MUNDIAL- O DÉCIMO PRIMEIRO DIA: O ÉDEN DOS TRÊS…

A curva ascendente do sistema único universalizado de jogo, o grande modelo NBA, finalmente chegou ao seu ápice, quando, mesmo antecedendo a adoção da nova linha de três, acrescida em 50cm além dos atuais 6,25m, tornou os arremessos além desta distância o fator de desequilíbrio nos jogos deste Mundial, vide o arremesso do jogador Teodosic da Servia, frente a um defensor de 2,07m à sua frente, e faltando 3seg para o término da posse da bola no seu derradeiro ataque, levando de vencida a equipe campeã mundial, a Espanha, e a enxurrada de acertos turcos em seus longos arremessos frente a uma Eslovênia indefesa ante tamanha performance.

A grande maioria dos jogos têm sido definidos desta forma, mesmo ante equipes com sólidas defesas, mas que ficam a meio caminho de dobras interiores, a fim de evitar altas  pontuações  dos pivôs adversários, ou deixando espaços para os arremessos exteriores advindos dos passes de dentro para fora do perímetro.

E cada vez mais especialistas nestes longos arremessos se fazem presentes em todas as equipes, beneficiando claramente aquelas que os possuem em maior número, ficando evidenciado, mesmo em equipes de países culturalmente  mais evoluídos, que o fator primal de defesa de sua área mais intima, no caso do basquetebol, a zona restritiva e a cesta, é aquela que deve ser protegida e defendida a todo custo, pois emula o bastião final de seu domínio,  unificando a defesa em torno do mesmo.

E por conta desse legado primal, origem das Battles under Basket, desenvolveram-se as técnicas mais sofisticadas dos arremessos de longa distância, reino absoluto dos grandes especialistas, artistas na difícil e precisa arte dos arremessos de três pontos.

Então, o que fazer para equilibrar tal desproporção entre ataque e defesa? Como agir para, que ao menos, possamos diminuir a incidência de tamanho poder de pontuação?  Como tentar fazer valer a evidência histórica de que sucedendo a um domínio ofensivo sempre advirá um progresso e conseqüente domínio defensivo que o anulará, gerando um rodízio de influências, que são os reais valores de toda uma evolução técnico tática?

Acredito firmemente que duas imposições se façam necessárias, a fim de que possamos enfrentar com algumas vantagens este ciclo de domínio ofensivo, tentando revertê-lo, originando mais adiante um novo, e quem sabe, mais letal ciclo, numa busca ininterrupta de novas vertentes técnico táticas.

A primeira, seria voltada ao preparo mais acurado possível de uma sistema defensivo, onde as dobras pudessem ser substituídas por coberturas mais eficientes e dinâmicas, onde a marcação dos pivôs permanentemente à frente os obrigariam a fugir do interior da zona restritiva, posicionando-os sagitalmente à cesta, num posicionamento mais vantajoso para ser obstado e marcado. Esse posicionamento defensivo liberaria a equipe das dobras, fazendo com que os jogadores abertos, aqueles especialistas nos longos arremessos pudessem ser marcados bem mais próximos, alterando em muito suas eficiências anotadoras.

A segunda, é que tão preciso e sofisticado sistema defensivo, fosse baseado na linha da bola com flutuação lateralizada, cujos detalhes técnicos e posicionais podem ser perfeitamente compreendidos nesta matéria.

No entanto, tal mudança de caráter defensivo tem de vir acompanhada de uma preparação localizada na base do processo de ensino do grande jogo, pois defesa, saber defender, treinar e aperfeiçoar defesa, é um dos fundamentos mais importantes do jogo, senão, o mais importante.

Defesas sólidas e precisas só são bem sucedidas se os jogadores as souberem praticar com pleno conhecimento de suas especificidades, e de suas fundamentações técnicas. Nenhuma defesa é mais difícil de ser praticada do que a defesa por zona, que somente se torna eficiente se cada jogador envolvido com a mesma seja um excelente defensor individual. A somatória de cinco bons defensores individuais é que a caracteriza em eficiência e confiabilidade.

E com defesas bem postadas, e presentes dentro e fora do perímetro, é que poderemos obstar com algum sucesso o caudal de arremessos de três que nos afogam presentemente, situação esta que temos urgência em enfrentar, começando nas divisões de base, onde as defesas zonais deveriam ser proibidas até os 15 anos, e o tempo de posse de bola deveria ser estendido até os 35 seg, a fim de que o desenvolvimento físico e mental natural dos jovens seja respeitado em seus ritmos peculiares, orientando sua formação direcionada aos fundamentos, onde saber defender é um deles, repito, talvez, o mais importante.

Enquanto essa reversão não acontece, apreciemos a quanto chegou o desenvolvimento das técnicas de arremesso em todo o mundo, e a  incapacitação em detê-los no presente, originados que são do sistema único de jogo, cuja curva ascendente, mencionada no inicio do artigo, tenderá, historicamente, a descender, na medida que defesas evoluam nesse sentido.

Que tal iniciarmos este novo ciclo? Temos competência para, ao menos, tentar?

Tive coragem de iniciá-lo no Saldanha, mas não me deixaram continuar… Vida que segue.

Amém.

