Dois dias atrás ousei me aventurar numa transmissão pelo twitter do jogo entre Brasília e Paulistano, vencido pelo primeiro por 90 x 78, e se arrependimento valesse, sequer teria sintonizado o aplicativo que, em conjunto com a LNB, afirma sua firme disposição na divulgação do basquetebol nacional. No meio tempo que aguentei assistir, vi desenrolar incrédulo, uma das maiores peladas perpetradas nesse “NBB como você nunca viu”, confirmada quando bem mais tarde retornei às estatísticas, inacreditáveis em seus 34/63 arremessos de 2 pontos (16/33 para Brasília e 18/30 para o Paulistano), contra os 23/68 de 3 (12/30 e 11/38 respectivamente), agregados a 32 erros de fundamentos (14/18), números estes comprometedores e constrangedores a véspera do início do treinamento da seleção brasileira para os jogos com o Uruguai, visando a preparação para o pré olímpico em julho, como um recado direto ao croata, de que é assim que jogamos por aqui, queira ou critique ele a respeito, e estamos conversados…
Porém, algo mais impactante me fez desligar o tal twitter, uma figura ao lado da imagem do jogo, que de início pensei ser uma chamada comercial que logo se desvaneceria, mas que para minha surpresa se mantinha direto no ar, e mais, transmitindo (?) o jogo, num linguajar funkeiro, sei lá, para de vez em quando se autoproclamar como sendo um cara f*…, entre outros termos tidos por ele como adequados e normais aos tele ouvintes, talvez aqueles admiradores de seu “peculiar”estilo, muito distantes em tudo e por tudo daqueles que amam, entendem e respeitam o grande jogo, entre famílias e jovens que não merecem ser alvos de tanta insânia e grotesca visão desportivo educacional…
Se a LNB admite e faz prosperar um “produto” dessa qualidade, deuses meus, estamos realmente não mais no fundo do poço, mas muito além dele, no quase limiar da impossível volta, faltando somente mais uma meia pá de terra, não, de lama mesmo…
Aqui vai um subsídio para todos aqueles que discutem, sugerem e divulgam panacéias a respeito do futuro do grande jogo neste imenso, injusto e desigual país, atrelados em sua maioria aos exemplos advindos da matriz nortenha, com seu poderio hegemônico fundamentado numa estrutura sócio, cultural e educacional secular, antítese de nossa realidade de país pobre e carente, exatamente naqueles três aspectos, sem os quais nos afogaremos abraçados pela ignorância e pusilanimidade de uma casta criminosa, que jamais se permitirá abrir mão de suas insidiosas e interesseiras conquistas, ao preço que for. Diálogo, estudo, pesquisa e bom senso, definitivamente não fazem parte de sua realidade…
Me dei um tempo, até pensei prolongá-lo definitivamente, pois sinto cansaço extremo frente a tanta mediocridade, consubstanciada pela massacrante mesmice endêmica que nos agrilhoou, creio que por mais um ciclo olímpico, espelhada nessa vitória da seleção sub 21 no sul americano concluído no domingo passado, não que eu não a parabenize, já que conquistada na casa dos hermanos, vencendo-os por duas vezes de forma inconteste, onde bons e promissores jogadores se destacaram, lutando com denodo e entrega, mesmo que amarrados e sucumbidos por um sistema único globalizado, irmanado agora à moda dos longos arremessos, numa cópia canhestra do que pior se faz lá fora, ou fazia, já que severamente contestada pelo progressivo desenvolvimento e aplicação de defesas potentes no perímetro externo, premissa essa solenemente negada por nós em campeonatos onde as estrelas mais cobiçadas são as estratosféricas bolinhas e as enterradas monstros, produtos de ausências defensivas em ambos os perímetros, desde a formação de base, cujo resultado mais recente aconteceu em terra hermana…
Definitivamente adotamos a convergência como estratégia de jogo, seja ele qual for, independendo de faixa etária, sexo, ou qualquer que seja as classificações possíveis, mesmo que contundentemente criticada pelo selecionador master, Petrovic, em sua primeira entrevista dada em terra tupiniquim, quando afirmou não compreender a enxurrada de arremessos de três adotada e praticada no nosso basquetebol, com a mais plena anuência de treinadores e estrategistas, responsáveis e coniventes, coroada agora no sub 21 campeão, dirigida pelos seus dois assistentes técnicos, que passaram um recado mais do que claro do que pensam a respeito, já que aplicado em quadra, vencendo a competição, sugerindo um determinismo contrário ao posicionamento técnico tático do croata, numa contundente repetição do que ocorreu com seus dois antecessores, estrangeiros como ele, ficando em suspenso uma solene indagação – Perante a importante conquista, mudará seu posicionamento de décadas no basquetebol europeu, ou aderirá saltitante a moda imposta, ou sugerida por seus mais diretos colaboradores?…
No jogo final de domingo, enquanto a equipe argentina se desdobrou nas coberturas externas contestando os longos arremessos de nossos brazucas, conseguiu se manter à frente do placar, no entanto, acumulou muitas faltas pessoais nas tentativas de barrar o forte jogo interno dos bons e fortíssimos alas pivôs brasileiros, fator este determinante para sua derrota, já que no quarto final perdeu sua força reboteira, deixando-se vencer por 8 pontos, e sem nunca ter tentado marcar os pivôs pela frente, que é a certeza mais absoluta do que acontecerá nas competições mais duras daqui para diante, já que aos poucos a realidade de que trocar possibilidades de penetrações que valem 2 pontos, ao longo de uma dura partida, se torna mais rentável do que abrir a porteira dos 3 pontos, pela quantidade que forem as tentativas…
E os números não mentem, ao contrário, escancaram a dura realidade de uma forma midiática de jogar, onde a evolução natural de técnicas defensivas, sem a menor dúvida, estancarão essa hemorragia autofágica promovida por quem ouviu o galo cantar e se encontra perdido sem saber de onde ele vem, afinal de contas copiar o que aparente e rapidamente dá certo, cai melhor do que ir fundo no grande jogo, algo desconhecido e tabu para a maioria daqueles que se intitulam estrategistas, já que técnicos e professores não o são, de forma alguma, ao omitirem seus saberes, principalmente no ensino dos fundamentos do grande jogo…
E os números? Aí vão:
– Nos 6 jogos classificatórios (tentativas certas e erradas das equipes):
– 2 pontos – 156/324 48,1%
– 3 pontos – 102/297 34,3%
– L Livres – 97/133 72,9%
– Erros – 136 22,6 pj
– Nos 4 jogos mais significativos – Argentina-(2),Uruguai e Chile (Idem):
– 2 pontos – 83/224 37,5%
– 3 pontos – 59/171 34,5%
– L Livres – 66 / 86 76,7%
– Erros – 75 18,7 pj
– Jogo final:
– 2 pontos – 36 / 73 49,3%
– 3 pontos – 21 / 60 35,0%
– L Livres – 25 / 33 75,8%
– Erros – 25
O que eles dizem? Que na classificação, a presença das fracas equipes do Paraguai e Peru, fizeram aparecer mais arremessos de 2 pontos (48,1%), suplantando os de 3 (34,3%), mas mesmo assim, no jogo contra o Uruguai, vencido por 3 pontos, a seleção nacional arremessou 15/34 de 2 e inacreditáveis 17/43 de 3, continuando sua saga artilheira perpetrando 38 bolinhas contra o Chile (vencido por 4 pontos), e 30 contra a Argentina, vencendo por 12 pontos. No jogo final, a seleção arremessou 29 bolas de 3, e a Argentina 31, sendo este o único jogo em que a equipe arremessou abaixo de 30 nas indefectíveis bolinhas. Vejam que nas três tabelas o percentual de bolas de 3 se mantêm praticamente igual, ou seja, para cada 10 bolas arremessadas de fora do perímetro, somente 3,5 caem, num desperdício de energia ofensiva que, se bem administrada por defesas bem treinadas e postadas, anularão a tão decantada supremacia das bolas de 3, ação que a Argentina conseguiu nos três quartos iniciais da partida, cedendo no quarto final pela perda de seus homens altos na defesa interna, já que na externa vinham se saindo além da expectativa. E nesse ponto vale lembrar as continhas que tanto divulgo nos artigos antes publicados, ou seja – se a seleção substituísse a metade das bolas perdidas de 3 pontos por tentativas trabalhadas para os 2 pontos, venceria as mesmas partidas com diferenças que beirariam os 20 pontos, economizando esforço físico com eficiência pontuadora de 2 em 2, e se somarmos a estes números os graves erros nos fundamentos do jogo (com números acima de 16 na maioria dos jogos), onde as falhas nas contestações defensivas não são computadas (se fossem apontariam uma catástrofe a cada jogo), concluiremos que continuamos a trilhar o mesmo caminho obscuro e nem um pouco inteligente que nos lançou no limbo técnico tático que tanto nos prejudicou no concerto internacional, culminando na autopromoção burra e incompreensível de uma liderança revolucionária na concepção de um modernoso basquetebol, escravo vicioso da cópia canhestra de uma forma de atuar tecnicamente restrita a muito poucos jogadores, detentores de uma técnica superior e quase exclusiva no manejo direcional de uma bola de basquetebol, lançada de longas distâncias, fator este que ilustra com precisão alguns trabalhos e pesquisas acadêmicas muito sérias, nas quais incluo a tese doutoral “Estudo sobre um efetivo controle da direção do lançamento com uma das mãos no basquetebol”, defendida em 1990 na FMH/UTL de Lisboa, de minha autoria, com alguns tópicos aqui publicados, e ainda sem estudos que a contradigam na esfera internacional até a data de hoje…
