QUEBRANDO GRILHÕES…

 

O leitor Caio, ao enviar seu comentário acerca do artigo O Básico Plantel, publicado em 6/2/12, anexou ao mesmo uma entrevista do grande técnico Bob Knight, cedida ao site da ESPN, sobre a equipe da Universidade de Missouri no campeonato da NCAA dessa temporada, onde discute um tema por demais controvertido entre nós, a dupla armação, e num torneio onde, mais do que nenhum outro, prima pelas tradições técnico táticas mais enraizadas nas concepções de jogo de seus muito bem preparados e estudiosos técnicos.

Por aqui, já começam a espocar, ainda de maneira bastante tímida, algumas intromissões neste assunto, muito mais adaptadas ao sistema único, do que numa aberta e objetiva tentativa de contestá-lo no seu âmago.

Iniciativas como a elaboração de Seleções da Rodada feitas pelo blog da LNB, nas quais a dupla armação é devidamente reconhecida, numa tentativa de dinamizar nossa arcaica e engessada forma de jogar, parece que aos poucos vem chamando a atenção de um pequeno universo de técnicos, dos mais jovens, da possibilidade efetiva de se olhar o grande jogo de um prisma diferente daquele que nos é impingido a um longo e insosso tempo.

E porque teimosamente bato nessa tecla visionária, mas com o peso da praticabilidade na quadra de jogo, a um longo e solitário tempo, senão pela esperança de nos vermos perante uma renovada, não inédita, forma de ver, estudar, pesquisar, aplicar algo que nos tornasse proprietários de um sistema, que em tudo e por tudo, difere da mesmice a que nos escravizamos à sombra da mega liga, a NBA?  Ela mesma que começa a ser contestada em sua forma de jogar, vide os exemplos dos Suns e dos Mavericks na conquista da temporada passada…Em dupla armação e pivôs hábeis e velozes.

Mas não basta vermos e copiarmos formas diferenciadas de jogar, como a da Mizzou, descrita pelo grande Knight, ou dos Mavericks, onde um Dirk assinalava 40 pontos sem um único arremesso de três pontos, ou mesmo um Saldanha no NBB2 de injusto aniquilamento, pois tais mudanças exigem metodologias específicas, didáticas adequadas, escudadas num rigoroso e minucioso emprego dos fundamentos, que são ações indissociáveis, e que exigem um grande e persistente conhecimento para serem exequibilizadas, estando ai o mais destacado fator restritivo às mesmas, a negativa, ou receio da maioria dos técnicos em sair de suas bem acomodadas situações, quando também contam com o apoio da maioria dos jogadores, auto especializados(?) nas rígidas posições de 1 a 5.

Fico imaginando um Magnano, que além de excelente técnico se mostra um eficiente professor, quebrando de uma vez por todas os grilhões do sistema único, preparando a seleção para Londres, partindo de uma  base, hipotética base com dois armadores puros e três pivôs, todos muito rápidos e jogando de frente para a cesta, com amplo domínio das tabelas, defendendo e contestando nos perimetros com vigor e coragem, jogando de dois em dois pontos, onde o aproveitamento estatístico de cada ataque em muito supera os de três pontos,  tendo para os eventuais e se necessários  arremessos de três,  jogadores realmente especialistas nos mesmos, e não arrivistas extemporâneos e aventureiros.

Temos jogadores que possibilitasse tal tarefa? Sim temos, aqui e lá fora, bastando somente que se rompam definitivamente os reinados de delfins e cardeais, dando lugar ao novo, ao ousado, ao corajoso, ao inusitado.

O que teríamos a perder voltando nossas vistas às futuras gerações que nos representarão em 2016?

Amém.

NOTA-A ESPN retirou o video de seu site, o que considero lamentável. No entanto, nos brinda com excepcionais e imperdiveis atrações, como Mundiais de Bobsled e Esqui Alpino…

O BÁSICO PLANTEL…

A transmissão da TV argentina estava horrível, falhando bastante em momentos importantes do jogo, mas justiça seja feita, distante da censura que certamente seria exercida por um diretor de imagem, naqueles momentos finais em que sérias discussões eclodiram no banco do Pinheiros, se a transmissão fosse brasileira, pois afinal, para o progresso e incremento do basquete no país, cenas como aquelas devem ser varridas para baixo do tapete, como usualmente o fazem, vide o silêncio atroz do comentarista do Sportv sobre a cena em si, mas que culpou a arbitragem pela derrota ao marcar a quinta falta do Alexandre num momento de reação da equipe, o que realmente ocorreu ao tocar o pulso do atacante argentino.

