O primeiro jogo da série final no NBB9 foi no sábado, e pelo que vi não me deu vontade nenhuma de escrever, pois de nada adiantaria analisar uma partida que a mídia classificava de brilhante, vibrante, de alto nível, resgatando o verdadeiro basquetebol brasileiro, com uma garotada abaixo dos 21 anos jogando como veteranos, como estrelas, deixando a certeza de que o futuro que se avizinha será uma grata realidade, e a dura constatação do que assisti constrangido e temeroso pela falsa e ufanista imagem da tal grata realidade…
Pensei então do que tem adiantado minhas análises, perdidas num mundo artificial e enganoso de situações técnico táticas, que de forma alguma referendam tanta e fartamente documentada evolução do grande jogo entre nós, onde a palavra absoluta de ordem é o desvario convergente dos arremessos de dois e três pontos, a mesmice larga e endemicamente implantada pelo sistema único de jogo, com suas padronizadas e universalizadas jogadas, idênticas para todos, equipes, jogadores, téc…digo, estrategistas e mídia especializada, com o aval de dirigentes, agentes, empresários e torcidas em geral, irmanados na crença de que é assim que devemos atuar, da formação de base até a elite, já que, na certeza de todos, é a maneira que se joga no mundo, principalmente pela matriz, que investe pesado nesse modelo hegemônico, deixando sua marca na mente perversamente colonizada de seus iludidos seguidores, principalmente os mais jovens…
No entanto, teimosa e solitariamente, prevejo uma catástrofe de dimensões bastante graves para o soerguimento sustentável e possível do grande jogo no país, pois a base garantidora desse processo se esvai na continuada mediocridade arrivista e aventureira de muitos, quase a maioria, dos responsáveis que ainda se mantém no comando do mesmo, absolutos, e que não encontram, ou não deixam florescer toda e qualquer tentativa de renovação autêntica e independente, face ao forte corporativismo que exercem livremente, quando se situam como começo, meio e fim de todo o processo, eliminando toda e qualquer possível dissidência…
E teimosamente lembro que, nesse “magnífico e fantástico” jogo foram cometidos 29 (15/14) erros dos fundamentos mais básicos, acima da média de 27,2 nesse campeonato, e que assombrosamente as duas equipes convergiram em seus arremessos, quando o Paulistano perpetrou 12/27 nos de 2 pontos e 13/37 nos de três, ficando Bauru com seus 17/36 de 2 e 7/32 de 3, perfazendo as duas juntas 29/63 nos 2 pontos e 20/69 nos 3, ou seja, foram perdidos 34 tentativas de 2 e (isto sim é absurdamente lamentável|) 49 de 3!!! Em outras palavras, foi o mais autêntico “tiro aos pombos” em vez de um jogo de basquetebol, fato que previ com sobras nos dois artigos antecedentes a esse, e em muitos outros nestes 13 anos de Basquete Brasil…
Um outro e emblemático fator deve ser levado em alta conta, o de serem os dois estrategistas dessas equipes finalistas, apontados como o créme de la créme da nova geração nacional, ambos que foram assistentes do hermano na seleção nacional, juntos ao do Flamengo, os responsáveis confessos nesta hemorragia autofágica dos arremessos de três, claro, consentidos pela ausência de defesa exterior organizada, abrindo os duelos, onde vence o que acertar a última bolinha, para depois apagar as luzes e levantar o caneco, maldade esta que desafio ser concretizada quando, segundo seus proclamados desejos, estiverem, juntos ou não, dirigindo a seleção nacional, frente a seleções internacionais de peso, que de forma alguma negarão o direito de intervir fortemente com suas eficientes defesas dentro, e principalmente fora de seus perímetros, forçando nosso deficiente e primário jogo individual, refém dos 27,2 erros em média nos fundamentos na liga principal (imagino a média na formação de base, seja ela masculina ou feminina), a um confronto desigual, como o que vem ocorrendo sistemática e repetidamente nas competições de vulto em que temos participado desde muito, fator que inviabiliza a consecução de qualquer sistema de jogo, por mais simples que seja, pelo singelo fato de que de há muito relegamos ao mínimo o básico e estratégico ensino dos fundamentos, trocando-os por sistemas e jogadas tuteladas de passo marcado, peladas disfarçadas em treinos de “ritmo de jogo”, enterradas e bolinhas de três, ah, não esquecendo jamais as midiáticas pranchetas, alter ego e convenientes álibis da turma de estrategistas jovens e veteranos, que aí está, torcendo, gesticulando e aplaudindo de fora quando as bolinhas caem, coagindo e pressionando arbitragens quando elas se negam a cair, mas muito pouco preocupados com os erros contornáveis (se corrigidos, ou mesmo ensinados) de seus jogadores, mas que serão solucionados trocando-os por outros na próxima temporada, pois onde já se viu ensinar adulto a dominar os fundamentos, onde? Para isso existem e pululam os agentes, os empresários, muitos dirigentes, para os quais o objetivo maior é o campeonato, independentemente de quem se mata lá dentro para conquistá-lo…
E por cima disso tudo, vem um representante da nóvel ATBB, que sucede a APROBAS, ambas associações de técnicos e direção majoritariamente paulistas desde sempre, reivindicando liderança nacional, cobrar da nova administração da CBB um anterior ajuste com a direção que se foi, de que caberia a mesma a organização técnica e formulação de material didático da ENTB, exatamente para manter sob domínio o rígido e unilateral corporativismo que tanto discuto aqui pelo Basquete Brasil, onde a palavra final das técnicas e sistemas de preparo de equipes do país, assim como a formação técnico, tática e pedagógica dos futuros técnicos em níveis de I a III, continue em seu domínio, com seus cursos formadores de 4 dias, responsáveis pela pobreza e mediocridade do que implantaram desde sua criação, que ao ser inaugurada foi presidida por um preparador físico, e não um professor e técnico de basquetebol, como deveria ter sido, para desenvolver um projeto diversificado, plural e democrático…
São situações anacrônicas como estas que colocam e dimensionam o grande jogo, num patamar tão inferiorizado ante o concerto internacional, de onde está afastado pela FIBA, com fortes e sérios argumentos de gestão, entre vários, onde se inclui a baixa qualidade da ENTB, sem atuação desde 2014, quando já era dirigida pela mesma turma que volta a reivindicar sua continuidade diretiva, o que seria um inqualificável erro de percurso, onde ironicamente, até a experiência hermana de trinta anos é mencionada, como algo a ser copiado, esquecendo serem outros e diversificados os parâmetros sócio administrativos e educacionais que nos diferenciam. Já se faz tardia uma mudança radical desta liderança trintona, dando oportunidade a outros e novos posicionamentos, originando o princípio do contraditório, porta de entrada do salutar processo democrático de que tanto precisamos, para o soerguimento técnico sustentável do grande jogo neste enorme, desigual e injusto país.
Amém.
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