinados e aplicados na pratica diária e estafante, colocando seus jogadores de frente para as reais situações que enfrentarão com suas minúcias e detalhes, para que na hora da verdade  saibam como agir e atuar, evitando exatamente o que vem se tornando lugar comum, a discussão anárquica e aleatória sobre o que e o como fazer nos momentos de decisão, pois nesses fundamentais e decisivos momentos o comando se torna, por direito e conquista, indivisível.

Amém.

AMBIENTE DE RACHÃO…

Alô Paulo, tirou férias do blog? Não, estive acometido de uma crise renal, e você sabe quão doloroso um cálculo pode se tornar. Mas aos poucos a saúde vai se restabelecendo, a ponto de tomar coragem para assistir um massacre em forma de jogo, como o Brasília e São José.

Massacre, como? De tudo que possamos conceituar como algo parecido a uma partida de uma liga superior, a começar pelos primários erros nos fundamentos, terminando com a mais completa demonstração de desprezo tático, principalmente aqueles emanados pelos técnicos, jamais seguidos pelos jogadores, todos eles, de ambas as equipes, como num tácito acordo comportamental, preocupante e corrosivo.

Nos fundamentos, nada mais chocante do que a visão equivocada da pancada como forma e opção de defesa, visão essa rompida pelas sucessivas falhas individuais e coletivas durante toda uma partida com 52 arremessos de três, 26 para cada equipe, e 48 faltas (25/23) pessoais, provando mais uma vez a incapacidade defensiva fora do perímetro de nossos jogadores, e sua agressiva volúpia dentro do mesmo, somado a 20 erros (9/11) de passes, andadas e perdas de bola.

Mesmo atuando permanentemente com dois armadores na quadra, a equipe do São José o fazia no sistema único, onde um armador principal era o responsável por todas as ações ofensivas, no caso o jovem Fischer, talentoso e promissor, mas que adquiriu o erro mais comprometedor para um armador, o de atacar dando as costas para seu marcador, obliterando dessa forma grande parte de sua visão periférica, além de se tornar vitima de dobras seguidas e muitas vezes fatais, situações estas que seriam minoradas se recebesse apoio próximo e constante do outro armador na quadra, claro, se posicionado como tal, e não como um ala aberto tradicional, decorrência do sistema único empregue por sua equipe.

Além do mais, sua ambição pontuadora evita um maior apoio a seus pivôs, principalmente o Murilo, que esquecido no perímetro ofensivo interno, veio para o externo para tentativas de três (3/5), quando deveria ter sido mais explorado em sua verdadeira posição, principalmente no decisivo quarto final.

No entanto, ironicamente, no último lateral cobrado por um Guilherme que deveria ser o receptor e não o autor do mesmo, o erro mais primário num passe foi cometido, o de fazê-lo paralelo à linha final, propiciando a interceptação por parte do Fischer, que a partir daí definiu a partida com uma bandeja e um arremesso de lance livre, numa compensação a alguns e sérios erros cometidos por ele no transcurso do jogo.

No aspecto tático, o caos organizacional foi a tônica do jogo, onde o “chegar e chutar” foi explorado ao máximo por ambas as equipes, ocasionando uma espiral de erros assustadora, preocupando pelo fato de ainda não conseguirmos evoluir para sistemas de jogo que primem pela amplitude criativa, dissociada da mesmice endêmica a que nos mantemos atados às vésperas do encontro olímpico em junho na cidade de Londres.

Não podemos mais nos manter nesse “ambiente de rachão”, pois o preço a ser pago poderá vir a comprometer seria e irremediavelmente nossa atuação olímpica, após 16 anos de ausência motivada exatamente por isso, jogar o grande jogo como se pequeno e insignificante fosse. Temos a obrigação de evoluir, ao preço que for.

Amém.

FAZENDO PENSAR…

  • ike 08.01.2012 (2 weeks ago) ·

Blah, Blah, Blah.
Ah… DUPLA ARMAÇÃO!!

Sério? só isso q tu tens a dizer sobre Basquete… que triste.

De vez enquando recebo comentários como o acima, sobre o artigo A Dupla (E Eficiente) Armação do Uberlândia, e claro, convenientemente respondido, mas que desperta em mim uma imensa curiosidade sobre a extensão do conhecimento da dupla armação por parte de todos aqueles que acompanham o grande jogo, sejam jogadores, técnicos, dirigentes, cronistas, torcedores.

Numa abordagem inicial podemos afirmar com bastante acerto que, sob o domínio formatado e padronizado quase absoluto do sistema único de jogo, falar em dupla armação se torna uma pregação num deserto de idéias e uma peregrinação numa abrasiva e inóspita terra de ninguém, apesar de ser um sistema de jogo a longo tempo conhecido (?).

