VITRINE DE LUXO

Pera lá, vai tudo mundo prá frente das cameras destilar erudição basquetebolística, vender o peixe de ocasião, fazer um marketing maneiro, me sentar o pau velada ou escancaradamente, e vou ficar sem meus 15 minutos de fama? De jeito nenhum! Palmas pra mim, que aqui ficarei olhando fixamente para a objetiva, como todo bom político aprende a fazer, e como quem não quer nada, querendo, vou apagando da curta memória brasileira o vexame de Tóquio. Afinal, não é qualquer um que aparece por horas em um tela de TV para provar o quanto entende e domina os meandros que envolvem aquele que deveria ser o grande jogo, mas, infelizmente não o é, se depender do triste espetáculo de self-promotion que assistimos constrangidos. São apresentados espetáculos de espetadelas sutís, entremeados de concordâncias hipócritas e arroubos patrióticos, endeusamentos, tietagens esplícitas, e delirantes projeções. Apostas de jantares, e desafios técnicos, enfeitam(?), ou enfeiam o que poderia ter sido uma rara e excelente oportunidade de se discutir a realidade do basquete brasileiro, e não o triste show que ora assistimos. Justiça seja feita a três dos participantes, que profundamente envolvidos e arraigados ao basquete feminino, comentam com isenção e pleno conhecimento o que realmente ocorre no seio daquela sempre esquecida modalidade, e que mesmo estando em plena atividade técnica,
procuram se ater aos fatos, e somente a eles. Maria Helena, Vendramini e Hortência, são as únicas pessoas, além dos locutores e comentaristas fixos, que deveriam lá estar, apesar dos dois primeiros estarem vinculados a equipes, assim como seus colegas da comissão técnica. Os demais
aproveitam a demorada e bem-vinda exposição televisiva para promoverem discordantes opiniões, achismos desqualificados, críticas a um técnico sem imediato direito de resposta, e um aberto e direto propósito de se auto qualificarem ao posto, ou a acessoria do”prestigiado” técnico
da seleção masculina. Daqui a uma semana terminará o mundial, e com o seu término cessarão os arroubos ufanistas e as juras de amor eterno ao basquete feminino, já que também cessarão os mágicos minutos televisivos, que será a senha para fazer voltar a modalidade ao seu devido lugar, de mero coadjuvante no ambiente desportivo nacional. Uma afirmativa feita no dia de hoje espelha essa lastimável realidade, quando aquele delirante técnico-comentarista, ou comentarista-técnico, descreve a jogadora Iziane como uma atleta que joga igual a um homem, o que segundo seu abalizado ponto de vista, a torna diferenciada entre as demais. Isso é o que acontece quando se promove quem não de direito a um posto que influi decisivamente no imaginário popular, principalmente na audiência dos jovens. Por sorte as transmissões massivas ocorrem em circuito a cabo, já que a TV aberta somente transmite os jogos da seleção brasileira, pois se assim não fosse o desastre seria descomunal, com, segundo palavras do grego melhor que um presente, 15 milhões de telespectadores assimilando e digerindo um FeBeApá que envergonharia o saudoso Stanislaw Ponte Preta. Seria preferivel termos os ginásios repletos de jovens em todas as rodadas do que suas arquibancadas tão vazias quanto o conteúdo oportunista da turma dos jantares. Já imaginaram esse pessoal sob a influência de um código de ética profissional emanado por uma associação de técnicos? Não? Nem imaginem, pois se depender deles jamais ocorrerá, como não ocorreu nos últimos e dolorosos 20 anos de seus reinados. Mas,
como nem tudo está perdido, ainda temos na luta a brava equipe brasileira, que apesar dos pesares aí está se superando ante equipes poderosas e eficientes, como legitimas guerreiras que são e sempre foram. A equipe tcheca tentará atuar como fizeram com as americanas, ou seja, levando o jogo com lentidão, para frear nossa velocidade e rítmo de jogo. Por essa razão, mais do que nunca precisariamos jogar com duas armadoras puras e três das mais altas jogadoras que pudessemos escalar, o que propiciaria uma efetiva luta pelos rebotes, um forte jogo interior, a garantia de velozes contra-ataques, e, principalmente, uma vigilância mais próxima nas tentativas dos arremessos de três pontos, arma letal da equipe tcheca, e que foi exatamente a atitude tomada pela equipe americana para sobrepujar a tática de frenagem da mesma. Quando as americanas escalaram no inicio do 3º quarto suas duas mais efetivas armadoras, deslancharam e se impuseram ao jogo amarrado e pausado da equipe tcheca, levando-a de vencida. Essa deveria ser, também, nossa estratégia de jogo. Quarta-feira veremos quem tem laranja para vender.
PS.-Para os mais jovens – FeBeApá – Festival de besteiras que assolam o país. Criação imortal do Sergio Porto,ou Stanislaw Ponte Preta.

FINAL DE JOGO.

