QUE TAL…

Depois de assistir pela TV ao jogo Franca x Limeira, com três quartos muito bem jogados e um quarto final razoável, constatamos na prorrogação quão bons são os armadores da nova geração brasileira, e não só destas duas equipes que disputam a Super Copa, também presentes no Campeonato Nacional. Outra posição com bons jogadores é a de pivô, a maioria alta e esguia, movimentando-se em velocidade permanente, somente pecando quando, num rasgo saudosista, teimam em emular os mastodontes americanos com seu jogo em marcha a ré no sentido da cesta, sob os olhares passivos e contemplativos dos demais companheiros da equipe, numa prova inconteste de falha em um sistema mal treinado e pessimamente copiado da matriz, coisas do colonialismo a que nos submetemos desde a muito tempo. Infelizmente, nossos alas, com pouquíssimas exceções, ainda carecem de uma formação mais técnica, produto da má interação Sistema x Fundamentos, sobre a qual tenho publicado muitos artigos.

Enquanto isso, na internet e na mídia em geral, conjecturas mil se fazem presentes quanto a formação da seleção que disputará o Pré-Olímpico de Atenas, como não saibamos de cor a constituição da mesma, no jogo de cartas marcadas mais descarado das últimas duas décadas. Tornou-se lugar comum desvalorizar-se jogadores que não “brilhem” no exterior, a maioria deles reservas , e pouco influentes nos resultados de suas equipes, salvo alguns esporádicos brilharecos, previsíveis dentro da concepção estatística percentual que tanto admiram, promovem e financiam. Esse fenômeno, se assim podemos conceituar, já grassa à rodo em nossos campeonatos, onde produtividade estatística percentual mascara a mais verossímil medida, a do coeficiente de produção, onde ações positivas e negativas, geram um produto a ser dividido pelo tempo em quadra, permitindo que jogadores sejam avaliados e comparados pelo que realmente produzem em jogo, apesar da variável do desgaste físico ainda não poder contar com uma medida compensatória no resultado final, mas nada que uma boa e eficiente pesquisa não resolva, claro, se os técnicos quiserem, ou admitirem pesquisá-la…

Que tal da relação: Helio, Fulvio, Matheus, Dedé, Renato, Alex, Marcio, Fernando, Rogerio, Marcos, Probst, Drudi, Lucas, Teichman, e alguns outros, todos disputando a Super Copa, sem mencionarmos tantos outros que disputam o Campeonato Nacional( apesar de serem passiveis de convocação pelos critérios políticos da CBB, ao contrario dos que disputam a Super Copa), formarmos uma excelente seleção, convocada pelos técnicos em disputa, dirigida pelo campeão e vice-campeão, para numa serie de jogos com a seleção principal por algumas capitais brasileiras, como os americanos, seus ídolos perenes, o fazem regularmente com a seleção de universitários, no intuito de treinar duramente a equipe nacional, e divulgar o basquete junto à população jovem do país, em vez de se esconderem em algum lugar da Europa, longe dos olhares inquisidores dos especialistas, alguns dos quais não se deixam levar pelo engodo que se arma em nome de uma preparação ambígua, onde já são ensaidas as mesmas situações que nos levaram à bancarrota no último Pré.

Que oportunidade preciosa de serem estabelecidas autênticas e decisivas metas para o soerguimento do basquetebol, junto ao povo que o teve como segundo esporte em seu coração, defenestrado que foi pelas péssimas administrações dos últimos vinte anos. Que grande oportunidade de provarem realmente que se interessam pelo seu futuro junto aos jovens, incentivando-os com a presença dos grandes jogadores pátrios, e não distantes de todos, imunizando-os de criticas, opiniões e sugestões olho no olho. Que enorme chance de colocarmos os mais altos interesses do grande jogo acima da politicalha reinante, que nos empurra ladeira abaixo. Que oportunidade, ainda não perdida, de estancarmos a sangria das vaidades feridas, esvaindo nossas parcas chances de classificação, em nome de uma política de rapina.

Quem sabe, talvez não em breve espaço de tempo, possamos voltar a trilhar os caminhos outrora percorridos por quem de direito, pelos melhores, jogando e dirigindo, alcançado pelo mérito, com a aprovação inconteste de seus pares, como foi e deveria voltar a sê-lo, numa constatação de bom senso, justiça e patriotismo.

Amém.

IMPLICAÇÕES…

Num bom artigo publicado na Coluna do Chianetto do blog DraftBrasil em 5 de maio – Moncho e as implicações políticas – o autor nos coloca ante algumas indagações, que ao contrário do que afirma, tem suscitado vários comentários em blogs voltados ao basquetebol, mas, e nesse aspecto o autor tem razão, muito pouco ou quase nada na imprensa tradicional, quanto ao fator político envolvendo a contratação de um técnico estrangeiro para a seleção masculina que tentará a classificação olímpica no Pré que se avizinha em julho na Grécia.

No entanto, apesar de muito bem defendida a sua tese de que tal contratação foi uma decisão acertada pelo grego melhor que um presente, e que serviria de ponte entre o mesmo e seu desafeto político Oscar, numa aproximação bem vinda ao esporte nacional, esqueceu-se de que uma NLB foi expurgada do cenário nacional, exatamente pelas ações políticas emanadas pela CBB, ciosa em não admitir dividir as chaves do cofre com um grupo de jogadores imbuídos no progresso da modalidade, mas verdes na arte da manipulação político-econômica mantenedora da situação mafiosa que se estabeleceu firmemente naquela que deveria ser a casa do basquetebol, e não o feudo de uns poucos dirigentes e seus apaniguados federativos, garantidores do butim magnanimamente distribuído, em troca de seus estratégicos e decisivos votos.