Por que a menciono? Pelo simples, simplíssimo fato de que, frente ao desastre estratégico. a curto, médio e longo prazos, nada fazemos na preparação de base e nas quadras da elite, para evitarmos um equívoco tão descomunal, aquele de nos acharmos imbatíveis no jogo exterior, com seus “afastamentos e aberturas” e imprecisa artilharia se convenientemente contestada, caminho que começa a ser trilhado pelas melhores escolas de fundamentos mundiais, e que nos relegará a praticantes arrivistas de tiro aos pombos, sem a contrapartida de sólidos fundamentos e de preciso e forte jogo interior como opção primeira, postergando a bolinha infalível ao seu lugar de direito, como um recurso complementar, e não principal de uma equipe que preza o coletivismo agregador e uníssono, antítese do que praticamos…
Poderíamos começar pela salvação dessa geração de bons jogadores, reunindo-os numa equipe espelho, fonte de estudos práticos de uma séria ENTB, mantida pela CBB, participando do NBB, dando a seus jovens integrantes um treinamento sólido e evolutivo nos fundamentos básicos, destinando horas do dia para seus estudos em boas instituições de ensino médio e superior (oportunidade de uma relação da CBB com instituição privada de ensino, dividindo despesas), fator básico para seu futuro após os anos de competições, abrindo oportunidades, inclusive, para concluir sua formação em escolas do exterior. Seria uma conjugação de interesses esportivos, educacionais e culturais, inédito em nosso país, servindo de exemplo para o desporto escolar e universitário, clubístico também, pois após a cessão de um ou dois de seus jovens por no máximo duas temporadas, os teriam de volta mais maduros, e tecnicamente embasados, com tempo precioso de ação prática, e não esquecidos nos bancos de equipes recheadas de nomões escorados contratualmente em minutos a ser jogados, manipulados por interesses de agentes e franquias agregadas ao status quo vigente…
No vértice desta retomada, uma ENTB realmente representativa, e não avidamente buscada pela mesma coligação que domina o grande jogo desde sempre, ativando e desativando na mesma velocidade, associações de técnicos majoritariamente de um mesmo estado, alijando os demais de seus projetos hegemônicos e monetariamente atrativos, onde o comando baila pelas mesmas mãos, trocando somente as siglas que as denominam, esquecendo que o espírito de qualquer escola que se preze passa pelos conhecimentos de ontem, que sedimentam o hoje, e projetam o progresso para o amanhã, não importando de onde venham, onde o trabalho alicerçado pelo mérito, em tudo e por tudo, deveria ultrapassar os interesses, as trocas, e os favores requeridos por quem quer que fosse, prestigiando a qualquer custo o processo democrático e o direito ao contraditório, cernes do progresso equânime e constitucional de todos os envolvidos no processo de ensinar a ensinar. aprender fazendo, estudar e pesquisar todas as questões inerentes ao grande jogo, obrigatoriamente presencial, com apoio suplementar virtual. Assim deveria se constituir uma verdadeira Escola Nacional de Técnicos de Basquetebol.
Amém.
Fotos – Divulgação CBB, CABB, reprodução da TV. Clique duplamente nas mesmas para ampliá-las.
Ele se foi no sábado, aos 99 anos, o grande Geraldo da Conceição…
O vi pela primeira vez aos 10 anos, 1949, treinando lances livres na quadra descoberta do Grajaú Tênis Clube, e de “lavadeira”, quando o arremesso partia abaixo da cintura com as duas mãos, como o Chamberlain, o Cousy, o Alfredo da Motta, o Ruy de Freitas, o Max, certeiros, eficientes, sem respiros, poses, caras e bocas, simplesmente, eficientes, e dentro dos 5 segundos regulamentares…
Foi minha apresentação ao grande jogo, num sol a pino, vendo bola após bola sendo lançadas sem erros, suaves, fascinantes para um pirralho em seu início de vida. E lá se vão 70 anos, que me deram a grande oportunidade de conhecer e privar da amizade daquele atlético e elegante jogador, um pouco mais tarde técnico, meu primeiro técnico, e que técnico…
Nunca o vi alterar sua voz, apreciava seu constante sorriso a cada boa jogada de seus alunos, e palmas, muitas palmas também, no incentivo constante, apesar das cansativas repetições dos movimentos básicos…
Um dia me dei conta de que além de ser o de menor estatura da turma, me interessavam muito mais as técnicas e as táticas daquele jogo formidável, encontrando no Geraldo as respostas para concretizar o sonho de um dia ser técnico também, como ele, não melhor, bastaria ser como ele, e assim foi…
Me ensinou como organizar uma rouparia, como cuidar do material, as bolas em particular, enceradas com sebo de carneiro, tornando-as macias e de pegas seguras. Mostrou-me a importância ambiental de um vestiário, jamais aceitando discussões acaloradas, sempre propugnando pelo diálogo, pela educação, pelo zelo com toda a equipe. Retribui com alguns estudos que fazia numa época sem internet, celulares e vídeos, somente livros, artigos, palestras com um ou outro professor estrangeiro que por aqui aportasse, e um ou outro filme que conseguia na filmoteca da embaixada americana, como o inesquecível Final Game (está no You Tube) que assistimos inúmeras vezes no projetor de 16mm do clube…
Quando entrei na EEFD/UFRJ em 1960, o Geraldo foi para Brasília na primeira leva de funcionários públicos enviados para aquele planalto inóspito onde uma nova capital dava seus primeiros passos. Durante um largo período perdi seu contato, mas sabia que seu amor pelo basquetebol estava tendo continuidade na nova capital…
Nos reencontramos quando me transferi para Brasília em 1967, logo após ter sido o técnico da seleção carioca feminina, vencedora do brasileiro em Recife, na final contra São Paulo. Na capital, após o concurso público para a rede educacional, tive a ajuda decisiva do Geraldo para me manter nos três meses iniciais da nova realidade que se iniciava para mim, ajuda aquela decisiva para minha continuidade no planalto central. O basquetebol fervilhava na cidade, e o Geraldo fazia parte de sua primeira linha, da formação de base ao adulto, trabalhando duro como ele sempre fez em toda a sua vida. Fomos adversários nos torneios e campeonatos adultos até 1969, ele pelo seu querido Dêfele, eu no Iate Clube, depois nas seleções juvenis, quando retornei para o Rio de Janeiro…
Em 1971, durante o Mundial Feminino em São Paulo, o Geraldo fez parte da comissão que elaborou o primeiro estatuto de uma associação de técnicos no país, a ANATEBA, da qual também fiz parte, numa iniciativa exitosa, mas que foi pulverizada três anos depois por parte de uma CBB temerosa em perder o absoluto monopólio do grande jogo no país, numa atitude absurda e retrógrada, sentida até os dias de hoje…
Algumas décadas se passaram, e poucas vezes nos reencontramos, no entanto, continuavamos o trabalho de nossas vidas com empenho e dedicação, intransigentes desportistas que sempre fomos. Recentemente, idealizei uma página a ser publicada aqui neste humilde blog, onde divulgaria depoimentos gravados em vídeo das grandes figuras do basquetebol brasileiro, a maioria esquecida e desconhecida pela mídia modernosa de hoje, e o Geraldo liderava a lista, e inclusive já me preparava para ir a Brasília, onde duas outras importantes figuras seriam entrevistadas, o Pedro Rodrigues e o Heleno Fonseca Lima. Mas o Geraldo se foi, deixando-me com a câmera e o microfone nas mãos, infelizmente…