De todos os debates que aconteceram após os jogos do Brasil, o que mais suscitou dúvidas e opiniões de diversos calibres foi o dos segundos finais contra a Espanha, quando a equipe brasileira se queixou da não marcação de uma falta que a Alessandra teria sofrido na última tentativa de um curto arremesso, o que levou a equipe a uma derrota bastante contestada. O mínimo que se ouviu foram afirmativas de que os três juízes empurraram a decisão de um para o outro, e como nenhum deles assumiu uma posição, a falta deixou de ser marcada. Mas, em nenhum momento os analistas envolvidos na discussão, mencionaram o fato, de que a nossa grande pivô perdeu o arremesso final por ter adquirido um vício de fundamento, que a faz ineficaz em um grande número de finalizações embaixo da cesta, quando postada do lado esquerdo da mesma. Nesse posicionamento, ela finaliza sistematicamente o lançamento com a mão direita, dando larga margem a bloqueios defensivos que tiram dela muito de sua eficiência. Caso finalizasse com a mão esquerda, não só conseguiria os pontos, como grande seria a possibilidade de sofrer uma falta pessoal. Se todos os técnicos envolvidos na discussão observassem com atenção o tape daquela última tentativa, constatariam que a bola toca o aro por baixo, exatamente na direção de sua mão direita, estando sua mão esquerda muito ao lado do mesmo, em um ângulo mais do que propicio a uma conclusão exitosa. Alessandra, com sua envergadura, sua enorme experiência, adquirida em muitos embates internacionais, jamais, e em tempo algum teve corrigido esse erro de fundamento, que se fosse conseguido, aumentaria de maneira determinante sua produtividade em quadra. De forma alguma conoto a ela a perda do jogo, assim como não menciono os inúmeros erros de dribles, fintas, passes e arremessos, cometidos, em grande quantidade pelas demais integrantes da equipe. O que vaticino, é a grande perda qualitativa da equipe, ao cometerem muitos erros de fundamentos, pelo simples fato dos mesmos não serem corrigidos pelos responsáveis dos treinamentos. Centrar a preparação em movimentos táticos, visando um sistema de jogo, por si só se tornam ineficientes se não forem realizados por jogadoras com pleno domínio dos fundamentos. Todos tecem loas à equipes, como a norte-americana, a australiana, e as demais européias, mas esquecem que, a maioria delas são compostas de jogadoras plenas de habilidades técnicas, baseadas no grande domínio que possuem dos fundamentos do jogo, sejam ofensivos, como defensivos. Pecamos demais nesse preparo, e por isso colhemos resultados nem sempre positivos. Alessandra teria sua eficiência pontuadora enormemente aumentada, se fosse orientada e corrigida na conclusão de seus curtos arremessos do lado esquerdo da cesta, com sua mão esquerda. Simples assim, mas que desde
1994, quando foi lançada na seleção campeã do mundo, não teve corrigida a sua maior deficiência
técnica, e que agora, em um final de jogo duríssimo, ainda desperta discussões e dúvidas. Infelizmente, espalhou-se, de forma lastimável, a idéia de que jogadores adultos não podem ser corrigidos, o que, no ponto de vista dos verdadeiros técnicos não tem qualquer fundamentação defensável. Conto uma singela passagem que vivenciei. Em 1967, quando dirigí a seleção carioca que venceu o campeonato brasileiro feminino em Recife, tive a oportunidade de ensinar a grande jogadora Luci Borges a arremessar em elevação, ou o jump shoot. Ela se ressentia de não ser convocada para as seleções brasileiras por não saber executar aquele tipo de arremesso. Durante uma semana, já em Recife, e num horário nada usual, 7 hs da manhã, submeti-a a um intenso programa de educativos para o aprendizado daquele tão desejado arremesso. E a Luci, não só o dominou, como foi convocada para a seleção que venceu os Jogos Panamericanos daquele ano.
Era uma jogadora adulta e experiente, mas que pode adquirir novas técnicas que jamais a tinham ensinado. Cara Alessandra, procure alguém que a ensine, e cobre, esse tipo de conclusão, para que duplique sua já considerável eficiência. E se nenhum de seus técnicos se interessarem, como constatamos que jamais o fizeram, reveja seus jogos, com calma e parcimônia, e tente por si mesma tal correção. No jogo de hoje, contra a Australia, foram os erros de fundamentos que nos levaram à derrota, pois num campeonato em que TODAS as equipes se utilizam de um mesmo sistema de jogo, serão aquelas equipes que dominam mais profundamente os fundamentos, as que chegarão às finais. Fico imaginando uma equipe bem treinada nos fundamentos, e possuidora de um sistema que diferisse dessa mesmice que vem assolando o mundo do basquetebol. Seria muito difícil derrotá-la. Mas esses diferentes sistemas existem? Claro, mas não é facil encontra-los, pois é matéria de quem realmente estuda, ama e entende o espirito do grande jogo,
e que se negam a aceitar essa imposição neo-colonialista apelidada de”basquete internacional”.
Mas nossa maioria de técnicos preferem aceitá-lo, por comodismo e economia, pois já vem pronto para o vasto consumo, por pior que seja.

