O PLENO DIÁLOGO…

No espaço dedicado aos comentários do último artigo aqui publicado “ Um Congresso em Lisboa” , tive o privilégio de estabelecer um diálogo com um técnico do interior de Minas Gerais, o Henrique Lima, contando suas dificuldades, incertezas e questionamentos sobre a difícil missão de dirigir equipes de formação, pedindo sugestões e análises sobre treinamentos, sistemas e ações pedagógicas no ensino dos fundamentos e sistemas de jogo. Selecionei alguns trechos, deixando à curiosidade dos leitores o completo teor do mesmo.

  • Henrique Lima 26.04.2010 (4 dias atrás)

Professor te questiono pelo sistema Flex pelo seguinte:

É um sistema válido de passar para atletas que encaminham para o juvenil na próxima temporada?

Quais os pontos positivos de ensinar um sistema como este?

O senhor acredita que os atletas tem que sabe tais sistemas (este e o que senhor mencionou), ao menos o básico de cada um?

Eu fico sempre na dúvida disso em relação a estes sistemas e a melhor utilização dos mesmos, uma vez que os atletas podem e tendem a ficarem presos em uma maneira de jogar somente.

Enfim, as dúvidas não cessam Professor Paulo, apenas aumentam e parecem cada vez mais complexas e com soluções ainda mais escondidas! rs

Obrigado, um grande abraço e boa segunda feira!

  • Basquete Brasil 26.04.2010 (4 dias atrás)

Guarde bem para você prezado Henrique, jogadores só ficam presos a sistemas se os técnicos assim determinarem, pois os grilhões atados aos mesmos são imposições vindas de fora para dentro das quadras, ou por insegurança, ou por inflados egos. Jogadores autônomos e criativos, dentro de qualquer sistema, somente serão possíveis se dominarem a essência do grande jogo, seus fundamentos. O atual sistema proposto por mim é algo inusitado, pois preconiza a total liberdade criativa dos jogadores envolvidos com o mesmo. Mas para tanto, a necessidade básica se lastreia nos fundamentos muito bem treinados e estabelecidos, sem os quais o sistema morre no nascedouro. E assim para os demais sistemas, sejam eles quais forem.
É uma escolha difícil de pensar e raciocinar, mas comece pela base de tudo, o pleno conhecimento das habilidades pessoais e técnicas de seus jogadores, suas ambições, seus sonhos, e dai em diante estabeleça um sistema que potencialize estas questões. Esse é o caminho a ser percorrido pelos bons e autênticos técnicos, agindo antes de tudo como convincentes e preparados professores.
Um abraço, Paulo Murilo.

  • Henrique Lima 27.04.2010 (3 dias atrás)

Obrigado Professor Paulo!

Ontem tive a estréia como treinador da categoria Sub-17 (por que trocaram os nomes para estes siglas horrorosas?).

Foi um jogo que achei melhor do que o relato para mim das atuações anteriores. Temos um longo caminho para trilhar e muito que melhorar.

Porém, é possível e isso é o mais importante. A situação em que vivo aqui é de certa forma muito semelhante à situação que o senhor pegou em Vitória quando ali chegou. Relendo os textos do senhor do começo da trajetória, existem pontos em comum e serei eternamente grato por ter colocado à disposição todo seu trabalho nos artigos que escreveu naquele momento, fora os mais antigos que ando relendo também!

Agora estou mais tranquilo realmente após assistir à primeira partida! E é começar a treinar com base em tudo que estudei!

Um grande abraço Professor Paulo, espero não somente novos textos como sempre mais discussões! Leia mais »

PENSANDO O FUTURO – O GRANDE JOGO…

Caros e prezados basqueteiros de meu  país, principalmente vocês, os jovens técnicos que se iniciam nessa extraordinariamente difícil arte, a de dirigir consciente e tecnicamente equipes de basquetebol, de que divisão for, de qualquer faixa etária, masculinas e femininas, em escolas ou clubes, em seleções municipais e estaduais, e mesmo para aqueles que exercem o privilégio de orientarem seleções nacionais, enfim, a todos que amam o grande jogo,  tenho agora a oportunidade de divulgar um trabalho, humilde e honesto trabalho de muitos e muitos anos, sempre na contra mão de um sistema perverso que nos foi imposto cerca de vinte anos atrás, e que nos levou ladeira abaixo do desprestigio nacional e internacional.  Tem sido o mesmo empregue  desde sempre em divisões de formação,  de importância e referência sempre minimizada e até excludente pela maioria técnico dirigente, mas que vem, agora numa divisão de elite,  provar seu valor e mérito, não como uma panacéia das muitas impostas a todos nós como conquistas de alto valor, mas sim como uma experiência calcada no estudo incansável junto aos jovens, junto aos que sonham um basquete de melhor qualidade, ou seja, a minoria absoluta daqueles que realmente propugnam algo de muito sério, novos caminhos para o grande jogo entre nós, e não o engessamento colonizado de uma modalidade ora atrelada a interesses que não nos dizem respeito, o basquete globalizado e asfixiante, um tipo de basquete que nos esmaga e humilha.