E o que originou o conflito entre o Marcos e o Fiorotto senão uma desobediência do primeiro a uma instrução veementemente grafada na prancheta (fotos) do técnico sobre uma jogada com a partcipação  dos dois, quando na primeira tentativa o Marcos arremessou em desequilíbrio da cabeça do garrafão, e logo a seguir,  no ataque sucedâneo a uma cesta do Obras, ele preferiu a penetração perdendo a bola no ato de driblar, esquecendo em ambas o pivô bem posicionado perto da cesta, o que o irritou profundamente, resultando numa discussão ríspida, a sua não volta ao jogo, e a reação de desistência do técnico frente ao desequilíbrio emocional de seus jogadores.

Não podemos negar que a intoxicação alimentar de alguns jogadores (o Shamell sequer voltou para o segundo tempo) tenha influenciado na produção da equipe, um pouco contrabalanceada com a péssima participação do armador Osimani, errando passes em demasia, inseguro no drible, parecendo estar tão intoxicado como os brasileiros. Por conta disso os hermanos custaram a engrenar, somente o fazendo quando da entrada dos jovens reservas, que costumam pontuar mais e defender com mais disposição do que os titulares, pelo menos nesse sul americano, numa mostra de efetiva renovação.

Enfim, temos de aceitar o fato de que o Pinheiros tem um excelente time, mas o Obras um excelente plantel, que num torneio de tiro curto como esse é fundamental. As ausências do Morro e do Shamell no segundo tempo, influiu no resultado, assim como a insistente falha na marcação fora do perímetro tem colocado a equipe paulista em sérias dificuldades, inclusive no NBB4.

Foi uma final previsível, pois ainda temos de galgar alguns degraus que nos separam dos argentinos, principalmente na formação de base, tão bem representada pelo jovem banco do Obras, pleno de juventude e talento a ser conveniente e inteligentemente testado no campo de jogo, e não no banco.

Amém.

 

Uma observação– Num jogo cuja velocidade de ações é presença constante, detalhes que chamem muita atenção na indumentária de um jogador, é algo que muito auxilia em sua rápida localização pelos defensores, principalmente em investidas sem a posse da bola. No caso do Marcos, com seu tênis fosforescente (vide foto), isso se torna decorrente no meio de uma coletividade calçando tênis normais. O “estou aqui” não é um bom argumento em situações em que o imprevisto é desejável.

Fotos-Reprodução da TV e Divulgação LNB. Clique nas fotos para ampliá-las.

O NOVIÇO…

-“Se quiserem arremessar oitenta vezes de três arremessem, estando livres, arremessem…”

O placar era o da foto acima, e faltavam uns 5min para jogar. E a equipe não se fez de rogada, perpetrando um 5/29 (17.2%) de arrepiar, estando livres ou não, além de cometer 11 erros na partida.

Não que a equipe de Uberlândia tenha feito algo de diferente, pois os números se aproximam bastante para ambas as equipes, nos arremessos de dois (23/37  para os mineiros, e 22/39 para os paulistas), nos de três (7/25 e 5/29 respectivamente), e nos lances livres (20/25 e 14/22), com o mesmo número de rebotes (34 para cada), e nos erros (8 e 11).

Um arremesso de dois, dois de três e seis lances livres a mais garantiram a vitoria dos mineiros, num jogo que teve duas etapas decisivas para o Uberlândia, o começo com o Coelho ( muito jovem, talentoso, mas que ainda comete erros básicos nos fundamentos, principalmente nos passes), e a vinda para seu posto do Collun, que ao contrário da opinião do comentarista do Sportv, é sim, com toda certeza, um armador de mão cheia, firme, seguro, ótimo defensor, e também pontuador quando necessário. Armando em dupla com o Day, e servindo seus ótimos pivôs, rápidos e atléticos pivôs, o Cipolini e o Gruber, restabeleceu o equilíbrio da equipe, que se ressente muito da ausência do Valter, que compõe o grupo mais homogêneo taticamente da liga.