TROPICALISMO

Elas chegaram pelo norte do país, numa aventura digna de novela, detidas pela imigração por falta de vacinas, já que estiveram treinando e jogando na Martinica e na Guiana Francêsa, zonas com incidência da Febre Amarela. Perderam a primeira partida por ausência, mas chegaram poucas horas antes da segunda, quando venceram com folga e determinação. Observou-se que sua comissão técnica trajava bermudas, mas as jogadoras ainda ostentavam suas peles alvas como neve, o normal em seu país próximo ao círculo ártico. Ficou bem claro que mesmo estando no paraíso antilhano, não puderam se beneficiar das belas e ensolaradas praias do local. Mas, ontem não resistiram, e em pleno mundial se foram para o Guarujá de encontro ao que inexiste em seu país, o calor e o sal morno de uma praia tropical. Todo brasileiro praiero, principalmente os cariocas, conhecem bem o que venha a ser leseira, aquele estado semi-catatônico que se instala num corpo tostado pelo sol em início de temporada de férias. E se a pele estiver a longo tempo sem se expor ao sol, aí é que a leseira se instala com vontade. O processo de desidratação e queima epidérmica prosta e exige reparação demorada. E as lituanas,antes alvas, vão para o jogo bronzeadas e literalmente prostradas do 3º quarto em diante. Deu pena ver aquelas excelentes jogadoras se arrastando atrás das velozes brasileiras, que mesmo cometendo os erros contumazes, se viram livres da energia que suas adversárias esbanjaram nos jogos anteriores. E se não se cuidarem na reposição adequada dos eletrólitos perdidos, poderão sentir o peso de uma tentação irresponsável dentro de uma competição deste nível, e cujo culpado estava lá hoje dirigindo uma equipe travada, mas trajando seu referencial tropicalista numa exuberante bermuda verde, contrastando com seu newlook bronzeado. Engraçado, que somente ao faltarem
2 min. para o término da partida, é que um repórter de campo mencionou a farra da equipe lituana, fato rápidamente comentado pela Hortência no encontro dos comentaristas após o jogo, e que não suscitou de nenhum deles o mais leve comentário, numa atitude de minimizar, e mesmo negar que tal fator não tenha facilitado a vitória brasileira. Mas facilitou, e muito, pois nossa equipe apresentou as mesmas e já corriqueiras deficiências, principalmente defensivas, e que não foram aproveitadas pelas lituanas pelas razões omitidas pelos abalizados comentaristas. Por tudo isso, me preocupa o jogo de amanhã contra as australianas, que mesmo vindo de suas mundialmente famosas praias, aqui aportaram para competir à sério, sem se renderem aos encantos, nem sempre vantajosos de um éden tropical. E contestando aquele comentarista que perante à menção da farra lituana feita pela Hortência, respondeu dizendo-“Isso, foram à praia
no Guarujá e tomaram um chocolate aquí”, lastimo que tamanho erro da excelente equipe lituana, tenha privado a nossa equipe de realmente testar seu progresso e apuro, num jogo para valer, dentro de um campeonato que exige tais duelos, fundamentais para embates futuros e decisivos. Foi uma vitória que deve ser levada com reservas, já que técnicamente frágil, e em condições um tanto irreais, e que podem dar a falsa e perigosa idéia de que atingimos um patamar vencedor, o que não coresponde à verdade dos fatos. Se colocarem os pés realmente no chão, poderemos jogar bem próximo das fortes equipes que ainda teremos de enfrentar.

TELHADOS DE VIDRO

“Mas fulano, ele tem de substituir a fulana, que está mal!” “Concordo, e para isso é que existem os assistentes, para chamar a atenção dele…” ” Sei que sou técnico também, mas aqui minha função, sem faltar a ética(?), é de informar o público…” “Nesses momentos são empregadas as jogadas especiais, que devem ser treinadas(…), e ele deve ter treinado…”. “Não entendo essa jogadora com a experiência que tem não ter participado dos jogos, e que para mim deve haver algo mais sério entre ela e o técnico…”. E por aí vão os “abalizados comentários” dos técnicos atuantes convidados para comentar o trabalho de seus colegas, TODOS profundamente interessados em passar aos ouvintes o que deveria estar sendo feito na quadra, o mesmo que dissessem-“Faríamos melhor!”. E na quadra, sem direito de resposta, mesmo perante erros decisivos, a comissão técnica via ir ladeira abaixo seu conceito de jogo equivocado, mas teimosamente mantido. E na fala constrangida de quem realmente lá esteve e lutou a grande Hortência se esforçava em analisar o que via, e não conceituar o que não devia, numa atitude ética, contraditória com os demais analistas. Mas, qual minha opinião? Creio que, pelo posicionamento que venho mantendo nos inúmeros artigos publicados nesse blog, o que ocorreu
neste jogo contra a Espanha, reflete com absoluta precisão, quão absurdos tem sido os caminhos
trilhados pelo nosso basquetebol nos últimos 20 anos, escravo de administrações caóticas e desprovidas de um mínimo de competência, assim como, a omissão proposital e interesseira da grande maioria de nossos técnicos ditos como “de ponta”, em suas guerrinhas particulares, egoístas e desprovidas de inteligência, todos no afã da conquista do velocino de ouro, não importando os meios, desde que sejam bem sucedidos em suas pretenções. Pretenções estas que passam pelo ridículo de defenderem associações de técnicos e de jogadores, defenderem o diálogo interpares, cursos de aperfeiçoamento, bibliografia especializada, e um sem número de outras
“salvadoras” propostas, sem que nunca tenham sequer pensado em realizá-las, principalmente quando lá estiveram, no cimo deste monte de coisíssima nenhuma. Nossa seleção de guerreiras,
boicotadas e esquecidas em suas lutas para sobreviverem das parcas migalhas que lhes dirigem
todos estes”abnegados”, que se locupletam com suas glórias, voltando-lhes as costas a seguir,
num movimento cíclico que beira à insanidade, não tiveram hoje, em sua solitária luta contra as espanholas, a ajuda que deveriam, por suprema justiça, ter de uma comissão técnica defasada
e voltada para si mesma, assim como jamais tiveram efetiva ajuda e consideração por parte
daqueles outros , que sentados em seus gabinetes de aspones, ou empunhando microfones tecem loas aos seus conhecimentos,inóquos ante a realidade da quadra. Meu gurú de bons e pertinentes ensinamentos, meu pai, dizia do alto de sua encanecida vivência e sabedoria-“Filho, quem tem telhado de vidro, não joga pedras nos dos vizinhos”. Que os deuses o tenham.Amém.