Duvido que o experiente técnico espanhol, macaco mais do que velho nas artimanhas madrileñas, castelãnas, catalãns, sevilãnas e galegas, venha se meter em campo minado que não conhece e domina , numa terra estranha, ainda mais servindo de ponte entre duas emblemáticas figuras do basquete nacional, recentes gladiadores numa arena de conceitos tão ou mais díspares, quanto seus posicionamentos em prol de um basquete moderno e de participação internacional. Duvido não, tenho certeza.

Mais adiante, o autor menciona – “O esporte da atualidade, que a partir das Olimpíadas de 1992 entrou na era do Marketing, vive de imagem positiva para se sustentar e ter mídia espontânea nos meios de comunicação, sendo esse o produto que os patrocinadores compram. Esses ídolos não precisam ser unanimidade dentro do mundo do basquete, mas sim a cara que vai abrir portas do mercado de patrocínios(…).”

Creio que um detalhe foi esquecido, a qualidade do que é comprado, sua durabilidade, sua excelência técnica, suas garantias de criação e manutenção. Ou seja, sua origem qualitativa e quantitativa, seu ISO 9 mil e tantos, que no caso do esporte se reporta à formação dos jovens atletas, sua orientação através técnicos e professores qualificados, permanentemente avaliados e especializados, desenvolvendo um projeto com objetivos precisos e compatíveis com a nossa realidade, dentro de padrões administrativos passiveis de auditoria permanente, cristalina, pois vultosas verbas estarão em jogo, e não à disposição de aventureiros do bem comum, vicio que nos derrota antes de qualquer competição, e que está sempre presente nos sombrios porões da lúgubre realidade nacional. Poucas são as modalidades que auferem tais requisitos em nosso país, como o vôlei, que mesmo assim ainda se debate com resquícios de tempos passados, mas que mantém seus patrocínios pela qualidade de seu trabalho, principalmente na formação, num interrogativo contraste com seu outrora rival no gosto do público, o basquetebol.

E na realidade da seguinte relação, a saber : Leandro, Spliter, J.Batista, Murilo, Alex, Valter, Huertas, Marcelo, Varejão, Nenê, Caio, Guilherme, Paulão, Baby, os prováveis, e talvez únicos de uma equipe do nacional, Helio e Duda, anunciados pelo próprio Moncho, e com a conveniente presença do Marcus e do Nezinho em equipes da Super Copa, o que torna factível as suas não convocações, inclusive pelos acontecimentos ocorridos no último Pré-Olímpico, livrando o técnico de uma incômoda e indesejada participação nos imbróglios tupiniquins, que jogadores que aqui militam terão oportunidades na próxima convocação de cartas mais do que marcadas? A independência do Mocho se estenderá aos jogadores da lista acima, todos jogando no exterior, com os dois que aqui atuam, como uma deferência educada ao grande clube que prestigiou o nacional, estrategicamente livre dos dois problemas disciplinares pelo antagonismo que separam CBB e ABCB, idêntico ao entrevero CBB x NLB, de infeliz desfecho. Se o técnico espanhol fizer jus ao prestígio que ostenta em sua pátria, não meterá a mão numa cumbuca de gargalo estreito que lhe oferecem, honrando os genes que carrega de seus antepassados colonizadores.

Acredito que a nossa esperança política ainda terá de maturar a idéia de que, enquanto não ocorrer uma substancial e decisiva mudança nos padrões comportamentais dos dirigentes clubísticos, comprometidos com a eleição de presidentes federativos, tão ou mais comprometidos com a eleição de uma diretoria competente e capaz para a CBB, não obteremos sucesso junto a patrocinadores , que jamais arriscarão seus valores em mãos de políticos profissionais, e ainda mais pelo enorme interesse do COB em manter o basquete no patamar que ostenta de ex-segundo esporte nacional.

E acima de todas estas possibilidades paira a esperança maior de que o poder público estenda as mãos à educação, às escolas, aos professores, cerne do conhecimento, e reserva intelectual de qualquer país que se considere sério e progressista, onde o esporte faz parte indissociável da formação do cidadão, direito constitucional, direito da juventude brasileira.

Amém.

DUAS FOTOS, DUAS HISTÓRIAS,…


Em tempos bicudos, em que o basquete mal se agüenta em pé, com uma direção confederativa caótica e desprovida de imaginação e criatividade, fora a administração sem o menor resquício de transparência, movida e perpetuada em troca de favores e mordomias legadas ao suporte federativo que a mantém, chega uma hora em que algo deva ser feito para alimentar a sobrevida de uma modalidade que deu tantas glorias ao país. Já não menciono o enorme descontentamento relacionado à ação técnico-administrativa da CBB e seu longevo grego melhor que um presente, mas sim uma tênue névoa que teima em pairar por sobre as parcas esperanças na classificação olímpica, como panacéia de um soerguimento escorado em uma seleção nacional, e não por conta de um trabalho de base bem planejado para médio longo prazo, fruto de um encaminhamento lógico de novas gerações, lideradas por profissionais competentes e preparados.

E por conta desse empurrão patriótico, nada como homenagear um grande jogador com a Ordem do Rio Branco, acredito que também em nome dos muitos outros grandes jogadores, como ele, que o antecederam em títulos mundiais e olímpicos. Nada mais justo, inclusive, em nome de uma unanimidade exposta através de mais de cinco milhões de votos que a população de São Paulo o brindou na última eleição senatorial, mesmo ficando em segundo lugar.

Para um presidente da república que admira publicamente aqueles que considera “bons de voto”, posar junto a um dos mais representativos, além de extraordinário atleta, e ainda desfraldando uma camiseta com patrocínio de uma mega estatal, foi uma oportunidade de ouro para referendar seu governo, sua popularidade e seu carisma, irmanado a um carisma desportivo, juntos numa foto emblemática.