Para todos aqueles curiosos sobre o que vem a ser jogar com dois armadores puros e três pivôs móveis, e a utilização da defesa linha da bola com flutuação lateralizada, posso agora, através de alguns vídeos de jogos da equipe que ora dirijo, o Saldanha da Gama, dar continuidade demonstrativa iniciada com a veiculação de um outro video de 1996, da equipe do Barra da Tijuca no campeonato Infanto Juvenil daquele ano, onde estes sistemas ensaivam seus primeiros passos, o que pode aqui ser testemunhado.

Inicio a série com o jogo contra a equipe do Universo de Brasilia, com a formação egressa do afastamento de três de seus principais jogadores, mas que mesmo assim, através um intenso e sacrificado treinamento se manteve coesa e competitiva, demonstrando que os sistemas ofensivo e defensivo adotados e aceitos por todos os seus integrantes dão mostras incontestáveis de que podem e devem se tornar uma alternativa válida, dentre as muitas que poderão advir dessas propostas postas em prática no campo de jogo.

Vejam, analisem, discutam os vídeos, e depois o critiquem à luz do bom senso, aceitando ou não suas propostas, para enfim concluírem sua validade ou não, ou pelo menos permitindo que se abram novos caminhos e meios de fazermos basquetebol em nosso país, premiando e valorizando a diversidade, a liberdade de ações e pensamento, deixando enfim, fluir a criatividade, nossa esquecida e formidável arma tupiniquim.

Amem,

PS – Na última jogada do quarto final, o cameramen empolgado com o jogo deixou de focar a cesta do jogador Guilherme da equipe de Brasilia, mas focou a cesta final do jogador Roberto da equipe do Saldanha da Gama. PM.

Quando estiver vendo o video em tela cheia e este congelar, tecle ESC que o mesmo dará seguimento , podendo voltar à tela cheia sem problemas.

Saldanha da Gama x Brasilia – 21.03.2010 – Primeiro quarto

Saldanha da Gama x Brasilia – 21.03.2010 – Segundo quarto

Saldanha da Gama x Brasilia – 21.03.2010 – Terceiro quarto

Saldanha da Gama x Brasilia – 21.03.2010 – Quarto quarto

AS SUB’S E OS FUNDAMENTOS…

Terminada a temporada para nós, dois aspectos me vêm à mente como os mais importantes que enfrentamos. Primeiro, o grande desafio de encontrar uma equipe desmotivada e entregue às suas limitações técnico táticas, frutos de uma preparação equivocada, já que centrada num sistema único empregado por todas as equipes, como um padrão a ser seguido obrigatoriamente, mas sem contar com jogadores mais qualificados que as demais, naquelas posições chaves do tal sistema, conhecidas e estratificadamente determinadas como posições 1, 2, 3, 4 e 5, que num raciocínio lógico nos leva a conclusão de que jogadores mais especializados naquelas posições, comporão aquelas equipes mais categorizadas, setorizadas, como numa linha de montagem, onde cada peça específica faça funcionar as engrenagens daquele sistema único. Melhores peças, melhores equipes, numa gradação qualitativa que decresce na medida do poder econômico de cada um dos participantes, no mercado padronizado de jogadores.

Como resultado dessa realidade, encontramos, como encontrei, jogadores pretensamente especializados naquela lastimável cronologia de 1 a 5, ignorantemente implantada de vinte anos para cá, onde os fundamentos do jogo foram “setorizados” por posições, como se cada um daqueles jogadores professassem e empregassem aquelas habilidades especificas exigidas pelo abominável e restritivo sistema único.

O outro e decorrente aspecto, foi o alto grau de convencimento a que foram instados todos estes jogadores, de que aquele pequeno arsenal de conhecimentos fundamentais eram suficientes, se bem repetidos, para a manutenção de suas estratificadas posições, aquelas de 1 a 5, numa limitação, ai sim, criminosa, pois era a garantia do sistema e sua coercitividade nas mãos e pranchetas de muitos, talvez a maioria, dos técnicos nacionais, que infelizmente abrangiam todas as categorias, da base à elite.

Frente a tais e indesmentíveis fatos, baseei todo o treinamento da equipe em  70% de fundamentos, e os restantes 30% em um novo e diferenciado sistema de jogo, onde todos os jogadores teriam participação igualitária na aplicação de suas habilidades, assim como em seus posicionamentos, tanto dentro, como fora dos perímetros, aqueles limitados pela linha dos três pontos.