ESTRÉIAS.

Tivemos hoje três estréias neste inusitado mundial, as equipes da Austrália, Lituânia e Brasil. As duas primeiras, com equipes fortíssimas e muitíssimo bem treinadas, não tomaram conhecimento das adversárias africanas, e demonstraram que vieram para o pódio. A do Brasil, depois da pífia avánt premiére de ontem, estreou seu poderio individual, e tão somente ele, para vencer com sobras as pequenas coreanas. Mas, continuou a apresentar uma defesa passiva e pouco técnica, haja visto os mais de 80 pontos que levou, entremeados de um sem número de arremessos de 3 pontos, o que gerará um desconforto enorme quando mais adiante se defrontar com as equipes mais fortes nesse fundamento, principalmente a americana, australiana e lituana. No aspecto tático somente a equipe lituana apresentou algo que difere da mesmice geral,com a utilização inteligente de duas armadoras evoluindo fora do perímetro, e três altas jogadoras se revezando dentro do mesmo, num estonteante carrocél de altíssima eficiência. Todas as outras equipes, utilizando o sistema americano do passing game, numa ladainha monocórdica, somente quebrada por um punhado de excelentes artistas e suas teimosas e personalíssimas improvisações, para desespêro de alguns técnicos, incluindo o nosso. Até nos gráficos de apresentação dos quintetos iniciais, mostrados pelas TV’s, vê-se um desenho posicional formado por uma armadora central, duas alas e duas pivôs ladeando o garrafão, numa imposição da famigerada e infundada conotação de jogadoras nas posições 1,2,3,4 e 5, onde fica faltando somente a 6 para se equiparar às posições do voleibol, como se o basquetebol fosse um jogo de ações posicionais como aquele. Mas sempre aparece alguém do contra, mesmo que não vença a competição, incutindo na cabeça de alguns, sei que poucos, uma sadia dúvida que contrapõe ao prét-a -porter em que transformaram esse belo jogo, o grande jogo. E a Lituânia, lá dos confins bálticos da extinta União Soviética, vem refrescar pétreos conceitos da turma que não se dá conta do quanto vale um conceito renovador, mesmo pagando o alto prêço de não vencer. São
formidáveis atacando e defendendo na “Linha da bola” mesmo, com flutuações lateralizadas, e não longitudinais à cesta, permitindo que suas altas, porém ésguias pivõs marquem pela frente, economizando faltas pessoais preciosas. Atacando, o fazem com precisão cirúrgica, em que todas se deslocam permanentemente utilizando com maestria e paciência seus 24 segundos de posse de bola. Podem até não vencer, mais deixam um recado arejado de que se pode(e deve-se)
sempre buscar o novo, mesmo que utópico para a medíocre maioria, americanos inclusive. Muita
competição ainda está por vir, e espero que nos confrontos de quartas e semi-finais possamos
testemunhar algo de muito novo, dentro do panorama pachorrento que nos impuseram com o sistema alcunhado de “basquete internacional”, ou “basquete moderno”, que de moderno mesmo
só desenvolve a idéia absolutista de um sistema único na forma de jogar e evoluir dentro de uma quadra de jogo, fator facilitador no intercâmbio de jogadores, que em suas padronizadas posições propiciam os duelos de 1 x 1, que é a variável de maior sucesso para o público americano, mas que não se coaduna com o basquete FIBA, mesmo que a maioria de seus técnicos sigam os conceitos técnico-táticos emanados da NBA e WNBA. Por isso, exemplos como os da Lituânia são bem-vindos para a evolução do basquete mundial, provando a existência qualitativa de sistemas de jogo fora do eldorado norte-americano.

CÓPIA XEROX.