Se de alguma forma o governo do país quis reforçar a idéia de que o drama por que passa o basquete em sua administração, não se encontra fora da esfera decisória visando soluções, a condecoração de altíssima relevância de um desportista brilhante, que jamais escondeu seu desejo de influenciar administrativamente sua querida e amada modalidade, foi uma cesta de três pontos a um segundo do fim de um jogo decisivo, emitindo e avalizando um cheque em branco ao portador, para ser descontado no momento apropriado.

Por outro lado, não foi divulgada qualquer outra foto em que o presidente dividisse a cena com os dois representantes da modalidade que acompanharam o homenageado na solenidade, a não ser a que os dois dividem o espaço com o mesmo, numa troca de sorrisos que nada condizem com a realidade, principalmente com o grego melhor que um presente, autor e mentor da aniquilação da entidade fundada pelo agraciado, a NLB.

É de conhecimento publico um jargão que define aquele técnico ou dirigente que se encontra na beira de um barranco, prestes a cair no vácuo de suas incoerências, suas falhas, seus desmandos, suas politicagens, o fato de estar “prestigiado” no cargo, que pelo fato de sua presença na outorga de uma comenda de grande valor nacional àquele que defenestrou publicamente, indica o quanto uma mesma palavra pode definir ações e atitudes díspares entre si, no prestígio oficial de um, em confronto com o prestigio amorfo de outro.

Duas fotos, duas histórias, dois destinos, mas um só futuro. Qual?

Amém.

ANATOMIA DE UM ARREMESSO V

Como já mencionei em artigos anteriores desta série, muito do desconhecimento sobre a técnica dos arremessos, principalmente os de longa distancia, se deve ao fator tradição no ensino do movimento, onde a estética supera a técnica de execução, pautando-se no equilíbrio harmonioso que aufere ao “estilo” a busca a ser alcançada, e não a eficiência direcional e mecânica que deve ser o objetivo final.

E esse objetivo, tem como elemento indissociável ao sucesso do arremesso o controle absoluto sobre a direção da bola à cesta, sem o qual estilos, equilíbrio, força, saltos e pegas não obterão os resultados desejados. Recordando o principio básico da direcionalidade em qualquer arremesso efetuado com uma das mãos, no qual o eixo diametral estabelecido pela flexão dos dedos centrais da mão impulsionadora no momento da soltura, origina um movimento reverso da bola em torno do mesmo (back spin), e que estando paralelo ao nível do aro, e eqüidistante dos bordos externos do mesmo, estabelecerá um sentido direcional cujos desvios, quanto menores forem, mais precisos e centrados serão os arremessos, colimando as variáveis de força e trajetória necessárias na busca da precisão almejada.

Logo, o principio de direcionalidade se antepõe decisivamente aos estilos e à estética, dando ao jogador a enorme possibilidade de sucesso mesmo em situações de total desequilíbrio corporal no espaço, no momento em que mantenha sob total controle a direção imprimida à bola.

No primeiro exemplo (acima a direita) observemos o jogador profissional MacGrady executando um longo arremesso em total equilíbrio corporal, atendendo às expectativas estéticas, num estilo clássico. Mas um detalhe primordial salta aos olhos dos mais treinados na arte de ensinar arremessos, o perfeito alinhamento da mão impulsionadora, numa pega em que a aplicação de força é feita pelos 3 dedos centrais simultaneamente (observar o retraimento do dedo central, a fim de se alinhar ao anular e indicador), e o polegar e mínimo dominando o eixo diametral da bola completamente paralelo ao nível do aro. O controle espacial dos eixos a – b mantenedor do centro de gravidade projetado à área ocupada no momento do salto, e o c- d, responsável pelo direcionamento correto à cesta, demonstram a alta técnica desse jogador, real especialista nos longos arremessos.

No segundo(acima a esquerda), uma contraposição total ao primeiro exemplo, principalmente no aspecto referente ao equilíbrio corporal, comparando equilíbrio e desequilíbrio, mas tendo algo absolutamente em comum com o primeiro exemplo, o controle direcional exercido sobre a bola. O jogador Ginobili é um especialista nesse tipo de arremesso, onde alcança grandes resultados.

Reparemos que, mesmo em total desequilíbrio corporal, com o eixo a – b determinando o quanto o seu centro de gravidade se encontra fora da área que estaria ocupando ao inicio do salto, sua empunhadura mantém o eixo diametral da bola paralelo ao nível do aro (c – d), sob total controle direcional, garantindo o sucesso na tentativa, o que realmente ocorreu.

São exemplos determinantes do quanto o controle do eixo diametral em rotação inversa , paralelo ao nível do aro e eqüidistante dos bordos do mesmo, conotam alto grau de precisão direcional, não dependendo da postura e posicionamento do corpo no momento crucial do arremesso.

Claro, que a absorção desses princípios técnicos ocorrerão no transcorrer do processo educativo dos jovens, iniciando-os pela postura tradicional (fundamentação passada), ensinando e treinando-os nos princípios que regem o controle do centro de gravidade (fundamentação presente), evoluindo, já como infanto e juvenis, para ações espaciais desequilibradas (fundamentação futura), principalmente aquelas mais usuais nos tempos atuais de fortes defesas e embates corpo a corpo.

Como podemos mais uma vez atestar, toda evolução e conhecimentos acerca dos fundamentos do jogo, passam obrigatoriamente por processos didático-pedagógicos firmemente embasados em sérios e detalhados estudos, onde o empirismo tem de ceder sua tão presente realidade entre nós pela premente necessidade de evolução técnica, campo de ação de professores e técnicos, comprometidos com a excelência no ensino e na prática dos fundamentos do grande jogo.

Estudar, pesquisar, trabalhar, é o caminho a ser percorrido, sempre.

Amém.