Do lado paulista, a saída por contusão do seu americano, prejudicou a armação da equipe, mas continuava com um forte grupo nos rebotes e no jogo interior, que ao ser abandonado pela insânia dos três, viu ruir suas possibilidades de vitoria.

Nesse ponto, valeria à pena sugerirmos umas continhas (sem trocadilho…), a saber:

– A equipe paulista errou 24 bolinhas de três (72 pontos tentados e perdidos), numa derrota de 14 pontos. Se tivessem trocado a metade do desperdício de três por arremessos de dois, através o jogo interior e mesmo as penetrações, poderia ter alcançado 24 pontos em 48 possíveis, correto? Ora, perderam o jogo por 14 pontos, desnudando o terrível erro na instrução recebida por seu noviço técnico,   descrita no inicio desse artigo, pois em cinco minutos e de dois em dois pontos, poderia encostar e até vencer a partida, e mais seguramente ainda, se agisse dessa forma desde o começo da mesma.

Logo, muita caminhada sobre pedras terá de ser percorrida pelo noviço técnico, começando por um maior comedimento fora da quadra na relação com a arbitragem, e o espalhafato coreográfico, que retira de seu foco os detalhes mais ínfimos do jogo, aqueles que definem e decidem partidas, desviando-o do centro das sutis decisões, onde instruções como a que foi exarada, perde o sentido técnico tático em uma partida de uma liga superior.

Jogos difíceis e detalhados são vencidos com a cabeça fria, vamos assim dizer, a começar pelos seus lideres, o de fora e o de dentro da quadra, cuja sintonia sempre será interrompida pelos rompantes nervosos e enfurecidos, que são as situações ansiadas e bem vindas pelos ocasionais adversários.

Amém.

Foto- Reprodução da TV. Clique na mesma para ampliá-la.

O QUARTETO VERMELHO…

Só pude ver a metade do terceiro e um completo quarto período do jogo em Córdoba, onde o Pinheiros decidia a liderança da chave com o anfitrião Atenas.

Jogo ruim, com incontáveis desperdícios, onde a defesa da equipe brasileira simplesmente não compareceu, ante um Atenas apenas burocrático, que apesar de manter dois armadores experientes em quadra, o Labaque e o Sucatzky, não imprimiam o ritmo desejado de jogo, cabendo ao americano Melvin as melhores iniciativas.

A partida foi se arrastando, até que no inicio do quarto final os argentinos impuseram um 12×0 nos paulistas, que a muito custo, e liderados pela individualidade do Shamell, encostaram e empataram a um minuto do final.

Deste momento em diante é que testemunhamos algo de inacreditável numa competição deste nível, quando nos dois tempos finais pedidos pela equipe paulista, o quarteto trajado de vermelho que a comanda, viu-se engolfado pela interferência de alguns jogadores, que em português e espanhol definiam estratégias para a reposição dos laterais a que tinham direito, sob os olhares e alguns balbuciamentos do quarteto vermelho, nitidamente constrangido e praticamente posto de lado na discussão de cúpula. Mais do que lógico, nada do que foi confusamente discutido poderia dar certo, como não deu, e jamais dará, enquanto o direito primaz do comando não for restabelecido, ou mesmo estabelecido, como ponto fulcral e básico de uma equipe pertencente à elite do basquetebol brasileiro.

Que me perdoem os técnicos brasileiros, mas imagens impactantes como aquelas, onde jogadores discutem desordenadamente o destino de uma partida em seus segundos finais, agindo como se técnico algum estivesse ali presente e posicionado para as instruções (eram quatro…), é algo que em hipótese alguma pode ocorrer, pois se a moda se espalhar (o que não duvido muito…) veremos acontecer situações onde um pontual conflito será a menor conseqüência originada das mesmas, o que será catastrófico para o pleno soerguimento do grande jogo em nosso caótico país.

O primado do comando é extremamente difícil e solitário, cabendo ao mesmo delegar poderes ou não, e certamente, no caso do desporto, ser estruturalmente estabelecido no treino, onde sistemas são minuciosamente estudados, treinados e aplicados na pratica diária e estafante, colocando seus jogadores de frente para as reais situações que enfrentarão com suas minúcias e detalhes, para que na hora da verdade  saibam como agir e atuar, evitando exatamente o que vem se tornando lugar comum, a discussão anárquica e aleatória sobre o que e o como fazer nos momentos de decisão, pois nesses fundamentais e decisivos momentos o comando se torna, por direito e conquista, indivisível.