E as guerreiras quase deram chabum, e por muito, muito pouco escaparam de um vexame histórico. Dá pena ver um grupo de boas jogadoras, algumas ótimas, amarradas numa camisa de força disfarçada em um sistema de jogo simplesmente ridículo, cópia xerox do que foi, e vem sendo imposto ao nosso basquetebol por uma curriola que o intitula de “sistema moderno do basquetebol internacional”, e que nem as equipes estrangeiras ousam usar. Se ao final do jogo, o nosso integrante das comissões técnicas da UNICBB não lançasse as duas únicas armadoras em quadra, incutindo um minimo de técnica e precisão aos passes e dribles , a derrota poderia ter acontecido, pois nuestras hermanas, com todas as suas limitações, souberam muito bem se aproveitar do arremedo de sistema de jogo que empregamos por todo o tempo. Temo, honestamente, que se a equipe se utilizar do mesmo para o restante do campeonato, poderá ter péssimas surpresas, basicamente ao se defrontar com defesas zonais, o que nossas adversárias já captaram, e sem dúvida nenhuma explorarão ao máximo. Tinhamos de ter na equipe, pelo menos mais uma armadora de talento, pois a exigência e o rítmo intenso das partidas serão demasiados para somente duas especialístas com que contamos, o que obrigará a adaptação das
duas alas mais experientes, fragilizando aquele fundamental setor de nosso ataque. Pelo que pudemos observar nas equipes que se apresentaram nesse primeiro dia, TODAS se utilizam de duas armadoras habilidosas, liberando e municiando suas alas e pivôs continuamente, em velocidade e ritmo de jogo, que não sofriam descontinuidade por terem mais duas na reserva.
Mas nós, que detemos o supremo conhecimento do grande jogo, verticalizamos nossas equipes em detrimento de armadores habilidosos, como se bate-bola e aquecimento, como numa vitrine de potência e estatura, ganhasse jogos à priori, para gáudio de técnicos boquiabertos pelo gigantismo que tem sob seu mágico comando. Já que tão fascinados pelo basquete americano, onde estagiam frequentemente, seria oportuno constatarem a grande lição que essa equipe está oferecendo de “moderno”, ou seja, jogando com duas armadoras, duas alas e uma pivô, todas ágeis, elásticas, velozes, hábeis nos fundamentos, e sendo substuidas por outras com técnicas semelhantes, jogando num sistema de jogo insinuante e perpendicular à cesta, tendo como base de ataque um outro sistema poderoso, sua defesa irretocável, pois constituida de técnica e vontade, e bem diferente do sistema utilizado pela seleção masculina.”Moderno” é possuir técnica individual, é dominar os fundamentos do jogo, é ter em mente que defesa, antes de ser, como muitos afirmam, 80% de vontade e 20% de técnica, é exatamente o contrário, ou seja, 100% de técnica e árduo treinamento, pois “vontade e disposição de marcar” é obrigação para qualquer jogador que se preze. É de dar dó ver uma única armadora dar um passe lateral e ir se esconder por trás da defesa adversária, saindo totalmente do fóco das jogadas, delegando sua posição a uma ala ou pivô que dá continuidade a uma ciranda inóqua de passes periféricos, enquanto duas jogadores em posição de pivô se postam inertes e anuladas no garrafão, assim como na defesa, irrita a passividade e pouca agressividade, dando ensejo a muitos e muitos arremessos de três pontos, que no nível em que se joga um mundial, são utilizados sem cerimônia. Temos boas jogadoras, não temos sequer um arremedo de sistema de jogo. Temos o fator campo, mas uma parca torcida, que na capital econômica do país, não pode se dar ao luxo de substituir o trabalho por um jogo de basquete vespertino.Porque nós brasileiros temos de acompanhar transmissões de jogos pelas madrugadas e os estrangeiros não?Porque não jogamos no último horário, já noturno? Temos o clima e o ambiente pátrio, mas, definitivamente não temos, de longo tempo, um basquetebol organizado, estudado, pesquisado, difundido e massificado, para que ecloda do mesmo nossas seleções, assim como nos falta um pingo de bom-senso para que nos deixemos enganar por arautos do “basquete moderno”, produto de suas mentes oportunistas e equivocadas, tanto de dirigentes, como de comissões técnicas. Milagres como a última bola do jogo, misturam sentimentos de vitória e inconformismo, ante tanta falta de caráter desportivo. Sinto muito,caras e prezadas guerreiras, mas não vejo como serão ajudadas e orientadas por uma comissão que se esconde atrás de um emaranhado de rabiscos numa prosáica e nati-morta prancheta, em nome do, do… ora, deixa pra lá.