MUNDIAL- O DÉCIMO DIA: A DURA REALIDADE…

Observem bem essas fotos, e constatem o poder ofensivo de pivôs que driblam bem, passam com segurança, arremessam com precisão, chamam uma dobra para liberarem arremessos de três, trabalham em estreita coordenação com um outro pivô, e tudo isso em permanente movimento dentro do perímetro interno, e teremos uma imagem vencedora, junto a uma equipe solidária e, repito e sempre enfatizarei, permanentemente em movimento, todos, sem exceção.

Disfarçada como utente do sistema único, a equipe argentina sempre atacou com dois armadores, Prigioni e Delfino, revezados para descanso pelo Cequeira, e três homens altos e habilidosos se deslocando em velocidade pelo perímetro interno, Scola, Oberto e Jansen, revezados pelo Gurtierrez, Gonzáles e Quinteros.

Agindo desta forma, sempre preservaram a estatura e o posicionamento reboteiro, assim como os preferenciais arremessos de 2 pontos (22/39 – 56.4%), contra os 17/30 -56.7% da equipe brasileira, e o alto percentual dos arremessos de 3 (11/18 -61.1%), contrastantes com os 12/24 – 50% dos brasileiros, e que somados aos lances livres ( 16/20 – 80.0%), contra 19/25 – 76.0%, os levaram a uma vitoria merecida e irretocável.

Em suma, mesmo atrelados ao sistema único e universalizado de jogo, os argentinos mantiveram solidamente seu principio de atuarem com dois armadores de altíssima técnica, e três homens altos também muito técnicos próximos a cesta, fazendo com que a bola entrasse e saísse do perímetro interno sequencialmente, propiciando arremessos curtos, médios e longos precisos, equilibrados, e principalmente coerentes com as movimentações propostas, culminando com o pleno aproveitamento das imensas qualidades do Scola, que com seus preciosos 37 pontos, frutos do envolvimento coletivo de sua equipe, colocando-o permanentemente em condições de arremesso, conseguiram por mais uma vez, derrotar uma equipe que ainda se mantêm escrava de individualismos exacerbados, e muitas vezes improdutivos.

E mais, conseguiram exercer uma forte defesa no quarto final, depois de preservarem ao máximo seus veteranos jogadores no transcorrer dos três quartos iniciais, e que mesmo assim conseguiram antepor a metade dos 24 arremessos de três da equipe brasileira, conseguindo esta antepor 7 dos 18 tentados pelos argentinos, numa prova cabal de que ainda teimamos em “pagar para ver” o resultado dos arremessos de três adversários.

Jogamos todo o tempo com um só armador que, aliás, teve uma participação soberba, porém muito mais como anotador, do que armador propriamente dito. Huertas jogou muito bem para um armador finalizador, mas não como um arquiteto de jogadas, já que as mesmas foram substituídas pelas performances individuais do Leandro, do Alex e do Guilherme, e praticamente inexistentes para os nossos pivôs, Spliter e Varejão, que somente anotaram 10 e 7 pontos respectivamente, contra os 37, 15 e 7, do Scola, Jansen e Oberto, numa desproporção imperdoável, e apresentando uma conclusão constrangedora, a de não sabermos fazer jogar nossos pivôs, técnica e taticamente, reforçando o posicionamento do Oscar de que pivô ali está somente para pegar rebotes, e fazer uns pontos quando tiver chance. Pelo que vimos, constatamos e sentimos na pele mais uma vez, os argentinos não pensaram dessa forma, e olha que têm também ótimos arremessadores de três, como o grande jogador patrício, com uma diferença fundamental, jogam para a equipe.

Finalmente, o fator mais instigante, mais contundente e revelador, a grande, enorme diferença no domínio dos fundamentos que nos separam dos argentinos, domínio este que somado aos longos anos de pratica e títulos conquistados, auferem aos nossos hermanos, um senso de equilíbrio e total controle emocional de tal ordem, que parecem, e provam a cada jogo contra nós, que na hora da verdade, naqueles segundos decisivos esse controle se fará presente, fluido e vencedor, resultante de um longo e bem planejado trabalho, desde a base, e não o oba oba que se instalou no âmago da formação de nossos jovens e de nossos técnicos, onde a imposição do sistema único, somado à desinformação endêmica e absoluta ausência de um projeto didático pedagógico formulado por quem de direito, culmina, e continuará culminando em decepções como as de hoje, onde o inegável talento de nossos jogadores é limitado pelas deficiências nos fundamentos e na nossa negativa em ir de encontro a novas propostas técnico táticas mais de acordo com nossas qualidades e tradições.

Temos um longo caminho ainda para percorrer, que não será fácil, e custará a frutificar, visando 2016, e somente com mudanças efetivas e até certo ponto radicais, em projetos e pessoal, visando um arejamento multifuncional, é que poderemos almejar atingirmos aquela data com uma geração bem formada, bem treinada e principalmente, cônscia de suas responsabilidades. O contrario será a prova da impostura, da má fé e do oportunismo. O império do Q.I. tem de ruir, pois todos os impérios, um dia, caem.

Amém.

MUNDIAL- O NONO DIA: CONJECTURAS…

Comentar o que na rodada de hoje? Que Angola não tem cacife para participar de um mundial deste calibre, mesmo que professando o sistema único de jogo?  Que a Haka soa um tanto deslocada numa quadra de basquetebol, quando num campo de rúgbi, local de autênticas batalhas, encontra seu cenário ideal?

