MUNDIAL- O DÉCIMO QUARTO DIA: A PROVA DEFINITIVA…

Numa entrevista reportada pelo jornalista Murilo Garavello, no site UOL Esporte de 12/9/2010, em Instambul, o técnico campeão mundial Mike Krzyzewski, o coach K, afirmou:

“Me tornei um técnico muito melhor depois que comecei a aprender com grandes técnicos que há no basquete internacional. Com os grandes jogadores, com as grandes equipes. O mundo é grande demais, há muitas pessoas boas”.

E para este campeonato mundial, que acabou de vencer, o que realmente o coach K aprendeu, a fim de levar sua jovem equipe ao lugar mais alto do pódio?

Antes de aprender algo, descobriu admirado que existia vida basquetebolistica além das fronteiras de seu país, e que a diferença das regras alteravam em muito as concepções do jogo, o que explicava a perda da hegemonia americana no cenário mundial, sem nunca ter perdido sua grandeza no cenário interno de sua grande nação.

Também descobriu que a modalidade de jogo praticada na NBA em nada se parecia com a praticada na FIBA, ou seja, pelo restante do mundo, e que tal diferenciação colocava em perda acentuada o prestigio e a liderança americana no jogo que inventaram e difundiram mundo afora.

Foi sensível ao fato de que jogadores estelares da NBA, face a extenuante rotina de seus campeonatos e contratos milionários, que a maioria deles se sentiam na obrigatoriedade de priorizar, estava limitando em muito a constituição de equipes de qualidade para os enfrentamentos internacionais, em mundiais, pré olímpicos e olimpíadas, com um mínimo de treinamento e preparação para aquelas competições, e que urgia um planejamento razoável a fim de que o país pudesse ser representado com uma boa margem de sucesso nas mesmas.

O comprometimento dos jogadores à causa da representatividade condigna aos princípios qualitativos da tradição do basquete americano, passou a ser a senha de todo o trabalho, que se iniciou na olimpíada de Pequim, e se viu confirmado no mundial ontem encerrado, e que terá continuidade para a olimpíada de Londres.

No entanto, algo ocorreu ao coach K que consubstanciou todo o seu trabalho, principalmente para este mundial, a ausência dos grandes astros, principalmente os grandes pivôs. E neste estágio de seu conhecimento sobre o basquete internacional, que confessa ter descoberto através os grandes técnicos e equipes de outros países, principalmente os europeus, é que formulou uma estratégia técnico tática antítese do que desde sempre floresceu em seu próprio país, e sendo implantado no resto do mundo, o sistema único de jogo, com suas normas técnicas e sua setorização e especialização de jogadores de 1 a 5.

Este sistema, nascido e divulgado pela NBA, através sua gigantesca influência universal, dada às carências da equipe em seu comando nas posições onde as grandes equipes mundiais eram fortíssimas, principalmente no jogo armado, cadenciado e coletivo, fez com que mudasse radicalmente a forma de jogar e atuar taticamente de sua equipe.

E a mudança foi radical no sentido formal da constituição de uma equipe americana, principalmente universitária, que é o segmento a que pertence dirigindo a longos anos a Duke University. Simplesmente aboliu os sistemas, as jogadas e as posições de 1 a 5. Convocou jogadores que em suas equipes profissionais eram setorizados nas posições 1, 2 e alguns 3 e 4, e montou uma estrutura em campo formada por jogadores armando fora do perímetro, e outros transitando em velocidade por dentro do mesmo, na maioria das vezes iniciando as ações ofensivas com todos abertos, obrigando os pivôs adversários a tentar acompanhá-los em velocidade e longos deslocamentos afastados da cesta, provocando um verdadeiro caos nos sistemas defensivos, desmontando-os pela imparável força de seus fundamentos irretocáveis, e dos arremessos mais irretocáveis ainda de seu grande jogador, Kevin Durant.

Provou o coach K durante todo o campeonato que, uma equipe proprietária de sólidos fundamentos, ágil, rápida e firmemente atuante na defesa, supera outra mais bem armada e cadenciada, mas sem o domínio completo dos fundamentos do jogo.

A única arma com alguma possibilidade de equilibrar o jogo contra uma equipe com tais características, é a cadenciação proposital e sistemática, tentando não permitir que a velocidade americana se imponha, fazendo valer todo o seu arsenal de fundamentos regiamente praticados.  E somente uma equipe o conseguiu em parte, quase vencendo-a, a brasileira, que perdeu o jogo exatamente por não ter a mesma base de fundamentos da mesma, principalmente nos momentos finais da partida.

E ao final da competição, algumas questões se sobrepõem à realidade dos fatos desencadeados pelo grande técnico.

Primeiro, o que poderemos esperar de mudanças técnico táticas depois de assistirmos a pulverização de sistemas complexos, codificados e comandados de fora da quadra por técnicos coercitivos, pela simplificação e sintetização das formas de jogar, através a simplória proposta de jogar única e exclusivamente ao amparo dos fundamentos de defesa e ataque em seu estado puro?

Segundo, ao constatarmos de que a grande farsa setorial e especializada de jogadores, como compartimentos estanques dentro das equipes, originou um basquete voltado à mecanização, quase uma coreografia, que encontra e reflete nas pranchetas sua máxima expressão, frente à simplicidade sofisticada de uma equipe mestra e maestra na pratica e utilização letal dos fundamentos do grande jogo, praticamente revertendo às origens do mesmo?