Curiosamente, em 1/8/2010, o Blog DraftBrasil, em um de seus fóruns discutiu a dupla armação- Um pouco de táticas e umas reflexões, antecipando em dois anos o que hoje se discute timidamente sobre o assunto, e o fez se baseando na experiência diferenciada da equipe do Saldanha da Gama no NBB2, e o mais emblemático e profético, sugerindo sua utilização em equipes da NBA!

No ano passado, a equipe do Dallas se sagrou campeã da grande liga jogando declaradamente sob dupla armação e pivôs móveis, e nessa temporada mais equipes ensaiam jogar dessa forma, numa clara e instigante mudança de rumos táticos, na esteira do pedido do Coach K após o último Mundial, onde, subvertendo o sistema NBA, venceu a competição em dupla armação e alas pivôs de grande mobilidade, quando pediu aos técnicos universitários do seu país que investissem nessa forma de jogar, a fim de se aproximarem do basquete FIBA.

Por aqui, ainda jogamos no sistema único, com algumas equipes se utilizando de dois armadores, com um deles substituindo um dos alas, mantendo a sistematização usual, e somente a equipe de Uberlândia ousando ainda timidamente uma autêntica dupla armação e uma trinca de homens altos se deslocando permanentemente dentro do perímetro, mais ainda valorizando, como as demais equipes, os arremessos de três, em vez dos mais seguros e eficientes arremessos de dois pontos.

Mas algo animador deve ser enfatizado, e vem da própria LNB através seu blog Território LNB, ao publicarem várias seleções das rodadas do NBB4 e das finais da LDO na formação de dois armadores e três pivôs, numa iniciativa louvável de ver o grande jogo um pouco além do sistema único (diagramas acima).

No entanto, a viciosa fragilidade defensiva do perímetro externo, indús quase que automaticamente aos longos arremessos, independendo se jogarem com um, dois ou mais armadores, numa demonstração tácita de que entre nós a “bolinha”ainda reinará absoluta por um longo tempo, a não ser que…

A não ser que caiamos na realidade de que se não mudarmos drasticamente nossa formação de base, em todos os sentidos, de forma absoluta, não chegaremos a 2016 minimamente preparados para uma competição do calibre de uma Olimpíada, e em nossa terra, de nada valendo se nossos “craques” complementares em equipes de fora formem uma seleção meia bomba, e o mais importante, que nossos técnicos (ou estrategistas)de elite evoluam da mesmice endêmica que nos estrangula técnica e taticamente.desde sempre.

Amém.

PS-Clique nas diagramas para ampliá-los.

NOSSO EQUIVOCADO BASQUETE…

Estou sem internet praticamente a dois dias, e mesmo não sei se a terei de volta neste sábado. A NET cobra caro na mesma proporção de seus falhos serviços na região em que moro, Taquara, o que me leva à decisão de mudar de provedor logo que for possível.

Mas, mesmo que a tivesse 100%, a cada rodada do NBB fenece em mim a curiosidade de testemunhar algo de novo, instigante, por sobre essa mesmice endêmica e massacrante que nos pune, pelo simples fato de amarmos o grande jogo, a não ser por raros e esporádicos exemplos de atitudes evolutivas tática e tecnicamente, como a equipe de Uberlândia em seus recentes jogos, o que ainda é muito pouco, quase nada, num cenário pré-olímpico de 15 equipes.

Um ou dois armadores, um, dois ou três pivôs, cinco abertos, um pivosão, nada representam sob a égide de “punhos, cabeças, polegares, camisas, especiais, para cima ou para baixo”, em imposições de fora para dentro da quadra, através coreografias rabiscadas em pranchetas cada vez mais “estrelas” de um sistema único, pétreo, inamovível e canhestro, pois nada muda taticamente, a não ser o reescalonamento dos (pseudos…)especialistas de 1 a 5 nas posições estratificadas do mesmo, onde os pivôs continuam a jogar fora do perímetro, inclusive entrando no time dos arremessadores de três, o armador após o passe inicial se esconde por trás das defesas, e os alas, inabilidosos nos fundamentos básicos do jogo se alçam em penetrações cometendo erros inacreditáveis, como nesse Pinheiros x São José onde foram 17, além dos 18/50 (36%) arremessos de três, contrastando aos 36/79 (45,5%) nos de dois, sendo que nos dois últimos pedidos de tempo das equipes, seus técnicos as orientaram diretamente aos arremessos de três, num jogo equilibrado até aquele momento, quando um Marcos, zerado na partida, liquida a fatura com dois arremessos de dois e um lance livre, irônico, não?