AS GUERREIRAS

E ai está o grego melhor que um presente,tecendo comentários ufanistas sobre o mundial feminino que começa terça-feira, analizando a equipe brasileira como se técnico fôsse. São comentários dignos de um dirigente que tudo faz e produz para que essa equipe represente o basquete feminino brasileiro, aquele mesmo que tem de sua parte todo o apôio e organização, desde a formação de base, até os grandes campeonatos e torneios que fazem dele o que realmente é. O que realmente ele é? Advinharam? Nem é preciso, basta ver a relação das doze selecionadas, e vermos, consternados, que a sua estrela maior não atua em nenhuma equipe, e que a esmagadora maioria das demais se espalham pelo mundo, da Coréia à Polonia, afugentadas que foram,de longa data, pela inépcia administrativa do senhor analista. Mas que grande milagre faz com que, apesar do literal abandono a que sempre foi relegado, esse valente basquete feminino brasileiro, sempre comparece com brio e grandes resultados nas competições internacionais? Simplesmente um grupo de excelentes técnicos e técnicas, que não deixam, como nunca deixaram a peteca cair, principalmente no estado de São Paulo, mas que na hora de verem o resultado de seus imensos esforços recompensados quando das maiores conquistas dessa equipe formidável, viram a direção da mesma entregue, por motivos políticos, a quem não de direito numa administração anterior, e arrasada administrativamente na atual. Mas a turma é insistente e profundamente comprometida com a formação de base, e aos trancos e barrancos mantêm acesos seus ideais, e de acreditarem sempre em dias melhores. No entanto, algo me preocupa nessa equipe, o fato de ter sido estabelecido para a mesma os princípios técnico-táticos que levaram a equipe masculina para o fundo do poço, ou seja, a implementação maciça do mesmo sistema de jogo daquela, com uma aplicação determinante do passing game, que parece ser a marca registrada dessa lamentável administração, também do lado técnico. Fica bastante claro que as comissões técnicas da UNICBB se pautam por este sistema de jogo, que no caso da equipe feminina não se adequa, pelo fato da mesma ser composta de jogadoras mais hábeis nos fundamentos que a equipe masculina, e que a convocação de duas únicas armadoras puras,responsáveis pela dinâmica da equipe, e pela iniciativa defensiva fora do perímetro, poderá vir a ser danosa, pois numa competição intensa e rápida como esta, uma contusão, ou mesmo o desgaste natural nas partidas, poderá deixar a equipe fragilizada nesta básica função. Ao contrário da masculina, pode essa equipe contar com alas verdadeiras, e boas e experientes pivôs. Mas no momento por que passa a modalidade, atrelada a principios totalmente díspares às nossas reais e tradicionais aptidões, nada mais poderá nos convencer de que algo possa ser mudado e estabelecido, a não ser que um movimento renovador surja de fora desse lastimável e tenebroso emaranhado em que transformaram, o que foi um dia, a segunda paixão desportiva do povo brasileiro, hoje vítima de chacotas e imerecido desprezo, portas abertas ao irremediável e doloroso esquecimento. Mais uma vez, nossas valentes guerreiras estarão na linha de frente, mesmo que abandonadas e esquecidas por uma retaguarda pusilânime e covarde, mas que não se privará dos louros, se estes vierem a, mais uma vez, acontecer. Torço por elas, as guerreiras
desse nosso injusto país.

LIDERANÇAS

Mundial terminado, nossa seleção nos últimos postos, e a proximidade de um pré-olímpico que classificará somente duas equipes para os Jogos Olímpicos, entre as quais os Estados Unidos, a Argentina, Porto Rico, Canadá, Uruguai, Venezuela e nós. É uma situação extremamente difícil, assim como mais difícil ainda a classificação de nossa equipe. Tudo fruto do verdadeiro massacre técnico-administrativo que nos impingiram nos últimos 20 anos. Da última eleição para a CBB até os dias atuais, alguns esporádicos movimentos federativos de oposição, e um pequeno grupo de jornalistas, em sites, blogs e uma coluna jornalística que resistiu até pouco tempo atrás, foram, e estão sendo, as únicas vozes discordantes e combativas no limbo em que transformaram o basquete brasileiro. Muitas são as necessidades que se impõem ao nosso basquete, e uma delas,
talvez a mais importante no aspecto técnico, é a total ausência de lideranças entre os técnicos. A inexistência de associações regionais de técnicos, e de uma associação nacional que as integrassem são produtos dessa ausência. Nos países que lideram o basquete internacional, as associações de técnicos exercem papel preponderante para o progresso técnico de suas federações e equipes nacionais, pela interação conjunta de seus trabalhos, estudos e pesquisas. O progresso de um, sendo o de todos, propicia progresso e continuidade, chave do bom trabalho. E os lideres dessas associações eram os técnicos de maior renome em seus países, cujas lideranças
motivaram a criação das mesmas. Em nosso país, os grandes e prestigiados nomes , alguns com forte apôio da mídia, jamais, e em tempo algum se manifestaram na defesa e na criação de associações de técnicos. Hoje, alguns deles vêm a público defender as inexistentes associações,
resultado de suas omissões. Foram e são técnicos importantes na história do basquete nacional,
mas que sempre se preocuparam em ocupar e defender um mercado restrito na divisão principal
não se importando com a base, e muito menos com a formação de novos técnicos, futuros e eventuais proponentes a seus cargos. O abandono desses segmentos, base e formação, nos levaram ao estágio que ora ocupamos no concerto internacional, perdendo posições inclusive, no continente sul-americano. Somem-se aos desmandos de federações, em concluio com a CBB, no que se referem aos mencionados segmentos, e temos um fiel retrato da situação vigente. Tudo de uma previsibilidade contundente, mas que para essa turma “foi bom enquanto durou, e ainda durará”, até que a vergonha nacional os espurguem do caminho não trilhado, traído, esbulhado e irremediavelmente perdido. Mais uma vez ficaremos longe de uma Olimpíada, contrariando as cínicas afirmativas de dirigentes destituidos de ética, e vergonha na cara. Sinto que não estou sozinho nesta indignação visceral, de quem ama profundamente o grande jogo, e que testemunhou através os últimos 45 anos o quanto é formidável na educação de jovens, no preparo de cidadãos e no olimpo de grandes atletas. A todos eles reverencio suas lutas, sacrificios
e, na grande maioria dos casos, suas silenciosas, porém vitoriosas caminhadas. Os grandes líderes, os verdadeiros, não se impõem através conchavos políticos ou coberturas de midia, mas eclodem pelo duro trabalho, pelo estudo, pelo talento, pelo voto de seus pares e comandados, pelo resultado de seus jamais finitos trabalhos, cuja continuidade é legada às gerações que o sucederão, e que reconhecerão quão fundamental foram suas mensagens, ensinamentos, e
basicamente, seus exemplos. Sei que eles existem, sinto-os presentes neste momento de definição e decisões. No entanto, é preciso que os tornemos ativos, dando aos mesmos o apôio necessário para que exerçam suas lideranças, e para que essa realidade se torne verdadeira
lanço um grande desafio a todos os basqueteiros de nosso país, reunam-se, discutam e debatam
com ardor, em busca de soluções, através idéias, projetos de cunho regional, e verão que as lideranças ocorrerão naturalmente. Estou propondo que o façamos aqui no Rio, e quem sabe
ouviremos ecoar no restante do país o grito visceral-CHEGA DE EMBUSTE. Amém.