Do Geraldo guardo uma grande lembrança, uma ensolarada visão de um treino de lances livres, de “lavadeira”, quando meus olhos de menino de dez anos se apaixonaram perdida e definitivamente pelo grande, grandíssimo jogo de nossas vidas. Até um dia Seu Geraldo, e muito obrigado por tudo aquilo que me foi ensinado e passado por você, inesquecível professor…
Assisti os últimos oito jogos do NBB, fiz estatísticas, selecionei comentários, ouvi gritos lancinantes e histéricos de narradores ensandecidos, pesquisei blogs e sites sobre o grande jogo, para finalmente, ao receber um email do crítico amigo cobrando artigos atualizados, assim como comentários sobre a seleção feminina no pré olímpico, preferi, antes de atender o dileto amigo, conferir a opinião da mídia especializada sobre as razões que emitiram sobre o futuro do basquetebol tupiniquim, frente a dolorosa possibilidade de não o termos em Tóquio, numa regressão impiedosa para com o grande jogo…
Rasguei as notas colhidas, pois nada mais do que descreviam a mesmice endêmica de sempre, aqui incansavelmente criticada e combatida, assim como a campanha feminina no pré, representando e repetindo o mesmo mote, o qual a turma masculina corre o sério risco de seguir no mesmo caminho, se não mudar drástica e radicalmente sua forma de jogar, o que não acredito, honestamente, que o faça.,,
Conferi então o discurso midiático dos porquês de tanto retrocesso, até o ponto de sintetizá-los em duas palavras modais, gestão e processo…
Sendo curto e objetivo, defende-se abertamente que o grande problema do basquete brasileiro se reduz a falta de gestão administrativa para alavancá-lo da vala em que se encontra, numa dualidade que por um lado admite enormes progressos sócio administrativos da LNB, com seu produto maior, o NBB/NBA, assim como o LDB, seguidos pelo início da recuperação econômico administrativa da CBB, e por outro, os inexplicáveis fracassos de público nas competições internas, e a pouca expressividade nas grandes competições internacionais, apesar das gestões “profissionais e competentes” que foram implementadas, numa contundente prova de que a gestão enfocada pouco representa por sobre a verdadeira negligenciada, a gestão técnico/tática e seu fundamental e ausente lastro, a formação de base…
A outra palavra subsequente, processo, definida pelo atual técnico da seleção feminina como o arcabouço chave para a recuperação da modalidade, e que nada mais representa do que mais uma tentativa de cristalizar uma forma de trabalho continuista sobre conceitos (?) de preparação física, onde o cientificismo atlético se sobrepõe aos fundamentos, e a encordoada tutela de fora para dentro da quadra de um sistema único de jogo, muito acima da premente e revisionista necessidade do ensino e aprimoramento dos fundamentos básicos do jogo, sem os quais sistemas de quaisquer espécie serão exitosos, seja em seleções ou na base. Processos assim implantados soam falsos, pois destituídos de criatividade, inventividade e capacitação no improviso e leitura expontânea de jogo por parte dos (as) jogadores (as), agrilhoados (as) que são pelo centrismo personalista emanado de fora para dentro, por parte de técnicos que jamais admitirão ser parte de uma equipe, e sim a estrela da mesma, sobraçando sua midiática prancheta…
Publiquei em 2015 o artigo que replico a seguir, que muito bem retrata essa dolorosa realidade, que após 6 anos em nada foi modificada:
Uma seleção brasileira que debuta numa séria Copa América, comete 21 erros de fundamentos, arremessa 2/21 bolas de três pontos, perde 10 lances livres (15/25), escala dois jogadores notoriamente péssimos defensores, confrontando a proposta de defesa acima de tudo (Guilherme e Marcos não se coadunam com a mesma…), tem como opção desesperada de jogo o pedido de “jugar limpio y no uno contra uno”, ou seja, abrindo os quatro deixando o indigitado pivô duelar, não contra seu marcador, e sim com a defesa inteira uruguaia, com os demais assistindo e parecendo torcer para seu improvável sucesso, e por conta de tanta incompetência (o que esperar de assistentes que nem por osmose aprendem…) apelando para as “salvadoras bolinhas” e o jogo periférico indo de encontro às mesmas, e veem atônitos que o minúsculo país platino se lançou perímetro afora contestando todas a iniciativas artilheiras, assim como fechou seu garrafão, brilhantemente, às parcas penetrações de alguma qualidade tupiniquim…
Frente a tão desalentador quadro, o que esperar dessa seleção, que tem bons jogadores, mas que patinam equivocados dentro de um sistema híbrido de jogo, que abraça a dupla armação, promove hipotéticas movimentações de alas pivôs no âmbito do perímetro interno, porém sem abandonar os dogmas do sistema único, onde um dos armadores se transforma em ala, e um cincão joga solitariamente de costas para a cêsta, numa fórmula caduca e que se caracteriza como antítese do tão propalado coletivismo, ausente por força da indecisão de optar entre o padrão estabelecido, e a nova proposta patrocinada por um mais ainda indeciso técnico, que a vê ruir exatamente por saber ser impossível mudanças por parte de jogadores vacinados pelo sistema único, assim como seus super estimados assistentes doidos para pranchetarem em seu lugar…
Aliás, não consta que nenhum deles tenha se empenhado em sugerir uma efetiva desconstrução técnica baseada nos fundamentos individuais e coletivos dos jogadores, voltados à nova realidade pretendida, ou mesmo por parte do hermano, no que seria a única maneira de fazer frente ao novo, inusitado e corajoso ato de jogar o grande jogo, de uma forma como fazem nossos rivais, mais ou menos na trilha do que vêem realizando os americanos desde o início da era Coach K, a qual divulgo incansavelmente anos a fio por esse humilde blog, e por que não, dentro da quadra também…
Isso porque, não basta, mesmo, incutir uma nova forma de jogar, frontalmente diversa ao que os jogadores praticam desde sempre, sem mexer com suas bases de aprendizado e fixação de novos princípios e preceitos de jogo (sim, os adultos podem aprender também, por que não?), sem, e isso é definitivo, mexer com sua estrutura pessoal, técnica, tática e emocional. Mas para isso se torna necessário alguns imprescindíveis valores, a começar pela plena decisão de mudança, profunda e decisiva, onde adaptações híbridas não sejam toleradas, principalmente na fase desconstrutiva, e a busca responsável e absolutamente precisa de objetivos propostos e estudados com afinco e dedicação, por todos, técnicos e jogadores, e claro, o mais importante de todos, a competência e o profundo conhecimento para torná-los factíveis…
Honestamente, não acredito que a vinda dos luminares ligados à NBA tornarão esse quadro reversível, se adotarem, todos, o sistema que pensam dominar, o sistema único, ou mesmo o sistema híbrido que ora ensaiam, isso porque, em se tratando de 1 x 1, que é a tônica do SU, e para o qual foi criado e desenvolvido pela matriz, nossos adversários mais diretos são superiores pelo maior domínio dos fundamentos individuais, e tanto isso é verdade, que os maiores praticantes do grande jogo, o subverteram nos últimos mundiais e olimpíadas, restando para os demais competidores a brecha de algo diferenciado, claro, se quiserem vencê-lo, e que é exatamente a proposta por que luto, repito, aqui dessa humilde trincheira, e na quadra quando me deram oportunidade, pois vejo ser a única maneira de nos impormos novamente no cenário do basquetebol mundial. Foi exatamente o que fez o volei com a sua escola brasileira, misto da europeia e asiática, e que teve no saudoso Paulo Matta o seu precursor, hoje tão esquecido por quem usufruiu (e são muitos…) de sua pródiga ação visionária…
Logo mais vamos ver como nos saímos na preparação para 2016 contra os dominicanos, esperando que repitam um pouquinho do Pan, senão…
Amém.
Fotos – Reproduções da TV. Clique nas mesmas para ampliá-las e acessar as legendas.