Amém.

O XERIFE…

Jogo empatado a vinte segundos de seu final, último ataque para a equipe do Pinheiros, tempo pedido, o técnico pouco fala, pois o que se vê é um jogador argentino distribuir instruções, seguido pelo selecionável cestinha brasileiro, e calados se mantiveram os técnicos, o principal e o reserva, digo, assistente, e lá se foram para a decisão planejada e discutida, quando…

Calado tinha convenientemente ficado o americano durante os discursos, e calado ao receber a bola agiu como sempre o faz, no impulso estritamente individualista, e nesse caso em particular, absolutamente aventureiro, sua marca pessoal.

Até aquele momento havia convertido 26 pontos, nenhum dos quais produtos de arremessos de três (tentou por três vezes e errou), se depara num 1×1 com seu conterrâneo, pela lateral, terreno de sua preferência, com tempo mais do que suficiente para uma firme e pensada penetração em busca de um único ponto necessário para a vitória de sua equipe, onde poderia, pela grande habilidade de que é possuidor, conseguir marcar os dois pontos através um DPJ, ou uma bandeja, e quem sabe mais um por falta recebida, ou simplesmente cobrar dois lances livres, nos quais possui grande eficiência, após ser parado, com toda a certeza de que o seria,  por uma falta pessoal. Três possibilidades óbvias e ao alcance de suas virtudes de grande e eficiente finalizador em curtas, e por isso mais precisas distâncias, como deveria se comportar um jogador responsável, de alta categoria e linhagem, inserido numa equipe de alta competição.

Mas não, calado ficou durante a caótica e indesculpável balburdia em portunhol no tempo pedido, mas não corretamente utilizado por nenhum dos técnicos na língua que fosse, guardando para si a decisão mais incorreta naquela situação, mas sabendo que se falhasse uma prorrogação já estaria garantida, logo, sair como herói soava bem naquela altura, além, muito além de sedimentar seu status de verdadeiro xerife,  longamente estabelecido na equipe, e bem acima de quem pretensamente pensa comandá-lo.

E a “bolinha” lá de fora arranhou o aro, mas caiu, para júbilo de todos aqueles que o viram como o inconteste herói, como aquele que culminou a jogada jamais planejada pelo comando, ou por seus companheiros, e sim de sua própria, arriscada e aventureira lavra, onde o “dar errado” se perdeu nos abraços e afagos de todos, num clímax que bem representa o micro cosmo do nosso basquete, aquele no qual a “sorte” define destinos e rentáveis continuísmos, muito mais vantajosos do que a simplória e desnudada competência meritória, penduricalho de um basquete basicamente movido e mantido pelos vivíssimos e inteligentes (por que não?) xerifes de plantão.

Quanto ao jogo? Ora, o que importa frente a um glorioso final como aquele. Ou deveria importar? Creio que o sorriso e o olhar matreiro do formidável Shamell ao final do jogo, durante a entrevista respondida em português, depois de ser abordado caipiramente em inglês, explicitou em estéreo e à cores, o que representa para ele jogar o grande jogo nesse caótico país, uma independente, personalíssima, e muito bem paga farra sem fim.

Enquanto isso, o estelar Flamengo…

Amém.

Foto-Divulgação LNB.

AMBIENTE DE RACHÃO…

Alô Paulo, tirou férias do blog? Não, estive acometido de uma crise renal, e você sabe quão doloroso um cálculo pode se tornar. Mas aos poucos a saúde vai se restabelecendo, a ponto de tomar coragem para assistir um massacre em forma de jogo, como o Brasília e São José.

Massacre, como? De tudo que possamos conceituar como algo parecido a uma partida de uma liga superior, a começar pelos primários erros nos fundamentos, terminando com a mais completa demonstração de desprezo tático, principalmente aqueles emanados pelos técnicos, jamais seguidos pelos jogadores, todos eles, de ambas as equipes, como num tácito acordo comportamental, preocupante e corrosivo.