Honestamente, me preocupa a seleção para Londres, pois a cada dia que passa mais se aplicam nossos jogadores do NBB no jogo de três, pois defender fora do perímetro, exigência do Magnano, é solenemente desprezada por nossos craques, como se fosse uma questão lógica, afinal de contas na NBA ocorre o mesmo, a não ser pelo fato de que a linha de três de lá é bem mais distante que a da FIBA, além das dimensões da quadra serem maiores também. No entanto, duvido que sob o comando do Coach K, os estrelados da grande liga não anteponham os arremessos de três adversários, como no último mundial.

Enfim, de mesmice em mesmice vai caminhando tropegamente nosso basquete de elite, e o pior, o da pré elite também, pois na recém finda LDO (ou LDB?), além de tudo o que descrevemos, outro aspecto restritivo foi incluído, a velocidade descontrolada das equipes, quando, e por conta da mesma, os erros de fundamentos atingiram cifras realmente absurdas, comprometendo no cerne um trabalho de renovação que tinha tudo para dar certo, a não ser pelas “filosofias” implantadas… Mas isso é outra história.

Amém.

Foto – Divulgação LNB.

A DUPLA (E EFICIENTE) ARMACÃO DO UBERLÂNDIA…

Dificuldades no trânsito, mesmo num sábado, mais dificuldades ainda para estacionar o carro próximo ao Tijuca, e pronto, chego ao ginásio no início do quarto final do jogo entre Flamengo e Uberlândia. No placar, 59×59, antevendo um final duro e emocionante.

Encontro meu filho, preocupado com minha demora, e pergunto como estava vendo o jogo, basqueteiro que é. “Pai, que baita time esse do Uberlândia, jogando em dupla armação, com um Valtinho cadenciando o jogo, dois pivôs leves e muito rápidos em constante movimento, e um Robert Day preciso, constante, e anulando o Marcelo de forma contundente.”

Com esse relatório, se inicia o quarto decisivo, mas não antes de cumprimentar o Paulo Sampaio, técnico campeão da LDO, o José Geraldo, com quem trabalhei no Barra da Tijuca por muito tempo, tendo sido o primeiro técnico do meu filho André, ali presente, um surpreendente Meneses, grande diretor de basquete do Botafogo nos anos sessenta, a quem não via de longa data, o Cicero Tortelli, campeão mundial em 63 e presidente da AVBRJ, e o Marcio Andrade, técnico dos bons, todos presentes na famosa “curva do pipoqueiro” daquele mítico ginásio ( pareço até os comentaristas da ESPN e Band).

Foi um quarto perfeito do Uberlândia, marcando com precisão e força, principalmente na contestação dos arremessos de três rubro-negros, e cadenciando o jogo com um perfeito trabalho de dupla armação com o Collum e o Valter, acionando os pivôs Cipolini e Gruber, e um instigante Day se deslocando aleatoriamente pelos perímetros, pontuando com presteza e defendendo com maestria.

A equipe mineira se impôs jogando muito rápido quando precisou, e cadenciada por principio, arremessando 8/16 nos três pontos, 25/40 nos dois, errando somente dois lances livres (15/17), além de conseguir oito rebotes a mais que seu adversário, que para um jogo desse nível é muita coisa.

No intervalo entre os jogos, no bar do TTC, escuto do Marcio Andrade o comentário de que o sistema de dupla armação e pivôs móveis tinha sido a constante do jogo mineiro, e que cada vez mais esse sistema estava se revelando surpreendente e altamente eficiente, e que minha persistente insistência sobre o mesmo estava se tornando numa oportuna realidade. Fiquei feliz com o comentário, pois representa uma diferente opção de jogo, frente ao sistema único presente de forma absoluta entre nós nos últimos vinte anos. Um outro senhor vem me parabenizar pelo artigo Os Americanos que publiquei aqui no blog, pois levantou uma vasta discussão sobre a massiva presença desses jogadores, ocupando vagas que poderiam ser preenchidas com jovens promissores nacionais, tão pouco considerados pela maioria das equipes da LNB. Mais ainda feliz fiquei por constatar a forma espontânea das manifestações sobre os artigos aqui publicados, demonstrando que pouco a pouco idéias, discussões e sugestões vão alcançando significativa penetração no mundo do basquete brasileiro, abrindo oportunidades de evolução e busca de um efetivo soerguimento do grande jogo entre nós, torcedores incondicionais que somos desde sempre.