Terceiro, como reformular conceitos arraigados a princípios técnico táticos que se sobrepõem ao ensino primal dos fundamentos do jogo na base de nossa formação, após exemplo tão significativo dado e apresentado por uma equipe campeã mundial?

Finalmente, como conciliar tão necessárias mudanças no ensino do grande jogo, que são partes integrantes de conceitos didáticos pedagógicos de alguns dos grandes mestres existentes no país, esquecidos e minimizados pela CBB e pela novel ENTB/CBB, trocados pelos que professam  padronizações e formatações, firmemente alinhados ao sistema único, agora desmontado e desmistificado pela pequena revolução desencadeada pelo coach K e sua equipe mestra nos fundamentos e de livre criação, campeã mundial?

São todas questões que teremos de equacionar com planejamento, dedicação e extremo bom senso, caso contrário corremos o sério risco de, por mais uma vez, perdermos o bonde da história, com uma diferença, a de que desta vez será definitivo, tendo como um triste começo a palidez cadavérica do  outrora sagrado uniforme verde e amarelo de nossas seleções.

Amém.

MUNDIAL- O DÉCIMO TERCEIRO DIA: ENCENAÇÃO E MALANDRAGEM…

Minuto final, ou quase, os turcos vencem por um ponto, e numa bola disputada no rebote ofensivo, o pivosão (são 2,14 m  de massa bruta) turco leva uma bofetada de raspão ( o VT mostra claramente), e cai com as mãos no rosto e lá fica ajoelhado estertorando como se um tiro o tivesse atingido. Minutos antes dessa “tragédia” ele mesmo, o pivosão,  havia perdido dois lances livres pessimamente cobrados a La Shaquille, e… por não passar a responsabilidade dos novos lances livres a um substituto mais competente ( no caso um armador com a metade da sua altura), já que aleijado para continuar na quadra? O técnico sérvio, macaco velho de outros carnavais ri de soslaio, e nem reclama, sabedor, pela experiência e malandragem ( que não é prerrogativa só de latinos…) que naquela situação bem que proporia a um seu jogador fazer o mesmo, afinal era uma semi final de mundial, onde nem sempre a desportividade é preservada.

O substituto converte um dos lances, e ao final do jogo os turcos vencem por um ponto numa bandeja providencial. Valeu a encenação? Claro, um lance livre foi convertido e a diferença final foi de um ponto. Ponto final.

E porque contabilizo essa passagem do jogo? Porque sem a ocorrência dela a equipe mais técnica e mais completa teria vencido, a equipe sérvia, sem dúvida alguma a única que poderia enfrentar a equipe americana com boas chances, pelo seu alto grau técnico tático, sua excelente defesa, e seus jogadores muito bem treinados nos fundamentos do jogo.

A equipe turca, apesar de ser muito forte defensivamente, não tem uma estrutura ofensiva tão uniforme como a da Sérvia, fator básico para enfrentar a fortíssima defesa americana, que a utiliza como plataforma de disparo de seus formidáveis contra ataques. E mais um detalhe, o fato do sistema ofensivo sérvio ser incomensuravelmente mais efetivo que o turco.

Posso até me enganar, já que o apoio fanático da torcida turca possa influenciar no espírito de sua equipe, mas, bastando que os americanos mantenham sua estrutura defensiva uniforme e pressionada, para que essa vantagem exógena seja bastante reduzida, alavancando-os para o jogo franco, e aberto baseado na pura velocidade de ações e certeiros arremessos de três.

Deverá ser um jogo muito disputado, mas claramente favorável à equipe americana, mais bem preparada nos fundamentos, que os utilizam de forma absoluta e precisa, e sua velocidade natural, espontânea e letal.

Única chance turca? Frear ao máximo a velocidade ofensiva americana, e o mais difícil, ultrapassar sua potente defesa no jogo armado de meia quadra ( que muitos erroneamente chamam de 5 x 5, pois na maioria das vezes no sistema único somente dois jogadores, e às vezes três, participam de jogadas, e os restantes, assistem…).

Um detalhe significativo do jogo Estados Unidos x Lituânia, onde a anteposição defensiva aos arremessos de três lituanos, praticamente tiraram sua chances de vitória, confirmando o que previ nos artigos e comentários anteriores, de que o estancamento da hemorragia dos arremessos de três está prestes a se concretizar, através fortíssimas defesas e o aumento na distância da linha de três, que entrará em vigor após o mundial, fator este que já se fará sentir entre nós no NBB3.

Apesar do favoritismo americano, torçamos para que seja uma final condigna de um mundial, e sem estertores fajutos de qualquer espécie.

Amém.

O ENTER – SEIS ANOS DE BASQUETE BRASIL…

Seis anos atrás, 11 de setembro de 2004, às 4hs da madrugada, hesitei em dar um Enter, iniciando a saga do Basquete Brasil. Não por receio de não ser compreendido, ou mal compreendido, haja vista meus sempre contestados posicionamentos e pontos de vista, mas pelo forçado afastamento das quadras, pelo distanciamento movido pelas decepções e pelas injustiças cometidas com o basquete pátrio, pelo avesso sentimento ao que de pior vinha se apossando do comando do grande jogo nesse imenso e pobre país. Pensei muito, e considerei ser profundamente injusto guardar só para mim o pouco que sei e  amealhei pelas andanças da vida, sempre estudando, pesquisando, e trabalhando muito, dentro e fora das quadras, nas salas de aula, do primário à universidade, nos clubes, nas seleções, aqui e lá fora.