E então, quando vejo as nossas seleções sub’s (15, 16, 17, etc ), aquelas que serão as abastecedoras de novos e promissores talentos para as seleções adultas, se manterem dentro de critérios que beneficiam o sistema, e não o maciço preparo nos fundamentos, cada vez mais voltadas às especializações de 1 a 5, como num terrível e castrador moto contínuo de mediocridade e desconhecimento do grande jogo, me pergunto do fundo do meu ainda parco conhecimento, do muito ainda que tenho de aprender, me pergunto- Até quando, meus deuses? Até quando?

Sistemas têm de seguir uma indiscutível imposição, a de que jamais funcionarão sem um alicerce poderoso e bem plantado, o pleno, absoluto e decisivo apoio dos fundamentos do jogo, a ferramenta prima de todos eles, exceto um, o que empregamos, onde cada uma das cinco posições ao se especializar em dois ou três fundamentos, quando deveriam dominar todos, garante para a maioria dos técnicos  a arma coercitiva que os mantêm num comando de fora para dentro das quadras, improdutivo para a modalidade, mas altamente vantajoso na manutenção de seus princípios, e por que não, empregos, e não só em nosso país, como muitos outros do chamado primeiro mundo. As exceções compõem os países que lideram o basquetebol do nosso tempo, e dos passados também, onde fomos importantes um dia.

Temos de repensar urgentemente nossas seleções sub’s, colocando-as nas mãos de técnicos experientes, estudiosos e com muita estrada rodada, e não nas mãos púberes de candidatos ao nada, pois as experiências válidas são aquelas intensamente vividas, jamais as sonhadas, e muito, muito menos as políticas e apadrinhadas.

Quando em nossas andanças nos últimos dois meses pelas quadras da LNB, espalhava cadeiras por onde evoluíam jogadores treinando fundamentos, não só dava seguimento a um hábito aceito pela equipe, como induzia todos aqueles jovens que nos assistiam a pratica sistemática e diária dos mesmos, como base e sedimento do nosso diferenciado sistema, e dos outros também.

Melhoramos? Sem dúvida alguma, os resultados comprovam. E como melhoraríamos todos se nos habituássemos a pratica dos fundamentos, indistintos a todos os jogadores, altos e baixos, armadores, alas ou pivôs, do mini ao adulto, numa cruzada que nos redimiria de anos e anos escravizados a sistemas anacrônicos, pranchetas e muito papo furado, aquele de quem pouco sabe e entende do grande, grandíssimo jogo.

Amém.

FOTOS – Treinos em Vitória, Joinville, Londrina e Baurú, respectivamente. Clicar para ampliar.

O QUADRAGÉSIMO NONO DIA – INDO MUITO ALÉM DO POSSÍVEL…

Ao chegarmos a Londrina no fim da tarde de ontem, três dos nossos principais jogadores, os armadores Rafael e João, e o pivô André, apresentavam um quadro agudo de desarranjo intestinal, motivado pela péssima alimentação ingerida ao longo da estada de 6 horas no aeroporto de Curitiba, e pelo enorme desgaste do restante da equipe, ocorrido durante o duríssimo jogo em Joinville, fatores estes que me obrigaram à suspender qualquer atividade técnica em quadra, preservando um mínimo de  descanso e reposição eletrolítica para o jogo final da temporada.

Na manhã de hoje, já podia vislumbrar o que ocorreria daqui a um pouco durante o jogo, o desgaste inamovível e irreparável, além do estado de fraqueza que aqueles três jogadores apresentariam durante um jogo tão importante para nós todos

E foi exatamente o que ocorreu, além de um outro fator técnico comportamental que nos fez  perder um jogo equilibrado até o meio do quarto final, uma atuação desastrada da arbitragem dentro de um critério assustador, “a arbitragem caseira”, que culminou com uma falta técnica inexistente, pois foi por mim testemunhada a dois metros de distancia, por parte do pivô Amiel, jogador voluntarioso e capitão da equipe, que por suas posições criticas tem de muitos árbitros uma vigilância que transcende a área das leis do jogo, envolvendo a relação pessoal, o que é contraproducente para uma arbitragem isenta. Tentei intervir para acalmar os ânimos, com paciência e lucidez, a fim de evitar o prosseguimento da contenda, tanto que mantive o Amiel em quadra apostando numa volta à calma de sua parte, mas o grande estrago já tinha se instalado.

Na continuidade do jogo o previsto se tornou realidade, pois uma característica básica da equipe, sua forte e antecipativa defesa cobrava daqueles três jogadores uma performance tolhida pela fraqueza física, produto do desarranjo intestinal mencionado ao inicio do artigo.