PS- Um bom artigo para referencia pode ser acessado clicando:

http://paulomurilo.blogspot.com/2007/12/anatomia-de-um-arremesso-iv.html

ESVAIU-SE O SONHO…

Esvaiu-se o sonho num jogo que poderia ter sido ganho com uma dose, não muito grande, suficiente até diria, de frieza e jogo coletivo. Os argentinos apostaram no possível desequilíbrio emocional das estrelas do time brasileiro, e investiram maciçamente para que o mesmo ocorresse o mais rápido possível. Uma cusparada a curta distância de um “torcedor” gigantesco atingiu o rosto do Marcelo que se preparava para um lateral, originando uma cena dantesca, quando nosso capitão da seleção se jogou ao solo, como que atingido por um murro colossal, debatendo-se teatralmente na presença de um juiz que tudo presenciou, mas omitiu sua ação restritora perante a farsa de uma contusão inexistente. Errou ao não exigir a retirada do agressor que continuou impassível em seu lugar encostado à grade, como também acertou em não conotar seriedade aos estertores do capitão prostrado ridiculamente à sua frente. A simples constatação da agressão salivar seria suficiente para a retirada do agressor do recinto, mas a proverbial malandragem nacional se fez mais presente do que nunca, na forma de uma cena teatral que sequer teve a devida repulsa do comentarista da ESPN ao rever a cena em tape, assim como a omissão do juiz. Ora, ora, se tratava de uma guerra, conforme uma faixa estendida no recinto-“Brasileños, bienvenidos a la guerra”- para a qual nos preparamos teatralmente, e não tecnicamente.

E foram as falhas técnicas que determinaram a derrota, minadas pelo arroubo teatral mal executado, que reverteu todo um possível processo de equilíbrio emocional, fundamental ante às pressões exógenas exercidas por 4500 pessoas em sufocante proximidade à quadra de jogo.

Com a ausência de um de seus bons armadores, O Fred, contundido em uma das mãos, viu-se a equipe brasileira perante a realidade de contar somente com o Hélio dividindo a armação da equipe com o Marcelo, em um quarto e meio onde a defesa argentina não permitia o drible incisivo do nosso cestinha para a direita, quando seu temível tiro de três encontra a maior eficiência, obrigando-o a progredir no drible à esquerda, seu ponto mais frágil, mas que o colocava na distância dos arremessos de dois pontos, não tão bem aceitos pelo mesmo. Enquanto isto, os argentinos progrediam no placar de dois em dois pontos, num forte jogo interior, pendurando, inclusive, com três faltas nossos melhores reboteiros, O Alirio e o Colonese.

Com a saída do Helio no terceiro quarto, a armação ficou com os dois irmãos, ambos liberados pela defesa argentina para o drible com a esquerda, dificultando ao máximo os arremessos de três pontos, obrigando-os aos passes por cima das coberturas aos pivôs feitas por uma defesa argentina atenta e taticamente bem preparada para enfrentá-los. A sucessão de erros e perdas de bola deram uma boa margem de 12 pontos aos donos da casa, que iniciaram o quarto final com ares de vencedores virtuais. Nesse momento, com a volta do Helio, e a manutenção dos irmãos e mais o retorno dos bons pivôs, mesmo que pendurados em faltas, a equipe do Flamengo pode contar pela primeira vez na partida com as velocidades defensiva e ofensiva ausentes até aquele momento, dando origem a boas interceptações de bola, e melhores pontos de arremessos de três pela direita, onde Marcelo e Duda são muito mais eficientes. A equipe empatou o jogo, e nesse momento não soube vencer a partida.

O que ocorreu então? Por que não viraram o jogo? Simplesmente por não terem naquela altura do jogo alcançado o grau de frieza necessária para domar o ímpeto da equipe adversária e sua trovejante torcida.

E que frieza seria esta? A de voltar o peso de seu ataque para o perímetro interno, como agiram os argentinos em toda a partida, para, de dois em dois pontos irem se aproximando do clímax do jogo, aquele momento em que vencedores virtuais se vêem perante a possibilidade de perderem um jogo imperdível.

Mas como deixar de cravar petardos de três pontos, e até enterradas acrobáticas nesses ousados que desafiam nossa áurea de craques? Jamais!! E foram cinco ataques sem pontuar que definiram a partida.

Pois bem, até aquele momento, o único autêntico campeão presente no meio daquelas 4500 pessoas, mais jogadores, juízes, mesários, policiais, dirigentes, técnicos, médicos, roupeiros, TV’s, e por que não, penetras também, o Montecchia, que vinha fazendo uma partida discretíssima, porém sem erros, resolve definir o jogo em duas ações magistrais, provando que craque mesmo presente naquele acanhado recinto perdido em uma província argentina, era ele, o Montecchia, campeão olímpico, nada mais, campeão olímpico, muito acima de cusparadas e estertores em uma quadra, onde joga como ninguém. Parabéns.

Amém.

DIA DA EDUCAÇÃO…

Ontem foi o Dia da Educação, algo ainda impensável em nosso injusto e desigual país. Forças ocultas e não tão ocultas assim omitem do cardápio de direitos da juventude brasileira o acesso à educação de qualidade, como deserdados de um direito inalienável ao cidadão do futuro, a grande reserva de trabalho alijada da saudável e estratégica luta pela sobrevivência digna e justa. Para os donos das capitanias hereditárias do país, povo educado é obstáculo às suas ambições de poder absoluto e inquestionável, e que, por razões de manutenção do status quo o mantém ignaro e manobrável. E na crista do processo, a figura do professor tem de ser mantida no fosso da subserviência, da coisificação profissional, da desqualificação técnica, como garantia de que o criminoso processo seja mantido e administrado.

Mesmo assim, esse imenso e rico país ainda teima em produzir poucas, bem sei, mas eficientes ilhas de excelência, numa precária, porém corajosa investida contra tão absurda política, nas quais vicejam pesquisas e trabalhos acadêmicos de valor inquestionável. E esses grandes professores são os responsáveis pela manutenção de esperanças em dias melhores, de governos melhores, de escolas melhores.