Dois jogos perfeitamente dispensáveis dentro de uma competição que não admite meias medidas. Duas surras bem dadas, e americanos e russos com data marcada para saberem quem segue na busca de medalhas.

Mas o assunto palpitante, inclusive com caprichadas chamadas globais, tirando uma carona da data magna da independência brasileira, coloca o jogo de logo mais na boca de uma fornalha que pode queimar incautos arautos.

“O dia de nossa independência, será o dia da independência do nosso basquete”, é o jargão de um de nossos craques, num discurso ufanista e fora de propósito. Numa hora dessas, o recato e a concentração deve ser o mote básico de uma equipe cônscia de seu preparo e de seu valor, que são os valores a serem preservados pelos verdadeiros atletas.

Clamar ao publico para que prestigiem e torçam pela seleção é uma coisa, prometer resultados por antecipação é outra. Bola fora para tais manifestações.

Por outro lado, fervem as especulações sobre o jogo, como enfrentá-lo, como vencê-lo, e inclusive já temos analises jogador por jogador confrontados com os argentinos, é claro, obedecendo as posições de 1 a 5 de ambas as equipes, num autêntico confronto de 1 x 1 bem ao estilo NBA.

Numa ocasião em Vitoria, um jornalista me perguntou como classificaria os jogadores que dirigia na nomenclatura odiosa de 1 a 5. Respondi que todos eles jogavam na posição 12.345, sem exceções, pois se não o fossem não jogariam dentro dos sistemas ofensivos e defensivos que adotei para a equipe.

E assim deveria ser a postura de nossa seleção, sem escolhas preferenciais justificando despropositados equilíbrios, como se fosse plausível setorizações estanques  em um jogo de caráter essencialmente coletivo. A base estrutural de uma boa defesa é o seu empenho coletivista, onde coberturas e ajudas se fazem presentes continuamente, onde a doação de um se soma aos dos demais companheiros, unidos e compromissados pelo ilimitado sacrifício, mas nunca perdendo o controle técnico e a leitura objetiva e inteligente do jogo, que é chave das mais eficientes rotações.

Uma de nossas maiores armas, imperceptível para muitos, é a “leveza” de nossos homens altos, exceto o JP Batista, aspecto este que propicia boas e eficientes coberturas e posicionamentos defensivos, mesmo que eventualmente no limiar do perímetro externo, onde o fator velocidade se torna primordial.

Outra vantagem auferida pelos nossos velozes homens altos, é a de podermos empregar uma defesa antecipativa e à frente dos pivôs adversários, reduzindo em muito as dobras, contribuindo para uma defesa mais eficiente e próxima dos arremessadores adversários de longas distâncias, obrigando-os às penetrações  para conclusões de 2 pontos, e não as devastadoras cestas de três.

Uma proposta de jogo de 2 em 2, pelo menos para nós, levaria o jogo para um desfecho bem mais equilibrado, quando, por força dos esforços envidados para evitar ao máximo tais conclusões, e pelo acúmulo de defensores no perímetro próximo à cesta, liberariam os arremessos de três, advindos de passes de dentro para fora do garrafão, de forma mais equilibrada e livre de anteposições.

Enfim, muitos são os detalhes que propiciam a uma equipe se tornar excelente defensora, mas nenhum é mais importante e determinante do que a permanente e inteligente ajuda entre seus pares, onde indecisões, omissões e não assumidas falhas têm de ser minimizadas ao extremo, como fator primordial para constituírem uma eficiente e decisiva ofensiva, uma excelente oportunidade de vitória.

Que assim seja.

Amém.

MUNDIAL- O OITAVO DIA: NOVAS PERSPECTIVAS?…

Nesta segunda rodada de oitavas de finais, eslovenos, australianos, turcos e franceses, repetiram ad nauseum o mesmo basquete que vem sendo jogado por todas as equipes neste mundial, exceto os americanos. Com jogadores de 1 a 5 melhores que seus adversários, eslovenos e turcos passaram às quartas de finais, merecidamente, pois impuseram surras memoráveis a australianos e franceses.

Incrível como um sistema de jogo padronizado e globalizado, ainda se permita ser tão frágil em sua leitura, visando melhores posicionamentos defensivos, principalmente nos bloqueios aos indefectíveis arremessos de três pontos, fator mor no desequilíbrio das partidas.

Mais incrível ainda que, após tantos anos de hegemonia global, tal sistema ainda se paute na construção de espaços para os arremessos de três, sem contestações defensivas, mesmo que meras tentativas, numa permissividade consentida por ambas as equipes em quadra, como um duelo de “quem consegue encestar mais…de três”.

E o inacreditável, é que os espaços ainda ocorrem com freqüência, de ambos os lados, uns um pouco mais limitados, outros nem tanto, originando uma orgia de arremessos, em detrimento de um jogo interior mais presente e efetivo. É um desafio constante, cujo percentual de acerto determinará o vencedor da partida.

Somemos às estas evidências um melhor, apesar de eventual,  jogo interior de eslovenos e turcos, mais determinados e disciplinados, e pronto, o cenário se confirma por placares elásticos e indiscutíveis.