A inclusão de jogadores novos afeta a performance de uma equipe de basquetebol. Especialmente se as características individuais destes jogadores não se encaixam com a filosofia de jogo do técnico/equipe. O avanço tático mostrado no PAN, apesar de ter sido uma competição de baixíssimo nível técnico, volta a estaca zero. Estamos cometendo os mesmos erros de outrora – ou seja: ataque estático e defesa que apresenta falta de intensidade e falhas em praticamente todos os setores: a começar pela falta de agressividade e coberturas dentro e fora do garrafão do homem com e sem a posse de bola. Sem marcação, fica difícil fazer com que o ataque se torne mais eficiente – com melhor fluência de bola e homem e melhor seleção de arremessos. Acredito também e concordo com a sua opinião de que a vinda dos jogadores da NBA em nada irá contribuir para que o Brasil se torne mais eficiente na defesa e no ataque. Continuaremos a observar a falta de: 1) Agressividade e intensidade na defesa 2) Fluência de bola e homem no ataque e 3) Melhor seleção de arremessos.
Basquete Brasil
02.09.2015
É Walter, a coisa está ficando mais feia do que o estimado para a seleção, ainda mais pressionada pela participação dentro de casa, que na minha humilde opinião vai ser decepcionante, a não ser que mudem a forma de jogar radicalmente, torcendo para que os estelares aceitem as mudanças, se as mesmas vierem, o que duvido muito, pois jogando como a maioria dos concorrentes não terão chance nenhuma. O mais engraçado é que o maior dos participantes jogará diferenciado, dentro do padrão Coach K, fator sequer pretendido por nossos doutores… Um abraço, Paulo.
Podemos fechar esse raciocínio, e se o leitor ainda tiver um pouco mais de paciência, relendo um outro artigo publicado em 9/8/14, Falando de Fluidez, quando o apregoado conceito de processo, acredito fortemente, é devida e definitivamente contestado…
O artigo da semana passada, O Especialista, recebeu do leitor Alexandre Miranda um instigante comentário, fazendo do mesmo meu artigo de hoje:
Alexandre Miranda
28.01.2020 (2 days ago)
Satisfação em poder me comunicar com o senhor novamente, Professor.
Mas, mesmo sem me comunicar, ainda sigo as discussões por aqui. Pois tenho este espaço como um EAD classe “A” de Basquetebol.
Professor, dentro desta discussão, acredito que a perspectiva seja a de aumentar a linha de três (em face da adaptabilidade humana e desenvolvimento físico visível) ou extinguir a linha de três (tal qual fazemos com categorias de base) para assim podermos nos deter no ponto basilar do Grande Jogo… O domínio de todos os fundamentos!
A primeira opção configura-se como errática, pois a bizarrice próxima seria chutar do meio da quadra para três pontos.
A segunda opção é viável e formativa, mas não sei se teria apelo junto ao show business.
Claro que este é um exercício de futurologia, mas não chega a ser esdrúxulo frente às demandas midiáticas do esporte.
Bom seria termos bom senso, temperança.
Mas está difícil…
Fortes abraços… Professor Alexandre Miranda.
Até.
Muito bem colocado prezado Alexandre, mas de saída sua segunda opção já derrubaria toda e qualquer tentativa de mudança, mesmo que fosse objetivada ao preparo dos mais jovens, pois arremessar de três pontos passou a ser “prioridade midiática”, sem a qual, a maioria das transmissões se inviabilizaria pela ausência do tempero verborrágico que a caracteriza, juntamente aos “tocos e enterradas sinistras”…
O reinado das bolinhas está tão enraizado na concepção de basquetebol dessa turma, tornando-a de tal forma entorpecida, que números que apresento a seguir de alguns dos últimos jogos do NBB, pouco ou nada representam de importante no desenvolvimento do grande jogo entre nós, claro, na concepção da esmagadora maioria deles, senão vejamos:
– Paulistano 72 x 85 Franca – 30/56 bolas de 2 pontos, e 24/70 de 3, com 35 erros de fundamentos;
– São Paulo 79 x 86 Franca – 42/74 de 2 pontos, e 22/71 de 3, com 22 erros de fundamentos;
– Flamengo 83 x 77 Unifacisa – 32/59 de 2 pontos, e 21/57 de 3, com 28 erros;
– Mogi 78 x 73 Ceará – 35/65 de 2 pontos, e 20/54 de 3, com 34 erros;
Com a praticamente ausência de qualquer equipe arremessando menos de 20 bolinhas de 3 por partida, fator que denotaria uma forte escolha pelo jogo interior, mais preciso e menos perdulário no esforço físico, porém muito mais exigente no domínio dos fundamentos, principalmente no drible, nos passes, nas fintas e arremessos, além de potencializar os rebotes, e, principalmente, desenvolver naturalmente um sentido coletivista, talvez o fator técnico tático mais ansiado pelo basquetebol nacional. Até o momento em que essa necessidade de progresso seja atingida, continuaremos a patinar neste solo escorregadio e perigoso das “indecentes bolinhas”, dos “selvagens tocos”, e das “enterradas monstruosas”, incentivadas e cultuadas por estrategistas de beira de quadra, com seu gestual saltimbanco e coercitivo palavrório sobre as arbitragens, e jogadas geniais (?) rabiscadas em pranchetas midiáticas, que muitos especializados garantem “que falam”, “discursam”, não se sabe bem o que, como, e para que, mas com certeza, refletem a pobreza para lá de franciscana do que venha a ser o grande jogo, liliputiano para a grande maioria deles, exceto uma minoria que pouco soma, justificando a regra. Quem sabe um dia despertaremos deste torpor conceitual, político e retrógrado em que nos encontramos, quem sabe, um dia…
O jovem professor e técnico Fabio Aguglia de São Paulo, leitor e comentarista de longa data desse humilde blog, me enviou um vídeo que ele coletou na internet, onde duas jogadas de uma equipe da NBA, são analisadas como ações ofensivas esporádicas a realidade do basquetebol que é lá jogado, principalmente agora, quando a maioria esmagadora das ações de ataque se articulam e complementam fora do perímetro, fator este que desencadeou mundo afora o modismo dos arremessos de três pontos, aceito por muitos, e contestado por uns poucos. Eis o vídeo:
Como vemos, uma dupla armação propicia um abastecimento de bons corta-luzes e passes para os homens altos transitando dentro do perímetro, numa ação que deveria ser estendida no transcorrer de toda uma partida, e não esporadicamente, como menciona o analista, oportunizando a todos os jogadores a participar coletivamente, e não priorizando um ou outro especializado nos longos arremessos, fator hoje presente em praticamente todas as equipes da liga, nivelando muito por baixo a qualidade do grande jogo, salvo “esporádicas” jogadas de cunho e criatividade individual de alguns jogadores habilidosos no trato com seus dois instrumentos de trabalho, a bola e o corpo…
Essa tendência, amplamente adotada aqui em terra tupiniquim, começa a ser revista por uma ou duas equipes, porém pecando no aspecto do coletivismo, pois não conseguem amalgamar ações fora e dentro do perímetro, tornando as jogadas estanques e não comunicantes, como deveriam interagir, e onde a participação de todos em constante e ininterrupta movimentação, se torna obrigatória, forçando a defesa a se deslocar em resposta, criando os espaços, que mesmo exíguos, propiciam arremessos curtos e precisos, assim como, garante estratégicas colocações de no mínimo três jogadores na zona dos preciosos rebotes ofensivos…
Em contraponto ao vídeo de ações esporádicas visto acima, e também com a precisa participação do Fábio, que através os últimos anos vem coletando trechos de vídeos aqui publicados de jogos do Saldanha da Gama no NBB2, ofereço ao conhecimento do leitor interessado, esse belo trabalho, utilizado no treinamento de suas equipes de base, inclusive com legendas, de ações que eram “permanentes” em todas as 11 partidas oficiais por mim dirigidas, daquela humilde equipe, fosse contra defesas individuais, zonais ou pressionadas, numa demonstração da possibilidade de jogar de forma diferenciada e efetiva, muito aquém da mesmice endêmica das demais, mesmice essa que se mantém 10 anos depois daquele NBB2, salvo as exceções acima mencionadas, sendo uma delas o vídeo com as duas jogadas da equipe da NBA. Irônico, não?…
Eis os vídeos:
Devo mencionar, que nenhuma dessas jogadas foram ensaiadas, roteirizadas, rabiscadas em pranchetas, ou afins. Foram produto de leituras de ataque, do comportamento defensivo encontrado no momento da ação, longamente treinadas e analisadas por todos em exercícios de meia quadra por longos períodos, contra defesas rudes física e emocionalmente, sem concessões, num todo em que a participação de todos se tornava, como se tornou, unânime…
Porém, um aspecto uno e indivisível costurou rigidamente todo o processo, o preparo de todos nos fundamentos do jogo, de todos, igualmente, tornando-os proprietários de uma forma única de jogar o grande jogo, uma forma pertencente a todos eles, e que infelizmente não lhes foi permitido continuar. Pena para o basquetebol brasileiro…
Amém.