Foi nessa fase que as faltas se intensificaram dentro dos garrafões, principalmente entre os grandes pivôs, sem que as mesmas fossem coibidas pela arbitragem, como determinam as regras do jogo. E aqui cabe uma pequena explanação de algo ocorrido antes do jogo, logo que cheguei bem cedo ao ginásio. Entre instalações de equipamentos, placar, computadores, noto que uma pequena equipe de TV se instala atrás do meu banco de reservas, praticamente ao nível do solo, utilizando um tripé para a câmera de vídeo. Pergunto se era a equipe que iria gravar o jogo para que suas copias fossem endereçadas à LNB, e as duas equipes participantes. Antes um pouco deste diálogo, notei dois mezaninos no meio do ginásio, ocupando espaços ideais para uma excelente e elucidativa (se necessária…) captação de imagens, com os detalhes necessários para análises, tanto em relação às técnicas empregadas pelas equipes, como para um estudo critico sobre situações de arbitragem. Tive a resposta afirmativa por parte de um agressivo “jornalista” (duvido que o fosse…) de que aquele era o melhor lugar para o trabalho de qualidade profissional que se propunha realizar. Considerei junto a ele que uma câmera JVC no formato Mini VHS já não se constituía num equipamento profissional, e que muito antes do seu pretenso apuro técnico, as imagens teriam de atender os requisitos de enquadramento que propiciassem possibilidades de estudo e observações de detalhes, somente possíveis se captadas de um posicionamento bem acima da quadra de jogo ( Fui durante muitos anos cinegrafista profissional, sendo inclusive formado em jornalismo áudio visual pela ECO/UFRJ), que acredito ser uma exigência da LNB, comprovada por todos os vídeos a nós endereçados de todos os jogos em que participamos. Não fui ouvido nem considerado, e o produto que me foi entregue após o jogo é simplesmente inacreditável, não só pela lamentável qualidade (?) técnica, como pelo criminoso enquadramento, que simplesmente torna impossível qualquer análise das situações técnico táticas apresentadas pelas equipes, como, e principalmente, retira toda e qualquer possibilidade de análise critica sobre TODAS as ações direcionadas a arbitragem do jogo. Erros de fato e de direito são varridos às considerações de qualquer espécie pela ausência de imagens elucidativas e conscientemente omitidas para estudos e correções presentes ou futuras. Lamentável.

Fica então solta no ar para muitos analistas, a retórica envolvendo “desculpas”pela derrota, o não saber e admitir perder, etc, etc. Mas esquecem que para uma competição que pretende ser considerada de alto nível, a validade das imagens de todas as manifestações envolvidas e decorrentes da mesma, se tornam de transcendente importância, pois através das mesmas, de seus testemunhos gráficos é que poderemos atingir o progresso pretendido.

Foram todos os jogos em Londrina gravados desta mesma maneira, alguns, ou somente este? Creio que caberiam às doutas comissões técnicas e de arbitragem da LNB responderem, para o aprimoramento das futuras competições. Quanto a mim, fico no vazio da experiência única e indefensável de não poder corrigir aspectos técnicos de minha equipe, assim como impossibilitado e manietado de contestar critérios que julgo falhos e muitas vezes tendenciosos em algumas arbitragens, a começar pelo conhecido e divulgado critério da arbitragem caseira.

Foi um jogo em que a única taça em jogo era uma prosaica e vetusta lanterna, talvez a continuidade ou não de um patrocínio, ou de uma participação para a próxima liga, mas sem dúvida alguma, itens que não mereceriam ter um documento que os avalizassem.

E no fragor da luta, registrada ou não, olho para a quadra e vejo meus armadores exauridos pela perda de líquidos básicos, olho para o banco e constato o mesmo panorama, a defesa se esvai, o ataque trava, viro-me para o Wahington, meu diligente assistente e digo, não dá…como não deu.

O que mais posso dizer? Ah, que o sistema funcionou muito bem, principalmente contra zona, que os jogadores se empenharam ao limite, que a equipe de Londrina é uma boa equipe, com excelentes jogadores, que, no entanto, não puderam ser obstados pela fragilidade defensiva de meus jogadores, limitados pelo cansaço, limitados pela doença. Desculpas, não, fatos, somente fatos, fatos estes que não posso sequer rever, fruto de uma filmagem… bem deixa para lá, pois vida que segue, com o sabor do dever cumprido, digna e honestamente.

Fim de uma etapa, começo de outra?

Amém.

FOTOS – Enquadramento da filmagem feita em VHS  do jogo

– Equipe do Saldanha da Gama – 2009-2010

O QUADRAGÉSIMO OITAVO DIA – A VITÓRIA DE UM SISTEMA…

Já são 6 horas que estamos aguardando embarque para Londrina aqui do aeroporto de Curitiba, saindo de Joinville de ônibus às 8 da manhã. São 16 horas, e estamos extremamente cansados de um jogo inesquecível, não pela vitória em si, mas por todo o panorama desenrolado em torno do mesmo.