Amanhã e terça feira, o mesmo panorama se descortinará, menos no jogo entre americanos e angolanos, no qual seja o sistema que for utilizado pelos primeiros, nada restará de chances aos jogadores africanos.

Mesmo entre brasileiros e argentinos?  Basicamente sim, sobrevindo uma pequena, porém decisiva possibilidade, a de que um dos oponentes restrinja ao máximo as ações em velocidade do outro, cadenciando o jogo e determinando o ritmo que melhor lhe convier, mesmo sem abandonar o sistema único, porto seguro, e habitual de ambos, e mais, restringindo ao máximo a eficiência nos arremessos longos, trocando-os por outros de curta e médias distâncias, que apesar de mais eficientes, propiciam uma defesa mais efetiva pela proximidade com a cesta.

Serão escolhas e opções cruciais, que quanto menos falharem em suas concepções  maiores serão as chances de saírem vencedores, avançando às quartas de finais, e oxalá sejamos nós estes vencedores.

E com a mesmice em foco, avança para seu final um dos campeonatos mais previsíveis no aspecto técnico tático de que se tem memória na história dos mundiais, daí a importância crucial da proposta americana, visando uma abertura a novos sistemas e novas perspectivas para o grande jogo.

Se um pouco de ousadia se fizesse presente, poderíamos frente aos argentinos emular os americanos, propondo soluções nossas com independência e criatividade.

Ao menos deveríamos tentar, ousar, e quem sabe, vencer.

Amém.

MUNDIAL- O SÉTIMO DIA: REALIDADES E UFANISMO…

Hoje vimos uma Croácia de verdade, jogando o jogo que desejara desde muito tempo, em uma competição mundial, quando se poupou escancaradamente no encontro contra o Brasil, a fim de tentar provar, na íntegra de suas forças, uma supremacia que transcende o campo desportivo, mergulhada numa rivalidade que entre outras pendências, resultou numa conflagração de trágica memória. Os povos balcânicos hoje independentes, se constituem no cadinho da religiosidade européia, onde se cruzam o cristianismo e o islamismo, e o esporte jamais poderia se dissociar desta realidade.

E foi o que vimos, uma batalha inflamada, e surpreendentemente leal, onde duas excelentes equipes, semelhantes em tudo na maneira de jogar, se colocaram à prova em busca de uma supremacia não tão somente desportiva, mas cultural e política também. E não me venham dizer que estou fantasiando, que a equipe brasileira esmagou os croatas, que provamos sermos melhores, etc, etc, pois a simples constatação estatística dos rebotes já colocam por terra aqueles argumentos ufanistas. Sem dúvida nossa equipe atuou bem melhor que das vezes anteriores, mas, infelizmente, e já comentei anteriormente, não foi exigida e testada como deveria ter sido se a Croácia atuasse como o fez no jogo de hoje.

A Sérvia venceu por um ponto, como poderia ter perdido por um também, num jogo de grandes emoções, tendo como cenário o sistema único de jogo, o mesmo que, com exceção da equipe americana, todos, rigorosamente todos os participantes se utilizam, e no qual, o poderio dos arremessos de três pontos atinge sua máxima cotação, com ambas as equipes se movimentando e se posicionando na busca do momento ideal para concretizá-los.

No entanto, quando um dos jogadores croatas, o armador Popovic, se dispôs a decidir o jogo em ações puramente individuais, num embate onde o coletivismo de ambas as equipes atingiu padrão irretocável( ai incluindo os arremessos de três…), todo o esforço de seus companheiros se tornou inútil na busca da vitória, pelo seu rompante egoísta e comprometedor, errando inclusive os dois lances livres que definiriam a partida. Em hipótese alguma podemos enaltecer suas inegáveis qualidades individuais, num momento em que sua entrega ao todo coletivo teria de ser prioritário, o que não ocorreu.

Foi um grande jogo dentro das circunstâncias e expectativas que se fizeram presentes em torno do mesmo, pena que somente uma das equipes pudesse seguir em busca de uma medalha, a bem treinada e competente Sérvia.

O segundo jogo, entre gregos e espanhóis, seguiu praticamente a mesma cartilha técnico tática do primeiro, até um momento do quarto final quando a defesa espanhola se adiantou, pressionou e ao se retrair em seu campo se utilizou de uma defesa zonal que desarticulou a equipe grega, pois as anteposições bem treinadas e sucedidas aos arremessos de três se fez presente, anulando a grande arma grega, incapaz de se impor embaixo da cesta sob a pressão dos grandes pivôs espanhóis.

Teremos nas quartas de final o encontro entre as equipe vencedoras de hoje, e que promete se constituir num dos grandes embates deste mundial. Até lá, seguem as oitavas, que na terça feira colocará frente a frente nossa equipe contra os argentinos, num jogo decisivo às pretensões de ambos neste mundial, e que tantos debates e opiniões vêm suscitando através dos blogs e sites da modalidade, principalmente em torno de uma indagação – Como parar o Scola?

Ao que coloco uma outra indagação- Como marcar a equipe argentina? E mais outra- Como atacá-los?