FINAL DE FESTA

E o mundial chegou ao fim. Venceu a Espanha com todo o merecimento, fruto de um longo e bem planejado trabalho de bases. Porque e quais bases? Primeiro, pela qualificação de seus técnicos, que ao longo dos últimos 20 anos sedimentaram uma das associações de técnicos mais prestigiosas e fecundas da Europa. Segundo, originando um trabalho de formação, especialização e pesquisa a que submeteram algumas gerações de talentosos jogadores, culminando no título que hoje alcançaram, o de campeões mundiais. São as bases do sucesso, as quais não possuimos. Gregos, norte-americanos, argentinos e italianos, também se fundamentam nessas bases, e por isso estão na dianteira do basquetebol mundial. Nos anos 70 tentamos implantar aquelas bases, numa época em que, exceto os americanos, todos engatinhavam na organização de suas associações. Nossas iniciativas foram esmagadas pela política exclusivista e ditatorial de um cartel chamado CBB/Federações, que viam nas iniciativas um perigo latente de perda de poder, um despropósito que nos fez regredir indelevelmente. A turma do hemisfério norte, mais os argentinos assumiram a idéia, e hoje colhem os louros de suas corajosas opções. Quando fui para Portugal fazer o doutoramento, pude conviver estreitamente com aquelas associações, frutos dos sonhos de um Pedro Ferrandiz, Juan Tena na Espanha, Teotônio Lima, José Curado, Herminio Barreto em Portugal, Pietro Gamba na Italia, Novosel na Iuguslávia, nomes dentre muitos outros
trabalhando visando o progresso do grande jogo. Por aqui o desprestígio e o ocaso àqueles que ousavam enfrentar o poderoso cartel com seus pré-gregos. E agregados aos mesmos, um grupo de técnicos unicamente voltados a seus interêsses pessoais e econômicos, na defesa de um mercado fechado e na maioria das vezes bancado por próceres politicos encastelados em prefeituras interessadas no marketing do nascente “interesse”que o desporto ensaiava entre nós.
Em nenhum momento estes pseudo-lideres se voltaram para as bases estruturais, fundamentais
na formação e associação dos jovens técnicos, e a formação dos mais jovens ainda jogadores.Aos poucos a fonte das verbas oficiais e empresariais foi secando, ante o primarismo organizacional
da modalidade, o que nos levou ao triste patamar que hoje vivemos. Mas, eis que de repente, representantes desse mesmo grupo se auto-proclamam redentores do basquete brasileiro, e ao vivo e a cores reinvidicam para sí os proclames da necessidade urgente da associação de técnicos, e de um profundo projeto de formação de base, como algo inédito entre nós, e inclusive um deles coloca à disposição os conhecimentos que trouxe de recente viagem a Europa.Todos pertencentes a uma casta com fortes apoios de midia, e que nunca, em tempo algum, empunharam a bandeira
que agora pretendem desfraldar. Conclamo a todos aqueles técnicos, que desde os mais recônditos lugares deste enorme país, trabalham em condições as mais precárias possíveis, mas que acreditam na possibilidade, que reconheço dificil, de acesso à informações técnicas, a pequenos, porém bem-vindos cursos de atualização, a humildes, porém honestos estágios, à divulgação de seus honrosos trabalhos, à troca de experiências, à melhores materiais, ao reconhecimento de sua importância social, fazendo merecedores de um salário, conquista básica
de sobrevivência pessoal e de seu trabalho, para que não se deixem, por mais uma vez, enganar
por grupos e lideranças que jamais lutaram por eles, mas vêem no discurso a certeza de um continuismo inaceitável e oportunista, digno de um triste e constrangedor final de festa. Organizem-se em seus estados e cidades, procurem informações junto àqueles que possam e se disponham a fornecê-las(a internet pode ser uma ferramenta auxiliar poderosa nessa procura), e quem sabe poderemos testemunhar o nascimento , ou mesmo, o renascimento do nosso mal-tratado e judiado basquetebol. Amém.

OS GREGOS DE LÁ, E O GREGO DAQUÍ.