E que panorama, a começar pelo fato inconteste do favoritismo absoluto do time da casa, manifestado pela imprensa local, pelos torcedores que encheram seu grande ginásio, e pela expectativa de sua própria equipe numa vitória protocolar. As declarações de seu técnico após o jogo não deixam margem a dúvidas quanto ao clima de favoritismo reinante na bela cidade de Joinville – “Não estava esperando por isso, foi uma das piores derrotas que já tive (…) Ou a gente encara com medo ou parte para a recuperação . Vamos trabalhar o psicológico da equipe este final de semana para esfriar a cabeça e partir bem para o jogo”. (Jornal A Noticia de Joinville 3/4/2010).

E nem seus jogadores estavam esperando, e o ala André definiu assim o adversário que o venceu – “Eles estão fazendo um jogo diferente”.

Diferente? Como assim, se todas as equipes já estavam acordadas desde sempre a jogarem de forma igual? Bem, o Saldanha resolveu jogar de outra forma que não o prèt-a-porter implantado no país, resolveu jogar um basquete participativo, democrático, aberto, tendo como base estrutural o máximo possível domínio dos fundamentos, somente isso. E muito mais treinamento nos fundamentos terá de ser desenvolvido, para que possamos chegar a um razoável patamar de excelência, tanto ofensiva, como, e principalmente, defensiva.

Mas Paulo, o jogo, como foi o jogo, já que nada ainda pode ser visto na TV, ou mesmo em vídeo?

Imaginem um imponente ginásio cheio de entusiasmados torcedores, totalmente voltados à sua equipe, que é muito forte e com muito bons jogadores, e que tem nos arremessos de três pontos um de seus pontos altos, e é a quinta colocada na liga, para reconhecermos que enfrentá-la exigiria muita energia, força, inteligência técnico tática, e acima de tudo, algo acrescido na forma de jogar, o algo descrito pelo André – “Eles estão fazendo um jogo diferente”.

Sim, jogamos com dois armadores puros e três pivôs móveis, e defendemos na “linha da bola”, não a de flutuação longitudinal, e sim na de flutuação lateralizada, que são sistemas diferenciados da totalidade das equipes da liga. Querer ou aparentar ser “diferente” das demais, ou se caracterizar como proprietária de sistemas diferenciados e comprovadamente eficientes?

Creio que nossa opção tem se caracterizado pela eficiência, e alguns números são irrefutáveis, como nesse jogo, onde os arremessos de dois pontos atingiram a marca de 17/49 (34,6%), os de três 6/17 (35,2%) e o os lances livres 17/20 (85%), onde 34 pontos de 2, e 17 de 1, perfazendo um total de 51 pontos, se contrapõem aos 18 de 3 pontos, numa pontuação largamente vantajosa para os arremessos de média e curta distâncias, mais precisos e eficientes que os de longa distância, daí a liberação altamente seletiva dos arremessos de 3, bem ao contrario da equipe de Joinville com suas 31 tentativas de 3, para 8 acertos.

Outro fator preponderante foi o domínio dos rebotes em 44 contra 32, e o numero de erros de 5 contra 9.

Mas o grande divisor de água foi a defesa, rígida e antecipada, principalmente contra os pivôs, marcados à frente permanentemente, e com contestação em todas as tentativas de 3 pontos, baixando significativamente o grau de acertos nestes lançamentos., principalmente nos dois quartos iniciais.

No terceiro quarto combinamos jogar dentro da totalidade dos 24 segundos, a fim de economizarmos energia para o quarto final. Por isso, uma diferença de 16 pontos foi baixada para 7 no inicio do quarto final, numa ação planejada de administração de um placar favorável, mas que deveria ser ampliado ou mantido se agíssemos com frieza e controle absoluto do ritmo cadenciado que aplicávamos com mais frieza ainda. Deu certo, pois a aceleração do ritmo de jogo do Joinville nos concedeu maiores espaços em sua forte defesa, que aproveitamos com maestria e determinação. E mais um fato determinante, somente pedi um único tempo no terceiro quarto, preferindo atestar o alto grau de maturidade de uma equipe que treinou muito para saber administrar situações de risco sem a minha interferência direta, provando, por mais uma vez, a excelência dos sistemas de jogo que concordamos, todos, estudar, discutir, treinar e aplicar.

Vencemos um jogo chave para o nosso soerguimento técnico e psicológico, solidificando uma postura técnico tática  que nos qualifica ao jogo deste domingo, quando tentaremos abandonar a lanterna do campeonato, que tanto nos tem marcado e traumatizado.