A primeira matéria ali estava, na brilhante tela já a algum tempo, como me enfrentando, mais um dos incontáveis desafios que enfrentei por toda a vida, ganhando e perdendo, mas sempre aprendendo, sempre transferindo o saber, sempre buscando novos rumos, novos desafios.

Fui a cozinha e peguei uma xícara de café, voltei ao escritório, e lá estava a página incólume, brilhando, e uma imagem me desafiando com um sorriso no canto da boca, olhando bem dentro de meus próprios olhos.

Não vacilei, e com firmeza e determinação dei o ENTER, e graças aos deuses nunca me arrependi de tê-lo feito.

Amém.

MUNDIAL- O DÉCIMO SEGUNDO DIA: MARCANDO O SCOLA…

Quando da publicação do artigo do dia 3 deste mês, respondi um comentário do Giancarlo Gianpietro sobre como imaginaria uma defesa sobre a equipe argentina, especialmente sobre o Scola, que vinha fazendo um campeonato extraordinário, antes do encontro com o Brasil, onde o Scola contabilizou 37 pontos decisivos para a vitoria argentina, e que foi exatamente a estratégia utilizada pela equipe da Lituânia na vitoria maiúscula de hoje.

Recordemos a resposta ao Giancarlo:

  • Basquete Brasil 03.09.2010 (6 days ago) ·

Pronto Giancarlo, mais uma bananosa que você coloca em minhas mãos! Não sou o técnico da seleção( jamais o serei…), mas, o que faria se o fosse? Dê uma boa olhada em três jogos que postei no blog, principalmente os contra Brasilia e Joinville, e fique observando a ação defensiva( em alguns momentos de passe para o pivô, pois não tive tempo suficiente para estabelecer a ação de forma permanente…)à frente do pivô adversário.Nessa situação, a primeira reação do oponente é o desestimulo do passe, já que a camisa visada não é a de sua equipe, a segunda é a do passe retroativo, ótimo para quem defende, pois são mais segundos que perdem em seu ataque, a terceira é o passe por cobertura, que se bem coberto oferece ótimas opções defensivas, e finalmente, se o atacante de posse da bola não tiver ainda driblado, a penetração, que encontrará de saída a anteposição do defensor de seu próprio pivô. Como vemos, a simples postura de uma marcação frontal, desencadeia quatro possibilidades ofensivas, num caudal de decisões em frações de segundos, induzindo enormes possibilidades ao erro, pela multiplicidade de opções.
Seria o que treinaria, enfatizaria, exigiria execução, permanente e incisivamente, exatamente porque incluiria no adversário a necessidade de pensar mais, analisar mais, originando um novo fator, a escolha correta de uma ação em uma única tentativa,em uma fração de segundos, aspecto que exporia ao atacante, consciente ou inconscientemente o fatal medo de errar.
Marcar à frente, com um Spliter forte e rápido, como a Alessandra e a Tuiú no mundial da Australia, marcando as grandes pivôs da China e dos Estados Unidos, tirando-as de suas rotinas de arrietes mortais quando de posse da bola. Era o que faria, mas não sou o Magnano, logo…
Audacioso? Não prezado Giancarlo, simplesmente convicto de que desde sempre devemos fugir das rotinas e das mesmices se quisermos realmente evoluir, e consequentemente, vencer. Um abraço,
Paulo.

Somemos à resposta o fato de que a utilização desta ação defensiva afastaria em muito as tão perigosas dobras, permitindo que os jogadores especialistas nos arremessos de três (Delfino, Herman, Gutierrez, Quinteros) fossem vigiados de muito perto, e temos decodificada a arma defensiva que os lituanos empregaram decisivamente contra os argentinos, e de tal forma, que praticamente eliminaram os seus certeiros arremessos de três, assim como anularam o grande pivô Scola. Resultado? Chegaram a colocar 34 pontos de vantagem.

Um outro pormenor também deve ser ressaltado, a incrível eficiência de seus próprios arremessos de três, principalmente nos dois quartos iniciais, onde praticamente decidiram a partida. E porque e como os conseguiram com tanta liberdade? Isso mesmo, acertou, pela enorme condição psicológica adquirida e fundamentada numa defesa monolítica e feroz, sem tréguas e fraturas, embasando seu ataque sobre uma equipe acuada e em célere perda de sua lendária auto confiança ofensiva. O principio básico de toda estratégia vencedora do grande jogo foi hoje referendado, a de que toda vitória se estrutura sob a égide de uma grande defesa, e o exemplo deste jogo não deixa qualquer margem de dúvidas a esse conceito.

Mas algo ainda deve ser referendado, o fato inconteste do alto preparo nos fundamentos do jogo dos jogadores lituanos, os de defesa em especial, onde os posicionamentos de pernas, braços e tronco seguem normas e princípios excelentemente bem treinados, capacitando-os aos deslocamentos laterais em equilíbrio, e às anteposições aos arremessos, nas coberturas e recuperações de espaços, culminando no perfeito e coletivo posicionamento para os rebotes.

E neste ponto vem a pergunta- Possuem nossos jogadores este mesmo embasamento, este mesmo domínio dos fundamentos?
Enfim, uma grande aula de defesa, e por que não, de ataque também.

Com essa exibição de técnica e estratégia, os lituanos se candidatam a sérios pretendentes a uma medalha, que faria justiça a uma excelente e surpreendente equipe.