O desporto, pela sua importância social e formativa de caráteres , de cidadania e de nacionalidade, muito ainda tem de ser desenvolvido e implantado nas escolas, como um dos elementos básicos no todo educacional, tendo a liderá-lo professores e técnicos bem formados e bem remunerados, dois fatores indissociáveis para o sucesso de suas ações educativas.

Mas não basta formar e remunerar bem professores e técnicos, sem que os mesmos não atinjam alguns índices qualitativos, índices estes que me motivaram a publicar um artigo que reproduzo a seguir.

20 Janeiro 2006

CONDIÇÕES BÁSICAS

Fazendo uma boa faxina no escritório, encontro uma pasta com antigas transparências que utilizava em cursos de basquetebol pelo Brasil afora. Folheando-as, encontro uma em particular, que era a base de qualquer dos cursos que ministrei.Com dez itens,servia de roteiro para longas e proveitosas interações com os técnicos com quem dialogava. Reli-a, e nunca me senti tão inserido no presente como através suas já quase apagadas linhas, que faço questão de transcrever, emitindo alguns comentários entre as mesmas,que definiam um roteiro sobre as condições básicas para o exercício de uma arte,ser técnico de basquetebol.Eis as condições: CONHECIMENTOS SÓLIDOS E DOMÍNIO COMPROVADO NO ENSINO DOS FUNDAMENTOS. Trata-se de um conceito básico, pois põe por terra a falsa idéia de que existem aqueles que preparam jogadores, ensinando-os pelos caminhos sacrificados e demorados dos fundamentos, com aqueles que se dizem estrategistas,e somente orientam os jogadores através de táticas e sistemas de jogo pré-estabelecidos,dando pouca atenção aos fundamentos.São os que se dizem responsáveis pela utilização máxima dos talentos e conhecimentos que os mesmos pensam ter sobre o jogo.Mas a verdade é que somente aqueles que dominam a arte de ensinar correta e dinamicamente os fundamentos podem traçar comportamentos táticos e estratégicos pelo conhecimento que têm de seus jogadores,conhecimento este que se manifesta no dia a dia da aprendizagem individual,em seus detalhes,ínfimos detalhes,mas que se transformam na mais eficiente das armas,o conhecimento integral da proposta técnica,ao saber executá-la pelo domínio dos fundamentos. AMPLOS CONHECIMENTOS DE PLANEJAMENTO E CONTROLE DAS ATIVIDADES. Planejar é preciso, e quanto mais detalhadas forem as etapas a serem percorridas, maior será a integração técnico-jogador na busca de um objetivo comum,a melhora de todos nos fundamentos,sem distinção nas posições que ocupem,concorrendo dessa forma para a constituição do espírito de equipe que é a maior meta a ser atingida.Planejamento linear,enxuto,mas abundante em criatividade e esforço comum,é a chave para o estabelecimento de sistemas de jogo também enxutos e providos de opções e soluções perfeitamente ao alcance de todos que participarem de seu desenvolvimento prático. DOMÍNIO CONSCIENTE SOBRE TÁTICAS E PRINCÍPIOS ESTRATÉGICOS. Se treinadas por jogadores preparados para exeqüibilizá-las, nas mais variadas, difíceis e imprevistas situações,pois se tratam de enfrentamentos quase corpo a corpo com os adversários,a plena consciência das ações e atitudes a serem tomadas,só serão possíveis pelo total domínio das mesmas, conseguido pelo treinamento,também consciente,dos fundamentos. As estratégias são estabelecidas fundamentadas nesses conhecimentos, tanto do técnico, como dos jogadores.É a antítese das pranchetas,que vêm sendo usadas amiúde,na substituição absurda dos princípios acima enumerados. MENTE SENSÍVEL AO ESTUDO E A PESQUISA.Estudar sempre, principal e decisivamente o que já foi produzido até os dias atuais,fator que embasará o presente e projetará o futuro,em qualquer das manifestações do homem.É a base da pesquisa,qualquer pesquisa, seja de campo,de laboratório,experimental ou não.Conhecer a riqueza do homem, pelo que já produziu e criou é a chave do conhecimento na busca de soluções atuais e para o amanhã. Pesquisa desportiva,apesar de pouco difundida entre nós,é fundamental para o preparo de melhores técnicos. BONS CONHECIMENTOS DE PREPARAÇÃO FÍSICA. Mesmo sem ser um expert, o técnico com bons e sólidos conhecimentos nessa área poderá orientar os preparadores físicos para os objetivos que deseja alcançar,não permitindo,por exemplo,que jogadores sejam submetidos a preparações que fujam de determinados padrões,fator que poderá comprometer decisivamente os mesmos. ESTUDOS BEM FUNDAMENTADOS SOBRE ASPECTOS PSICOLÓGICOS, SOCIOLÓGICOS E ECONÔMICOS DOS DIVERSOS SEGMENTOS DA SOCIEDADE BRASILEIRA.Cultura abrangente é um valioso fator para o técnico de basquetebol,pois o insere no âmago de questões que de uma forma,ou de outra,influenciarão decisivamente o seu trabalho social,técnico e professoral,em qualquer região do país em que se encontre ATITUDE ÉTICA E LISURA COMPORTAMENTAL.São dois princípios indivisíveis na postura de qualquer técnico desportivo.Sem os mesmos se torna inexeqüível a função de líder e de exemplo a ser seguido e respeitado SER HUMILDE E RECEPTIVO. Ouvir sempre e muito,falar pouco e agir com presteza e conhecimento pleno da ação a ser tomada.Reconhecer o erro e corrigi-lo sem receios. Goethe ensinava:”Não tenho medo de me desdizer, porque não me envergonho de raciocinar”. POSSUIR UM FORTE CONCEITO DE PATRIOTISMO.Precisamos aprender a administrar nossa pobreza e nossas carências. É uma atitude de salutar patriotismo reconhecer tais limitações, e tentar, das melhores formas possíveis reverter tais realidades em algo de que possamos nos orgulhar.A criatividade humana não tem limites quando sabemos o que queremos e nos preparamos com lucidez e bom senso para conquistá-las.Isso é patriotismo. TER VOCAÇÃO E TALENTO..