Ao voltar para à quadra, para o segundo jogo, me encontro com o velho amigo Ary Vidal, lembrando a ele o nosso Seminário em Abril (que vai ser amplamente divulgado, tendo como título – 50 anos de Educação Física e Desportos) comemorativo ao cinqüentenário de nossa formatura na ENEFD/UB (atual EEFD/UFRJ), sendo sua presença “tão importante, como obrigatória”. Sorrindo responde – “Estaremos todos lá”.

Mais tarde um pouco, comento o jogo entre Tijuca e Franca, um assunto que merece reflexão e paciente análise, depois de duas prorrogações. Estou cansado.

Amém.

Foto- Fernando Azevedo

FIM DE UM ATO…

Fim de um primeiro ato, fim de uma etapa que tem de ser continuada, começo de um longo caminho, espinhoso, escarpado e acima de tudo, sonhado.

A LDO tem de dar seguimento a um trabalho longamente acalentado, e profundamente necessário ao soerguimento do grande jogo desde sempre. Continuidade e muito planejamento se tornam prioritários a um projeto dessa magnitude, pois dele depende diretamente o sucesso da fundamental renovação das equipes do NBB.

Mas ao apagar das luzes desse primeiro campeonato, algumas considerações se fazem necessárias, a começar sobre o jogo final.

Numa partida que sacramentou a tendência do jogo em alta velocidade, comum a todas as equipes participantes do quadrangular final, tanto o Flamengo, como Bauru não aliviaram o acelerador em nenhum momento, fator que prejudicou a equipe paulista de maneira decisiva, quando ao colocar 12 pontos de vantagem no terceiro quarto, optou em se manter rápida na quadra, aspecto este que só beneficiou os cariocas na busca de pontos no menor tempo possível, que foi o que aconteceu no quarto final. Abrandasse o ritmo de jogo naquela altura em que liderava o placar com razoável diferença, Bauru venceria pela quebra da intensidade ofensiva do Flamengo, para o qual a manutenção da alta velocidade o mantinha no foco do jogo. E foi o momento em que as equipes mais correram, e por isso mais erraram, nos dribles, nas fintas, nos passes, nos longos e desnecessários arremessos, e acima de tudo nas defesas, desgastadas fisicamente pela desenfreada correria. Faltou alguém que colocasse “a bola debaixo do braço” no Baurú, assim como a armação do Flamengo manteve e acelerou mais ainda o ritmo, incluindo uma pressão quadra inteira, responsável pelo desmantelamento ofensivo paulista, culminando com algo absolutamente inusitado, quando um pivô reserva, o Ricardo Bampa, arremessou com sucesso duas bolas de três pontos, sem ser minimamente contestado, e concluiu um passe interior do armador Gegê com uma bandeja simples (terceira foto) e eficiente, ganhando o jogo com justiça, muita luta e enorme dedicação, mesmo jogando de forma atabalhoada e descoordenada.

Mas, o preocupante foram os altos índices de erros nos fundamentos por todas as equipes intervenientes, numa clara e indiscutível evidência da falha formação de base neste básico ponto, comprovando a preferência dos técnicos pela imposição técnico tática por sobre os fundamentos do jogo, desde muito cedo, desde o inicio da formação, seguindo a diretriz da formatação e padronização imposta ao grande jogo no país.

Entretanto, algo constrangedor ocorreu no ginásio do Tijuca, quando todo um lance de arquibancada e cadeiras foi vetado ao público, sendo liberado o lance enfrente às câmeras de televisão, para transmitir a impressão de ginásio lotado para uma decisão veiculada nacionalmente pela mesma, tirando o conforto de muitas crianças e mulheres presentes, num claro desrespeito aos mesmos, e indesculpável numa praça de esportes com o ingresso liberado, num estratagema condenável e perigoso ( duas primeiras fotos).

Finalmente, me vi convidado pela direção da LNB, para ao final da competição fazer entrega de um dos prêmios concedidos aos mais eficientes, aquiescendo com satisfação ao mesmo. E qual foi minha surpresa quando entreguei o troféu de técnico mais eficiente ao Paulo Sampaio do Flamengo, conhecido por mim desde sua época de jogador, com o qual sempre mantive um salutar relacionamento, mesmo quando exerci algumas criticas sobre opções técnicas do mesmo, mas sempre pautadas pela isenção e pela ética profissional. Sei do respeito que ambos mantemos, e o parabenizo, assim como toda a sua jovem equipe pela conquista, importante para o basquete do Rio de Janeiro, tão abandonado desde a fusão da Guanabara com o Estado do Rio, quando deixamos de ser o segundo estado mais rico da federação, para nos tornarmos num município à beira da miserabilidade econômica e moral em que nos encontramos.