“Estou maravilhado!” “Quem poderia imaginar tal equipe?” “Uma aula de basquete que deveria ser gravada para ensinar aos jovens como se joga!” “Estou emocionado pelo que vejo, nunca poderia imaginar…” “Fantástica partida dessa surpreendente equipe grega!” Todas, opiniões dos comentaristas surprêsos pelo que testemunhavam. Mas, quem estava jogando contra os fantásticos americanos, era simplesmente a campeã européia, que decidiu o campeonato com os espanhois, também finalistas neste mundial. Para quem somente têm olhos e mentes para o galático espetáculo da NBA, realmente deve soar extranho uma final em que o idioma inglês esteja ausente. Mas esquecem as palavras do Mike Krzyzewski, publicadas em rodapé por aqui, onde afirmava” que muito estava aprendendo neste mundial, e que estava surprêso com a qualidade de jogadores e equipes presentes na competição”. E mais surprêso ainda deve ter ficado, quando se viu prisioneiro de uma estratégia militar, logo ele que se formou em WestPoint, que recriou em macro escala a odisséia das Termópilas. Nesta batalha, onde 300 espartanos atrazaram o avanço de mais de 50 mil persas, fazendo-os convergirem para aquela estreita passagem, como num gargalo, onde poderiam se antepor à poderosa massa atacante. E o fizeram
até a morte do último soldado, dando tempo para que o exército principal se organizasse para a definitiva defesa do país. E combateram sob o lema de “jamais pergutarem quantos eram os inimigos, e sim onde se encontravam”. A equipe grega, repetiu as Termópilas, atraindo sequencialmente a pujança fisica e atlética dos poderosos americanos, trazendo-os para o âmago de sua fortíssima defesa por zona, onde suas reconhecidas habilidades no jogo de um contra um se diluiriam ante dois, e até três defensores dispostos a barrarem seus caminhos. Mas para isso, ou seja, atraí-los, se valeram de ações diversivas, colocando-se quando fora do perímetro defensivo em uma aparente, porém enérgica defesa individual, dando a falsa idéia de que uma finta os levaria soltos para a cesta. Nestes momentos, a defesa se transmutava em uma zona feroz, bloqueando os afoitos atacantes. A armadilha deu certo em grande parte das tentativas americanas, forçando-os ao jogo fora do perímetro, onde sua eficiência pontual era bem menor que a de choque embaixo da cesta. O gargalo das Termópilas foi recriado, e os americanos se embrenharam por ele e se machucaram. No ataque, mais uma lição de estratégia militar( como é importante se conhecer o raciocínio dos técnicos adversários, que no caso do Mr.K se baseia em disciplina e distribuição de forças, não fosse ele cria do mítico Bob Knight, ambos egressos do meio militar), quando os gregos, sabedores da total impossibilidade dos americanos optarem por uma defesa por zona, por não saberem e nem aceitarem seu uso, teriam de se submeter a uma agressiva defesa individual, e por isso necessitariam obter, e mesmo criar espaços para evoluirem, em consonância com a utilização total do tempo disponivel para cada ataque a que tinham direito. E como fazê-lo? Baseando-se nas vitoriosas escaramuças defensivas a que sujeitavam os ágeis, porém imaturos americanos, colocando-os em dúvida quanto às suas reais qualificações, se espalharam na quadra de ataque, utilizando-se de somente um pivô muito forte,
mas de grande mobilidade (um deles com cerca de 145 kg!), e com grande destreza nos dribles e nos passes sempre incisivos, criaram as duas mais impactantes possibilidades de cesta.A primeira quando após profundas penetrações a bola era retornada em velocidade para os arremessos equilibradíssimos de 3 pontos.A segunda, quando os ágeis e rápidos pivôs se lançavam de encontro aos passes, dinamizando suas ações, sempre um tempo adiante de seus marcadores. E nessas idas e vindas da bola, num vendaval de dribles e passes extremamente rápidos, foram se distanciando dos americanos, desgastados pela determinante vontade defensiva daqueles valentes espartanos. O risco calculado de jogarem integralmente cada 24 segundos a que tinham direito, e de arriscarem as faltas pessoais no embate corpo a corpo que travaram duramente e por todo o tempo da partida, deram aos gregos a única vantagem que poderiam alcançar para a vitória, a força hercúlea de sua cultura milenar que se fez presente em sua determinação e espírito conjunto de sacrifício, ante um grupo brilhante de atletas, porém reféns de um posicionamento de falsa hegemonia, produto de uma também discutível liderança mundial. As palavras de Carmelo Anthony antes da partida definem bem esse posicionamento-
“Viemos para cá com a mentalidade de vencer os jogos e a medalha de ouro”. Mas o cerebral técnico Panagiotis Yannakis encerra a discussão e as eventuais dúvidas afirmando-“Você pode sair do banco com uma mente clara e dar o melhor de seu talento, e foi o que fizeram nossos jogadores hoje”. Enquanto isso, o nosso grego melhor que um presente respondendo a uma pergunta se pensava em sair da CBB, feita pelo colunista Luciano Silva do Databasket,afirmou- “Se a maioria dos clubes e presidentes de federações pedissem ele convocaria uma nova eleição. Tudo pelo bem do basquete nacional”. Mas como dono das chaves dos cofres seria um ato de pura retórica, pois os votos são mais do que conhecidos, manipulados e garantidos. Sua cultura grega e milenar se perdeu nos meandros da esperteza nacional, na contramão de seus brilhantes e éticos conterrâneos. Pobre do basquetebol brasileiro, que até para dirigí-lo tem o grego errado.