Fotos – Trechos de jogos da equipe do Saldanha da Gama no NBB2, compiladas pelo Professor Fabio Aguglia.
Neste último dia de Europa, aqui do aeroporto de Dublin, aguardando o voo de volta para casa, me veio a ideia de tornar a discutir o que venha a ser um especialista nos longos arremessos de basquetebol, assunto este que suscita tantos debates, num momento em que estamos jogando fora do perímetro praticamente em mais da metade do tempo de jogo, numa temerária aventura que nos tem levado ladeira abaixo no concerto mundial, e que na continuidade, nos manterá fora de um futuro vencedor, como a turma adepta do “chega e chuta” nos ilude em alcançar…
No artigo passado, algumas colocações foram comentadas por pessoas ligadas profundamente ao basquetebol, mas uma em particular, um real especialista nos longos arremessos (em sua época ainda não existiam os arremessos de três pontos), o grande Sérgio Macarrão, medalhista olímpico, tio de outro especialista, o Marcelo, grande campeão do NBB, jogando pelo Flamengo…
Vale a pena ler seu comentário no artigo em questão, pois define com precisão a real importância dos arremessos de três pontos, sob a ótica precisa do bom senso, pela priorização que obrigatoriamente deve ser dada ao especialista, e somente a ele…
Bem, sou agora chamado ao embarque, e se possível continuarei durante o voo, até já…
Estando de volta, a 11km de altura, continuemos o raciocínio, definindo uns poucos conceitos, começando pela precisão nos lançamentos, ou como define o Sérgio, “só arremessa de três quem mete bola”, sugerindo de saída uma questão – “o que torna um jogador num metedor de bola?” Será o mesmo espontâneo ou treinado? Em meus mais de 50 anos de quadra, conheci poucos reais e autênticos “metedores de bolas”, e o Sérgio foi um deles, outros mais como o Dutrinha, o Pecente, Waldir Bocardo, Wlamir, Rosa Branca, Vitor, Chuí, Oscar, Marcel, e mais uns poucos que me falham na lembrança, fizeram com que me orientassem à pesquisa dos porquês eram tão eficientes, originando minha tese doutoral, da qual pincei detalhes publicados nesse humilde blog, na série Anatomia de um Arremesso de I a VI, facilmente encontrada digitando no espaço Buscar Conteúdo…
Claro que não testei nenhum dos acima mencionados, mas outros pertencentes às equipes nacionais de Portugal, quando desenvolvi a pesquisa na Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa, onde pude relacionar a precisão na direcionalidade dos arremessos com os diversos tipos de pegas sobre a bola, num trabalho que, com a mais absoluta fidedignidade, define quem realmente domina a arte dos longos arremessos, garantindo serem muito poucos, derrubando fragorosamente a tese modal de que qualquer jogador pode ser eficiente nas grandes distâncias, bastando se sentir livre e autorizado a fazê-lo…
Vale a pena ler os artigos, para entender de forma definitiva o quanto de desperdício e eficiência temos alcançado, nessa estúpida e selvagem hemorragia em que estamos transformando o grande jogo, onde técnica e tática se prostituem substituídas por arrivismos, aventuras e irresponsabilidade proposital, em nome de um pretenso e falacioso “conceito moderno de basquetebol”, que nada mais é e representa do que uma mesmice endêmica institucionalizada, aceita por técnicos, jogadores, dirigentes e muito da dita mídia especializada, alheios a verdadeira essência do grande jogo, onde em nome do espetáculo (e que rapidamente vem se transformando em autêntica palhaçada), tudo deve ser permitido, inclusive quanto às regras (que é uma realidade bem conhecida na NBA), e que vem sendo adotado por aqui também…
Longos arremessos à parte, outros fatores merecem atenção de todos aqueles que amam o basquetebol de verdade, como a falibilidade nos fundamentos básicos, a forma semelhante e pasteurizada de jogar das equipes da liga, espelhando negativamente na formação de base, em exemplos que nunca e em hipótese alguma deveriam ser continuados, assim como descontinuado deveria ser esse caudal autofágico em que vem sendo transformado o grande jogo, através a artilharia absurda e descerebrada dos três pontos, das narrações e comentários que não refletem a realidade da competição, sem que, em nenhum momento algo de inovador possa ser admitido por um corporativismo inamovível e terminal…
O Sérgio tem razão, pois só mete bola quem sabe fazê-lo, assim como só planeja, pesquisa, estuda, ensina, treina e compete, quem conhece o grande jogo no seu cerne, sem esgares e dancinhas, sem coerções e agressividade gratuita, despidos de marketing e poderosos Q.I.s, sem midiáticas pranchetas, e sem rezas para que as bolinhas caiam, nacionais ou estrangeiras…
Daqui a pouco chego ao Rio, com muitas saudades de casa, porém temeroso do que se avizinha do nosso tão amado e judiado basquetebol…
Tive problemas na conexão com as emissoras de Tv que transmitiram o jogo final entre Flamengo e Franca, aqui em Lisboa. Falhou o programa que as disponibilizariam pela internet, ficando somente com as estatísticas para tentar compreender um jogo tão importante como esse…
Sei que nada substitui a observação direta, mas pelo que conheço do grande jogo praticado no país, com sua mesmice enraizada desde sempre, ouso tecer alguns comentários tornados muito claros, a luz de alguns números que se repetem teimosamente a cada jornada, sejam quais forem os campeonatos disputados, e este, certamente não seria diferente, a começar, pela marcante evidência de ter sido mais uma pelada onde o chega e chuta se revelou assustador, pois ambas as equipes perpetraram um 25/58 arremessos de 2 pontos, e 21/64 de 3 (13/41 para o Flamengo e 8/23 para Franca), diferença para menos que deu a vitória a Franca, sem margens para qualquer tipo de discussão, pois se torna absolutamente inadmissível que uma equipe da elite do basquete tupiniquim, se submeta a números escrachantes, como arremessar 25 bolas de 2 e absurdos e comprometedores 41 arremessos de 3, mesmo convertendo 13 deles, com seus dois armadores, aqueles que deveriam abastecer ao extremo seus bons alas pivôs no jogo interno, ação inteligente de Franca com seus 18/33 nos 2 pontos, contra 11/25 do Flamengo (sim, estrategistas de plantão, se vencem jogos de 2 em 2 e 1 em 1), para cometerem um 3/16 devastador (2/7 para o Balbi, e 1/9 para o Derek), e ai vai mais uma continha sempre e sempre esquecida pelos mesmos, pois bastaria os dois substituírem a metade de suas tentativas perdidas de 3 pontos (8 tentativas), optando pelas de 2 pontos, em DPJ’s ou penetrações visando faltas ou assistências curtas para seus alas pivôs, que venceriam o jogo, pois ao contrário do analista do jogo semifinal, apontando o Derek como um especialista nos longos arremessos, mencionando o fato de que estando livre sua eficiência era absoluta, fica mais do que evidente que uma performance de 1/9 não o gradua como especialista, que na realidade nunca foi, e sim um bom armador…
Concluindo, Franca investiu corretamente no jogo interior (arremessando 18 bolas de 3 a menos do que seu oponente), provocando mais possibilidades de sofrer faltas pessoais, convertendo 17 lances livres contra 12 do Flamengo, vencendo por 4 pontos a partida e o torneio, ao contrário de seu oponente que optou pela artilharia desenfreada e descerebrada de fora, indo para as calendas gregas, carpir erros inadmissíveis a uma equipe montada para “vencer todas as competições em que participaria”, segundo declarações de seu estrategista quando a assumiu, e que a cada competição mais aposta e libera o chega e chuta cada vez mais institucionalizado neste imenso, desigual e injusto país. O croata deve estar com as barbas de molho ante tal e brutal evidência, e com a companhia de dois dos maiores adeptos de tanta insânia, como seus auxiliares técnicos, mais ainda…
Que os deuses nos socorram para as importantes competições que nos aguardam, pois de minha parte, se nada for radicalmente mudado, teremos sérios problemas…
Saiu a convocaçãoinicial da seleção masculina para os jogos contra o Uruguai, com a esmagadora maioria de jogadores que atuam no NBB, numa iniciativa alvissareira do técnico croata, a muito tempo aguardada, e de extrema importância para o futuro do grande jogo entre nós, ansiosos e esperançosos em dias melhores para o nosso combalido basquetebol. Revendo antigos artigos aqui publicados e largamente comentados, sugiro a releitura deste, de 2011, onde num hipotético exercício respondo a um questionamento colocado pelo excelente jornalista Giancarlo Gianpietro sobre uma situação convocatória análoga a de hoje, num instigante exercício de futurologia, quando a menção de dupla armação e três alas pivôs atuando no perímetro interno, soava como algo sacrílego e absurdo. Quem sabe já não se pense daquela forma, quem sabe…
Consegui acompanhar os últimos dois jogos da final do NBB, perdendo os demais por incompatibilidade de horários. Mas segui seus comentários aqui, não sem alguma surpresa. De Franca eu até esperaria alguma cautela ofensiva, algum tutano. De Brasília, não mesmo.