Neste domingo, enfim, poderemos atingir uma maioridade técnica perseguida com esforço e grande sacrifício, posto que nossa meta desde o início deste trabalho. Sei e tenho a mais absoluta certeza de que já fazemos por merecer um futuro melhor e mais justo.

Amém.

Foto – Blog REBOTE

O QUADRAGÉSIMO SÉTIMO DIA – A ESCALADA…

Todos tiveram de acordar muito cedo, 4 horas da manhã, para um vôo às 6 horas. Esperamos mais 4 horas em São Paulo para chegarmos a Joinville no inicio da tarde. Ida para o hotel, muito bom aliás, almoçamos mal, descansamos um pouco e nos preparamos para o importante treino no horário aproximado do jogo de amanhã.

Mas não houve treino, pois o ginásio da competição não pode ser utilizado por nós, violando uma das determinações da LNB, quanto às disponibilidades obrigatórias em beneficio de uma equipe visitante. E não houve sequer uma tentativa de providenciarem um outro local, inviabilizando toda uma programação técnica de nossa equipe.

Tento junto à gerência do hotel um local para uma projeção de vídeo, em substituição ao treino programado, pedido este também não atendido, pois as salas de reuniões estariam cedidas de véspera a diversos congressos empresariais. E toda uma programação técnica foi por água abaixo nesta quinta feira em Joinville.

Bem mais tarde reuni a equipe para discutirmos o jogo de amanhã, nossas dificuldades praticamente endêmicas, e a nossa teimosia em caminhar sempre para frente, superando a tudo e a todos, para no final reiterarmos o nosso comprometimento e compromisso com a equipe. E é com esse espírito que tentaremos treinar pela manhã, ajustando os arremessos, e jogar o grande jogo em um final de tarde que nos redimirá de tantas e injustificáveis vicissitudes, seja o resultado que for.

E para terminar, como dificuldade pouca é besteira, tivemos no almoço e na janta uma salada, um único tipo de carne, e oito tipos de massas, do fuzille ao talharim, como se todos nós fossemos corredores de maratona, e não jogadores de basquetebol. Lamentável. Mas com algum jeito pudemos ter acesso a uns ovos fritos e um pouco de feijão, equilibrando por baixo uma alimentação absolutamente inadequada para a ocasião.

Mas amanhã é outro dia, e essa equipe já deu provas cabais de superação e alto desempenho, provando seu valor e comprometimento.

Que venha o jogo, o grande jogo, que será jogado com a coragem dos eleitos.

Amém.

O QUADRAGÉSIMO SEXTO DIA – A VIAGEM…(ARTIGO 700)

Dia de aprontos, dia de ajustes e de muita conversa técnica, dia de nos unirmos para a última etapa de nossa saga, de nossa luta, enfim, dia de partida para a despedida de uma temporada que poderia ter sido um pouquinho menos amarga em seu inicio, compensada em termos por um final digno e corajoso.

Sexta feira enfrentaremos o poderoso Joinville, e domingo o ainda pretendente à última vaga nos play offs, o Londrina. Dois jogos, duas pedreiras íngremes e escorregadias, duas excelentes equipes. E nós, desclassificados do torneio final, mas plenos de força e esperança em dias melhores, nos apresentaremos em suas casas, para competir com honra e dignidade, desejando acima de tudo as vitórias sempre buscadas com ardor e muita luta.

Meu relatório para a diretoria está pronto, bastando imprimir os quarenta e tantos artigos aqui postados contando o dia a dia do preparo desta instigante equipe, com seus jogadores desacreditados, mas plenos de energia e insuspeita técnica, particular, surpreendente. Tem sido um enorme prazer dirigir e orientar esse grupo de irmãos, alegres, irreverentes, respeitosos, e acima de tudo, brilhantes. E do jeito particular de cada um deles montei um puzzle exclusivo, mas não intransferível, onde evoluem com maestria e energia, num sistema de jogo realmente eficiente, num sistema de jogo de que são exclusivos proprietários, até que os copiem, o que seria muito bom para o basquete brasileiro.

Pena, muita pena que os vídeos estejam custando a serem veiculados, pois seriam de grande valia para os jovens técnicos do país, ávidos de novos ares, de novas e eficientes técnicas, de algo novo e desafiador. Nosso basquete precisa reaprender a jogar com os homens altos junto às cestas, na contra mão desse cataclismo implantado entre nós, o desvario dos arremessos de três.

Precisamos reinventar os armadores, não estes que aí estão, semáforos ambulantes, corredores de maratonas, e estilingues irresponsáveis. Falta nos faz os armadores leitores de defesas, eficientes no drible, nas fintas, nos passes, e eventualmente eficientes nos arremessos de media distância, nos DPJs.