Nos fundamentos, nada mais chocante do que a visão equivocada da pancada como forma e opção de defesa, visão essa rompida pelas sucessivas falhas individuais e coletivas durante toda uma partida com 52 arremessos de três, 26 para cada equipe, e 48 faltas (25/23) pessoais, provando mais uma vez a incapacidade defensiva fora do perímetro de nossos jogadores, e sua agressiva volúpia dentro do mesmo, somado a 20 erros (9/11) de passes, andadas e perdas de bola.

Mesmo atuando permanentemente com dois armadores na quadra, a equipe do São José o fazia no sistema único, onde um armador principal era o responsável por todas as ações ofensivas, no caso o jovem Fischer, talentoso e promissor, mas que adquiriu o erro mais comprometedor para um armador, o de atacar dando as costas para seu marcador, obliterando dessa forma grande parte de sua visão periférica, além de se tornar vitima de dobras seguidas e muitas vezes fatais, situações estas que seriam minoradas se recebesse apoio próximo e constante do outro armador na quadra, claro, se posicionado como tal, e não como um ala aberto tradicional, decorrência do sistema único empregue por sua equipe.

Além do mais, sua ambição pontuadora evita um maior apoio a seus pivôs, principalmente o Murilo, que esquecido no perímetro ofensivo interno, veio para o externo para tentativas de três (3/5), quando deveria ter sido mais explorado em sua verdadeira posição, principalmente no decisivo quarto final.

No entanto, ironicamente, no último lateral cobrado por um Guilherme que deveria ser o receptor e não o autor do mesmo, o erro mais primário num passe foi cometido, o de fazê-lo paralelo à linha final, propiciando a interceptação por parte do Fischer, que a partir daí definiu a partida com uma bandeja e um arremesso de lance livre, numa compensação a alguns e sérios erros cometidos por ele no transcurso do jogo.

No aspecto tático, o caos organizacional foi a tônica do jogo, onde o “chegar e chutar” foi explorado ao máximo por ambas as equipes, ocasionando uma espiral de erros assustadora, preocupando pelo fato de ainda não conseguirmos evoluir para sistemas de jogo que primem pela amplitude criativa, dissociada da mesmice endêmica a que nos mantemos atados às vésperas do encontro olímpico em junho na cidade de Londres.

Não podemos mais nos manter nesse “ambiente de rachão”, pois o preço a ser pago poderá vir a comprometer seria e irremediavelmente nossa atuação olímpica, após 16 anos de ausência motivada exatamente por isso, jogar o grande jogo como se pequeno e insignificante fosse. Temos a obrigação de evoluir, ao preço que for.

Amém.

FAZENDO PENSAR…

  • ike 08.01.2012 (2 weeks ago) ·

Blah, Blah, Blah.
Ah… DUPLA ARMAÇÃO!!

Sério? só isso q tu tens a dizer sobre Basquete… que triste.

De vez enquando recebo comentários como o acima, sobre o artigo A Dupla (E Eficiente) Armação do Uberlândia, e claro, convenientemente respondido, mas que desperta em mim uma imensa curiosidade sobre a extensão do conhecimento da dupla armação por parte de todos aqueles que acompanham o grande jogo, sejam jogadores, técnicos, dirigentes, cronistas, torcedores.

Numa abordagem inicial podemos afirmar com bastante acerto que, sob o domínio formatado e padronizado quase absoluto do sistema único de jogo, falar em dupla armação se torna uma pregação num deserto de idéias e uma peregrinação numa abrasiva e inóspita terra de ninguém, apesar de ser um sistema de jogo a longo tempo conhecido (?).

Curiosamente, em 1/8/2010, o Blog DraftBrasil, em um de seus fóruns discutiu a dupla armação- Um pouco de táticas e umas reflexões, antecipando em dois anos o que hoje se discute timidamente sobre o assunto, e o fez se baseando na experiência diferenciada da equipe do Saldanha da Gama no NBB2, e o mais emblemático e profético, sugerindo sua utilização em equipes da NBA!

No ano passado, a equipe do Dallas se sagrou campeã da grande liga jogando declaradamente sob dupla armação e pivôs móveis, e nessa temporada mais equipes ensaiam jogar dessa forma, numa clara e instigante mudança de rumos táticos, na esteira do pedido do Coach K após o último Mundial, onde, subvertendo o sistema NBA, venceu a competição em dupla armação e alas pivôs de grande mobilidade, quando pediu aos técnicos universitários do seu país que investissem nessa forma de jogar, a fim de se aproximarem do basquete FIBA.