Pois aí veio essa avalanche do jogo derradeiro, sem surpresa alguma, claro. E acho que chegou a hora de se botar os pingos nos ‘is’, como sua pergunta no artigo sugere.
Não estamos falando de garotos intempestivos. São veteranos incontroláveis, mesmo. Não tem jeito. Que espécie de disciplina é necessária para enquadrá-los? Já foram vários os técnicos que passaram no comando, e nada de conter esse ímpeto desenfreado de atirar toda e qualquer bola para a cesta, não importando o contexto da partida, a posição em quadra.
Do trio Nezinho-Alex-Giovannoni, o único que se segurou em quadra foi o Alex, alguém que dá bastante trabalho fora dela pelo jeito ‘brabo com muito orgulho’ de ser. No fim, porém, essa atitude ao menos o torna um marcador muito bom, por não temer o confronto com ninguém, não importando sua estatura, mas, sim, a agilidade, força e, especialmente, seu empenho e coragem.
Os outros dois? Vejo problemas sérios, incorrigíveis, embora de naturezas diferentes.
Especialmente no caso do ‘armador’. Quando os holofotes estão acesos, como no caso de uma final de NBB, ele não se controla. Adora o jogo mano-a-mano, massageando a bola sem parar, numa postura que lembra até mesmo os pretensos jogos And-1. Quer ser o cara, quer dar show e, no fim, o pior: não vai para a cesta, não vai desafiar os marcadores lá dentro, contentando-se com os arremessos completamente tortos (em sua forma) e desequilibrados a dois passos da linha de três pontos. Um (em uma dúzia) cai, e basta para ele se realizar. Espero que Magnano não caia nessa barca furada mais uma vez. Pois, sem a turma da NBA, o Huertas vai precisar pontuar mais e precisará de um segundo armador ao seu lado capaz de lhe dar um descanso e de facilitar sua vida também. Penso que o argentino valorize a velocidade do Nezinho, pensando na marcação pressionada de quadra inteira ou meia-quadra, mas, se ele resume o substituto de Huertas a esse papel, nosso Eric Tatu cumpre com essas funções com muito mais eficácia.
Quanto ao Guilherme, não é de hoje… Sua vocação é de cestinha, de pontuador. Não há dúvida de que tenha um arremesso de três invejável, regular, dificilmente ele muda os movimentos, o que mostra muito treino da sua parte. Porém, é um desperdício de seu jogo de pés e movimentos internos, que não encontraram resposta da defesa francana em muitas ocasiões. No fim, seu talento, tal como o do Marcelo Machado (não cabe mais o ‘inho’, né? soa estranho para alguém há tanto tempo na cena), sobra, o que cobre qualquer pecado. Em jogos mais equilibrados, contudo, ficamos deficitários. Por isso, pensando na composição de uma seleção brasileira, tenho minhas dúvidas quanto à sua compatibilidade com nossas ‘estrelas’. Penso que ele se torna um jogador que também para muito a bola. Que vai pensar sempre primeiro em arremessar do que no passe, impedindo qualquer fluência ofensiva. Não sei se precisamos de (mais um!) jogador desses no time. Se ele aceitasse jogar em doses homeopáticas, com poucos minutos e funções delimitadas, talvez pudesse funcionar. Mas não creio que sua personalidade (não estou falando de caráter) permitiria esse tipo de ajuste. Imagino que o Arthur, na função de um arremessador para quebrar defesas por zona, para situações delimitadas, serviria melhor ao time. Embora, viajando mais, o Márcio, de Franca, seja ainda melhor arremessador e, que idade que nada, segure mais as contas na defesa.
Gostaria de propor um exercício hipotético ao senhor: se não tivesse em mãos os jogadores da NBA – nem mesmo o Tiago, que já afirmou que seu destino está atado às negociações contratuais entre os donos e a associação dos jogadores -, qual seria hoje sua seleção brasileira? Imagino que nossos leitores se divertiriam, e aprenderiam também, como de praxe, com esse exercício.
Um abraço,
Giancarlo.
Esse foi o comentário do Giancarlo Giampietro, jornalista dos bons, sobre o artigo aqui publicado em 25/5/11, A Vencedora Incoerência…, onde argumenta com propriedade sobre realidades do nosso basquete, e ao final me propõe um exercício hipotético sobre como formaria uma seleção brasileira que não contasse com os jogadores da NBA, visando o pré olímpico que se avizinha na Argentina, e como técnico que sempre fui, só poderia responder como tal, como um técnico. Então, vamos lá…
Pronto, eis um retrato teórico prático do que faria numa seleção brasileira, quando algo de muito novo apresentaríamos a um universo engessado pelo sistema único que será desenvolvido por “todas” as seleções envolvidas no pré olímpico, onde adoraria ver como reagiriam a algo antagônico ao que fazem e aplicam desde sempre, com seus modelos pautados em posições de 1 a 5, e jogadas sinalizadas de forma idêntica, trocando somente os idiomas usados, num exercício explícito de previsibilidade técnico tática. Seria formidável e instigante testemunhar tal confronto ante uma equipe cuja imprevisibilidade de ações seria sua tônica.
Ah, os jogadores que convocaria para os treinamentos? Pois não, ai está a lista inicial de 18 convocados, prezado Giancarlo:
Armadores : Valter, Benite, Helio(Franca), Rafael(CETAF), Andre (Joinville) e Fúlvio. Para 4 vagas.
Por qualquer impedimento inicial: Eric e Raul, nessa ordem.
Alas : Teichmann, Guilherme, Alex, Douglas, Alexandre, Marcos para 4 ou 5 vagas.
Por qualquer impedimento inicial: Arthur e Alex(Bauru), nessa ordem.
Pivôs: Fiorotto, Morro, Murilo, Rafael Mineiro, Tischer, Cipolini para 4 ou 3 vagas.
Por qualquer impedimento inicial: Estevan e Probst, nessa ordem.
A equipe seria reduzida a 14 jogadores após o treinamento intensivo nos fundamentos do jogo( sem os quais nenhum sistema de jogo ofensivo ou defensivo prosperaria), até os jogos preparatórios, quando então seria definida para a competição oficial.
E estaria delineado o sistema de 2 armadores e 3 alas/ pivôs, com jogadores que aqui jogam, sem interferências, desculpas ou exigências de caráter administrativo, de saúde, ou mesmo de marketing, desenhando um momento do basquete brasileiro na busca de seu soerguimento, e servindo de referencia pontual para as gerações que os sucederiam, claro, se bem trabalhadas por quem realmente entende do grande jogo, e não a confraria que ai está.
Uma única exceção deveriamos considerar, o inegável acréscimo de qualidade que um Huertas daria ao grupo em treinamento, se o mesmo pudesse atender as datas e prazos como os demais, pois sempre demonstrou interesse e real participação nas seleções a que foi chamado, sem estrelismo e exigências descabidas. E só.