No outro jogo das quartas de final, a equipe americana, com seu “espalhamento” na quadra venceu os russos com alguma facilidade, mas não antes de encontrar a costumeira dificuldade ante uma defesa zonal, onde aos poucos foi encontrando uma solução peculiar, ao atacá-la através o emprego de duplas envolvendo a linha final defensiva, ação essa facilitada pelo enorme domínio que têm dos fundamentos de drible, fintas e passes curtos em altíssima velocidade. Nunca o give and go ( o nosso dá e segue…) foi tão empregado, e de que forma, contra uma defesa por zona! E deu certo.

As semifinais de sábado prometem bastante, principalmente agora que os lituanos mostraram como se marcam os longos arremessos que vem imperando neste mundial, e a grande ironia, contra uma equipe americana que também marca com rigidez e por todo o campo. Prevejo uma das famosas battles under basket, tão ao gosto da NBA, só que agora sob as regras da FIBA, fator que colocam os americanos em cheque, e por que não, a perigo.

Turquia e Sérvia será outro grande jogo, e com uma característica em comum, suas grandes defesas, principalmente a turca.

Será que começaremos a testemunhar as efetivas contestações aos arremessos de três neste mundial, pelas características defensivas de alto nível de todos estes semifinalistas? Acredito que sim, mas…

Amém.

MUNDIAL- O DÉCIMO PRIMEIRO DIA: O ÉDEN DOS TRÊS…

A curva ascendente do sistema único universalizado de jogo, o grande modelo NBA, finalmente chegou ao seu ápice, quando, mesmo antecedendo a adoção da nova linha de três, acrescida em 50cm além dos atuais 6,25m, tornou os arremessos além desta distância o fator de desequilíbrio nos jogos deste Mundial, vide o arremesso do jogador Teodosic da Servia, frente a um defensor de 2,07m à sua frente, e faltando 3seg para o término da posse da bola no seu derradeiro ataque, levando de vencida a equipe campeã mundial, a Espanha, e a enxurrada de acertos turcos em seus longos arremessos frente a uma Eslovênia indefesa ante tamanha performance.

A grande maioria dos jogos têm sido definidos desta forma, mesmo ante equipes com sólidas defesas, mas que ficam a meio caminho de dobras interiores, a fim de evitar altas  pontuações  dos pivôs adversários, ou deixando espaços para os arremessos exteriores advindos dos passes de dentro para fora do perímetro.

E cada vez mais especialistas nestes longos arremessos se fazem presentes em todas as equipes, beneficiando claramente aquelas que os possuem em maior número, ficando evidenciado, mesmo em equipes de países culturalmente  mais evoluídos, que o fator primal de defesa de sua área mais intima, no caso do basquetebol, a zona restritiva e a cesta, é aquela que deve ser protegida e defendida a todo custo, pois emula o bastião final de seu domínio,  unificando a defesa em torno do mesmo.

E por conta desse legado primal, origem das Battles under Basket, desenvolveram-se as técnicas mais sofisticadas dos arremessos de longa distância, reino absoluto dos grandes especialistas, artistas na difícil e precisa arte dos arremessos de três pontos.

Então, o que fazer para equilibrar tal desproporção entre ataque e defesa? Como agir para, que ao menos, possamos diminuir a incidência de tamanho poder de pontuação?  Como tentar fazer valer a evidência histórica de que sucedendo a um domínio ofensivo sempre advirá um progresso e conseqüente domínio defensivo que o anulará, gerando um rodízio de influências, que são os reais valores de toda uma evolução técnico tática?

Acredito firmemente que duas imposições se façam necessárias, a fim de que possamos enfrentar com algumas vantagens este ciclo de domínio ofensivo, tentando revertê-lo, originando mais adiante um novo, e quem sabe, mais letal ciclo, numa busca ininterrupta de novas vertentes técnico táticas.

A primeira, seria voltada ao preparo mais acurado possível de uma sistema defensivo, onde as dobras pudessem ser substituídas por coberturas mais eficientes e dinâmicas, onde a marcação dos pivôs permanentemente à frente os obrigariam a fugir do interior da zona restritiva, posicionando-os sagitalmente à cesta, num posicionamento mais vantajoso para ser obstado e marcado. Esse posicionamento defensivo liberaria a equipe das dobras, fazendo com que os jogadores abertos, aqueles especialistas nos longos arremessos pudessem ser marcados bem mais próximos, alterando em muito suas eficiências anotadoras.

A segunda, é que tão preciso e sofisticado sistema defensivo, fosse baseado na linha da bola com flutuação lateralizada, cujos detalhes técnicos e posicionais podem ser perfeitamente compreendidos nesta matéria.

No entanto, tal mudança de caráter defensivo tem de vir acompanhada de uma preparação localizada na base do processo de ensino do grande jogo, pois defesa, saber defender, treinar e aperfeiçoar defesa, é um dos fundamentos mais importantes do jogo, senão, o mais importante.

Defesas sólidas e precisas só são bem sucedidas se os jogadores as souberem praticar com pleno conhecimento de suas especificidades, e de suas fundamentações técnicas. Nenhuma defesa é mais difícil de ser praticada do que a defesa por zona, que somente se torna eficiente se cada jogador envolvido com a mesma seja um excelente defensor individual. A somatória de cinco bons defensores individuais é que a caracteriza em eficiência e confiabilidade.