Acredito que com uma boa dose de imaginação, criatividade e acima de tudo, ousadia, possamos enfrentá-los de verdade, com boas chances de vitória. Agora, se o fizermos agindo com os altos graus de previsibilidade que vêm marcando nossas ações, principalmente as ofensivas, ai não teremos chances ante à forte e confiável base técnico tática argentina, cujo mentor que os liderou na conquista olímpica hoje nos dirige, mas sem contar com a mesma estrutura de base que ajudou a implantar por vinte anos em seu próprio país.

Repito para que não paire dúvidas sobre o meu raciocínio- Somente com “uma boa dose de imaginação, criatividade e acima de tudo, ousadia, possamos enfrentá-los de verdade”, e um bom começo seria pensar defender permanentemente por antecipação, defesa à frente sobre o Scola, obrigá-los às cestas de 2 pontos, e atacá-los, preferencialmente no perímetro interno, sistematicamente.

Mas no fundo, no fundo, esse é um problema a ser equacionado pelo Magnano, e somente por ele, como excelente e competente técnico que é. Especulações se constituem  num livre exercício dialético, nada mais, nos restando tão somente… torcer, e muito.

Amém.

MUNDIAL-O SEXTO DIA: UM JOGO EM P&B…

Decididamente não foi um jogo, vamos assim dizer, normal. De um lado a equipe brasileira atuando seriamente, marcando sem as dobras do jogo de ontem, e por isto mesmo se antepondo às tentativas de arremessos de três dos croatas, cadenciando o jogo no ataque, usando o jogo interior com insistência, e contra atacando pela alta eficiência de seu rebote defensivo, e pela estranha ausência dos rebotes croatas, sua arma mais poderosa desde sempre, onde um Tomic tirou férias ao cometer sua quinta falta ao inicio do terceiro quarto.

Fiquei incomodado com a passividade croata, pelo desinteresse croata, pela ausência de luta e dedicação da forte equipe croata. Não era esta a medida de comparação que estava esperando no forte teste para a nossa seleção, não mesmo. E como o tom ufanista da transmissão da Sportv me incomodava mais ainda, mudei para o canal ESPN, exatamente no momento em que seus analistas  externavam suas estranhezas pelo comportamento de nossos adversários, comentando inclusive que os mesmos não estavam nem tentando  vencer, já que um enfrentamento com a Sérvia, país da antiga Iugoslávia assim como a  Croácia, trariam ao público algumas diferenças a serem resolvidas numa competição mundial, numa rivalidade histórica, e que para nós, enfrentar uma Argentina seriamente desfalcada, seria mais vantajoso do que duelar com a fortíssima Sérvia. Ao que um dos comentaristas adicionou em tom jocoso, de que nem precisaria terem ido ao  ginásio, bastando um acordo no hotel, ou um “rachão” entre compadres.

Os comentários casavam com a minha opinião, de que os croatas não se empregaram física e tecnicamente como vinham fazendo na competição, e como ambos estavam classificados, o interesse de jogar com a Sérvia, como num acerto de contas no campo desportivo( Político? Bélico?…), num cenário de alcance mundial, já que muitas das diferenças ficaram embutidas nos vales dos Balcãns, se fez prioritária, e de uma forma não muito antiética., como num jogo em P&B…

Para a seleção brasileira, que se apresentava bem mais corrigida de seus defeitos crônicos, um maior empenho croata dimensionaria suas reais possibilidades neste mundial, e não um passeio onde o Marcelo Machado teve a oportunidade, até agora única neste mundial, de arremessar absolutamente sem marcação, desde o drible, a troca de mãos e a finta para a esquerda( sua rotina ideal de arremesso) um bom número de tentativas de três bem sucedidas, o que dificilmente se repetirá daqui para diante.

Como bem pareceu ter sido uma decisão unilateral, nossa seleção cumpriu seu papel com uma maior eficiência do que nos jogos anteriores, mas não pode aquilatar com maior precisão suas reais condições técnico táticas, que serão testadas na próxima quarta feira contra nosso grande rival( felizmente só no campo esportivo…), quando somente um dos competidores seguirá a trilha em direção ao possível, porém dificílimo, pódio.

Agora fico realmente curioso com o papel que desempenhará o Magnano, conhecedor profundo dos jogadores hermanos, na preparação e desenvolvimento de nossa seleção para este emblemático e decisivo confronto, já que somente um deles prosseguirá no campeonato. Seu título maior, o de maior significância para um técnico desportivo, o olímpico, foi conquistado, para o supremo orgulho de sua nação, na direção de nossos adversários de quarta feira, e honestamente afirmo, que sua dimensão de técnico superior agora é que será definida, onde os fatores  nacionalidade, pátria e comprometimento profissional, serão testados em definitivo, pois estará em jogo não a sua integridade humana, e sim os mais autênticos valores da competição puramente desportiva, unindo povos, mentes e corações.

E que vença o melhor.

Amém.

PS-Clique na imagem para ampliá-la.

MUNDIAL-O QUINTO DIA: AS FALHAS DEFENSIVAS…

Observem com atenção e frieza as três fotos acima, que muito além de se constituírem matéria jornalística (são fotos oficiais da FIBA), demonstram com exatidão os reais motivos da derrota frente aos eslovenos, pois refletem nossas maiores falhas defensivas.