Por aqui, ainda jogamos no sistema único, com algumas equipes se utilizando de dois armadores, com um deles substituindo um dos alas, mantendo a sistematização usual, e somente a equipe de Uberlândia ousando ainda timidamente uma autêntica dupla armação e uma trinca de homens altos se deslocando permanentemente dentro do perímetro, mais ainda valorizando, como as demais equipes, os arremessos de três, em vez dos mais seguros e eficientes arremessos de dois pontos.

Mas algo animador deve ser enfatizado, e vem da própria LNB através seu blog Território LNB, ao publicarem várias seleções das rodadas do NBB4 e das finais da LDO na formação de dois armadores e três pivôs, numa iniciativa louvável de ver o grande jogo um pouco além do sistema único (diagramas acima).

No entanto, a viciosa fragilidade defensiva do perímetro externo, indús quase que automaticamente aos longos arremessos, independendo se jogarem com um, dois ou mais armadores, numa demonstração tácita de que entre nós a “bolinha”ainda reinará absoluta por um longo tempo, a não ser que…

A não ser que caiamos na realidade de que se não mudarmos drasticamente nossa formação de base, em todos os sentidos, de forma absoluta, não chegaremos a 2016 minimamente preparados para uma competição do calibre de uma Olimpíada, e em nossa terra, de nada valendo se nossos “craques” complementares em equipes de fora formem uma seleção meia bomba, e o mais importante, que nossos técnicos (ou estrategistas)de elite evoluam da mesmice endêmica que nos estrangula técnica e taticamente.desde sempre.

Amém.

PS-Clique nas diagramas para ampliá-los.

NOSSO EQUIVOCADO BASQUETE…

Estou sem internet praticamente a dois dias, e mesmo não sei se a terei de volta neste sábado. A NET cobra caro na mesma proporção de seus falhos serviços na região em que moro, Taquara, o que me leva à decisão de mudar de provedor logo que for possível.

Mas, mesmo que a tivesse 100%, a cada rodada do NBB fenece em mim a curiosidade de testemunhar algo de novo, instigante, por sobre essa mesmice endêmica e massacrante que nos pune, pelo simples fato de amarmos o grande jogo, a não ser por raros e esporádicos exemplos de atitudes evolutivas tática e tecnicamente, como a equipe de Uberlândia em seus recentes jogos, o que ainda é muito pouco, quase nada, num cenário pré-olímpico de 15 equipes.

Um ou dois armadores, um, dois ou três pivôs, cinco abertos, um pivosão, nada representam sob a égide de “punhos, cabeças, polegares, camisas, especiais, para cima ou para baixo”, em imposições de fora para dentro da quadra, através coreografias rabiscadas em pranchetas cada vez mais “estrelas” de um sistema único, pétreo, inamovível e canhestro, pois nada muda taticamente, a não ser o reescalonamento dos (pseudos…)especialistas de 1 a 5 nas posições estratificadas do mesmo, onde os pivôs continuam a jogar fora do perímetro, inclusive entrando no time dos arremessadores de três, o armador após o passe inicial se esconde por trás das defesas, e os alas, inabilidosos nos fundamentos básicos do jogo se alçam em penetrações cometendo erros inacreditáveis, como nesse Pinheiros x São José onde foram 17, além dos 18/50 (36%) arremessos de três, contrastando aos 36/79 (45,5%) nos de dois, sendo que nos dois últimos pedidos de tempo das equipes, seus técnicos as orientaram diretamente aos arremessos de três, num jogo equilibrado até aquele momento, quando um Marcos, zerado na partida, liquida a fatura com dois arremessos de dois e um lance livre, irônico, não?

Honestamente, me preocupa a seleção para Londres, pois a cada dia que passa mais se aplicam nossos jogadores do NBB no jogo de três, pois defender fora do perímetro, exigência do Magnano, é solenemente desprezada por nossos craques, como se fosse uma questão lógica, afinal de contas na NBA ocorre o mesmo, a não ser pelo fato de que a linha de três de lá é bem mais distante que a da FIBA, além das dimensões da quadra serem maiores também. No entanto, duvido que sob o comando do Coach K, os estrelados da grande liga não anteponham os arremessos de três adversários, como no último mundial.