E com defesas bem postadas, e presentes dentro e fora do perímetro, é que poderemos obstar com algum sucesso o caudal de arremessos de três que nos afogam presentemente, situação esta que temos urgência em enfrentar, começando nas divisões de base, onde as defesas zonais deveriam ser proibidas até os 15 anos, e o tempo de posse de bola deveria ser estendido até os 35 seg, a fim de que o desenvolvimento físico e mental natural dos jovens seja respeitado em seus ritmos peculiares, orientando sua formação direcionada aos fundamentos, onde saber defender é um deles, repito, talvez, o mais importante.

Enquanto essa reversão não acontece, apreciemos a quanto chegou o desenvolvimento das técnicas de arremesso em todo o mundo, e a  incapacitação em detê-los no presente, originados que são do sistema único de jogo, cuja curva ascendente, mencionada no inicio do artigo, tenderá, historicamente, a descender, na medida que defesas evoluam nesse sentido.

Que tal iniciarmos este novo ciclo? Temos competência para, ao menos, tentar?

Tive coragem de iniciá-lo no Saldanha, mas não me deixaram continuar… Vida que segue.

Amém.

MUNDIAL- O DÉCIMO DIA: A DURA REALIDADE…

Observem bem essas fotos, e constatem o poder ofensivo de pivôs que driblam bem, passam com segurança, arremessam com precisão, chamam uma dobra para liberarem arremessos de três, trabalham em estreita coordenação com um outro pivô, e tudo isso em permanente movimento dentro do perímetro interno, e teremos uma imagem vencedora, junto a uma equipe solidária e, repito e sempre enfatizarei, permanentemente em movimento, todos, sem exceção.

Disfarçada como utente do sistema único, a equipe argentina sempre atacou com dois armadores, Prigioni e Delfino, revezados para descanso pelo Cequeira, e três homens altos e habilidosos se deslocando em velocidade pelo perímetro interno, Scola, Oberto e Jansen, revezados pelo Gurtierrez, Gonzáles e Quinteros.

Agindo desta forma, sempre preservaram a estatura e o posicionamento reboteiro, assim como os preferenciais arremessos de 2 pontos (22/39 – 56.4%), contra os 17/30 -56.7% da equipe brasileira, e o alto percentual dos arremessos de 3 (11/18 -61.1%), contrastantes com os 12/24 – 50% dos brasileiros, e que somados aos lances livres ( 16/20 – 80.0%), contra 19/25 – 76.0%, os levaram a uma vitoria merecida e irretocável.

Em suma, mesmo atrelados ao sistema único e universalizado de jogo, os argentinos mantiveram solidamente seu principio de atuarem com dois armadores de altíssima técnica, e três homens altos também muito técnicos próximos a cesta, fazendo com que a bola entrasse e saísse do perímetro interno sequencialmente, propiciando arremessos curtos, médios e longos precisos, equilibrados, e principalmente coerentes com as movimentações propostas, culminando com o pleno aproveitamento das imensas qualidades do Scola, que com seus preciosos 37 pontos, frutos do envolvimento coletivo de sua equipe, colocando-o permanentemente em condições de arremesso, conseguiram por mais uma vez, derrotar uma equipe que ainda se mantêm escrava de individualismos exacerbados, e muitas vezes improdutivos.

E mais, conseguiram exercer uma forte defesa no quarto final, depois de preservarem ao máximo seus veteranos jogadores no transcorrer dos três quartos iniciais, e que mesmo assim conseguiram antepor a metade dos 24 arremessos de três da equipe brasileira, conseguindo esta antepor 7 dos 18 tentados pelos argentinos, numa prova cabal de que ainda teimamos em “pagar para ver” o resultado dos arremessos de três adversários.

Jogamos todo o tempo com um só armador que, aliás, teve uma participação soberba, porém muito mais como anotador, do que armador propriamente dito. Huertas jogou muito bem para um armador finalizador, mas não como um arquiteto de jogadas, já que as mesmas foram substituídas pelas performances individuais do Leandro, do Alex e do Guilherme, e praticamente inexistentes para os nossos pivôs, Spliter e Varejão, que somente anotaram 10 e 7 pontos respectivamente, contra os 37, 15 e 7, do Scola, Jansen e Oberto, numa desproporção imperdoável, e apresentando uma conclusão constrangedora, a de não sabermos fazer jogar nossos pivôs, técnica e taticamente, reforçando o posicionamento do Oscar de que pivô ali está somente para pegar rebotes, e fazer uns pontos quando tiver chance. Pelo que vimos, constatamos e sentimos na pele mais uma vez, os argentinos não pensaram dessa forma, e olha que têm também ótimos arremessadores de três, como o grande jogador patrício, com uma diferença fundamental, jogam para a equipe.

Finalmente, o fator mais instigante, mais contundente e revelador, a grande, enorme diferença no domínio dos fundamentos que nos separam dos argentinos, domínio este que somado aos longos anos de pratica e títulos conquistados, auferem aos nossos hermanos, um senso de equilíbrio e total controle emocional de tal ordem, que parecem, e provam a cada jogo contra nós, que na hora da verdade, naqueles segundos decisivos esse controle se fará presente, fluido e vencedor, resultante de um longo e bem planejado trabalho, desde a base, e não o oba oba que se instalou no âmago da formação de nossos jovens e de nossos técnicos, onde a imposição do sistema único, somado à desinformação endêmica e absoluta ausência de um projeto didático pedagógico formulado por quem de direito, culmina, e continuará culminando em decepções como as de hoje, onde o inegável talento de nossos jogadores é limitado pelas deficiências nos fundamentos e na nossa negativa em ir de encontro a novas propostas técnico táticas mais de acordo com nossas qualidades e tradições.