Bem, como um exercício absoluto e irreversivelmente hipotético até que estaria de bom tamanho para os sistemas propostos, prezado Giancarlo, já para o indefectível, presente e imutável sistema único, o famigerado basquete internacional, quaisquer outras alterações, ou mesmo total reformulação serviriam, pois se adequariam ao prèt a porter que servil e colonizadamente nos acostumamos a praticar, para o júbilo e alegria daqueles que o utilizam muito melhor do que nós, graças a uma base de alta qualidade, nossos adversários no Pré.
Será que nuestro hermano Magnano compraria, pelo menos, a idéia da imprevisibilidade técnico tática? Bom seria, não? Torço para que sim, pois aumentaria, em muito, as nossas chances.
Seria sem dúvida uma experiência de grande valor. De meu conhecimento absolutamente leigo, me atreveria a enumerar 14 selecionados: Armadores: Valtinho, Benite, Helinho e Fúlvio. Alas: Teichmann, Guilherme, Alex, Olivinha, Marquinhos e Marcelinho. Pivôs: Morro, Murilo, Rafael Mineiro e Tischer. Apenas incluiria o Marcelinho por acreditar que seu talento como arremessador, se bem dosado, pode ser útil. Fora isso, gostaria muito de ver um sistema de jogo como o senhor prega, baseado na dupla armação + o jogo interno dos alas/pivôs. Abraços!
will denio
03.06.2011
Eu quando vejo uma lista eu já fico me coçando p/ dizer quem devia sair e quem deveria entrar, mas devo admitir q pensando o quão melhor poderia ser a sua lista fiquei sem grandes observações. Como o Vitor Dames cito os meus, 18 iniciais como “vc”, mas tento ser mais mente aberta e tentar algo mais “crú”, no entanto com mais potencial(assim eu espero). Aqui está a lista(seguindo a linha do 2 armadores 3 ala-pivôs: armadores: Benite, Raulzinho, Valtinho, Rafinha *(vi ele jogar e me chamou atenção, apesar de ñ ouvir nada sobre ele, ao lê-lo na sua lista aquela impressão minha deve ter algo), Felipinho *( CETAF ele é eletrizante, excelente arremesso e ágil, só falta uma PITADA de equilíbrio no ataque) Erick Tatu *(ñ sou fã dele, mas tenho que me render ao trabalho dele nessa temporada e eu tenho que ser justo caom tamanho crescimento) Alas: Marquinhos *(estar anos-luzes mais experiente e focado), Guilherme, Alex, Douglas *( adorei “vc” por ele de ala ), Luciano Matão (ñ sei se o conhece, mas se “Vc” conhecer seu jogo eu “suplicaria” p/ alguém com o seu conhecimento falar sobre suas carcterísticas, estava no Assis e fiquei extasiado com seu fluente arremesso e com seu foco na defesa, tem 1,98 é rápido e àgil), Luís Gruber *( 2,06m canhoto com invergadura impactante e q tem um potencial ainda a aparecer e sua posição é ala mesmo) Pivôs: Murilo, Morro, Tisher, Alex Passilongo *( estava no Vitória é um legítimo 2,12m de 25 anos q é agil e q tem nos rebotes e defesa seu foco, com o treinamento certo é um jogador que ñ temos aqui ), Hátilla *( sei q suas requisições mais irredutíveis é o comprometimento, e embora ele seja criticado pelo seu foco no jogo eu ñ consiguo ficar sem me comover com seu talento atlético, deixo as questões mentais p/ “vc” como treinador. RSRSRS! ) Erick *( CETAF, talvez ele ñ seja um pivô exatamente, mas ele tem um arremesso fácil e preciso p/ sua altura cairia perfeitamente na sua tática: 2 armadores 3 alas-pivôs) Adoraria ler uma resposta sobre os mais controvésos nomes citados por min. Vindo de alguém com seu conhecimento seria um presente. Desculpe pelo imenso comentário, mas me empolgo em ter algo escrito por min analisado por “vc”
Basquete Brasil
03.06.2011
Se de uma lista aqui apresentada você somente inclui mais um jogador, no caso o Marcelo,prezado Victor, é uma prova substancial de que não nos situamos longe da verdade, da nossa realidade. Não incluí o Marcelo pelo inconteste fato de que ele, frente às suas características de pontuador extremo,não se adequaria de livre vontade a um sistema que prioriza, e muito, os arremessos de curta e média distâncias, ainda mais numa posição para a qual não demonstra muita habilidade, a de armador, e de ser centralizador em demasia. No sistema único ele se inseriu com propriedade, mas no que proponho, dificilmente se adaptaria. Mas como se trata de um exercicio hipotético, praticamente irreal ante a realidade dos fatos, ficam estes posicionamentos vagando na esfera do que poderia ter sido tentado, mas não o foi nem será. Um abraço Victor, Paulo Murilo.
Basquete Brasil
03.06.2011
·
Prezado Will, avalie suas escolhas, junte-as às minhas, e teremos um retrato bastante fiel de uma realidade que muitos, muitos mesmos negam existir, a de que possuimos jogadores que aqui jogam, e que poderiam formar uma forte seleção nacional, bastando uma preparação de alto nivel, focando a melhoria dos fundamentos defensivos e ofensivos, e principalmente, adotando sistemas diferenciados da mesmice endêmica de que somos possuidores vitalícios, fruto de uma infeliz opção aos padrões de centros mais desenvolvidos, cujas realidades econômicas se situam décadas à nossa frente. Por tudo isso, é que venho propondo, desenvolvendo e aplicando sistemas de jogo diferenciados, que priorizam e enfatizam a técnica e dominio dos fundamentos, dos arremessos mais precisos, do coletivismo dinâmico, da defesa intransigente e antecipativa, fatores estes que encontram naqueles jogadores mais depreciados os mentores ideais para concretizá-los, dotando-os de algo exclusivo, único e transferível na medida direta de seus sucessos em quadra. Quantos outros mais jogadores poderiamos incluir nessa lista, Will, quantos mais, espalhados por esse imenso país? Com suas inclusões, creio já ter a resposta… Um abraço, Paulo Murilo.
will denio
03.06.2011
· Muito obrigado,
É sempre um prazer trocar algumas palavras com alguém com conhecimento do esporte. Fico feliz de ver alguém, realmente dentro do basquete, que se debruça sobre as possibilidades do nosso jogo( o jogo brasileiro de basquete ) sem ser engessado pelos mesmos nomes de sempre, e tirando as algemas das “táticas” feitas baseadas em “outros”(Pq Ñ?). Desalgemando-nos p/ a procura das nossas possibilidades(tantas possibilidades!).
Basquete Brasil
04.06.2011
Será sempre um prazer debater com você Will. Um abraço Paulo Murilo.