Mesmo perante tantas injustiças na formação de uma realidade educacional, na ausência de uma verdadeira e patriótica política cultural e esportiva, mesmo assim não devemos nos descuidar da formação técnica de bom nível, sabedoramente mal remunerada e propositalmente submetida ao sub-empreguismo, dedicando o escasso tempo na procura e no incentivo daqueles que corajosamente teimam em ingressar no magistério. Por isso, o último item do artigo independe de comentários e explicações, pois seus dois componentes fecham a questão.

Amém.

DECISÃO EM CORRIENTES…

A equipe está classificada para a final em Corrientes, num jogo que apresentou ao seu final uma preocupante diferença de 7 pontos, quando havia chegado aos 22 pontos com relativa tranqüilidade. Devemos lembrar que muito além da importância anotadora dos irmãos Machado, a dominância dos rebotes ofensivos determinou a vitoria rubro-negra, ofertando a seus efetivos atacantes um sem número de segundas e até terceiras oportunidades em um mesmo ataque, quando em falhas de arremessos, e que não foram poucas. Some-se a este aspecto, a ausência, por contusão, de seu segundo armador, Fred, que quando atua em dupla com o Hélio transforma a equipe do Flamengo num real e poderoso competidor, dada a capacidade criadora da dupla, tanto ofensiva, como defensivamente, aumentando em muito as possibilidades de arremessos equilibrados de três pontos por parte dos irmãos, e também fazendo crescer a produtividade dos móveis pivôs, onde até o aparentemente lento Coloneze se vê bem acionado pela velocidade imprimida na armação das jogadas. Somente armadores ambidestros no domínio dos dribles são capazes de tal mobilidade, responsável pelo acionamento continuo dos demais jogadores.

O outro fator determinante foi a agressividade defensiva na linha da bola, propiciando inúmeras interceptações, principalmente por parte do Duda, quebrando a armação argentina, onde seu melhor jogador, Montechia, ao cometer 2 faltas pessoais e 1 técnica antes dos 5 minutos de partida, comprometeu decisivamente o ataque de sua equipe, facilitando a ação defensiva da equipe carioca.

Com a equipe muito desfalcada pelas faltas pessoais e bastante cansada, os argentinos, graças à sua maneira acadêmica e compassada forma de atuar, conseguiu diminuir bastante a diferença no placar, demonstrando um alto grau de treinamento e disciplina tática, onde seus dois americanos demonstravam uma assimilação técnico-tática não muito comum, em se tratando de jogadores advindos de um basquete diametralmente oposto na forma de atuar. Isso demonstra a força de organização e parâmetros técnicos que distingue o basquete argentino como um dos líderes mundiais na modalidade.

Preocupa-nos o fato da equipe do Flamengo não ser capaz de manter um ritmo cadenciado por todo o tempo de jogo, oscilando muito, principalmente quando atua com um único armador, pois suas três opções de alas-armadores, Marcelo, Duda e Fernando, por suas próprias características pontuadoras quebram contumasmente toda e qualquer tentativa de ataque armado e paciente. Daí a importância vital dos dois armadores no jogo em terras argentinas, onde a pressão será enorme, e a qualidade a ser destacada será a do paciente e perseverante controle no ritmo de jogo, da defesa corajosa e permanentemente atenta, e da manutenção do até agora grande trunfo da equipe, o poderoso e decisivo domínio dos rebotes, principalmente os ofensivos, sem os quais os bons pontuadores rubro-negros não teriam o grande numero de possíveis tentativas em seus arremessos de longa distância.

Finalmente, quando no primeiro ataque da equipe do Flamengo já se pronunciava uma carga negativa de agressividade por parte do Marcelo, num entrevero com os argentinos, podemos aquilatar o cenário que será descortinado no jogo em Corrientes, onde o aspecto “decisão” pontuará todo o transcorrer nervoso e agressivo na quadra de jogo, e onde aquele grupo que for capaz de manter a qualquer custo o controle mental e técnico, sem dúvida terá percorrido mais da metade do caminho ao encontro da vitoria final.

A equipe do Flamengo tem condições reais de vitoria, na medida em que se comprometer com o filão condutor para alcançá-la, a frieza determinante dos grandes campeões, aquela que não oblitera o raciocínio, e que canaliza as emoções para depois da luta, da vitoria. Que sejam lúcidos e felizes.

Amém.

SUSPENSO NO AR…

Nos anos setenta, como técnico da primeira divisão do Olaria, fomos jogar contra a equipe do Botafogo no Maracanãnzinho pelo Campeonato Carioca. Durante o aquecimento, o Washington, nosso melhor arremessador de longa distância, que na época não contavam três pontos, se dirigiu a mim e confidenciou: “Paulo, é como arremessar em um aro suspenso no nada”. Seu arremesso preferido era das laterais da quadra, onde os referenciais em torno do aro são importantes, senão decisivos, para um perfeito enquadramento e dosagem de força e trajetória, principalmente quando executados numa fração de segundos. Fui lá aferir e constatei serem corretas as observações do jogador, ficando em minha retina a imagem daquele solitário aro flutuando no nada. Esse aspecto pode explicar as melhores performances dos grandes arremessadores quando frontais a cesta, pois a tabela , mesmo sendo transparente, conota um razoável referencial inserido dentro daquela vastidão, onde as bancadas se situam a no mínimo 30 metros de distância.

