
Quando da publicação do artigo do dia 3 deste mês, respondi um comentário do Giancarlo Gianpietro sobre como imaginaria uma defesa sobre a equipe argentina, especialmente sobre o Scola, que vinha fazendo um campeonato extraordinário, antes do encontro com o Brasil, onde o Scola contabilizou 37 pontos decisivos para a vitoria argentina, e que foi exatamente a estratégia utilizada pela equipe da Lituânia na vitoria maiúscula de hoje.
Recordemos a resposta ao Giancarlo:
- Basquete Brasil 03.09.2010 (6 days ago) ·
Pronto Giancarlo, mais uma bananosa que você coloca em minhas mãos! Não sou o técnico da seleção( jamais o serei…), mas, o que faria se o fosse? Dê uma boa olhada em três jogos que postei no blog, principalmente os contra Brasilia e Joinville, e fique observando a ação defensiva( em alguns momentos de passe para o pivô, pois não tive tempo suficiente para estabelecer a ação de forma permanente…)à frente do pivô adversário.Nessa situação, a primeira reação do oponente é o desestimulo do passe, já que a camisa visada não é a de sua equipe, a segunda é a do passe retroativo, ótimo para quem defende, pois são mais segundos que perdem em seu ataque, a terceira é o passe por cobertura, que se bem coberto oferece ótimas opções defensivas, e finalmente, se o atacante de posse da bola não tiver ainda driblado, a penetração, que encontrará de saída a anteposição do defensor de seu próprio pivô. Como vemos, a simples postura de uma marcação frontal, desencadeia quatro possibilidades ofensivas, num caudal de decisões em frações de segundos, induzindo enormes possibilidades ao erro, pela multiplicidade de opções.
Seria o que treinaria, enfatizaria, exigiria execução, permanente e incisivamente, exatamente porque incluiria no adversário a necessidade de pensar mais, analisar mais, originando um novo fator, a escolha correta de uma ação em uma única tentativa,em uma fração de segundos, aspecto que exporia ao atacante, consciente ou inconscientemente o fatal medo de errar.
Marcar à frente, com um Spliter forte e rápido, como a Alessandra e a Tuiú no mundial da Australia, marcando as grandes pivôs da China e dos Estados Unidos, tirando-as de suas rotinas de arrietes mortais quando de posse da bola. Era o que faria, mas não sou o Magnano, logo…
Audacioso? Não prezado Giancarlo, simplesmente convicto de que desde sempre devemos fugir das rotinas e das mesmices se quisermos realmente evoluir, e consequentemente, vencer. Um abraço,
Paulo.
Somemos à resposta o fato de que a utilização desta ação defensiva afastaria em muito as tão perigosas dobras, permitindo que os jogadores especialistas nos arremessos de três (Delfino, Herman, Gutierrez, Quinteros) fossem vigiados de muito perto, e temos decodificada a arma defensiva que os lituanos empregaram decisivamente contra os argentinos, e de tal forma, que praticamente eliminaram os seus certeiros arremessos de três, assim como anularam o grande pivô Scola. Resultado? Chegaram a colocar 34 pontos de vantagem.
Um outro pormenor também deve ser ressaltado, a incrível eficiência de seus próprios arremessos de três, principalmente nos dois quartos iniciais, onde praticamente decidiram a partida. E porque e como os conseguiram com tanta liberdade? Isso mesmo, acertou, pela enorme condição psicológica adquirida e fundamentada numa defesa monolítica e feroz, sem tréguas e fraturas, embasando seu ataque sobre uma equipe acuada e em célere perda de sua lendária auto confiança ofensiva. O principio básico de toda estratégia vencedora do grande jogo foi hoje referendado, a de que toda vitória se estrutura sob a égide de uma grande defesa, e o exemplo deste jogo não deixa qualquer margem de dúvidas a esse conceito.
Mas algo ainda deve ser referendado, o fato inconteste do alto preparo nos fundamentos do jogo dos jogadores lituanos, os de defesa em especial, onde os posicionamentos de pernas, braços e tronco seguem normas e princípios excelentemente bem treinados, capacitando-os aos deslocamentos laterais em equilíbrio, e às anteposições aos arremessos, nas coberturas e recuperações de espaços, culminando no perfeito e coletivo posicionamento para os rebotes.
E neste ponto vem a pergunta- Possuem nossos jogadores este mesmo embasamento, este mesmo domínio dos fundamentos?
Enfim, uma grande aula de defesa, e por que não, de ataque também.
Com essa exibição de técnica e estratégia, os lituanos se candidatam a sérios pretendentes a uma medalha, que faria justiça a uma excelente e surpreendente equipe.
No outro jogo das quartas de final, a equipe americana, com seu “espalhamento” na quadra venceu os russos com alguma facilidade, mas não antes de encontrar a costumeira dificuldade ante uma defesa zonal, onde aos poucos foi encontrando uma solução peculiar, ao atacá-la através o emprego de duplas envolvendo a linha final defensiva, ação essa facilitada pelo enorme domínio que têm dos fundamentos de drible, fintas e passes curtos em altíssima velocidade. Nunca o give and go ( o nosso dá e segue…) foi tão empregado, e de que forma, contra uma defesa por zona! E deu certo.
As semifinais de sábado prometem bastante, principalmente agora que os lituanos mostraram como se marcam os longos arremessos que vem imperando neste mundial, e a grande ironia, contra uma equipe americana que também marca com rigidez e por todo o campo. Prevejo uma das famosas battles under basket, tão ao gosto da NBA, só que agora sob as regras da FIBA, fator que colocam os americanos em cheque, e por que não, a perigo.
Turquia e Sérvia será outro grande jogo, e com uma característica em comum, suas grandes defesas, principalmente a turca.
Será que começaremos a testemunhar as efetivas contestações aos arremessos de três neste mundial, pelas características defensivas de alto nível de todos estes semifinalistas? Acredito que sim, mas…
Amém.