Temos um longo caminho ainda para percorrer, que não será fácil, e custará a frutificar, visando 2016, e somente com mudanças efetivas e até certo ponto radicais, em projetos e pessoal, visando um arejamento multifuncional, é que poderemos almejar atingirmos aquela data com uma geração bem formada, bem treinada e principalmente, cônscia de suas responsabilidades. O contrario será a prova da impostura, da má fé e do oportunismo. O império do Q.I. tem de ruir, pois todos os impérios, um dia, caem.

Amém.

MUNDIAL- O NONO DIA: CONJECTURAS…

Comentar o que na rodada de hoje? Que Angola não tem cacife para participar de um mundial deste calibre, mesmo que professando o sistema único de jogo?  Que a Haka soa um tanto deslocada numa quadra de basquetebol, quando num campo de rúgbi, local de autênticas batalhas, encontra seu cenário ideal?

Dois jogos perfeitamente dispensáveis dentro de uma competição que não admite meias medidas. Duas surras bem dadas, e americanos e russos com data marcada para saberem quem segue na busca de medalhas.

Mas o assunto palpitante, inclusive com caprichadas chamadas globais, tirando uma carona da data magna da independência brasileira, coloca o jogo de logo mais na boca de uma fornalha que pode queimar incautos arautos.

“O dia de nossa independência, será o dia da independência do nosso basquete”, é o jargão de um de nossos craques, num discurso ufanista e fora de propósito. Numa hora dessas, o recato e a concentração deve ser o mote básico de uma equipe cônscia de seu preparo e de seu valor, que são os valores a serem preservados pelos verdadeiros atletas.

Clamar ao publico para que prestigiem e torçam pela seleção é uma coisa, prometer resultados por antecipação é outra. Bola fora para tais manifestações.

Por outro lado, fervem as especulações sobre o jogo, como enfrentá-lo, como vencê-lo, e inclusive já temos analises jogador por jogador confrontados com os argentinos, é claro, obedecendo as posições de 1 a 5 de ambas as equipes, num autêntico confronto de 1 x 1 bem ao estilo NBA.

Numa ocasião em Vitoria, um jornalista me perguntou como classificaria os jogadores que dirigia na nomenclatura odiosa de 1 a 5. Respondi que todos eles jogavam na posição 12.345, sem exceções, pois se não o fossem não jogariam dentro dos sistemas ofensivos e defensivos que adotei para a equipe.

E assim deveria ser a postura de nossa seleção, sem escolhas preferenciais justificando despropositados equilíbrios, como se fosse plausível setorizações estanques  em um jogo de caráter essencialmente coletivo. A base estrutural de uma boa defesa é o seu empenho coletivista, onde coberturas e ajudas se fazem presentes continuamente, onde a doação de um se soma aos dos demais companheiros, unidos e compromissados pelo ilimitado sacrifício, mas nunca perdendo o controle técnico e a leitura objetiva e inteligente do jogo, que é chave das mais eficientes rotações.

Uma de nossas maiores armas, imperceptível para muitos, é a “leveza” de nossos homens altos, exceto o JP Batista, aspecto este que propicia boas e eficientes coberturas e posicionamentos defensivos, mesmo que eventualmente no limiar do perímetro externo, onde o fator velocidade se torna primordial.

Outra vantagem auferida pelos nossos velozes homens altos, é a de podermos empregar uma defesa antecipativa e à frente dos pivôs adversários, reduzindo em muito as dobras, contribuindo para uma defesa mais eficiente e próxima dos arremessadores adversários de longas distâncias, obrigando-os às penetrações  para conclusões de 2 pontos, e não as devastadoras cestas de três.

Uma proposta de jogo de 2 em 2, pelo menos para nós, levaria o jogo para um desfecho bem mais equilibrado, quando, por força dos esforços envidados para evitar ao máximo tais conclusões, e pelo acúmulo de defensores no perímetro próximo à cesta, liberariam os arremessos de três, advindos de passes de dentro para fora do garrafão, de forma mais equilibrada e livre de anteposições.

Enfim, muitos são os detalhes que propiciam a uma equipe se tornar excelente defensora, mas nenhum é mais importante e determinante do que a permanente e inteligente ajuda entre seus pares, onde indecisões, omissões e não assumidas falhas têm de ser minimizadas ao extremo, como fator primordial para constituírem uma eficiente e decisiva ofensiva, uma excelente oportunidade de vitória.

Que assim seja.

Amém.

MUNDIAL- O OITAVO DIA: NOVAS PERSPECTIVAS?…

Nesta segunda rodada de oitavas de finais, eslovenos, australianos, turcos e franceses, repetiram ad nauseum o mesmo basquete que vem sendo jogado por todas as equipes neste mundial, exceto os americanos. Com jogadores de 1 a 5 melhores que seus adversários, eslovenos e turcos passaram às quartas de finais, merecidamente, pois impuseram surras memoráveis a australianos e franceses.

Incrível como um sistema de jogo padronizado e globalizado, ainda se permita ser tão frágil em sua leitura, visando melhores posicionamentos defensivos, principalmente nos bloqueios aos indefectíveis arremessos de três pontos, fator mor no desequilíbrio das partidas.