Outro fator determinante para arremessos naquela situação de quadra é a trajetória elevada, necessária às pequenas compensações direcionais em profundidade relativas ao aro, mais accessíveis, tendo a tabela como referencial, além de facilitar muito os rebotes ofensivos em arremessos falhos, pela alta projeção dos mesmos após o toque no aro, dando tempo para melhores posicionamentos.

Essas colocações explicam com boa margem de acerto a excelente performance do jogador Marcelo do Flamengo, cujas características de arremessos com elevada trajetória, e tentados majoritariamente de frente para a cesta, contrastaram com as seguidas falhas do jogador Martinez da equipe argentina, com seus arremessos rasantes e oblíquos à tabela, única referencia tangencial à quadra.

Mas não somente isto, outro fator importante na vitoria rubro-negra foi a determinação defensiva, principalmente fora do perímetro, obstando penetrações dos armadores e arremessos livres de três pontos, como também o cadenciamento dos ataques visando o jogo interior, onde seus pivôs se movimentavam com bastante presteza, originando espaços por onde as penetrações de fora para dentro do perímetro se tornaram constantes, além de propiciarem espaços preciosos para os arremessos equilibrados de três pontos, principalmente os do Marcelo.

Contrastando com algumas opiniões que defendiam a realização destes jogos decisivos no ginásio do Tijuca, onde a presença próxima da torcida exerceria uma pressão psicológica maior no adversário, creio ter sido a escolha do Maracanãnzinho muito mais determinante tecnicamente, mesmo sabedor de que a finalidade da escolha teve como motivação prioritária a maior presença de público, sem levar em consideração se o aro ficava, ou não, “suspenso no nada”.

No jogo de logo mais, decisivo para o Flamengo, a contusão na mão do armador Fred, mais do que nunca destacará a responsabilidade do Helio, que deve ser protegido ao máximo das faltas pessoais, pois como único armador remanescente, armador de verdade, colocará a equipe brasileira perante o real perigo de se ver pressionada se ao Marcelo e/ou ao Duda couber o papel de armador(es)da equipe, talvez a única chance dos argentinos de equilibrarem o jogo ante a realidade inquestionável da debilidade técnica daqueles dois jogadores nos fundamentos de drible e de fintas , a não ser que os argentinos, ainda desambientados com as particularidades exigidas para os arremessos em alvos dissociados de referencias a que não estão acostumados, errem, como erraram bastante no jogo de ontem, propiciando aos pivôs brasileiros o domínio dos rebotes defensivos, desencadeadores dos contra-ataques decisivos, nos quais os dois irmãos são eméritos complementadores.

No mais, devemos torcer para que a equipe do Flamengo consiga essas tão bem vindas vitórias, que sem dúvida nenhuma injetariam uma grande dose de otimismo e esperança ao nosso combalido e desprestigiado basquetebol.

Amém.

CRITÉRIOS…

Fala-se muito em que condições o voleibol brasileiro atingiu os altos parâmetros de qualidade que o tornaram líder no mundo, das categorias de base até as seleções principais, num processo evolutivo ímpar na modalidade. Bons dirigentes e excelentes técnicos? Planejamento de alto nível e estratégias adequadas à nossa realidade? Inovações técnicas e bem planificadas campanhas publicitárias? Efetivo aproveitamento de mídia na cola das conquistas de alto nível em competições internacionais, ante a aridez de resultados nas demais modalidades, com uma ou outra exceção de praxe? Boas e efetivas administrações federativas, alinhadas ao projeto confederativo? Ou simplesmente a implantação de critérios de qualidade em todas as valências interrogativas acima descritas?

Creio não, tenho a certeza de que a correta e objetiva adoção de critérios de qualidade foi o motor impulsionador do grande sucesso do vôlei em nosso país, tão carente de bom senso administrativo e objetivos que primam pela excelência e pelo planejamento altamente técnico e responsável. E esses critérios estabeleceram um modus atuanti em todos os escalões, administrativos, gerenciais, publicitários e, principalmente técnicos. Enxutos, claros, coerentes, e por tudo isso, entendíveis e irrecorríveis.

“Os critérios adotados para a convocação eram estar bem fisicamente, ser titular no seu clube e estar junto à seleção quando convocadas.”

Com esse correto e coerente critério, o técnico da seleção feminina que disputará as próximas Olimpíadas, deu como encerradas as divagações em torno da convocação de uma jogadora afastada das competições, e sua disposição de retornar à equipe, ao largo das disposições contidas no critério adotado pela CBV.

“Lamento, mas não seria justo com as jogadoras que participaram de toda a preparaçãol(…)”. definiu o técnico.

Imediatamente, ante tais e tão importantes fatos, a imagem inversa do que vem ocorrendo, desde longa data, se faz presente na realidade do nosso basquetebol. Imagino o quanto de erros teriam sido evitados se tais critérios tivessem sido aplicados em convocações recém passadas , onde jogadores inabilitados em seus três componentes tomaram lugar de outros perfeitamente sintonizados com os mesmos? Um, dois, três, ou a maioria, para os quais o simples fato de atuarem no exterior já os qualificavam para a seleção? Quantas injustiças, aspecto enfatizado pelo técnico da seleção de vôlei, poderiam ter sido evitadas, injetando otimismo na busca de melhorias técnicas entre os que aqui atuavam?

Perguntas, perguntas, e quantas mais poderiam ser feitas, cujas respostas só poderiam, ou mesmo, poderão ser respondidas se fundamentadas em critérios de qualidade, estabelecidos à priori, como La Régle de Jeux , base de todo grupamento organizado em torno de um ideal, de uma meta a ser arduamente alcançada.

Agora mesmo, na presença real de um Pré-Olímpico que definirá nossa participação, perdemo-nos em discussões de quem deveriam ser convocados, quando já estamos cansados de saber quem eles são, donos do pedaço, proprietários de suas capitanias hereditárias, todos discursando opiniões e deliberações, a maioria deles com pouquíssima participação em suas equipes estrangeiras, conseqüentemente com sérias limitações físicas e de ritmo de jogo, e pendentes de liberação para os treinamentos junto à seleção. Exatamente os critérios restritivos que conotaram e conotam qualidade às seleções de vôlei quando das convocações e organização de suas equipes vencedoras.