Enfim, de mesmice em mesmice vai caminhando tropegamente nosso basquete de elite, e o pior, o da pré elite também, pois na recém finda LDO (ou LDB?), além de tudo o que descrevemos, outro aspecto restritivo foi incluído, a velocidade descontrolada das equipes, quando, e por conta da mesma, os erros de fundamentos atingiram cifras realmente absurdas, comprometendo no cerne um trabalho de renovação que tinha tudo para dar certo, a não ser pelas “filosofias” implantadas… Mas isso é outra história.

Amém.

Foto – Divulgação LNB.

A DUPLA (E EFICIENTE) ARMACÃO DO UBERLÂNDIA…

Dificuldades no trânsito, mesmo num sábado, mais dificuldades ainda para estacionar o carro próximo ao Tijuca, e pronto, chego ao ginásio no início do quarto final do jogo entre Flamengo e Uberlândia. No placar, 59×59, antevendo um final duro e emocionante.

Encontro meu filho, preocupado com minha demora, e pergunto como estava vendo o jogo, basqueteiro que é. “Pai, que baita time esse do Uberlândia, jogando em dupla armação, com um Valtinho cadenciando o jogo, dois pivôs leves e muito rápidos em constante movimento, e um Robert Day preciso, constante, e anulando o Marcelo de forma contundente.”

Com esse relatório, se inicia o quarto decisivo, mas não antes de cumprimentar o Paulo Sampaio, técnico campeão da LDO, o José Geraldo, com quem trabalhei no Barra da Tijuca por muito tempo, tendo sido o primeiro técnico do meu filho André, ali presente, um surpreendente Meneses, grande diretor de basquete do Botafogo nos anos sessenta, a quem não via de longa data, o Cicero Tortelli, campeão mundial em 63 e presidente da AVBRJ, e o Marcio Andrade, técnico dos bons, todos presentes na famosa “curva do pipoqueiro” daquele mítico ginásio ( pareço até os comentaristas da ESPN e Band).

Foi um quarto perfeito do Uberlândia, marcando com precisão e força, principalmente na contestação dos arremessos de três rubro-negros, e cadenciando o jogo com um perfeito trabalho de dupla armação com o Collum e o Valter, acionando os pivôs Cipolini e Gruber, e um instigante Day se deslocando aleatoriamente pelos perímetros, pontuando com presteza e defendendo com maestria.

A equipe mineira se impôs jogando muito rápido quando precisou, e cadenciada por principio, arremessando 8/16 nos três pontos, 25/40 nos dois, errando somente dois lances livres (15/17), além de conseguir oito rebotes a mais que seu adversário, que para um jogo desse nível é muita coisa.

No intervalo entre os jogos, no bar do TTC, escuto do Marcio Andrade o comentário de que o sistema de dupla armação e pivôs móveis tinha sido a constante do jogo mineiro, e que cada vez mais esse sistema estava se revelando surpreendente e altamente eficiente, e que minha persistente insistência sobre o mesmo estava se tornando numa oportuna realidade. Fiquei feliz com o comentário, pois representa uma diferente opção de jogo, frente ao sistema único presente de forma absoluta entre nós nos últimos vinte anos. Um outro senhor vem me parabenizar pelo artigo Os Americanos que publiquei aqui no blog, pois levantou uma vasta discussão sobre a massiva presença desses jogadores, ocupando vagas que poderiam ser preenchidas com jovens promissores nacionais, tão pouco considerados pela maioria das equipes da LNB. Mais ainda feliz fiquei por constatar a forma espontânea das manifestações sobre os artigos aqui publicados, demonstrando que pouco a pouco idéias, discussões e sugestões vão alcançando significativa penetração no mundo do basquete brasileiro, abrindo oportunidades de evolução e busca de um efetivo soerguimento do grande jogo entre nós, torcedores incondicionais que somos desde sempre.

Ao voltar para à quadra, para o segundo jogo, me encontro com o velho amigo Ary Vidal, lembrando a ele o nosso Seminário em Abril (que vai ser amplamente divulgado, tendo como título – 50 anos de Educação Física e Desportos) comemorativo ao cinqüentenário de nossa formatura na ENEFD/UB (atual EEFD/UFRJ), sendo sua presença “tão importante, como obrigatória”. Sorrindo responde – “Estaremos todos lá”.