Dentro do sistema único de jogo utilizado por 23 das 24 equipes neste mundial, um fator defensivo é comum a todos os concorrentes, a opção em defender uma ação interior entre uma anteposição simples, ou uma dobra, pois nada supostamente mais fere um sistema defensivo em seu orgulho, do que ser rompido por arremessos de curta distância, na forma de uma bandeja, ou um gancho curto. Parece que a moral de uma equipe se torna discutível se for superada seguidamente em arremessos curtos, daí o esforço em evitá-los com anteposições duplas, e até triplas.

No entanto, discutível ou não essa moral, a verdade crua é que cada finalização desta somam somente 2 pontos, e não 3, quando o cercado atacante inteligentemente abre um passe para fora do perímetro para que um companheiro seu arremate de 3 pontos, livre e equilibradamente.

Se ao abdicar de uma imponderável dobra, uma equipe opta em contestar um arremesso de 3 pontos, estará cedendo ao atacante somente a possibilidade, que pode ser obstada, de conseguir 2 pontos, os quais poderão ser compensados mais adiante por conclusões do mesmo valor, já que mais precisas pela proximidade com a cesta.

Mas não é, quase sempre, o que vemos em nossa equipe, que ao se preocupar em evitar os arremessos curtos, deixa em completa liberdade atacantes de grande precisão fora do perímetro, que de 3 em 3 pontos se distanciam firmemente no placar, tornando as ações reativas difíceis e na maioria das vezes, descontrolada.

Somente um sistema defensivo baseado na flutuação lateralizada poderia suprir tal deficiência, que é uma variação da defesa linha da bola, pouco ou nada utilizada por nossa equipe.

E foi esse o panorama defensivo da partida, principalmente no segundo quarto, pródigo, juntamente ao último quarto, em arremessos de 3 pontos, resultantes atraentes das sucessivas dobras que nossa equipe teimosamente executava, pois em nenhum momento da partida nos antepomos aos longos e precisos arremessos eslovenos, avalizando decisivamente nossa real incapacidade de bloqueá-los eficientemente.

A similitude ofensiva de ambas as equipes, gerou algumas situações dignas de analise, principalmente quanto à nossa armação, que entregue inicialmente ao Huertas, prosperou até o momento que o bom jogador começou a receber dobras defensivas bastante enérgicas, chegando a perder a bola em duas delas, que em momento algum foram punidas com faltas, o que o tornou irritadiço, e por conseguinte, muito menos eficiente e algo desconcentrado pelo descontrole emocional. Seu substituto, Nezinho, apesar de manter um ritmo razoável no ataque, falhou muito nas anteposições dos arremessos de três da equipe eslovena, comprometendo bastante sua eficiência.

Falhamos bastante e estrategicamente no ataque, ao optarmos pelos arremessos longos, em vez de insistirmos no jogo interior, ação esta bem utilizada no quarto inicial, quando provocamos importantes faltas pessoais nos altos pivôs eslovenos.

Mas nada comparável ao terceiro quarto, quando paralisamos o ataque esloveno, incapacitado por uma defesa por zona clássica, não por não saberem atacá-la, mais sim pela brusca quebra do ritmo ofensivo que vinham exercendo nos dois quartos iniciais.

E neste precioso momento da partida, que não soubemos ter paciência de equilibrarmos o placar com cestas de 2 em 2, e não através tentativas imprecisas de 3, somente conquistadas no último quarto por um Marcelo Machado inspirado. Mas ai não tivemos o tempo a nosso favor, e bem mais, o bom senso técnico tático totalmente comprometido por uma formação de equipe falha nas convocações, principalmente no concernente aos armadores.

Logo mais, contra a Croácia, para vencermos precisaremos otimizar três pontos: – Jogarmos intensamente o jogo interno, visando cestas mais precisas, e provocando faltas dos defensores.

– Evitarmos ao máximo as dobras, a fim de termos tempo e espaço para as contestações aos arremessos longos dos croatas.

– Selecionarmos energicamente os arremessos e os arremessadores de longa distância, reservando àqueles que realmente o dominam, a incumbência de executá-los, e somente eles.

Enfim, nos situamos numa encruzilhada em que velhos erros devem ser minorados ao máximo, sob pena de voltarmos bem antes do tempo, e que na próxima competição saibamos convocar e organizar uma equipe à parte de interesses e jogadas políticas, pois o preço a ser pago é sempre muito alto e irreversível.

Amém.

MUNDIAL-O QUARTO DIA: A DERROCADA…

O jogo do dia foi também o jogo que foi jogado fora…pela Espanha, os atuais campeões mundiais.

Soberba, descaso, relaxamento, muitos foram os adjetivos tentando justificar uma frente de 16 pontos ao final de um terceiro quarto, atuando com maestria e equilíbrio tático.

Esqueceram, no entanto, que a grande base das equipes soviéticas sempre foi constituída de jogadores vindos da pequena Lituânia, hoje independente como nação, mas mantendo sua tradição de celeiro de grandes jogadores, e técnicos.

Foi um último quarto arrasador, dando números finais à equipe lituana, lídima vencedora, ante uma Espanha que nitidamente se recente das perdas de Gasol e Calderón, além do fatal erro de subestimar uma equipe do naipe e tradição da Lituânia.

Num outro e importante jogo, os donos da casa não tomaram conhecimento da Grécia, permanecendo invictos nesta fase classificatória.