Mas acredito, como bom carioca, que dias melhores virão.

Desejo a todos um 2012 pleno de saúde, esperanças e muita paz.

Amém.

 

Fotos- Reprodução da TV, divulgação LNB e produção própria,

Clique nas mesmas para ampliá-las.

VÍCIOS ADQUIRIDOS…

Sem dúvida alguma a LDO é um campeonato que vem preencher um enorme vácuo na trajetória da maioria dos jovens que saem das divisões de base em direção a elite do basquetebol nacional.

No entanto, não basta participar do mesmo sem que possuam o preparo básico adquirido nas divisões de formação, principalmente quanto aos fundamentos individuais e coletivos do grande jogo. E sob esse aspecto eclode uma questão – estarão esses jovens realmente preparados para a divisão principal?

Analisemos dois dos melhores armadores dessa competição, o Gegê da equipe do Flamengo, e o Raphael de Brasília, ambos com alguma experiência em equipes do NBB, ambos considerados reais promessas para 2016, mas que, no entanto, a exemplo de grande parte dos armadores das demais equipes participantes da LDO, em absoluto estão preparados tecnicamente para exercer um papel de líderes de equipes dentro do atual estágio em que se encontram no domínio da ferramenta básica para tão importante papel, os fundamentos do jogo.

Vejamos o jogo de ontem, quando ambos se enfrentaram ofensiva e defensivamente, arbitrados por um trio de juízes, sendo um deles arbitro internacional, mas que, omitindo a aplicação das regras, permitiram que ambos as violassem sucessiva e permanentemente durante toda a partida, ao driblarem incorretamente nas mudanças de direção e nos cortes laterais e em reversões, paralisando momentaneamente a bola em suas mãos (e por isso mesmo interrompendo sua trajetória livre de encontro ao solo), caracterizando a infração de condução, se estivessem em parada momentânea, ou andar com a bola, se em deslocamento. Por se tratar de um movimento muito rápido, a captação fotográfica do mesmo é bastante difícil, mas o exemplo acima (segunda foto) demonstra com clareza a violação, pois a bola se encontra espalmada por baixo, caracterizando a interrupção da sua trajetória descendente de encontro ao solo. A visão acurada do vídeo do jogo demonstra inequivocamente, que tal ação foi desenvolvida em todo seu transcorrer, por ambos os jogadores, em grande velocidade, “facilitando”, pela imobilidade transitória da bola, transposições defensivas e penetrações improváveis se executadas dentro do espírito das leis do jogo, e tudo sob o beneplácito da arbitragem. Essa violação, que é reprimida na Europa, bastante tolerada na NBA (afinal o espetáculo deve priorizar a estética…) e eventualmente punida por alguns de nossos juízes, que erroneamente a classificam como condução, quando o jogador está em movimento, no que seria andar com a bola, pois o binômio ritmo-passada é descontinuado, gerando a violação.

Outra falha lamentável nos fundamentos é a da imprecisão e aplicação dos passes, onde um dos preceitos mais dogmáticos existentes no grande jogo é o de hipótese alguma ser permitido que os mesmos sejam realizados paralelamente à linha final, pois se interceptados tornam impossível sua defesa, principalmente se originados pelo (s) armador (es) da equipe. A primeira foto demonstra com clareza uma das muitas tentativas executadas desse tipo de passe nos jogos da LDO.

Muitas outras falhas nos fundamentos poderiam ser apontadas, para serem discutidas à luz da grande carência formativa de nossas gerações de jovens, muito mais treinados e orientados às táticas e sistemas de jogo, do que ao efetivo domínio dos fundamentos, sem os quais aquelas se tornam inócuas e falimentares.

No entanto, aquelas duas apontadas acima, que são características dos armadores em suas funções de levadores de bola, fintadores estratégicos e alimentadores de seus companheiros, fora e dentro dos perímetros de jogo, são por demais importantes e decisivas para serem minimizadas em sua execução e finalidade, quando está em jogo o futuro do nosso basquetebol, que ainda padece da ignorância de alguns segmentos que o compõe, sobre o verdadeiro conhecimento exigido no preparo de nossos jovens, em direção à plenitude dos fundamentos do grande jogo.

Vícios adquiridos na formação são de difícil, (sem ser impossível) correção, exigindo de todos, professores, técnicos, e por que não, juízes, atenção e cuidados constantes para que não se fixem e se perpetuem para muito além da prática deste grande, grandíssimo jogo.

Amém.

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