Mais tarde um pouco, comento o jogo entre Tijuca e Franca, um assunto que merece reflexão e paciente análise, depois de duas prorrogações. Estou cansado.

Amém.

Foto- Fernando Azevedo

LARRY, O TRANSGRESSOR…

-“Noite de gala do Larry, o mito. Fantástica exibição para deixar o Magnano ligado para Londres. A CBB deveria estar mexendo os páusinhos no Ministério da Justiça para naturalizá-lo…”

A mídia se assanha ante a divina performance do americano “mais brasileiro do pedaço”, mesmo já tendo conhecimento da negativa do MJ sobre o assunto, e não se conforma, ainda mais quando sutil e politicamente o presidente da CBB “deposita” nas mágicas e isentas mãos do argentino (afinal ele é…argentino) a suprema decisão sobre as convocações dos magos da NBA que se negaram ir ao Pré Olímpico de Mar Del Plata. Caramba, já imaginaram os quatro da grande liga, mais o Huertas e a turma européia?  Medalha na certa!!

Como desprezos antigos não cunham medalhas, que se danem princípios, ética, superados nacionalismos, decrépitos patriotismos, pois o que conta (inclusive nos bolsos…) é medalha, e estamos conversados.

Mas, voltemos a Bauru na noite de ontem, quando vimos duas equipes trocarem figurinhas por três longos quartos (inclusive o Larry), com uma hemorragia de arremessos de três, 20 erros de fundamentos (o paraguaio “anda” demais e adora chutar para além do perímetro, onde é encontrado para bloqueios o jogo inteiro…), inexistência defensiva externa, e consentida internamente, como num jogo de compadres, até que, no quarto final o Larry resolveu jogar “à vera”como deveriam ambas as equipes o fazer desde o começo, principalmente no cumprimento do ritual defensivo, quando, ai sim, pudemos constatar qual equipe pode ser considerada superior a outra, pois, como num passe de mágica, com a subida da defesa para fora do perímetro externo, contestando os arremessos de três, e dobrando por cima do fraco armador, Bauru impôs uma diferença de 20 pontos (32×12), dando números finais ao jogo, evidenciando sua supremacia.

Então, o Larry não foi tão mítico assim, pois se poupou para um quarto final, o que duvido aconteceria em sua equipe universitária americana, onde defender é caso de honra, e quase sempre por 35seg de posse de bola dos adversários, provando mais do que nunca que está perfeitamente sintonizado com o basquete tupiniquim no que ele tem de mais simplório, sua pungente limitação técnico tática, onde pivôs são esquecidos, provocando nos mesmos reivindicações aos longos arremessos (se todos chutam, por que eu não?…), armadores focam mais a pontuação do que a assistência, e alas, indefinidos tática e estrategicamente desde a formação, centram seu poder de fogo nos arremessos de três e não na capacitação às fintas e ao drible incisivo ao perímetro interno, como os bons alas devem atuar.

Sem dúvida o Larry é um bom jogador para a realidade do sistema único com sua mesmice endêmica, mas, um excelente artista quando emerge do usual rame-rame que vivencia, ao saltar por cima das amarras, deixando fluir sua criatividade , poderosa presença ofensiva, e defensiva também, para num único quarto definir e decidir um jogo previsível e caduco.

Mas daí colocarmos em sua improvável convocação o nosso destino olímpico, vai uma enorme diferença, pois nos situa no perigoso bordo de sermos incapazes de formar bons armadores, no que até pode parecer real, se teimarmos nesse limitadíssimo sistema único, monitorado, formatado e padronizado, em vez de algo inusitado, flexível, criativo, corajoso e acima de tudo responsável, para que nossos jovens se vejam perante o novo, o absolutamente novo, como na explosão criativa do Larry no quarto final do jogo de ontem, quando ao romper com a mediocridade fez luzir algo que nos é permanentemente negado, a arte de jogar e amar o grande jogo.

Foi uma grande demonstração de fundamentos do jogo, simples assim, fundamentos.

Amém.

Foto-O pivô Agba do Baurú. Sergio Domingues DHP Foto