E o Mundial vai cristalizando uma evidência inédita em competições deste nível, a de que, rigorosamente, TODAS as equipes jogam de forma igual, ofensiva e defensivamente, exatamente como uma decorrência lógica desta uniformização, sem quebras nas hierarquias do jogo, excetuado-se a equipe americana, com seu jogo todo escudado na habilidade de seus jogadores, perfeitos executantes dos fundamentos, individuais e coletivos. Claro que terão  dificuldades defensivas quando enfrentarem as grandes equipes européias, e talvez a argentina, solidamente treinadas e fundamentadas em torno do sistema único, além das ofensivas, pela perfeição que aquelas grandes equipes auferem quando empregam defesas zonais.

Então, preparemo-nos para assistir uma possível ruptura no modo americano de jogar e atuar, fato novo na mesmice que vem imperando no âmago do grande jogo. Espero ansioso que isto venha a ocorrer, para o bem do basquetebol.

Amém.

MUNDIAL-O TERCEIRO DIA:A ESTRATÉGIA…

No Mundial da Espanha em 1986, a Argentina venceu os Estados Unidos na segunda fase do campeonato por 74 x 70. Os americanos, que foram os campeões (Tyrone Bogues, de 1,59m era o armador, lembram-se?), formavam uma equipe extremamente rápida, e com excelentes jogadores universitários, alguns deles seguindo carreira na NBA, como David Robinson, Sam Elliot, e  Bogues, entre outros.

Lembro este confronto por um detalhe especialíssimo, a quebra da velocidade americana, pelo jogo altamente cadenciado que os argentinos imprimiram para vencê-los, em tudo semelhante ao que a seleção brasileira realizou hoje em quadra, quase vencendo a partida, e por um placar semelhante, 70 x 68, e mais, sob o comando de um técnico argentino, que bem deve ter lembrado daquele jogo.

No artigo de ontem, mencionei-(…) No terceiro quarto do jogo de hoje contra os eslovenos, quando estes começaram a impedir os arremessos de três americanos, mesmo defendendo por zona, vimos quão indecisos e ineficientes se tornavam, exatamente por ainda estarem vinculados a resquícios individualistas advindos da realidade profissional em que militam(…), e que foi a estratégia do Magnano, não num terceiro quarto, mas durante todo o desenrolar da partida, freando o ímpeto americano, obrigando-os ao jogo de meia quadra, onde seu atual modo de jogar, fora dos padrões NBA, ainda não se consolidou como um sistema confiável, apesar de inovador para os padrões ortodoxos que seguem.

A estratégia funcionou no plano coletivo, lastreada por uma potente e mutável defesa, ora individual, ora zona, dentro de um ritmo lento de jogo, onde somente um fator destoou decisivamente, os erros de fundamentos, principalmente passes e dribles, além da ainda teimosa insistência de arremessos de três em horas e momentos inoportunos, dando aos americanos as oportunidades de contra atacarem com a eficiência que os levaram à vitoria. É fundamental que lembremos que nos 2min finais do quarto decisivo, tentamos quatro vezes seguidas os arremessos de três pontos, e a diferença era de dois pontos a favor dos americanos, num momento que bastariam dois arremessos de dois pontos para vencermos. Falta de experiência e vivência? Não, falta de fundamentos, que se avolumou de tal ordem que o Magnano simplesmente ignorou os armadores Nezinho e Raul, preferindo eleger o Leandro para a posição, na ausência para descanso do Huertas.

Então, para que manter os dois na seleção, quando deveria ter levado um outro bom armador, que sem dúvidas temos no país, e mais um bom pivô, que muita falta nos tem feito pelas lesões dos pivôs selecionados?

Perdemos uma excelente oportunidade de vencermos uma partida importantíssima para a classificação, visando adversários menos qualificados na etapa seguinte, fator que não se deve subestimar num torneio de tal envergadura.

Nas duas próximas partidas, contra a Eslovênia e a Croácia, sabedores que somos do competente e disciplinado modo de atuar destas equipes, constituídas de jogadores muito altos e técnicos, manteremos o modelo de jogo hoje apresentado? Ou, simplesmente voltaremos à artilharia de três, repetindo erros de passes e dribles, todos motivados pela nossa falha endêmica nos fundamentos?

Sem dúvida nossos jogadores são talentosos, e quando bem dirigidos apresentam boas performances( apesar do sistema único…), que estariam em um outro patamar se deixassem a arrogante evidência de se sentirem plenamente preparados, quando na realidade deveriam voltar um pouco no tempo e tornarem a se exercitar nos fundamentos, com afinco e sincera vontade de aprender e melhorar. Mas para isso terão de ser incentivados e cobrados a fazê-lo, sem distinções de qualquer origem, e por quem tem competência e conhecimentos para ensiná-los. É sem duvida alguma, o que nos falta para elevarmos nosso prestigio e respeito dentro do cenário do basquetebol mundial, além de buscarmos novas formas técnico táticas de jogar, mais de acordo com nossas capacitações.

Torçamos para que o Magnano encontre o ponto ótimo da equipe, levando-a aos bons resultados, e que para o futuro exerça sua prerrogativa de selecionador, não admitindo, em hipótese alguma indicações e convocações equivocadas, como algumas nesta seleção, agora tão escancaradas ao vivo e à cores. Desejo, sinceramente, sucesso no seu trabalho.