Nosso basquete necessita evoluir, juntando cérebros e propostas de sistemas de ataque, de defesa, aplicados à formação de base, na formação de futuros técnicos, generalistas, abertos a idéias e não conceitos fechados visando a padronizações, formatações, e reinado de coreografias em pranchetas impessoais e egoístas. Precisamos dos debates, dos olhos nos olhos, meio infalível de conhecimento mútuo, do respeito, da ética.

Enfim, partiremos numa viagem que poderá representar um novo tempo, se não para muitos, mas  com certeza,  para nossa briosa e orgulhosa equipe.

Amém.

O QUADRAGÉSIMO QUARTO E QUINTO DIAS…

Como somente hoje reassumi a equipe, pois havia me deslocado ao Rio logo após nossa vitoria contra o CETAF para assuntos inadiáveis, a equipe treinou ontem sob o comando do assistente Washington, que manteve a rotina de treinos a que nos dedicamos desde que assumi o comando da equipe. Hoje, a rotina dos fundamentos foi mantida pela manhã, com a ausência de alguns jogadores em tratamento de persistentes lesões, que somente serão corrigidas ao final da temporada, onde o fator tempo contribuirá para a cura definitiva.

No treino da tarde algo de muito importante ocorreu, já que só pude contar com nove jogadores, o fato de poder estabelecer uma atividade coletiva adaptada àquela circunstância. Começamos com um exercício de coordenação entre armadores e pivôs móveis, onde o passe é o ponto central das ações estabelecidas de forma aleatória, onde a criatividade é seguidamente posta à prova.

À seguir uma atividade coletiva em meia quadra de 4 x 4 contra defesa individual e zona, em preparação ao exercício principal e de importância decisiva para o sistema adotado pela equipe, um 4 x 5, onde a velocidade nos passes e nos deslocamentos, a entrada e saída da bola do perímetro interno acelera ações e comportamentos, onde a leitura defensiva é essencial, em tudo compensando a pontual inferioridade numérica propositalmente estabelecida.

E a proposta seguiu animada e num empenho elogiável, onde 4 x 5 pouco diferia de um 5 x 5, exatamente pelo alto grau de entendimento e coordenação desenvolvido dentro e fora dos perímetros.

Ao encerrar o treino, conclamando os jogadores à luta para os jogos finais, e vendo nos semblantes de todos eles o comprometimento espontâneo e corajoso, tive a nítida certeza de que faremos belos e grandes jogos, onde as vitórias possíveis serão perseguidas com ardor e determinação, onde o dever deverá ser cumprido à risca.

E ao responder a um jornalista que insistia no fato de que a impossibilidade de classificação aos play offs em tudo alteraria a motivação dos jogadores para os dois jogos finais, respondi que esta situação já era manifesta desde os três últimos jogos disputados, dos quais vencemos dois, contra Brasília e CETAF, e que não seria diferente agora para os dois restantes, pois o que nos resta é a certeza de que formamos uma boa e competitiva equipe, que infelizmente não tem mais chances de classificação, mas está plena de força e de certeza em dias melhores, e por isso irá à luta até o final, com honra e dignidade.

Amém.

O QUADRAGÉSIMO TERCEIRO DIA – A CORAJOSA AFIRMAÇÃO…

Depois de viajar toda a noite, estou em casa, cansado fisicamente, mas ainda preso às emoções do jogo de ontem, do grande jogo da noite de ontem. Não tenho em mãos as estatísticas nem o DVD, pois tive de correr para a rodoviária logo que terminado o jogo, e que jogo, 83 x 57 para minha briosa e competente equipe. O clássico capixaba ainda vai dar muito que falar, não pela vitória em si, mas pelas circunstâncias que cercaram  o encontro desde sempre.

O CETAF/Vila Velha vem disputando acirradamente sua inclusão nos play offs, principalmente contra Londrina e Paulistano, e uma vitória contra o Saldanha o beneficiaria decisivamente. E foi com esse espírito que nos enfrentou, com seus três norte americanos, e seu poder de rebote devastador.

Agora mesmo tento o site da LNB em busca das estatísticas, mas em vão, um erro é apontado e fico privado das mesmas, e uma análise mais precisa fica comprometida por enquanto.

Mas não a análise crua de uma conquista memorável, como afirmei antes, pelas circunstâncias que envolviam a partida, onde o fator determinante era a necessidade crucial de vitoria para Vila Velha, e o aparente tranqüilo posicionamento para nós, que na realidade da equipe em nada correspondia a verdade, pois vencer para nós alcançava uma dimensão maior, a de afirmar-se como uma equipe de alta competição, digna de fazer parte de uma LNB.