Duas concepções díspares, dois destinos diferentes, nos quais podemos identificar a variável que os tornam básica e radicalmente opostos, a existência de critérios, onde comando e comandados obedecem a uma hierarquia que jamais poderá ser rompida, sustentáculo que é para a formação de equipes, verdadeiras e fortes equipes, e não remendo de vaidades e personalidades equivocadas.

Amém.

PROTEGIDA SUBSERVIÊNCIA…

Ginásio cheio numa manhã de sábado, final da liga feminina de voleibol, ambiente festivo e colorido, famílias inteiras presentes, 11 mil não pagantes, já que subvencionados por uma confederação rica, poderosa e determinante na política desportiva do país, fruto de seus resultados marcantes nas competições internacionais, Olimpíadas em particular, resultados merecidos, que fique bem claro.

No agora rebatizado templo do voleibol brasileiro, que desde a sua construção para sediar o Campeonato Mundial de Basquetebol de 1953, e onde dez anos depois nos sagramos bi-campeões mundiais, e que sempre foi a casa dos grandes espetáculos do nosso basquetebol, hoje impera absoluto o voleibol, destinando hipoteticamente a arena multiuso da Barra da Tijuca, construída para os Jogos Pan-Americanos, como a substituta do outrora templo do basquetebol brasileiro. Mas, o que vemos acontecer através a frieza empresarial dos mandantes esportivos do país, é a transformação da grande arena em palco de shows, igrejas e sabe lá mais o que, terceirizada a um grupo francês a preço de banana, e renegada em sua gestão pelo COB, que assumiu as duas outras grandes obras vizinhas, o parque aquático e o velódromo, que são atividades esportivas não competitivas com o grande voleibol, cujos dirigentes, muitos egressos de suas fileiras, comandam e influenciam politicamente o desporto nacional.

Houve uma época, não tão distante assim, onde o basquete, o vôlei e o futsal disputavam arduamente os espaços nas quadras brasileiras, não só nos clubes, nas escolas, nas faculdades, nos próprios municipais e estaduais, numa luta de disponibilidades e horários, que aos poucos se transformou em verdadeira luta pela sobrevivência, principalmente pelo crescimento desproporcional do futsal ávido pela posse do terreno, que até aquele momento era dividido pelo basquete e o vôlei, duas modalidades de ensino altamente complexo, ao contrário do futsal com seu apelo popular e de fácil aprendizado. As quadras tinham as mesmas medidas, e pisos, que se não de estrutura ideal, mas que atendiam as necessidades daquelas atividades. Pouco a pouco o futsal foi se impondo, levando ao declínio a pratica do basquete, que ao contrario do vôlei não tinha as praias e as ruas de recreio como alternativa de pratica. Incontáveis espaços foram se rendendo ao futsal, fossem públicos ou particulares, levando, principalmente o basquete à derrocada e a participação cada vez menor dos jovens. Se vigorassem naquela época as medidas hoje consideradas oficiais para uma quadra de futsal, parecidas com a do Handebol, muito dos prejuízos sofridos pelo basquete teriam sido evitados, já que atuariam em espaços diferenciados. Por outro lado, as medidas bem menores de uma quadra de vôlei, permitiu que colégios, clubes e pequenas associações de bairro mantivessem o interesse do mesmo junto aos jovens, inclusive pelo equipamento e o espaço accessíveis à sua pratica.

E o vôlei se estruturou, se aperfeiçoou e estabeleceu padrões de excelência através dirigentes e técnicos comprometidos com o sucesso e o denotado trabalho, construindo uma estrutura em tudo particular, com pisos específicos para as grandes competições, e um centro preparatório dos mais avançados do mundo, enquanto o basquete, patinando em sua estrutura desgastada ante a avalanche do futsal, não soube, e não teve a audácia do vôlei, no sentido de inovações e busca da qualidade. Ao contrário, centrou sua atividade política no paternalismo e no centrismo de um grupo voltado aos seus interesses particulares, através o continuísmo administrativo calcado na troca de favores e benesses.

Pobre basquete, destituído do seu templo ( só falta a troca do nome de Gilberto Cardoso …), despejado da grande arena da Barra, onde o grego melhor que um presente na final do basquete feminino do Pan sequer foi convidado para a entrega das medalhas pelo COB, comandado por voleibolistas, que em hipótese alguma desejam o soerguimento do basquete, antigo concorrente a segundo esporte no gosto do brasileiro. E como numa prova de supremacia, submete o helênico dirigente à entrega do troféu de terceiro lugar na liga de vôlei, no seu antigo terreiro, a uma equipe paulista que também participa dos campeonatos de basquete. Todo sorridente, faz a entrega protocolar, sem sequer aquilatar o desprestígio de que se faz vítima, para gáudio daqueles que o suplantaram na lábia e na certeza da inamovível posição conquistada, que se manterá incólume e livre de uma nada desejável concorrência, enquanto o mesmo se mantiver no comando da CBB.

Infelizmente, a realidade política tem um peso descomunal na promoção desportiva no país, e o voleibol a tem sob controle, a ponto de abrir mão de 11 mil ingressos em uma final de impacto nacional, televisionada em canais privados e abertos, numa prova inconteste de poder e absoluta certeza da inquebrantável posição conquistada. E na sombra rasteira de todo esse poder gravita uma administração subjugada e mantida a salvo de suas nem sempre saudáveis ações políticas e administrativas, pelo poder que não o deseja sequer próximo do nível alcançado a muito custo. Raposas felpudas se entendem, e sabem muito bem manter a hierarquia da matilha, principio básico na sobrevivência do grupo.

Amém.