Mais incrível ainda que, após tantos anos de hegemonia global, tal sistema ainda se paute na construção de espaços para os arremessos de três, sem contestações defensivas, mesmo que meras tentativas, numa permissividade consentida por ambas as equipes em quadra, como um duelo de “quem consegue encestar mais…de três”.

E o inacreditável, é que os espaços ainda ocorrem com freqüência, de ambos os lados, uns um pouco mais limitados, outros nem tanto, originando uma orgia de arremessos, em detrimento de um jogo interior mais presente e efetivo. É um desafio constante, cujo percentual de acerto determinará o vencedor da partida.

Somemos às estas evidências um melhor, apesar de eventual,  jogo interior de eslovenos e turcos, mais determinados e disciplinados, e pronto, o cenário se confirma por placares elásticos e indiscutíveis.

Amanhã e terça feira, o mesmo panorama se descortinará, menos no jogo entre americanos e angolanos, no qual seja o sistema que for utilizado pelos primeiros, nada restará de chances aos jogadores africanos.

Mesmo entre brasileiros e argentinos?  Basicamente sim, sobrevindo uma pequena, porém decisiva possibilidade, a de que um dos oponentes restrinja ao máximo as ações em velocidade do outro, cadenciando o jogo e determinando o ritmo que melhor lhe convier, mesmo sem abandonar o sistema único, porto seguro, e habitual de ambos, e mais, restringindo ao máximo a eficiência nos arremessos longos, trocando-os por outros de curta e médias distâncias, que apesar de mais eficientes, propiciam uma defesa mais efetiva pela proximidade com a cesta.

Serão escolhas e opções cruciais, que quanto menos falharem em suas concepções  maiores serão as chances de saírem vencedores, avançando às quartas de finais, e oxalá sejamos nós estes vencedores.

E com a mesmice em foco, avança para seu final um dos campeonatos mais previsíveis no aspecto técnico tático de que se tem memória na história dos mundiais, daí a importância crucial da proposta americana, visando uma abertura a novos sistemas e novas perspectivas para o grande jogo.

Se um pouco de ousadia se fizesse presente, poderíamos frente aos argentinos emular os americanos, propondo soluções nossas com independência e criatividade.

Ao menos deveríamos tentar, ousar, e quem sabe, vencer.

Amém.

MUNDIAL- O SÉTIMO DIA: REALIDADES E UFANISMO…

Hoje vimos uma Croácia de verdade, jogando o jogo que desejara desde muito tempo, em uma competição mundial, quando se poupou escancaradamente no encontro contra o Brasil, a fim de tentar provar, na íntegra de suas forças, uma supremacia que transcende o campo desportivo, mergulhada numa rivalidade que entre outras pendências, resultou numa conflagração de trágica memória. Os povos balcânicos hoje independentes, se constituem no cadinho da religiosidade européia, onde se cruzam o cristianismo e o islamismo, e o esporte jamais poderia se dissociar desta realidade.

E foi o que vimos, uma batalha inflamada, e surpreendentemente leal, onde duas excelentes equipes, semelhantes em tudo na maneira de jogar, se colocaram à prova em busca de uma supremacia não tão somente desportiva, mas cultural e política também. E não me venham dizer que estou fantasiando, que a equipe brasileira esmagou os croatas, que provamos sermos melhores, etc, etc, pois a simples constatação estatística dos rebotes já colocam por terra aqueles argumentos ufanistas. Sem dúvida nossa equipe atuou bem melhor que das vezes anteriores, mas, infelizmente, e já comentei anteriormente, não foi exigida e testada como deveria ter sido se a Croácia atuasse como o fez no jogo de hoje.

A Sérvia venceu por um ponto, como poderia ter perdido por um também, num jogo de grandes emoções, tendo como cenário o sistema único de jogo, o mesmo que, com exceção da equipe americana, todos, rigorosamente todos os participantes se utilizam, e no qual, o poderio dos arremessos de três pontos atinge sua máxima cotação, com ambas as equipes se movimentando e se posicionando na busca do momento ideal para concretizá-los.

No entanto, quando um dos jogadores croatas, o armador Popovic, se dispôs a decidir o jogo em ações puramente individuais, num embate onde o coletivismo de ambas as equipes atingiu padrão irretocável( ai incluindo os arremessos de três…), todo o esforço de seus companheiros se tornou inútil na busca da vitória, pelo seu rompante egoísta e comprometedor, errando inclusive os dois lances livres que definiriam a partida. Em hipótese alguma podemos enaltecer suas inegáveis qualidades individuais, num momento em que sua entrega ao todo coletivo teria de ser prioritário, o que não ocorreu.

Foi um grande jogo dentro das circunstâncias e expectativas que se fizeram presentes em torno do mesmo, pena que somente uma das equipes pudesse seguir em busca de uma medalha, a bem treinada e competente Sérvia.

O segundo jogo, entre gregos e espanhóis, seguiu praticamente a mesma cartilha técnico tática do primeiro, até um momento do quarto final quando a defesa espanhola se adiantou, pressionou e ao se retrair em seu campo se utilizou de uma defesa zonal que desarticulou a equipe grega, pois as anteposições bem treinadas e sucedidas aos arremessos de três se fez presente, anulando a grande arma grega, incapaz de se impor embaixo da cesta sob a pressão dos grandes pivôs espanhóis.