“ Que grande jogo teremos aqui na Arena 1, completamente lotada, demonstrando a força do NBB”…
Assim começou a transmissão do jogo Flamengo e Corinthians pelo Super 8 pelas vibrantes palavras da jovem repórter televisiva, numa discutível afirmativa frente a uma arena olímpica desfigurada e com um público ridículo frente à sua desnudada grandeza…
Foi este o assunto do blog Bala na Cesta nesta semana, pertinente aliás , perante o vendaval midiático por sobre um”NBB como nunca se viu” , porém esvaziado de um público bairrista, regionalista, outrora fiel, agora substituído por um outro, errático e inconstante das agremiações de camisa, quase que totalmente composto por torcedores de futebol, com conhecimento próximo de zero em se tratando do grande jogo, carregando para as arenas, olímpicas ou não, toda sua tradição de violência, irascibilidade a oponentes, e acima de tudo, insegurança para todos aqueles que compareciam as mesmas com suas famílias , no firme propósito de torcerem limpa e vibrantemente por equipes e jogadores que conheciam integralmente, próximos que eram, e não esse enxame de estrangeiros (agora podem somar quatro por cada franquia), que qual “peças ” automotivas, equipam num carnavalesco rodízio equipes tão ou mais desfiguradas a cada temporada, como as arenas em que atuam…
Nosso glorioso basquetebol sempre pertenceu aos clubes regionais, com seus acanhados ginásios , com um ou outro de dimensões generosas, porém integrados a seus admiradores, pais, mães , filhos, tios, avós, e simpatizantes, pertencentes àquelas comunidades regionais, bairristas, agremiações estas em declínio acentuado, muitas agonizantes, outras terminais. Eram nossas high schools na formação de base, sem a grandeza esmagadora do exemplo ao norte do hemisfério, na matriz, e que mesmo sem a continuidade formativa universitária daqueles, galgou os píncaros entre os grandes do basquetebol mundial, num passado não tão distante assim…
Eis que de repente (somente quatro décadas ), no caso carioca, numa criminosa e imposta fusão interestadual (nos roubaram inclusive o democrático e constitucional direito ao plebiscito popular), quando deixamos de ser o segundo estado mais rico, para ostentar hoje a condição de miserável, corrompido e favelado, causando o empobrecimento municipal e populacional, onde os clubes deixaram de ter a importância agregadora e familiar de seu gentio, que somado ao declínio proposital e politico de suas excelentes escolas, hospitais referências no pais, transportes simples porém eficientes, e níveis controláveis de violência, praticamente selaram o destino destrutivo do esporte básico e de elite, deixando o reinado absoluto com Sao Paulo e suas formidáveis cidades (as quais os bairros cariocas se assemelhavam), com quem dividíamos a liderança do esporte nacional, o grande jogo inclusive…
Tijuca TC, Grajau TC, Grajau CC, Riachuelo TC, Sampaio SC, EC Mackenzie, AA Florenca, Botafogo FR, Fluminense FC, CR Vasco da Gama, AA Vila Isabel, EC Aliados, Jacarepagua TC, Olaria AC, America FC, Sao Cristovao FR, Clube Sirio e Libanes, Clube Municipal, AABB. Clube Professorado, todos no Estado da Guanabara, que somados ao Canto do Rio FC, Gragoata , Icarai, Petropolitano, Grumari, Liga Angrense, São Gonçalo , todos do Estado do Rio de Janeiro original, nos abasteciam de jogadores bem formados, competitivos pela diversidade clubistica e regional, pela qualidade de seus professores e técnicos, que juntos a pujança paulista e outros estados desenvolvedores esportivos, como Minas Gerais, Goiás , Rio Grande do Sul, Paraná , Pernambuco, Bahia, Ceara , Para , no caso do basquetebol, davam ao nosso pais uma pequena, porém qualificada imagem do que de melhor faziam as escolas e universidades americanas, alimentando a elite em suas seleções e as iniciantes ABA e NBA…
O Maracanãzinho, a verdadeira capital do basquetebol brasileiro, onde foram conquistados um vice e um campeonato mundial, congregava as finais daqueles saudosos e grandiosos tempos, comungando inclusive, com as seleções nacionais em torneios internacionais, com assistências de 25 mil pagantes, hoje transformadas numa arena elitista para 12 mil, onde grandes jogos aconteciam em paz e muita vibração, entre equipes realmente qualificadas, onde jogadores estrangeiros tinham vagas se realmente fossem muito, muito bons, e não essa leva de terceira categoria, sobras das mais de quinze ligas de alguma qualidade existentes no mundo, fazendo o que querem em quadra, sob a permissividade de muitos estrategistas descomprometidos com a essência do grande jogo, restrito e enclausurado em pranchetas absurdas rabiscadas hieroglificamente…
Hoje, postam nas redes midiáticas e televisivas que a grandeza será retomada através o marketing profissionalizado, com patrocínios de grandes empresas, CEOs e administradores grifados, publicidade focada nas franquias com seus trabalhos comunitários, suas merchandaizes, modelo NBA, espetáculos pífios nos intervalos, beijos televisivos, brioches lançados a plebe, digo, povo, cadeiras de quadra para famosos, geralmente vazias, inclusive de famosos, e cada vez mais, intensos, horripilantes, ridículos , risíveis urros após enterradas, tocos e bolinhas de três , entonados por narradores sem amígdalas , comentaristas compromissados com o belo, perfeito, inenarrável e mágico trabalho de jogadores formidáveis e da mais alta qualidade, impar e absoluta, mas que mantêm a média das equipes de 24,25 erros de fundamentos por partida, 48,6% nos arremessos de 2 pontos, 32,6% nos de 3, e razoáveis 75,3% nos lances livres, somente nos ate agora agora quatro jogos disputados pelo Super 8 do NBB…
Olha minha gente que ama o grande jogo de verdade, muito antes de grandes arenas, estrangeiros ostentando qualidades para lá de duvidosas, onde as poucas exceções não devem ser esquecidas, como todos os armadores da região platina que aqui estão, e dois ou três bons americanos, deveriam com a máxima e inadiável urgência, CBB, LNB e LFB, centrarem seus esforços e parcos recursos, numa forte e bem planejada retomada da formação de base, sugerindo e orientando aqueles ainda existentes e resistentes clubes regionais e municipais, para cederem em convênio suas instalações a escolas públicas onde inexistem quadras, num esforço conjunto de dotar um lugar seguro e educativo para os jovens praticarem o desporto, com as grandes empresas ajudando na manutenção dos professores e técnicos nesses locais, organizando competições bem formuladas e voltadas a qualidade, movimentando e integrando as famílias de volta as quadras de seus pequenos e históricos ginásios , onde nascem, se criam e se desenvolvem futuros campeões , e melhores cidadãos, como outrora, otimizando os grandes pátios de estacionamento de grandes mercados nos horários vagos, alguns cobertos, para quinzenal ou mensalmente promover torneios de mini basquetebol (a Europa abusa dessa ideia , e por isso vence…), verdadeira escola para o grande basquetebol, e não um 3×3, refúgio daqueles que não tiveram oportunidades nas equipes de quadra inteira, numa modalidade plenamente voltada ao confronto individual…
Na verdade, nossas arenas continuarão semi desertas, enquanto o espírito desportivo e agregador dos antigos admiradores do grande jogo se mantiverem ausentes, principalmente na qualidade do jogo em si, bem e tecnicamente praticado, coletivo, envolvente e solidário , através a arte de bons e solidamente bem formados jogadores em seus fundamentos básicos, somente adquiridos numa responsável e qualificada formação, orientada por bons e muito bem formados professores e técnicos , não a imagem das escolas e ricas universidades americanas, antítese de nossa pobre e precária realidade, que teima em transladar para cá uma inalcançável realidade, a deles, com seus dólares duelando em desigualdade brutal com nossos minguados reais…
Enquanto isso, vendo aqui de longe os jogos do Super 8. constatamos sem surpresa absolutamente nenhuma, que tudo está no mesmo patamar de ontem, anteontem, a perder de vista, técnica e taticamente, porém sabedores todos nós de quantas cidades os narradores e comentaristas conhecem nesse imenso, injusto e desigual país , que estremece pelos seus urros e ufanismos de viajados jornalistas midiáticos, turísticos e televisivos, numa prova inconteste de que o grande, grandíssimo jogo, se torna liliputiano para a maioria deles, exceto uns poucos que se encolhem ante tantos likes, compartilhamentos e verborragia insana, que nada ajuda no soerguimento do basquetebol tupiniquim, entupindo-o de informações chulas e vazias …
Peço aos deuses todos os dias, a cada artigo aqui publicado neste humilde blog, que concedam uma réstia , minúscula que seja, de bom senso a todos que um dia prometeram cuidar do grande jogo, mas que resolveram atrela-lo a interesses que não nos dizem respeito, esquecendo os bons exemplos de formação e técnicas diferenciadas e inovadoras, que renegavam ações medíocres e mesmices institucionalizadas, num recente passado, que não era perfeito, mas sim conduzido por quem entedia com precisão e sabedoria o que vinha a ser basquetebol de verdade, mesmo sob administrações equivocadas e algumas vezes reprováveis, acertando, errando, porém estudando, trabalhando e formando jogadores, muitos e bons jogadores, quase sempre em solitárias lideranças, onde ter assistente responsável para carregar e entregar servilmente uma prancheta seria algo absolutamente improvável , melhor ainda, impossível …
Amém .
Em tempo – Acabo de assistir o quinto jogo do Super 8, definindo o primeiro finalista, entre Franca e Minas, numa partida com 26 erros de fundamentos (16/10), na qual a vencedora Franca (83 x 79) arremessou 20/37 bolas de 2 pontos e 10/25 de 3, convertendo 13/17 lances livres, enquanto Minas arremessou 15/31 e 11/35 respectivamente, convertendo 16/20 lances livres, deixando no ar uma questão – Como uma equipe pretende chegar a uma final convergindo de forma tão irresponsável, chutando mais de 3 pontos do que de 2, tendo bons alas pivôs, e armadores competentes, como? Quem sabe os americanos não estavam numa boa noite no chega e chuta de praxe…