Quanto ao Coach K, se arrisca, mesmo inovando( o que é muito bom para o basquete) e sendo um senhor técnico, a cair do…anel( que na realidade, são dois…)

Amém.

MUNDIAL-O SEGUNDO DIA: O SISTEMA…

Como toda exceção justifica uma regra, posso hoje afiançar que neste Mundial a equipe americana é a tal da exceção, dentro de um universo composto de mais 23 equipes jogando rigorosamente iguais, comprovação esta visualizada nos jogos transmitidos pelas TVs oficiais e os streams vinculados à internet.

E é uma exceção instigante, atípica, pois parte da seleção do país que idealizou, aplicou e divulgou para o mundo o sistema único de jogo, aquele que encontrou na NBA seu nicho dourado, e que estabeleceu uma hierarquia especializada no posicionamento dos jogadores, classificados e rotulados de 1 a 5, hoje aceita colonizadamente em todo o mundo, com raríssimas exceções.

E esta amplitude de emprego, tornou e dotou os jogos de um grau de previsibilidade técnico tática de tal ordem, que as equipes mais vencedoras passaram a ser aquelas que tivessem naquelas posições assinaladas de 1 a 5, os melhores jogadores, especializando-os de uma maneira tão dramática, que até as substituições obedeciam as mesmas, afastando perigosamente o jogo coletivo em função dos enfrentamentos posicionais, fatores estes que passaram a ser os apelos promocionais dos jogos, onde o fulano 1 duelaria com seu congênere 1, o 5 com o 5, e assim sucessivamente, praticamente transformando um jogo coletivo em lutas setoriais e individuais, sob a égide e o manto protetor de regras específicas, principalmente nos aspectos defensivos, estabelecendo critérios de arbitragem bastante diferenciados dos empregados pela FIBA.

Mas algo deu errado para os americanos, pois o restante do mundo, mesmo aceitando a forma de jogar da NBA, o fazia sob as regras internacionais, onde critérios mais rígidos no tocante ao contato físico, fizeram com que aos poucos os americanos se situassem em inferioridade técnica nas grandes competições mundiais, cuja retomada custou aos mesmos um dramático retorno às origens universitárias na figura redentora do Coach K, cujas regras e forma de jogar no aspecto físico, mais se assemelhavam ao restante do mundo.

Na Olimpíada passada, os americanos já demonstravam que as mudanças eram para valer, e neste mundial confirmam e estabelecem as mudanças radicais que adotaram, apresentando uma forma de jogar independente de posicionamentos e muito longe do sistema único que impuseram ao mundo nas duas últimas décadas. Hoje podemos dizer que os americanos encontraram a maneira de enfrentar as grandes seleções mundiais, jogando na contra mão de sua própria influência. E o mais trágico nisso tudo, é que o mundo continua atrelado ao modo NBA, ao mesmo tempo em que seus criadores se afastam do mesmo.

No terceiro quarto do jogo de hoje contra os eslovenos, quando estes começaram a impedir os arremessos de três americanos, mesmo defendendo por zona, vimos quão indecisos e ineficientes se tornaram, exatamente por ainda estarem vinculados a resquícios individualistas advindos da realidade profissional em que militam, mas, ao reagirem coletivamente reencontraram o ritmo exigido por seu excelente técnico, e como prova do respeito pelo empenho e luta de seu adversário europeu, não ultrapassaram os 100 pontos, mesmo com 14seg para tentá-lo.

E no cenário das demais equipes, inclusive a nossa, o sistema único se fez presente maciçamente, e como descrevi anteriormente, auferindo vantagens àquelas equipes que possuíssem melhores jogadores em posições chaves, ou em todas. Foi o caso da Alemanha, que num confronto em que a maioria dos jogadores se equivaliam, numa ladainha de previsibilidade enervante, o 1, e o 5 alemães, nitidamente superaram o 1, e o 5 sérvios, determinando dessa forma a vitória dos alemães na segunda prorrogação. Empolgante? Talvez sim, mas de uma previsibilidade irretocável.

No nosso jogo, contra uma equipe muito fraca, a Tunísia, nossos 1 a 5, superaram os 1 a 5 adversários, numa previsível gradação de um jogo em que as duas equipes ao jogarem rigorosamente iguais técnico taticamente, a vitoria penderia, como pendeu, para quem tivesse os melhores jogadores de 1 a 5, no caso, nós, mesmo marcando mal, e errando muito nos fundamentos, só que eles erraram mais.

Amanhã, enfrentaremos os americanos, quando teremos a oportunidade de sentirmos o que será duelar com uma equipe que não adota o próprio sistema que criou, e mais, com um arsenal de recursos técnicos individuais calcados nos movimentos básicos do grande jogo, seus fundamentos, agora voltados ao coletivismo, os mesmos fundamentos que tanto negligenciamos nos últimos vinte anos em que adotamos a panacéia do sistema único, com sua coreografia “invencível”. E o trágicômico, é que nem os americanos pensam mais assim.

No dia em que perdermos o medo de ousar, e voltarmos a estudar, adotar e treinar maneiras outras de jogar o grande jogo, quem sabe, voltemos ao concerto das grandes equipes, onde já estivemos, exatamente pela capacidade de criar e ousar.

Amém.