Teremos nas quartas de final o encontro entre as equipe vencedoras de hoje, e que promete se constituir num dos grandes embates deste mundial. Até lá, seguem as oitavas, que na terça feira colocará frente a frente nossa equipe contra os argentinos, num jogo decisivo às pretensões de ambos neste mundial, e que tantos debates e opiniões vêm suscitando através dos blogs e sites da modalidade, principalmente em torno de uma indagação – Como parar o Scola?

Ao que coloco uma outra indagação- Como marcar a equipe argentina? E mais outra- Como atacá-los?

Acredito que com uma boa dose de imaginação, criatividade e acima de tudo, ousadia, possamos enfrentá-los de verdade, com boas chances de vitória. Agora, se o fizermos agindo com os altos graus de previsibilidade que vêm marcando nossas ações, principalmente as ofensivas, ai não teremos chances ante à forte e confiável base técnico tática argentina, cujo mentor que os liderou na conquista olímpica hoje nos dirige, mas sem contar com a mesma estrutura de base que ajudou a implantar por vinte anos em seu próprio país.

Repito para que não paire dúvidas sobre o meu raciocínio- Somente com “uma boa dose de imaginação, criatividade e acima de tudo, ousadia, possamos enfrentá-los de verdade”, e um bom começo seria pensar defender permanentemente por antecipação, defesa à frente sobre o Scola, obrigá-los às cestas de 2 pontos, e atacá-los, preferencialmente no perímetro interno, sistematicamente.

Mas no fundo, no fundo, esse é um problema a ser equacionado pelo Magnano, e somente por ele, como excelente e competente técnico que é. Especulações se constituem  num livre exercício dialético, nada mais, nos restando tão somente… torcer, e muito.

Amém.

MUNDIAL-O SEXTO DIA: UM JOGO EM P&B…

Decididamente não foi um jogo, vamos assim dizer, normal. De um lado a equipe brasileira atuando seriamente, marcando sem as dobras do jogo de ontem, e por isto mesmo se antepondo às tentativas de arremessos de três dos croatas, cadenciando o jogo no ataque, usando o jogo interior com insistência, e contra atacando pela alta eficiência de seu rebote defensivo, e pela estranha ausência dos rebotes croatas, sua arma mais poderosa desde sempre, onde um Tomic tirou férias ao cometer sua quinta falta ao inicio do terceiro quarto.

Fiquei incomodado com a passividade croata, pelo desinteresse croata, pela ausência de luta e dedicação da forte equipe croata. Não era esta a medida de comparação que estava esperando no forte teste para a nossa seleção, não mesmo. E como o tom ufanista da transmissão da Sportv me incomodava mais ainda, mudei para o canal ESPN, exatamente no momento em que seus analistas  externavam suas estranhezas pelo comportamento de nossos adversários, comentando inclusive que os mesmos não estavam nem tentando  vencer, já que um enfrentamento com a Sérvia, país da antiga Iugoslávia assim como a  Croácia, trariam ao público algumas diferenças a serem resolvidas numa competição mundial, numa rivalidade histórica, e que para nós, enfrentar uma Argentina seriamente desfalcada, seria mais vantajoso do que duelar com a fortíssima Sérvia. Ao que um dos comentaristas adicionou em tom jocoso, de que nem precisaria terem ido ao  ginásio, bastando um acordo no hotel, ou um “rachão” entre compadres.

Os comentários casavam com a minha opinião, de que os croatas não se empregaram física e tecnicamente como vinham fazendo na competição, e como ambos estavam classificados, o interesse de jogar com a Sérvia, como num acerto de contas no campo desportivo( Político? Bélico?…), num cenário de alcance mundial, já que muitas das diferenças ficaram embutidas nos vales dos Balcãns, se fez prioritária, e de uma forma não muito antiética., como num jogo em P&B…

Para a seleção brasileira, que se apresentava bem mais corrigida de seus defeitos crônicos, um maior empenho croata dimensionaria suas reais possibilidades neste mundial, e não um passeio onde o Marcelo Machado teve a oportunidade, até agora única neste mundial, de arremessar absolutamente sem marcação, desde o drible, a troca de mãos e a finta para a esquerda( sua rotina ideal de arremesso) um bom número de tentativas de três bem sucedidas, o que dificilmente se repetirá daqui para diante.

Como bem pareceu ter sido uma decisão unilateral, nossa seleção cumpriu seu papel com uma maior eficiência do que nos jogos anteriores, mas não pode aquilatar com maior precisão suas reais condições técnico táticas, que serão testadas na próxima quarta feira contra nosso grande rival( felizmente só no campo esportivo…), quando somente um dos competidores seguirá a trilha em direção ao possível, porém dificílimo, pódio.

Agora fico realmente curioso com o papel que desempenhará o Magnano, conhecedor profundo dos jogadores hermanos, na preparação e desenvolvimento de nossa seleção para este emblemático e decisivo confronto, já que somente um deles prosseguirá no campeonato. Seu título maior, o de maior significância para um técnico desportivo, o olímpico, foi conquistado, para o supremo orgulho de sua nação, na direção de nossos adversários de quarta feira, e honestamente afirmo, que sua dimensão de técnico superior agora é que será definida, onde os fatores  nacionalidade, pátria e comprometimento profissional, serão testados em definitivo, pois estará em jogo não a sua integridade humana, e sim os mais autênticos valores da competição puramente desportiva, unindo povos, mentes e corações.

E que vença o melhor.

Amém.

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