
Por que uma equipe tricampeã, que vive convergindo, mudaria o estilo?
Comentando o artigo CORNO ABAJO, CORNO ARRIBA, publicado no dia 12 deste mês, o leitor Rodolpho fez a instigante pergunta acima, que sem dúvida alguma poderá suscitar intensos debates, claro, se colocados frente à realidade do nosso basquete em sua crueza e a nula pretensão a vôos maiores, que não os de consumo interno, e nada mais.
Vencer por três vezes consecutivas a liga maior, com praticamente a mesma constituição de equipe, convergindo sistematicamente, e praticando um sistema de jogo padrão a todas as equipes, gera uma perplexidade impar, pelo fato inconteste de que nesses três NBB’s nenhum adversário tenha se insurgido contra tal domínio, aceitando as conquistas como algo inexorável e definitivo…
Mas será que foi sempre assim? Afinal a grande equipe sofreu derrotas pontuais, algumas até surpreendentes, e disputou playoffs equilibrados apesar das usuais e corriqueiras convergências, mas sempre se impôs quando sua predominância sofreu contestações, e convergindo desde sempre.
Então, como tirar a incisiva razão contida na pergunta do Rodolpho, como?
Também não se pode negar uma evidência contundente, a de que dentro do cenário do basquete brasileiro, onde todos os seus personagens cultuam um único estilo, ou sistema de jogo, nenhuma equipe o pratica com mais propriedade que a de Brasília, cientes de suas habilidades na forma de atuar e desenvolvê-lo, como algo enraizado e amalgamado em sua forma lapidar de atuar no mesmo, com os jogadores talhados e encaixados em suas posições de forma exemplar.
Jogando, convergindo, e vencendo, por que mudar de estilo?
Se depender da vontade deles, nunca, mas se forem forçados a enfrentar de forma massiva um basquete alternativo e eficiente, cujos caminhos e atalhos dentro da quadra não sejam de seu pleno conhecimento e domínio pela mesmice endêmica implantada na modalidade, ai sim, teriam de mudar e se adaptar a novos conceitos, senão deixariam de reinar absolutos e cardinalícios.
Mas como isso poderia acontecer, se nenhum passo dado na direção de profundas mudanças técnico táticas têm sido tentado e aplicado na consecução de tão necessário objetivo, como?
Bem, esse passo já foi dado, comprovado, valentemente provado na quadra, na bola, no confronto direto e vencedor, mas como toda ação revisionária e corajosa, foi rapidamente abafada como algo a ser evitado, esquecido e jogado para baixo do tapete da história, como extemporâneo, acidental, aventureiro e pontual, afinal de contas não se mexe em time que está ganhando…
Mas neste encontro com a história não ganhou, quis convergir e não conseguiu, pois foi contestado o jogo inteiro, quis impor sistemas de defesa e não conseguiu encaixar nenhum, quis determinar sua forma de jogar no ataque e esbarrou numa linha da bola poderosa e sufocante, enfim, perdeu e perdeu-se em nossa realidade técnico tática a única oportunidade de que algo de realmente novo e instigante pudesse evoluir a partir daquele grande encontro, daquele grande jogo.
Nele, como uma equipe com media de arremessos de três acima das 25 tentativas, convergindo com os de dois pontos em muitas oportunidades na faixa acima das 30 tentativas, somente conseguiu 3/15 nos três pontos, com seu adversário ficando nos 4/11 de três, e um placar de 75 x 76, praticamente 15 pontos abaixo de sua media usual?
Como? Enfrentando algo de realmente novo, instigante, e que se continuado contribuiria para uma mudança de estilo dos tricampeões (dois pontos já estão sendo mudados a partir daquela experiência, a dupla armação e o intenso jogo interior adotado por ainda poucas equipes da liga, mas que fatalmente evoluirá com o passar do tempo…), sugiro a todos que revejam um documento primordial e inspirador, no qual uma defesa contestatória e pressionada, e um ataque de intensa dinâmica interior, alimentado por uma mais intensa ainda dinâmica exterior, e que foi relegado por querer ousar demais, por querer penetrar o corporativismo daqueles que não admitem mudanças, sequer experimentais. Se por um acaso se interessarem por dupla armação, ai está o como realizá-la com pleno conhecimento do que venha a ser leitura de jogo, e se forem mais adiante em seu interesse, constatem o que venha a ser jogar com três pivôs móveis na acepção do termo. E por conta dessa realidade injusta e até cruel para com o grande jogo, a mesmice permanecerá, e com ela as convergências, para que afinal concordemos na manutenção do que ai está. Mudar o estilo, pra que?
Ah, o jogo está AQUI. Vejam como se poderia obrigar um adversário a pelo menos considerar uma mudança de estilo, oferecido como uma humilde lembrança para este natal, honesta e muito bem preparada, e não como um presente antecipado de um outro natal dado pela equipe líder ao último colocado no campeonato daquele NBB2, segundo declaração do jogador Rossi após sua derrota, na bola, no sistema, na convergência e na sua arrogante magoa.
Amém.
Vídeo – Jogo do Saldanha da Gama x Brasília pelo NBB2.
Foto – Divulgação LNB. Clique na mesma para ampliá-la.