Nos preparamos com rigor e determinação, e fomos para o jogo limítrofe entre o antes e o depois de todo o esforço despendido. E como jogamos, e como lutamos, e como, acima de tudo, defendemos.

Faço um ligeiro intervalo na digitação, e vou em busca das estatísticas, que agora, 3 horas da madrugada finalmente entram no ar.

Analiso-as detidamente e um número paira à minha frente, assistências do Vila Velha, zero! É aquele tipo de variável que determina o rigor defensivo, que afirma quão eficiente foi o sistema defensivo de uma equipe. Em outras palavras, não permitimos em nenhum momento da partida que um passe fosse concluído em cesta, atestando que as mesmas aconteceram através iniciativas individuais, comprovando a quebra dos princípios coletivistas do adversário. Ponto para nós, e que ponto.

Vila Velha, mesmo jogando de forma individualista vinha a campo com outra arma formidável, seus arremessos de três pontos, onde um McNeil e um Eric eram donos de marcas consideráveis, em uma equipe com média deste tipo de arremesso bem acima das 25 tentativas por jogo. Arremessaram 18 vezes, sempre sob forte contestação, e somente concluíram com sucesso 4 vezes. Mais um ponto para nós.

Sua capacidade reboteira, com jogadores bem mais altos e fortes que os nossos também foi contestada nos defensivos, 26/21 para nós, e 8 para cada nos ofensivos, determinando uma ligeira superioridade nesse importantíssimo fundamento, logo, outro ponto para nós.

Nos lances livres perdemos 11 e Vila Velha 10, gerando um equilíbrio para menos que não influenciaria o placar em nenhuma circunstância. O mesmo nos roubos de bola, 9/8 para nossa equipe, e num jogo que somente 3 erros foram cometidos em 2/1.

Mas foram os arremessos de curta distância que determinaram o curso da partida, onde nossos pivôs móveis apontaram 46 pontos, um pouco mais da metade da contagem final de 81 pontos, assim como a participação do jogo externo, com os armadores concluindo 37 pontos, numa distribuição perto do ideal entre pontos dentro e fora do perímetro, fator que comprova com sobras a excelência do sistema adotado pela equipe.

Mas um último detalhe tem de ser acrescido, quando pus à prova o equilíbrio emocional dos jogadores ao liberar para alguns os arremessos de três pontos, quando em situação ideal, e somente nessa condição, de uma bola voltar de dentro para fora do perímetro interno, quando a defesa do Vila Velha, totalmente comprimida no seu garrafão não tivesse a mínima chance de contestá-los. Obtivemos 6/13 arremessos, uma tentativa a mais do estipulado para toda a equipe.

Os quartos, 24×21, 15×7, 13×14 e 31×15, demonstram a grande evolução física e técnico tática da equipe, agora senhora de suas possibilidades, já que apta a jogar o sempre temível quarto final, provando sua maturidade e qualidade, e tudo alcançado no quadragésimo terceiro dia de trabalho cansativo, e acima de tudo corajoso. Parabéns a todos.

Amém.

O QUADRAGÉSIMO SEGUNDO DIA – A SUPERAÇÃO…

Chego ao ginásio um pouco antes das 10:00hs, para o treino da manhã, e vejo que em frente da porta da administração uma fila de jogadores estava formada. Pergunto o porquê da mesma e a resposta veio célere – Dia de pagamento professor! – E lá vão eles, um a um, receber seu salário.

A atmosfera interna do ginásio estava abafada pelo calor reinante e com a temperatura subindo rapidamente previ um desgaste a mais na já bastante desgastada equipe, e na véspera de um jogo para lá de importante.

Reuni os jogadores, felizes com o pagamento, e os liberei para efetuarem seus inadiáveis pagamentos e compromissos bancários, deixando para bem mais tarde, às 18;00hs, o importante treino do dia. E lá foram eles darem seguimento às suas vidas e a seus compromissos, acumulando mais uma reserva de energia para o clássico de amanhã.

Passo a tarde revisando um vídeo do jogo entre nosso adversário e Minas, procurando uma maneira mais lógica e eficiente para dosar as forças de uma equipe, como disse anteriormente, desgastada física e emocionalmente pelos vários transtornos por que passou durante a já quase finda temporada, mas que bem e racionalmente preparada chega aos três últimos jogos confiante e proprietária de uma forma de jogar tão sua, tão particular, que sente razoavelmente compensada as anotadas deficiências. Separo três pontos que podem nos beneficiar, e parto para o ginásio.

O treino é intenso, mas não muito longo, dosado nos três pontos que anotei na revisão do vídeo, e mais dois referentes à nossa própria equipe. E dei por encerrada a nossa preparação para o grande confronto. Estamos prontos, vamos jogar, e que vença o melhor.

Amém.